Um livro do etnógrafo Jorge Gaspar, resultante da sua primeira investigação para concluir a licenciatura, data de 1964-65 e tem por título e tema «As feiras de Gado na Beira Litoral» (1970; 2ª edição, Lisboa, 1986, Livros Horizonte). Nele se encontra a fotografia com um aspecto que o autor então colheu da nossa feira e que trazemos para aqui. No livro aparece junto de outras, obtidas noutras feiras da região, todas reunidas em extra-texto.
Jorge Gaspar não dá à do Sobreiro uma atenção particular, mas regista aqui e ali notas que vale a pena arquivar até para complementar tudo o que Sérgio Micaelo Ferreira tem carreado para este blogue sobre o assunto deixando-o praticamente esgotado.
A principal referência que o etnógrafo lhe faz encontra-se na pág. 42, onde escreve:
«O lugar do Sobreiro, da freguesia de Bustos, tem feiras […] a 9 e 22 de cada mês. Quanto a gado, são feiras médias e apenas metem porcos, em quantidade razoável. Em 9 de Novembro de 1964 contámos cerca de 300 leitões, 150 de corda e 10 porcos gordos. Segundo a maior parte dos comerciantes presentes, tratou-se de uma feira um pouco acima da média, mas também não foi das mais importantes. Os negociantes deste gado vinham de longe: Figueira da Foz, Coimbra, Aveiro e mesmo do Porto. Também se venderam muitos leitões para casas de «leitão assado» da Bairrada.
«O comércio dos suínos está terminado antes do meio-dia. Assim, alguns comerciantes compram aqui alguns animais que vão vender, nesse mesmo dia, em feiras que se realizam na parte da tarde (por exemplo, em Vale de Cambra).
«Quanto a roupas, utensílios domésticos e ouro, considerámo-la uma grande feira, pois estão presentes muitas dezenas de comerciantes daqueles ramos. Não obstante, se é uma grande feira pelo total das mercadorias expostas, não o será pelas transacções que se realizam. Muitos comerciantes (de fazendas, calçado e malhas) se nos queixaram da fraqueza desta feira. A razão por que apresenta uma tão grande concorrência do comércio ambulante está em que nesses dias não se realizam feiras nas proximidades. Assim, os comerciantes dos concelhos vizinhos vêm ao Sobreiro, onde chegam sem grandes despesas no transporte. Estas feiras do Sobreiro realizam-se em recinto murado, especialmente mandado construir pela Junta de Freguesia, que também instalou alpendres telhados, onde funciona muito do comércio de roupas e calçado.»
A propósito de géneros de mercearia - açúcar, arroz, massa, bacalhau, sabão – que apareciam à venda na feira, Jorge Gaspar anota (pág. 65): «Os aspectos anti-higiénicos repetem-se. Chegámos mesmo a observar, na feira de Bustos, uma vaca que meteu o focinho dentro de uma saca de açúcar. E tudo continuou…»
O etnógrafo torna a referir-se à feira do Sobreiro (pág. 82) para a incluir no rol das que decorriam em recintos vedados, casos das de Cantanhede e Palhaça. Mas já lá vão 40 anos! –
A. M.
O artigo de AM traz mais uma incursão à etnografia do seu e nosso Bustos.
ResponderEliminarDo texto extraí: “…que Sérgio Micaelo Ferreira tem carreado para este blogue sobre o assunto deixando-o praticamente esgotado”
Agradeço a referência, mas impõe-se uma nota. Considero ser um exagere considerar que o assunto Feira esteja praticamente esgotado. Ainda há muito para escrever. Apenas tentei prolongar o que Arsénio Mota, Hilário Costa, Vitorino Reis Pedreiras, correspondentes (quase anónimos) e outros escreveram. Espero que A. M. não desmotive os interessados em redescobrir a Feira de Bustos. Por exemplo a despesa e a receita é possível recolher das actas da Junta de Freguesia. (srg)
Ainda há muito para escrever sobre a Feira, particularmente, naquilo que o "Pulsar no Dinamismo" pode fazer com o recinta da Feira no futura. Vai ainda correr muita tinta...
ResponderEliminarMilton Costa
Amigos, não absolutizem assim tanto as questões! Pois que assunto é esgotável se quisermos aprofundá-lo mais e mais e mais?! O que quis dizer foi só que o principal estva dito e feito. E mantenho-o. Obrigado, Sérgio! Olá, Milton! E... quanto ao futuro, vamos a ver, como diz o cego -- não é?
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