"Duas horas, está a feira no seu apogeu, e eu olho embeveccido para essa obra que eu contribui para que se realizasse, e sinto-me feliz pr ver o nosso trabalho coberto de triunfo. Os feirantes mostram ar de contentamento pelo negócio em perspectiva ou já feito, O resto da tarde decorre numa animação extraordinária, e a feira prolonga-se até à noitinha, onde os jazz Galitos e Floresta, mimoseiam os ouvisntes com os seus acordes musicais.
Sobe ao ar a última descarga de fogo dando por terminada a jornada triunfal deste dia."
Vitorino Reis Pedreiras, Memórias de outros tempos, 1995
Antes da feira do Sobreiro, Arsénio Mota escreve:"Há notícia de que, anteriormente, existiu na terra uma denominada «Feira da Vermelha», pelo que esta surge como sua continuação. (Bustos - elementos para a sua história, Edição da ABC, 1983)CRIAÇÃO DA FEIRA DE BUSTOS (1) – CONSULTA PRÉVIA À CÂMARA
“Lutando esta Comissão Administrativa da Junta de Freguesia com dificuldades quase insuperáveis para fazer face aos encargos das despesas obrigatórias desta Junta, em especial as de conservação, reparação de caminhos, construção e reparação de fontes que estão num estado de quase abandono, e sendo a criação de um mercado uma velha aspiração dos habitantes desta freguesia, já pela comodidade que lhes traz, como ainda pelos interesses referidos que da sua criação advêm, não só para os habitantes referidos como também para esta Junta de Freguesia, o que viria livrá-la um pouco dos sérios apuros em que se vê, mas sendo da atribuição das Câmara Municipais a criação de mercados, foi deliberado consultar a Excelentíssima Câmara Municipal do nosso concelho se estaria disposta a fazer a criação do referido mercado e consentir que o rendimento do mesmo fosse cobrado por esta Junta de Freguesia, aumentando com ele a sua receita para fazer face aos encargos atrás citados”
Excertos da acta da sessão de 09.08.1936 da Comissão Administrativas da Junta de Freguesia de Bustos (com ligeiras alterações)
CRIAÇÃO DA FEIRA DE BUSTOS (2) – RESPOSTA DA CÂMARA
O Presidente da Comissão Administrativa da Câmara Municipal de Oliveira do Bairro comunica que “está na intenção de dar satisfação aos desejos desta Comissão Administrativa logo que lhe seja solicitada. E assim foi deliberado solicitar-lhe a criação imediata do mercado a realizar mensalmente nos dias quatro e dezanove de cada mês, num terreno com a área de aproximadamente de dezoito mil metros quadrados confinando com algumas ruas do lugar do Sobreiro, pertença do Doutor Manuel dos Santos Pato do lugar da Barreira desta Freguesia e que este senhor cede para tal fim gratuitamente[1] pelo prazo de um ano a contar do dia da inauguração do primeiro mercado, o qual deverá ter início no próximo dia dezanove do mês de Outubro do corrente ano, e agradecer à Excelentíssima Câmara a concessão que espera lhe seja feita” ...” in acta da sessão de 27.Setembro.1936.
Herculano Silva, secretário interino, subscreveu as actas.
O elenco administrativo tinha a seguinte composição:
Presidente – Manuel Simões Micaelo Junior
Vogais – Manuel dos Santos Vieira e Manuel Simões Aires Junior.
[1] Condições propostas pelo Dr. Manuel dos Santos Pato na sessão de 23.08.1936
Comentário:
Este é o percurso oficial da criação da Feira de Bustos (ou do Sobreiro) retirado de actas de sessões da Comissão Administrativa da Junta de Freguesia de Bustos. A participação do povo de Bustos (nomeadamente dos lavradores mais abastados) na concretização da sua aspiração está registada na bibliografia indicada.
Sérgio Micaelo Ferreira, Rossio da Póvoa
ADENDA
Para a história da Feira
FEIRA EM BUSTOS (SOBREIRO)
1936 – 25 – Agosto(?)
Estivemos em reunião preparatóri do novo mercado, fazendo parte desta comissão, Manoel Simões Micaêlo (Junior), Presidente da Junta de Freguesia, Hilário Simões da Costa, Manoel Ferreira da Silva, Manoel Reis Pedreiras e Visconde de Bustos, tendo-se resolvido que o novo mercado fosse nos dias 4 e 19 de cada mês e que a sua inauguração fosse em 19 de Outubro nos terrenos do campo desportivo do Sobreiro cedido gratuitamente, para este fim, pelo prazo de um ano pelo Ex.mo Dr. Manuel dos Santos Pato.
(Vitorino Reis Pedreiras, Memórias de Outros Tempos, 1995)
1936 – 25 – Agosto(?)
Estivemos em reunião preparatóri do novo mercado, fazendo parte desta comissão, Manoel Simões Micaêlo (Junior), Presidente da Junta de Freguesia, Hilário Simões da Costa, Manoel Ferreira da Silva, Manoel Reis Pedreiras e Visconde de Bustos, tendo-se resolvido que o novo mercado fosse nos dias 4 e 19 de cada mês e que a sua inauguração fosse em 19 de Outubro nos terrenos do campo desportivo do Sobreiro cedido gratuitamente, para este fim, pelo prazo de um ano pelo Ex.mo Dr. Manuel dos Santos Pato.
(Vitorino Reis Pedreiras, Memórias de Outros Tempos, 1995)
Parece que a população de Bustos cuida pouco de manifestar gratidão aos seus beneméritos. O dr. Manuel dos Santos Pato, da Barreira, é um deles. Ficou ligado, no seu tempo, às mais importantes iniciativas locais e muito lhe ficou a dever também a região bairradina inclusive no plano cultural. Ora isso anda a ser esquecido, cada vez mais esquecido, tal como sucede com os casos de Jacinto dos Louros, de Manuel Ferreira da Silva, de Nanuel d'Oliveira Sérgio (o velho que teve loja de fazendas e ferragens famosa na redondeza na primeira metade do séc. XX). Mas não será a gratidão um dos sentimentos humanos mais dignificantes?! Então, será por isso que se torna cada vez mais raro?! - Arsénio Mota
ResponderEliminarO Sérgio contribui para conhecermos melhor um importante aspecto da História de Bustos. Parabéns. O meu pai sempre falou com carinho da Feira e do Dr. Manuel dos Santos Pato (da Barreira). Ele andou lá a trabalhar (entre as suas emigrações pelos Estados Unidos) e tinha um sentimento muito especial pelo espaço da Feira do Sobreiro.
ResponderEliminarA Junta, a Câmara tentaram comprar o terreno e os candidatos à Junta e à Câmara prometem comprar o terreno aos herdeiros do Dr. Pato. Esta compra tem até agora falhado, por culpa de ninguém. Os herdeiros querem um preço que acham justo e os compradores acham que é demasiado.
O que me assusta é aquilo que vão fazer com o terreno depois de comprado. Eu acho que o terreno deve continuar público mesmo se a Feira acabar e acabará porque não existe vontade de a transformar numa feira mais convidativa ou especializada nalgum ramo de turismo. A culpa será nossa. Acontece que existem propostas para urbanizar o terreno para construção, depois de ele ser comprado e existem indícios muito fortes que o recinto da Feira será urbanizado para edificar. O Terreno vai custar muito e em Portugal tudo tem de ser rentabilizado e dar lucro. É aquilo que vemos por toda a parte; projectam-se parques que depois são ocupados por edifícios e estacionamentos (vejam Oliveira do Bairro, Coimbra, Lisboa e o Porto).
Este terreno devia constituir um orgulho para as pessoas de Bustos e este terreno devia ser preservado, mantido público e sem edifícios. A História é mais importante que o dinheiro e é a memória de um povo. Neste país tudo parece ter de ser rentabilizado e só se vislumbram lucros. Eu sei bem, não duvidem.
Cantanhede manteve os terrenos da sua antiga feira intactos para o lazer de todos. Uma parte dos terrenos da Feira da Palhaça é público e espero que os restantes também o sejam se essa feira acabar (penso, contudo, que serão vendidos para construção). Em Bustos querem construir prédios. Quem é que lucra com isto? Talvez as pessoas que sabem de antemão do negócio da futura urbanização. É triste ver desaparecer aquilo que conhecemos desde novos, sem uma razão válida a não ser a de lucrar com isso. É triste ver acabar aquilo que custou tanto trabalho aos nossos antepassados. E é triste ter de ver desaparecer mais um espaço do qual todos gostamos.
Milton Costa
O Prof. Dr. Milton Costa põe um problema sério à nossa vista. É evidente, portanto, que temos de evitar a urbanização do local! Temos de o conservar assim! Como? Exigindo que, quando for possível, a Junta de Freguesia, com apoio camarário, o adquira ao dono pelo menlhor preço possível! Isso evitará o pior e garantirá o domínio público do terreno.
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