Um senhor natural de Oliveira do Bairro ofereceu um conjunto de 55 livros e uma colecção de 65 jornais à Biblioteca Municipal de Oliveira do Bairro. Não terá sido grande dádiva, aliás feita sob condições, mas o «Jornal da Bairrada», em 13-10-05, enalteceu o gesto anunciando-o com destaque, em título, como o «primeiro espólio» oferecido por quem assim passava a «ser mais um amigo da biblioteca». Insistiu: esta biblioteca, «pela primeira vez, recebe um espólio, ainda que disponha de algum (pouco) do escritor António de Cértima.»
Ora bem, o espólio recebido em 1994 por oferta da viúva de Cértima não foi nada, mesma nada, «pouco». E chega a maré de saber, onde pára ele? O pior, porém, está aqui: nem o título nem o texto citado correspondem à verdade factual, garante-o o signatário na qualidade de testemunha-participante do caso.
O texto era assinado por Armor Pires Mota, o que é estranho dado este jornalista conhecer os factos (relembrara-lhos até recentemente). Tornei a contactá-lo e, mais uma vez, o assunto ficou embrulhado em nicles. Armor responsabilizou a Câmara pela afirmativa, ficando ele de ombros encolhidos e sem vestígio de memória.
Deste modo, que pensar da «cultura» que a Câmara faz reinar na «cidade» do nosso concelho – autodeclarado no pulsar do dinamismo! - e da regra deontológica seguida pelo jornal?
O Jornal. A linha ideológica de um jornal pode admissível e respeitavelmente ser de direita, ser CDS, mas, para que não tenha que receber lições de ninguém, o jornal terá que saber reconhecer os factos objectivos e sempre com a máxima isenção. Se é este ou não é o caso do «Jornal da Bairrada», os seus leitores que o digam!
Por outro lado, a qualidade do jornalismo que exibe não pode ser considerado exemplar a não ser pela boca de quem não saiba o que diz ou queira mostrar-se tão tendencioso quanto o que enaltece. E tudo isto contribui para empanar o ambiente cultural da «cidade».
A Câmara. A acção cultural desenvolvida pela Câmara presidida pelo dr. Acílio Gala na parte final do seu mandato mostra-o a correr para publicar todos os livrinhos dos amigos em tempo útil, ou seja, enquanto havia tempo. O orçamento municipal pagará o luxo, mas fica a dúvida: até que ponto a «cultura» oliveirense aumenta o brilho com essas (muitas) edições? Haverá no concelho assim tantos escritores dignos de publicação (o que faz lembrar a rejeição draconiana de editar a primícia poética de uma jovem bustuense, a Marineide)?
O caso. A oferta da viúva, ainda bastante «escondida» e nunca agradecida, tem que ficar exposta para que conste. Até hoje, foi tabu. Na sequência das comemorações do centenário de nascimento do escritor e diplomata António de Cértima, nascido em Giesta, Oiã, em 1894, organizei um programa que se estendeu por seis meses apoiado pela Câmara Municipal.
Estabeleci contacto pessoal prévio com a viúva, D. Maria Arminda, visitando-a amiúde em Lisboa, de modo que publiquei um estudo biográfico a ele dedicado e reuni material para exposição biobibliográfica, vídeo, estátua, etc. Entusiasmado, Acílio Gala pensou então na biblioteca municipal, projecto que a seguir acompanhei muito de perto. E foi no meio de tudo isto que incentivei a viúva a oferecer à biblioteca concelhia, então em projecto, as colecções de livros que enchiam as estantes da sua casa. Gala aplaudiu e combinei tudo. Um dia, manhã cedo, viajei do Porto até Oliveira, Gala meteu-me na viatura presidencial e, acompanhados por um espaçoso furgão, partimos. Trabalhámos todo o dia, rodeados de poeira, a encher caixotes e a metê-los no furgão até o encher. Livralhada em português, espanhol, francês, até árabe, de cambulhada! E, com missão cumprida, em Oliveira peguei no meu carro e regressei à Invicta, cansado, para jantar a desoras.
Talvez duas semanas depois, confirmei: Acílio Gala, que recebera em mãos aquela importante oferta, não enviara ofício de agradecimento à viúva! E logo me fez sentir que, na sua ideia, eu é que deveria agradecer a D. Maria Arminda! Fiquei varado, sem comentários.
A seguir invalidou uma «sala memorial» dedicada ao escritor e diplomata, prometida e prevista para uma dependência da biblioteca e para a qual eu ainda hoje tenho, como fiel depositário, o espólio literário mais significativo do autor da «Epopeia Maldita» e «Soldado, Volta!». Não vejo destino condigno a dar-lhe.
Já com a Biblioteca Municipal a funcionar e com as minhas relações com Acílio Gala a complicarem-se gravemente, obtive ali umas respostas evasivas para o que perguntava: a livraria de Cértima ia ser classificada e posta em público mais tarde. E mais tarde, já de relações estragadas, ainda tive o descoco de ir colocar nas mãos rotas de Gala 50 exemplares do meu «A Última Aposta». Oferecidos, claro.
É verdade que o dr. Acílio Gala andou estes anos todos a repetir o seu pessoal apego à cultura, aos livros. Vê-se finalmente quanto valiam na realidade afirmações proferidas por mera política engana-tolos. A esperança que nos resta agora é a de que os caixotes com esses livros, e serão milhares (suponho sem os ter contado), não tenham sido atacados pelos ratos dos armazéns camarários! Ou não terão sido eles os únicos beneficiários de tanta «cultura» CDS?!
Arsénio Mota
É bom saber que depois de gala derrotado é que começam a aparecer as vozes contestatárias que antes estiveram caladas. Tenham decoro...
ResponderEliminarDecoro deve ter quem pretende ensinar decoro. Anonimamente! Belo professor, não haja dúvida. Porque... quem convenceu este anonónimo professor que só agora, com Gala retirado, é que surgem vozes contestatárias? Então reinava o silencio e o homem caiu?! Milagre!!!
ResponderEliminarArsénio Mota devia perguntar ao comentador anónimo onde ou como poderia divulgar os factos que revela. O Jornal da Bairrada teima na sua. Ainda bem que existe este blogue! Preparem-se os amiguinhos de Gala para enfrentarem mais e mais revelações, porque de certeza elas vem aí..
ResponderEliminar"É bom saber que depois de gala derrotado ..." anonymos 10.04.54
ResponderEliminarNão deve ter lido o bogue anterior e não acompanhou o NB. Arsénio Mota ou ARS tem pelo menos 2 trabalhos editados sobre a cultura dde Gala:13.05.2005 LEONTINA ACONSELHA LER «FILOSOFIA NA ALCOVA» DO MARQUÊS DE SADE!!! (notícias de bustos)
março 21, 2005 Cultura na Cidade (Bustos – do passado e do presente).