Parte III- A tentativa falhada da criação dos Correios de Bustos gratuitamente pelo Visconde de Bustos.
Isto passou-se numa oitava da Páscoa- dia em que o senhor Visconde, no terraço da sua casa, que se encontrava rodeado de grande número dos seus amigos. Posto ao corrente das condições em que a Estação ia ser criada, o senhor Visconde não se conformou, e exclamando, disse: « E uma vergonha para o povo de Bustos a creação de uma Estação dos Correios por dinheiro, quando noutras terras, não mais importantes, as há de graça! ». Baseado na informação que o Senhor Director dos Correios me havia dado, fiz-lhe ver que a Estação de Sangalhos tinha sido creada nas mesmas condições. retorquiu, afirmando que estava ali de graça.
Contraditando-o com toda a confiança no que aquela autoridade me tinha informado, ele proferiu-me as seguintes palavras, textuais:- O senhor Sérgio não faça essa afirmação, porque não é verdadeira. Eu que lhe digo que a estação de Sangalhos está ali de graça é porque o sei. Se não o soubesse, não lho afirmava!
Todos os ouvintes cuja voz, em coro, sobressaia, davam ao senhor Visconde carradas de razão. a forma como a sua afirmação era feita deixava transparecer que tinha sido conseguida por ele. Apesar de tudo, perguntei-lhe se podia adquirir de graça a Estação para Bustos, ao que respondeu pronta e afirmativamente.- Em que prazo de tempo?- perguntei-lhe. Pensando por momentos, disse: -Em quinze dias. Então dou-lhe trinta- disse-lhe. Achou demais mas concordou.
No regresso a minha casa, onde alguns dos camaradas me aguardavam, sujeitei-me aos seus comentários pelo prazo de tempo concedido, que vieram a ser verdadeiros. Ficou suspenso o peditório e, findos os trinta dias, fui perguntar ao senhor Visconde se tínhamos ou não Estação de graça. A resposta, dada com bastante aborrecimento, foi:- Estas coisas não se conseguem de um momento para o outro. Momento não!- repliquei- porque o senhor pediu-me quinze dias e eu dei-lhe trinta.
Na minha casa, onde de costume, reuníamos, aguardavam os meus camaradas a resposta do senhor Visconde. Ao transmitir-lha, observei-lhes: - Estamos em maus lençóis! A propaganda de que a Estação pode vir de graça é tal que, se vamos pedir dinheiro ao povo, o que o der por respeito, ou por vergonha, de não o dar, dirá: - Lá se vai o meu rico dinheiro para uma obra que podia vir de graça! Outros poderão dizer mais: - Arranjaram de graça e meteram o meu dinheiro no bolso!- Se todos os senhores concordassem - disse- não pedíamos nada ao povo. Restituíamos o dinheiro recebido e pagávamos nos tudo. A resposta de todos, que foi unânime, e sem hesitação, foi concordante, salientando-se a voz do Albano que me perguntou, como aos quatro restantes: De quanto é a sua cota, Sérgio? - Mil escudos, respondi. Passa a dar 1.500. De quanto é a tua cota, Pardal?- Quinhentos escudos. Passas a dar 600.- Qual é a sua cota, Herculano?- Quatrocentos escudos. Passas a dar quinhentos. Qual é a sua cota Quim? Trezentos escudos. Passas a dar 400. A minha era igual à do Quim e também fica igual. E, com um gesto que abrangeu os restantes camaradas, alguns dos quais estavam ali representados e eram os senhores Dr Manuel dos Santos Pato, Manuel Reis Pedreiras, Victorino Reis Pedreiras, Manuel Francisco Domingues e Manuel Francisco Rei, disse: - Os senhores, entre todos, pagam o restante. Todos concordaram da melhor vontade na proposta do Albano que foi cumprida. E que, o senhor Visconde, apesar de, como ainda se diz, sempre ter sido chefe político de grande valor, nunca, como também se afirma, dessa política que foi sempre a seu geito, resultou qualquer benefício para a sua terra. E como em vão havia tentado a Estação dos Correios que foi para a Palhaça, não se sentia bem que sem política- apenas pelo engrandecimento da terra que aos meus camaradas serviu de berço e me acolheu em 1913. Tudo se encontrava solucionado, deparando-se-nos apenas a aquisição da casa para a Estação e habitação do chefe.
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