4 de agosto de 2007

"Há males que vêm por bem" de Manuel Joaquim de Oliveira Sérgio- Parte II

Parte II- Como da união de um grupo de Bustuenses se impulsionou a criação dos Correios de Bustos.

Nessa noite e depois de maduramente pensar, quiz convencer-me que um funcionário de tal categoria seria incapaz de me dar uma informação falsa. Nesta convicção, resolvi novamente ir falar-lhe no dia seguinte, o que fiz sem companhia. Confessei que não havia acreditado na facilidade de uma Estação Telegrafo-Postal em Bustos como na véspera me tinha sugerido mas que, sendo verdadeira, pedia para me esclarecer convenientemente, a forma da sua aquisição. Com a melhor vontade o senhor Director respondeu-me:« Podem adquiri-la como foi adquirida a de Sangalhos» e explicou: « Constituem uma comissão de comerciantes que, perante a Junta de Freguesia Local, se compromete ao pagamento adiantado da aparelhagem para a Estação que orça por 5.700$00. A Junta de Freguesia faz o pedido à Administração Geral dos Correios, de Lisboa, oferecendo casa própria não só para a Estação como também para a residência do respectivo chefe. A cargo da Junta de Freguesia, fica também o pagamento de qualquer deficit que possa haver por insuficiência de receitas na Estação. Só é compreendida receita, venda de estampilhas e vales do Correio. O que a Estação recebe não conta. Se a receita não cobrir a despesa, a Estação é encerrada logo que tal se verifique». Regressei satisfeito, convencido, como aconteceu, de que, com o auxílio da Junta de Freguesia de que era Presidente Manuel Francisco Rei, que recordo com saudade e de outros bairristas que Bustos viu nascer e tem albergado, se conseguiria um dos mais importantes melhoramentos para a sua freguesia.

Ainda em Aveiro, encontrei os senhores Manuel Nunes Pardal e Herculano da Silva a quem expus o que se passava. Ficaram, como eu já vinha, satisfeitíssimos e ali logo nos cotizámos. Eu, com 1000$00, Pardal com 500$00, e Herculano, que dizia que não vendia passagens para a América, com 400. Faltavam os dois restantes- Quim e Albano- que, por qualquer motivo, não poude abeirar nesse dia, como também não me foi possível falar com o senhor Manuel Francisco Rei.

A primeira pessoa a aparecer-me no dia seguinte, logo de manhã, foi este presidente da Junta de Freguesia que, informado pelo Pardal, me veio mostrar o seu contentamento. E, pondo-se à disposição de tudo quanto oficial e particularmente lho fosse possível para o engrandecimento da sua terra, não pôde evitar, como vi, que por tal contentamento, lhe rolassem lágrimas no rosto. Abordados Quim e Albano, logo se cotizaram com 300$00 cada.

Tínhamos, portanto, quase metade da importância necessária. A restante não nos preocupava, tanto mais que o Presidente da Junta me havia garantido que não era só com a sua solidariedade que podíamos contar mas também com a do seu primo Manuel Francisco Domingues, do senhor Doutor Manuel dos Santos Pato, do senhor Manuel Reis Pedreiras e do senhor Vitorino Reis Pedreiras, como dentro em pouco se constatou.

O dinheiro naquele tempo era caro mas isso não evitou que resolvêssemos pedir ao povo de Bustos o seu auxílio mesmo porque, algum do qual, mostrava vontade de o oferecer. Para tal fim, foi nomeada uma comissão de que faziam parte, além dos que já não me recordo, os senhores Quim e Silvestre Martins. O primeiro a receber o pedido foi o senhor Manuel da Costa Morgado que logo entregou 100$00, seguindo-se-lhes os senhores José dos Santos Barreiro com 20 e Manuel de Oliveira Morgado com 50. Fazendo-se abeirar do sr. Visconde e exposto o fim da sua missão, este senhor mostrou ficar radiante com a obra empreendida. Que para ela contribuiria da melhor vontade por se tratar de um grande melhoramento, etc., etc., mas que, em primeiro lugar, desejava saber quais as condições em que a Estação dos Correios era creada. Como nenhum dos da comissão se lhe tivesse feito compreender, foi o Quim chamar-me para lhe dar a informação desejada.

1 comentário:

  1. Anónimo12:32

    Excelente achado!
    Está salvo o opúsculo “Há males que vêm por bem” de Manuel Joaquim d’Oliveira Sérgio, que aborda a saga da criação da estação telégrafo-postal (actualmente em vias de extinção). Desde a longínqua mas sempre recordada exposição de Licínio Mota & al, que o testemunho do Sr. Sérgio se considerava perdido.
    Um obrigado a Alberto Martins, por ter recuperado mais um padrão a assinalar a história «pré-colombiana» da Freguesia de Bustos.
    Uma sugestão. Esse exemplar poderia ser oferecido ao Dr. Rui Sérgio, neto do autor, após a publicação fac-simile do opúsculo.
    Uma dúvida. Este opúsculo teria sido emprestado aos expositores por Arsénio Mota?
    Continua a pesquisar a caverna.
    E siga a rusga
    sérgiomf. 4.08.2007

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