23 de agosto de 2007

As colunas partiam de madrugada...

... para o norte partiam para a morte
partiam de Luanda flor pisada
levavam morte de Luanda para o norte.
...
Todo o tempo é uma batalha. Ataque. Fuga.
Fuga. Ataque. Silêncio. Um silêncio que aterra.
Que marca o rosto com seu peso ruga a ruga.
Um silêncio que canta na canção da guerra.

Mina. Emboscada. Pó. Pólvora. Sangue. Fogo.
Acerta não acerta? erra não erra?
Perdeu todo o sentido dizer-se até logo.
Metralhadoras cantam a canção da guerra.

...

Há um soldado que grita eu não quero morrer.
E o sangue corre gota a gota sobre a terra.
Vai morrer a gritar eu não quero morrer.
Metralhadoras cantam a canção da terra.

Houve um que se deitou e disse: Até amanhã.
Mas amanhã é o dia em que se enterra
o soldado que disse: Até amanhã.
Metralhadoras cantam a canção da guerra.

*
Manuel Alegre, O Canto e as Armas, 1967
- Fotos: 1) coluna do Comando Operacional de Tropas de Intervenção n.º 1 (COTI-1), deslocando-se para zona de operação militar, no Quitexe, norte de Angola, 1973; 2) Operação na zona da "árvore teimosa" / acampados na fazenda Luisa Maria, Quitexe, norte de Angola, Nov. 73.
OSCARDEBUSTOS

Sem comentários:

Enviar um comentário