7 de abril de 2007

JUDAS em cena

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“Ano de 1944
Mês de Abril
Dia 8 – Sábado de Aleluia

Quando ia para a feira do Sobreiro, que teve lugar hoje, assisti a uma comédia banal e simples que, à força de ser representada, perdeu grande parte do seu valor.

O Judas que se enforca, é um mísero manequim de farrapos que a turba-malta, relutantes de asco, queimam por fim. Parece simples tudo isto visto pelos olhos de um ignorante ou indiferente ao estudo sério do que o rodeia. Essas conversas que trouxeram a publicidade dessa macabra comédia, foram, são e continuaram a sê-lo, os verdadeiros Judas do Apóstolo sublime que o espírito bom de alguns, convencionou chamar de Jesus Cristo.

Não têm, é certo, aquele arrependimento que atribuem ao Judas. Este enforca-se em sinal de arrependimento e aqueles enforcam os outros, os bons, os verdadeiros discípulos do bem. Oh! Judas fantoche; se tu pudesses ter sopro de vida, verias, à tua volta, tanta descendência mais cínica, mais vil e canalha que por maior que fosse a tua vileza, terias que concordar que eras o mais pequenino de todos os teus. “

Vitorino Reis Pedreiras, Memórias de Outros Tempos, 1995

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