“Se a invenção do navio, que transporta riquezas e mercadorias de um lugar a outro, que aproxima as regiões mais longínquas na participação de seus diversos produtos, é tida como uma invenção tão nobre, muito mais devemos exaltar os livros que, como os navios, atravessam os vastos mares do tempo e fazem as épocas mais antigas participarem da sabedoria, das luzes, das descobertas umas das outras.”
Francisco Bacon, em O Correio da UNESCO, Dez. 1972
Francisco Bacon, em O Correio da UNESCO, Dez. 1972
“O trabalho da escrita ainda surge naturalmente concebido como um bem gratuito de uma natureza pródiga, ao lado da água que corre nas fontes. Nada temos que fazer para o receber. Poucos se lembram de pagar a palestra, a comunicação, a conferência; no melhor dos casos, basta o pagamento da despesa da deslocação efectuada. E agora que se fala de pagar direitos de autor aos entrevistados, muitos dos autores esquecidos de hoje ficarão finalmente a saber o motivo por que os entrevistadores não se lembram deles.
Quando um autor se vê a figurar numa antologia ou num manual, deve sentir-se suficientemente pago com isso e não estranhar por os editores não lhe terem pedido permissão nem oferecido um exemplar da obra. Não admira, assim, que os livros sejam sempre tidos como «escandalosamente caros». Talvez deixassem de sê-lo se pudessem ser dados com um sorriso. Todavia, como temos a funcionar a rede de leitura pública quase a pleno rendimento, iremos descobrir possivelmente que certas pessoas não querem só os livros dados, quererão que lhes paguemos para os lerem.
Exagero?” …
in Arsénio Mota, Letras sob Protesto, Campo das Letras, Porto, 2003.
(nota - a página é da resonsabilidade de sérgio micaelo ferreira)
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