Deixámos Chicago – a cidade do vento, como é conhecida – e recomeçámos a nossa viagem em direcção ao Este. Passámos pelo Estado de Indiana, mesmo no meio de uma zona industrial de grande importância. Esta região, que inclui South Bend, Detroit e Akron, é a base das grandes construtoras de automóveis e maquinaria pesada, além de muitos outros produtos usados na indústria automobilística. Enquanto na costa oeste da América o uso de automóveis de origem europeia e asiática é muito vulgar, é raro ver nesta região carros ou outro tipo de viaturas que não sejam de fabrico nacional.
A paisagem muda. Vêem-se menos campos de cultivo, ainda que a agricultura continue a ser importante nos estados de Indiana e do Ohio. À medida que nos aproximamos da fronteira com Pennsylvania, passamos a estar rodeados por florestas virgens, ricas de madeiras com alto valor económico e de muita beleza.
As árvores na região ainda estão nuas de folhas nesta altura. Estamos no mês de Maio e a Primavera ainda aqui não chegou. Têm medo do frio…
No penúltimo dia da viagem notei uma placa orientando os viajantes para uma cidade chamada Lisbon. Fiquei admirado e orgulhoso. Será possível que haja mais cidades, noutros estados, com este nome de Lisbon? Quando parei para almoçar consultei os mapas e livros de turismo e qual foi a minha surpresa, descobri que havia pelo menos sete cidades com o mesmo nome! Ainda estou por saber a razão de tal popularidade.
Se tudo correr como o planeado, irei chegar à cidade de Newark, New Jersey, lá para o meio da tarde. Terei atingido ali a costa leste!
E assim aconteceu. A auto-estrada guiou-me até às portas da cidade. Mas aqui, sem o benefício de mapas que indicassem todas as ruas, ser-me-ia difícil encontrar o lugar a que chamam o «Pequeno Portugal».
A paisagem muda. Vêem-se menos campos de cultivo, ainda que a agricultura continue a ser importante nos estados de Indiana e do Ohio. À medida que nos aproximamos da fronteira com Pennsylvania, passamos a estar rodeados por florestas virgens, ricas de madeiras com alto valor económico e de muita beleza.
As árvores na região ainda estão nuas de folhas nesta altura. Estamos no mês de Maio e a Primavera ainda aqui não chegou. Têm medo do frio…
No penúltimo dia da viagem notei uma placa orientando os viajantes para uma cidade chamada Lisbon. Fiquei admirado e orgulhoso. Será possível que haja mais cidades, noutros estados, com este nome de Lisbon? Quando parei para almoçar consultei os mapas e livros de turismo e qual foi a minha surpresa, descobri que havia pelo menos sete cidades com o mesmo nome! Ainda estou por saber a razão de tal popularidade.
Se tudo correr como o planeado, irei chegar à cidade de Newark, New Jersey, lá para o meio da tarde. Terei atingido ali a costa leste!
E assim aconteceu. A auto-estrada guiou-me até às portas da cidade. Mas aqui, sem o benefício de mapas que indicassem todas as ruas, ser-me-ia difícil encontrar o lugar a que chamam o «Pequeno Portugal».
Enquanto decidia o que fazer, apareceu do meu lado esquerdo um automóvel que pertencia aos bombeiros da cidade. Baixei o vidro e perguntei:
- Por favor, indica-me como hei-de chegar a Ferry Street?
O indivíduo olhou para mim, pensou, e disse:
- É-me mais fácil levá-lo do que dar-lhe as indicações para lá chegar. Siga-me e eu conduzo-o à Ferry Street.
Segui o bom homem e, passados uns quinze minutos, estávamos à entrada da rua, esta rua que é frequentemente referida como a comunidade portuguesa de Newark. A primeira impressão que tive da cidade não podia ser melhor graças à amabilidade do bombeiro.
Segui vagarosamente, observando tudo e todos. Havia gente nos passeios com fisionomias tipicamente portuguesas. Cada edifício tinha lojas com nomes portugueses. Eram bancos Totta, Espírito Santo, edifício da TAP, cafés, restaurantes, bares, peixarias, agências de viagem, relojoarias, ourivesarias, etc., etc. Não havia dúvidas, esta rua podia fazer parte de qualquer cidade portuguesa… mas faz parte da cidade americana de Newark, na periferia de Nova Iorque.
Tudo isto era novidade para mim. Segui mais umas quadras e estacionei o carro. Saí e dirigi-me ao café na esquina. Entrei e foi já sem grande surpresa que encontrei uma vitrina cheia de pastéis de nata e outros doces tipicamente portugueses. Sentei-me e esperei para ser atendido, mas logo entendi que a tradição portuguesa de servir os clientes à mesa não é de uso por aqui. Fui ao balcão e paguei uma bica e uma água fresca do Luso. Depois de saborear o café decidi usar o telefone celular e chamar um amigo bustuense que sabia ter residência neste bairro. A mulher dele, D. Lídia, respondeu e informou-me que o marido, que eu procurava, não estava em casa. Devia estar no café com os amigos a ver o jogo da bola, pela televisão, em transmissão de Lisboa. Levantei-me e caminhei para o fundo do café onde um número de fãs seguia com emoção um jogo do Sporting com outro clube que já não recordo. Uma olhada bastou. Lá estava o meu conterrâneo e amigo Manuel Martins, conhecido em Bustos como o Neo do talho do ti Simão. Tinha encontrado o meu amigo e guia!
Com quase 300 mil habitantes, Newark é a cidade com a maior população do Estado de New Jersey. Em 1930, a cidade chegou a ter uma população de quase 450 mil habitantes, mas depois da Grande Depressão de 1929, um grande número de fábricas fechou e a classe mais influente que residia na cidade mudou-se. Em 1960, Newark era um centro urbano pobre, rodeado de zonas residenciais ricas que com o centro não comunicava.
À medida que a população branca diminuía, a população negra aumentava. Em 1967, conflitos sociais descambaram em muitos distúrbios. Partes da cidade arderam. Nas décadas imediatas, a população da cidade baixou. Mas neste últimos anos estabilizou-se. Muitos projectos, tais como um novo aeroporto internacional, novos centros de escritórios e indústrias modernas, um novo centro de cultura, têm sido concluídos na cidade, dando-lhe um aspecto moderno e prometedor.
A cidade é constituída por dezasseis bairros. Um desses bairros, o «Ironbound», cobre uma área aproximada de 10 quilómetros quadrados. No século dezanove, neste bairro moraram alemães, lituanos, italianos e polacos. Mais tarde, depois de 1910, os primeiros portugueses começaram a chegar a Ironbound. Uma década depois já havia ali compatriotas nossos suficientes para formar o Sport Club Português, a primeira de mais de vinte associações que existem hoje no bairro também chamado «Pequeno Portugal». A imigração portuguesa já terminou, mas o bairro continua a atrair novos residentes vindos do Brasil, da América Latina, de Cabo Verde e outros países.
É à comunidade portuguesa que se deve a recuperação e reabilitação total deste bairro. As suas zonas residenciais estão limpas e as casas em bom estado. O comércio, que tem lugar predominante ao longo da Ferry Street, é o mais próspero de toda a cidade. As festas do Dia de Portugal atraem mais de meio milhão de pessoas de todas as nacionalidades e origens.
O dinamismo dos portugueses e o seu feitio universalista tornou este bairro num modelo de bem viver. O seu trabalho orgulha-nos a todos.
O dinamismo dos portugueses e o seu feitio universalista tornou este bairro num modelo de bem viver. O seu trabalho orgulha-nos a todos.
Para completar a viagem só me resta ir de visita a Nova Iorque, que fica mesmo a um pulo de Newark, do outro lado do rio Hudson.
New York é uma cidade cheia de tantos superlativos que levaria tempo a descrever.
Gostei de a ver e visitar ainda que não seja o lugar que eu escolheria para viver.
Esta minha viagem através da América, numa distância de 4.800 quilómetros, que levei seis dias a percorrer, termina aqui. Para mim foi uma experiência que jamais irei esquecer. Deixei o carro bem entregue e, às 7h30 da tarde, tomei o avião com destino a Sacramento, Califórnia. Em seis horas estaremos em casa.
Alcides Freitas
Um excelente trabalho do Alcides em 4 episódios, que nos deu a conhecer a América numa viagem transversal começada na capital do Estado da Califórnia e terminada no Atlântico.
ResponderEliminarFicámos a saber que a gesta portuguesa também marcou o crescimento daquele grande país.
Li algures que até no velho oeste do séc. XIX houve cowboys portugueses, quiçá pistoleiros rápidos no gatilho.
Quem sabe se heróis como o famoso Lucky Luke da banda desenhada, "o cowboy que dispara mais rápido que a sua própria sombra".
Não nos admiraria, pois os últimos tempos vêm monstrando que continuamos a ser uns país de muitos cowboys e grandes "coboiadas".
*
Parabéns, Alcides!
E ainda bem que passaste ao lado da Casa Branca, o que te poupou o desgosto que seria teres de chamar o Bush pelo nome que ele merece, coisa pouco recomendada no relato dum viajante.
Obrigado Sr.Alcides pelo "retrato" escrito da sua viagem!
ResponderEliminarNunca vivi em Newark mas fui lá muitoas vezes com os meus pais nos anos 60 visitar Portugueses de Bustos e aos bailes. De facto, Newark e a cidades vizinhas como Perth Amboy (o meu pai viveu alguns anos em Perth Amboy antes de se mudar para new Rochelle) eram centros importantes de imigraçao portuguesa da nossa região. Lembro-me de tantos, uns morreram lá e outros acabaram os dias cá.
ResponderEliminarEstive em Newark há dois anos por um acaso curioso. O avião que levava vários investigadores portugueses para um Congresso de Microbiologia aterrou em Newark, mas o avião que nos levaria para Cambridge, Maryland não prosseguiu viagem devido ao mau tempo. A companhia aérea pagou-nos a estadia num dos hoteis do aeroporto até ao dia seguinte quando já podiamos partir. Eu resolvi levar as pessoas a Ferry Street que era e ainda é, o centro dos Portugueses de Newark. Lá chegámos de taxi e começámos de uma ponta para a outra. Passámos por diversos bancos portugueses, por mercados onde se vendia bacalhau e sardinhas, barbearias com nomes de portugueses, por vendas de jornais com a "Bola", o "Jornal de Notícias". Na rua havia um grupo de homens que falavam sobre o "Quaresma", mas não percebi due estavam a falar sobre este jogador de futebol. Passmaos também pela igreja de N. Sra. de Fátima onde há muitos anos ia ao bailes na cave. Fomos jantar a um restaurante que pertencia a alguém de Cantanhede. A maior parte dos clientes não pareciam portugueses e no fim o empregado (que era português) perguntou se não queriamos um "doggy bag" para levar as sobras da comida connosco para o suposto "cão" que teriamos em casa. Esta pergunta foi para mim uma tristeza; o restaurante estava a virar americano onde isto é vulgar. As ruas estão agora povoadas de pessoas latino-americanas e o "cheiro" a Portugal está a desaparecer.
Agareço ao Alcides lembrar-me de outros tempos que não foram bons nem maus; foram o que eram e diferentes de agora.
Milton Costa