15 de maio de 2007

VIAGEM ATRAVÉS DA AMÉRICA (2)

Depois de ter percorrido mais de 500 quilómetros do deserto no Estado de Nevada, entrámos no Estado do Utah. A paisagem mudou. Nos próximos 200 quilómetros, a auto-estrada, sem qualquer curva, atravessa uma extensa área completamente plana, coberta de cristais de sal. É uma extensão do Great Salt Lake, ou Grande Lago do Sal. Exibe uma brancura que por vezes faz doer a vista. Nada parece viver neste ambiente. No fim da recta avistamos a linda cidade de Salt Lake City, capital do Estado. Localiza-se na margem do lago e num vale ladeado por montanhas altas e majestosas, as Montanhas Uinta. Aqui neva de verdade! Foi devido a estas condições orográficas e climáticas que a cidade de Salt Lake City acolheu os Jogos Olímpicos de Inverno em 2002.

Inicialmente, este território era ocupado por povos nativos de duas tribos: os Utes (deles deriva o nome do Utah) e os Navajos. Estas duas tribos viveram no seu território centenas e centenas de anos, muito antes da chegada dos exploradores e pioneiros de origem europeia.
Quando os residentes da parte Este do território americano se declararam independentes dos colonos ingleses e da Inglaterra em 1776, já exploradores católicos espanhóis e negociantes mexicanos documentavam as suas pesquisas sobre muitos aspectos físicos da região em volta de Salt Lake City.
Importa notar que esta parte do território americano fazia então parte do império espanhol, mas não havia ninguém a povoá-lo, a não ser, como é óbvio, os povos indígenas. Com a independência do México, o extenso território passou a “pertencer” aos mexicanos, ainda que não houvesse nenhuma ou quase nenhuma presença mexicana. Depois, à medida que novos exploradores do Este se deslocaram para estes territórios, tornou-se inevitável que mais tarde ou mais cedo iriam surgir conflitos para decidir quem ali exerceria a autoridade.
O problema veio a manifestar-se com a declarada autonomia do território do Texas. O México não concordou e depressa a discórdia resultou em guerra, a «guerra mexicana/americana». Este conflito militar, ocorrido em 1846-1848, resultou num tratado pelo qual os Estados Unidos tomaram posse dos territórios da Califórnia e do Nevada, Utah, Colorado, Arizona, Novo México e Wyoming.
Durante uns anos, nada aconteceu com o povoamento de Utah. Mas em 1847, membros da Igreja de Jesus Cristo dos Últimos Dias (os mormons), que estavam a ser perseguidos e oprimidos por razões religiosas pelos habitantes da costa Este dos Estados Unidos, decidiram fugir em grandes números e procurar refúgio em terras distantes no Oeste. E foi aqui, no vale de Salt Lake, que vieram estabelecer-se, fundando a cidade de Salt Lake City.
A sua influência e impacto foram tremendas. Instalaram sistemas de irrigação e programas agrícolas, promoveram a construção de muitas obras públicas, etc., etc. Apesar de todos estes contributos para o desenvolvimento do território, o Governo dos Estados Unidos recusou-se a aceitar Utah como um Estado enquanto a igreja e os mormons não abandonassem a prática da poligamia. O abandono foi declarado em 1890, quando os mormons fundamentalistas se separam da Igreja de Jesus Cristo dos Ultimos Dias, mas ainda hoje há lugares no Utah onde mormons praticam a poligamia.
Hoje Salt Lake é uma cidade moderna, limpa e próspera. A influência dos mormons e da sua igreja é evidente em todo o lado. No centro da cidade está o seu templo e um vasto complexo de edifícios que têm a aparência sumptuosa de autênticos palácios e que complementam as funções do templo.
Depois desta visita à cidade, a nossa viagem continuou, agora para “conquistar” as Montanhas Rochosas (Rocky Mountains). Estendem-se do Canadá, no Norte, ao México, no Sul, e traçam a divisão do continente americano em duas bacias hidrográficas: para Oeste das Montanhas Rochosas, as águas pluviais vão para o oceano Pacífico, e para Este vão para o Atlântico.
Atravessámos os Rockys debaixo de neve. As temperaturas eram baixas mas as condições na auto-estrada não eram muito más. Afrouxámos um pouco e seguimos viagem até entrar no Estado do Wyoming, lugar de índios e cowboys. Depois eu conto.

Alcides Freitas

2 comentários:

  1. Excelente relato de viagens, este do amigo Alcides. A divisão da narrativa em episódios também ajuda a leitura.
    Através duma linguagem simples e clara ficamos a conhecer a história, a geografia e os povos dos EUA.
    Não sabia, por exemplo, que os Mormons estavam instalados em Salt Lake City, cidade que fundaram.
    Mas já sabia que eram polígamos (nem todos, pelos vistos).
    Não é que eu seja invejoso, mas lá gostar, gostava, de ter um harém.
    Em contraponto, como não acredito no céu e muito menos na barbárie, já não invejo os fundamentalistas islâmicos que acreditam que Alá lhes reserva uma mão cheia de virgens no céu se morrerem pela causa, sobretudo assassinando muitos inocentes pelo caminho.
    Para dois pesos, duas medidas, ainda que o objectivo seja o mesmo:
    Disfrutar do mulherio à fartazana!
    *
    Entretanto, ó Alcides, dá-nos a descobrir mais América, que nem tudo são imbecilidades do Bush!

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  2. Aguardo o resto do relato da travessia do Alcides, estou a gostar. Fico contente por o Bustoense ter concretizado aquele que para muitos seria um sonho. Sirvamo-nos então dos olhos desse Bustuense para realizar também nós a travessia dos Estados Unidos.

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