14 de maio de 2007

VIAGEM ATRAVÉS DA AMÉRICA (1)

Nota introdutória
O bustuense Alcides Freitas concretizou há poucos dias um sonho. Partiu de Sacramento, capital administrativa da Califórnia (EE.UU.), em cuja zona vive, para atravessar o continente americano de costa a costa ao volante do seu automóvel. Durou seis dias esta aventura e dela começa hoje a falar-nos. Esperamos mais quatro textos com imagens recolhidas pelo bustuense, talvez o primeiro a realizar a façanha!
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Iniciada numa quarta-feira deste mês de Maio, a viagem tem o objectivo de percorrer o território americano da costa do Pacífico até à costa do Atlântico, uma distância de 4.800 quilómetros. É a realização de um desejo que há muito tempo venho alimentando: conhecer um pouco mais do interior deste continente com os seus habitantes, história, economia, centros urbanos e a sua paisagem. Neste percurso irei ver e apreciar alguns lugares históricos nos estados da Califórnia, Nevada, Utah, Wyoming, Nebraska, Iowa, Illinois, Indiana, Ohio, Pennsylvania, New Jersey e New York.
Chovia na manhã da partida, mas isso não apresentou nenhum obstáculo. Estávamos preparados. À medida que nos afastávamos de Sacramento, capital do Estado da Califórnia, começámos a avistar os picos da serra Nevada, uma cordilheira com um comprimento de 644 quilómetros que separa o Estado da Califórnia do Estado de Nevada. Em breve iríamos passar não muito longe de Coloma, lugar onde ouro foi descoberto pela primeira vez em 1849. Esta descoberta no leito do rio Americano, feita por acaso, teve grandes consequências sociais e económicas em todo o Oeste americano: a notícia espalhou-se como fogo por toda parte, até na Europa. A «corrida ao ouro», desde 1849, nas terras douradas da Califórnia, foi extraordinária. Cidades como San Francisco e Sacramento, que nessa altura mal existiam, cresceram e tornaram-se muito prósperas. Em 1850, a população da Califórnia era de 100 mil habitantes; uma década depois, tinha crescido para quase 400 mil pessoas. O ouro foi o maior factor para tal crescimento. Hoje a sua exploração quase desapareceu, mas o sentimento de que a Califórnia é um lugar «dourado», cheio de boas oportunidades e promessas, continua.

À medida que nos aproximávamos do pico da serra Nevada, a 2.800 metros de altura, a temperatura baixava para 2 graus negativos. A neve caía, branca e leve, branca e fria, como dizia o poeta. Este ano há falta de neve na serra. Uma boa acumulação de neve na Nevada é essencial para alimentar as grandes extensões agrícolas dos vales de Sacramento e San Joaquin e dar de beber à sede de um Estado que não pára de crescer. E logo entrámos no Estado de Nevada e na cidade de Reno.

É a maior cidade no norte do Estado de Nevada: tem uma população de cerca de 200 mil habitantes. A maior cidade neste Estado é a cidade de Las Vegas, localizada na parte sul.
A maior indústria de Reno, tal como em Las Vegas, são os casinos. Nevada foi o primeiro Estado nos Estados Unidos a legalizar o jogo e a prostituição. Hoje o jogo nos casinos existe em muitos estados na América.

Saindo da cidade de Reno, entramos no deserto. Não o típico deserto com areia por todo os lados, não. É uma vastíssima área árida, sem árvores e com uma vegetação baixa cor da prata. À primeira vista, este tipo de vegetação parece não ter qualquer vida, mas a presença de gralhas ao longo da estrada, mesmo no meio do deserto, demonstra que há coisas para comer, tais como pequenos animais que morrem ao tentar cruzar a estrada. Esses amigos de penas pretas, que também são carnívoros, alimentam-se com estes animais.

Muito embora seja «deserto», o ambiente está cheio de beleza natural, com vistas e cores deslumbrantes. Só o trânsito constante de carros e grandes camiões que transportam mercadorias, quebram o silêncio.

Mais umas centenas de quilómetros para Este, mesmo no meio do deserto, e aí encontramos a pequena cidade de Elko, que deve a sua existência ao caminho de ferro e à criação de gado. Elko está próxima do sopé das montanhas Ruby. É a neve que cai nestas montanhas que fornece a irrigação de vastas áreas, usadas para pastagens de gado. Elko continua a manter a aparência de um passado já distante. Os edifícios no centro da cidade dão-nos a impressão de que não foram construídos para durar muitos anos, pois têm um aspecto não muito moderno. Nesta cidade está estabelecida uma grande comunidade de Bascos. Imigraram para estes lados para cuidar dos grandes rebanhos de ovelhas e por aqui ficaram. São estes Bascos, do norte de Espanha, que têm dado bom nome à cidade, um lugar único, hospitaleiro, onde se come bem e ainda estão vivas as tradições e costumes desta gente oriunda da região europeia. À noitinha deixaremos o Estado de Nevada e entraremos no Estado de Utah.
A viagem continua…
Alcides Freitas

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