30 de maio de 2007

ERA UMA VEZ EM AVEIRO

Há um novo site, http://www.eraumavezemaveiro.com, a não perder.
Neste site, feito a pensar nos mais jovens, vais viajar até aos séculos XV e XVI e ficar a conhecer um pouco da história de Aveiro e de alguns dos territórios à sua volta. Encontrarás personagens muito divertidas! Reis, princesas, nobres, freiras, navegadores, camponeses e marnotos vão ajudar-te nessa descoberta. Vais ver que gostas da experiência!

O projecto Museave, desenvolvido entre Fevereiro de 2005 e Dezembro de 2006, resultou de uma candidatura do consórcio constituído pelo Museu de Aveiro (entidade gestora) e os Municípios de Aveiro, Vagos e Oliveira do Bairro ao Programa Aveiro Digital. O objectivo foi o de produzir uma aplicação digital que explorasse conteúdos museológicos e patrimoniais de forma lúdica, para uma faixa etária dos 8 aos 12 anos.
Deste projecto resultaram dois produtos distintos: Uma visita virtual animada ao passado da Vila de Aveiro, do Convento de Jesus e das propriedades que com ele se relacionavam, nomeadamente, o casal de Requeixo e a Quinta de Ouca. Um módulo de pesquisa. Este permite aceder à informação organizada e sistematizada resultante do trabalho de investigação desenvolvido no decorrer da preparação da visita virtual, mas também a outras informações relacionadas com a história do Convento de Jesus e dos territórios hoje sobre a tutela dos três municípios participantes.Todos os museus associados às referidas instituições (o Museu de Aveiro, o Museu de Requeixo, o Museu de S. Pedro da Palhaça e a Junta de Freguesia de Ouca, Vagos) possuem galerias digitais com acesso livre à Net, onde qualquer visitante poderá aceder ao Projecto e a uma grande diversidade de hiperligações.

29 de maio de 2007

O PODER DA GREVE E...


Está há muito determinado, pelo que mais do que verdade incontestada tal afirmação se tornou num verdadeiro dogma; “Portugal é um país de brandos costumes”.

Não é esta a ocasião para questionar o que é ponto assente. Aceitemos então que Portugal é um país de brandos costumes, o que até pode ser verdade a avaliar, por exemplo, pela brandura com que os derrotados das revoluções de 1910 e 1974 foram tratados. Mas Portugal é também um país de exacerbadas paixões, de “verdades” que subitamente se universalizam, de crenças, valores ou conceitos que, como por um passo de magia, se tornam esmagadoramente maioritários.

Foi assim na transição da Monarquia para a República, a ponto de D. Carlos ter dito que vivia numa “monarquia sem monárquicos”, como se comprovou no 5 de Outubro de 1910. Foi assim depois de Abril de 1974 quando desapareceram do mapa os defensores do regime deposto, e entre nós já só havia democratas de cravo no peito. Esta tendência para integrar o grupo das ideias dominantes tem sido uma das características lusas, tudo sempre fundado numa intrínseca capacidade/necessidade de engrossar as fileiras da “verdade indiscutível” de cada momento.
Estar em grupo e em maioria é a forma de cada um alicerçar a sua credibilidade. E quando se trata de crer somos capazes de o fazer de forma total e absoluta. Acreditamos em ideais mágicos, em falsos D. Sebastião ou até que o sol é capaz de rodopiar sobre uma oliveira.
A tendência para a “unanimidade das almas” sempre teve uma dimensão de fé, coisa total e absoluta que, apesar dos brandos costumes, nos tem levado a algumas experiências políticas únicas nos anais da história universal. Vem tudo isto a propósito da Greve Geral marcada para amanhã, dia 30, coisa afinal insignificante quando comparada com greves de outros tempos.

A GREVE DO VENTRE

Pouco depois da implantação da República o governo provisório chefiado por Teófilo de Braga legislou concedendo o direito à greve, garantindo «aos operários, bem como aos patrões, o direito de se coligarem para a cessação simultânea do trabalho.»
Empolgados com tal possibilidade todos sentiram a irrecusável necessidade de exercer tal direito, e a greve transformou-se na “solução” para todos os problemas. A onda grevista atravessou as mais diversas classes profissionais: operários, empregados de companhias comerciais e de transportes, ferroviários, telefonistas, pedreiros, empregados da Carris, estivadores, operários corticeiros, padeiros, sapateiros, caixeiros e trabalhadores rurais, etc. Da cidade a contestação estendeu-se ao campo. Todos queriam mudar de vida!
Só no ano de 1911 rebentaram 193 greves e, como sublinhou Fialho de Almeida, “três ou quatro das quais bastariam para pôr em perigo o governo provisório.”


Empolgados com a ideia de transformarem Portugal pela via grevista os portugueses do início do século XX utilizaram esta arma com requintes nunca antes experimentados. O projecto alcançou o seu auge, ultrapassou tudo o que ideólogos, filósofos e quejantos já tinham conjecturado quando, no meio da euforia grevista, foi lançada a palavra de ordem, a tal, que finalmente iria revolucionar a vida dos portugueses:
“Mulheres não procreeis!”, apelava um folheto de 1912 incitando à greve dos ventres femininos. Tudo afinal por uma boa causa já que “ neste oceano de fomes, de opressões, de martírios e vilanias”, a solução era “ não aumentardes o número de miseráveis; declarardes a Greve de ventres”.
Isto aconteceu na Primeira República e muitos pensaram que seria difícil ir mais longe. A esmagadora maioria julgou que nunca mais se conseguiria inovar, ou mesmo introduzir novas interpretações no conceito de greve. Pois estavam enganados.

Na sequência da revolução de Abril de 1974 de novo fomos capazes de ultrapassar o impensável e de dar ao mundo uma nova e gloriosa lição sobre o direito à greve. Os manuais de ciência política tiveram que ser reescritos pois Portugal veio demonstrar que a greve, enquanto conceito democrático e transformador da sociedade, pode e deve ser exercido por todos, incluindo o governo da nação.

Foi assim que o conselho de ministros, presidido por Pinheiro de Azevedo, decidiu “suspender a actividade”. Portugal teve o primeiro governo do mundo que entrou em greve. A greve do Poder. A audácia da Primeira República estava ultrapassada.
Tem por isso especial importância histórica o vídeo que hoje editamos (mais abaixo). Vale a pena recordar Pinheiro de Azevedo a explicar aos jornalistas a situação (“fora do normal”) do processo político em curso!
O povo de brandos costumes é capaz dos maiores atrevimentos mas, mesmo em greve, nunca perde um almocinho…

Belino Costa

...A GREVE DO PODER

Vale a pena recordar esse momento histórico quando o Primeiro Ministro "suspendeu a actividade" e foi almoçar.

28 de maio de 2007

ORFEÃO A CAMINHAR


A primeira caminhada do Orfeão de Bustos, que teve a participação de 154 pessoas, foi um êxito apesar do mau tempo que se fez sentir. Leia uma reportagem sobre esta iniciativa no Bustos à Lupa.

FEIRA MEDIEVAL A 6 DE JUNHO


O recinto da feira de Bustos, no Sobreiro, vai ser palco da Feira Medieval, numa organização conjunta da Câmara Municipal e da Junta de Freguesia, com a colaboração da companhia de teatro Viv’arte e Cavaleiros do Tempo.

A 5ª edição da Feira Medieval, desta vez a decorrer em Bustos, inaugura no próximo dia 6 de Junho, quarta-feira. A manhã e tarde desse primeiro dia será dedicada às camadas jovens para depois, à noite, a feira abrir portas ao público em geral.

Haverá jogos de destreza, passeios de burro, mendigos, encantadores de serpentes, jogos tradicionais de época, arruada de tambores e timbalões e dançarinas do ventre, barraquinhas de comes e bebes das associações e colectividades da freguesia, chás, doçaria e artesanato.

Na tarde do dia seguinte, 7 de Junho, feriado do Corpo de Deus, realizam-se os torneios de armas a cavalo com a companhia Viv’Arte e Cavaleiros do Tempo.

25 de maio de 2007

VIAGEM ATRAVÉS DA AMÉRICA (5)

Deixámos Chicago – a cidade do vento, como é conhecida – e recomeçámos a nossa viagem em direcção ao Este. Passámos pelo Estado de Indiana, mesmo no meio de uma zona industrial de grande importância. Esta região, que inclui South Bend, Detroit e Akron, é a base das grandes construtoras de automóveis e maquinaria pesada, além de muitos outros produtos usados na indústria automobilística. Enquanto na costa oeste da América o uso de automóveis de origem europeia e asiática é muito vulgar, é raro ver nesta região carros ou outro tipo de viaturas que não sejam de fabrico nacional.

A paisagem muda. Vêem-se menos campos de cultivo, ainda que a agricultura continue a ser importante nos estados de Indiana e do Ohio. À medida que nos aproximamos da fronteira com Pennsylvania, passamos a estar rodeados por florestas virgens, ricas de madeiras com alto valor económico e de muita beleza.
As árvores na região ainda estão nuas de folhas nesta altura. Estamos no mês de Maio e a Primavera ainda aqui não chegou. Têm medo do frio…

No penúltimo dia da viagem notei uma placa orientando os viajantes para uma cidade chamada Lisbon. Fiquei admirado e orgulhoso. Será possível que haja mais cidades, noutros estados, com este nome de Lisbon? Quando parei para almoçar consultei os mapas e livros de turismo e qual foi a minha surpresa, descobri que havia pelo menos sete cidades com o mesmo nome! Ainda estou por saber a razão de tal popularidade.

Se tudo correr como o planeado, irei chegar à cidade de Newark, New Jersey, lá para o meio da tarde. Terei atingido ali a costa leste!
E assim aconteceu. A auto-estrada guiou-me até às portas da cidade. Mas aqui, sem o benefício de mapas que indicassem todas as ruas, ser-me-ia difícil encontrar o lugar a que chamam o «Pequeno Portugal».

Enquanto decidia o que fazer, apareceu do meu lado esquerdo um automóvel que pertencia aos bombeiros da cidade. Baixei o vidro e perguntei:
- Por favor, indica-me como hei-de chegar a Ferry Street?
O indivíduo olhou para mim, pensou, e disse:
- É-me mais fácil levá-lo do que dar-lhe as indicações para lá chegar. Siga-me e eu conduzo-o à Ferry Street.

Segui o bom homem e, passados uns quinze minutos, estávamos à entrada da rua, esta rua que é frequentemente referida como a comunidade portuguesa de Newark. A primeira impressão que tive da cidade não podia ser melhor graças à amabilidade do bombeiro.
Segui vagarosamente, observando tudo e todos. Havia gente nos passeios com fisionomias tipicamente portuguesas. Cada edifício tinha lojas com nomes portugueses. Eram bancos Totta, Espírito Santo, edifício da TAP, cafés, restaurantes, bares, peixarias, agências de viagem, relojoarias, ourivesarias, etc., etc. Não havia dúvidas, esta rua podia fazer parte de qualquer cidade portuguesa… mas faz parte da cidade americana de Newark, na periferia de Nova Iorque.

Tudo isto era novidade para mim. Segui mais umas quadras e estacionei o carro. Saí e dirigi-me ao café na esquina. Entrei e foi já sem grande surpresa que encontrei uma vitrina cheia de pastéis de nata e outros doces tipicamente portugueses. Sentei-me e esperei para ser atendido, mas logo entendi que a tradição portuguesa de servir os clientes à mesa não é de uso por aqui. Fui ao balcão e paguei uma bica e uma água fresca do Luso. Depois de saborear o café decidi usar o telefone celular e chamar um amigo bustuense que sabia ter residência neste bairro. A mulher dele, D. Lídia, respondeu e informou-me que o marido, que eu procurava, não estava em casa. Devia estar no café com os amigos a ver o jogo da bola, pela televisão, em transmissão de Lisboa. Levantei-me e caminhei para o fundo do café onde um número de fãs seguia com emoção um jogo do Sporting com outro clube que já não recordo. Uma olhada bastou. Lá estava o meu conterrâneo e amigo Manuel Martins, conhecido em Bustos como o Neo do talho do ti Simão. Tinha encontrado o meu amigo e guia!

Com quase 300 mil habitantes, Newark é a cidade com a maior população do Estado de New Jersey. Em 1930, a cidade chegou a ter uma população de quase 450 mil habitantes, mas depois da Grande Depressão de 1929, um grande número de fábricas fechou e a classe mais influente que residia na cidade mudou-se. Em 1960, Newark era um centro urbano pobre, rodeado de zonas residenciais ricas que com o centro não comunicava.

À medida que a população branca diminuía, a população negra aumentava. Em 1967, conflitos sociais descambaram em muitos distúrbios. Partes da cidade arderam. Nas décadas imediatas, a população da cidade baixou. Mas neste últimos anos estabilizou-se. Muitos projectos, tais como um novo aeroporto internacional, novos centros de escritórios e indústrias modernas, um novo centro de cultura, têm sido concluídos na cidade, dando-lhe um aspecto moderno e prometedor.

A cidade é constituída por dezasseis bairros. Um desses bairros, o «Ironbound», cobre uma área aproximada de 10 quilómetros quadrados. No século dezanove, neste bairro moraram alemães, lituanos, italianos e polacos. Mais tarde, depois de 1910, os primeiros portugueses começaram a chegar a Ironbound. Uma década depois já havia ali compatriotas nossos suficientes para formar o Sport Club Português, a primeira de mais de vinte associações que existem hoje no bairro também chamado «Pequeno Portugal». A imigração portuguesa já terminou, mas o bairro continua a atrair novos residentes vindos do Brasil, da América Latina, de Cabo Verde e outros países.

É à comunidade portuguesa que se deve a recuperação e reabilitação total deste bairro. As suas zonas residenciais estão limpas e as casas em bom estado. O comércio, que tem lugar predominante ao longo da Ferry Street, é o mais próspero de toda a cidade. As festas do Dia de Portugal atraem mais de meio milhão de pessoas de todas as nacionalidades e origens.
O dinamismo dos portugueses e o seu feitio universalista tornou este bairro num modelo de bem viver. O seu trabalho orgulha-nos a todos.










Para completar a viagem só me resta ir de visita a Nova Iorque, que fica mesmo a um pulo de Newark, do outro lado do rio Hudson.


New York é uma cidade cheia de tantos superlativos que levaria tempo a descrever.

Gostei de a ver e visitar ainda que não seja o lugar que eu escolheria para viver.

Esta minha viagem através da América, numa distância de 4.800 quilómetros, que levei seis dias a percorrer, termina aqui. Para mim foi uma experiência que jamais irei esquecer. Deixei o carro bem entregue e, às 7h30 da tarde, tomei o avião com destino a Sacramento, Califórnia. Em seis horas estaremos em casa.

Alcides Freitas

Belino Costa - pelas 7 partidas do mundo

A revista Olá dedicou uma desenvolvida reportagem aos “globe-trotters” Maria do Carmo Guedes, Barata-Feyo, Belino Costa e mais outros arrojados pesquisadores do planeta. ... Belino Costa que para estadiar pela Ásia escolheu um itinerário que “o levou de Nova Iorque à Tailândia, passando pelo Alaska e pela China. Pelo Mundo”. Foi uma experiência de meses e meses. É o “exótico da Ásia”…

As agradáveis crónicas de viagem de Alcides Freitas dedicadas à travessia do poente-nascente dos Estados Unidos criaram a oportunidade de NB poder em breve mostrar Belino Costa, o explorador das vivências dos povos e da natureza das mais recônditas e longínquas paragens, já deu a volta ao mundo, mas pretende continuar …
..
Belino Costa, pelas 7 partidas do mundo”. Brevemente no Notícias de Bustos com mais desenvolvimento.
sérgio micaelo ferreira

24 de maio de 2007

Pirolitos, berlindes e bugalhas

Vi pela primeira vez pirolitos á venda e bebi um, durante a festa do S, João no Sobreiro por volta de 1957. Naquele tempo a festa de S. João (Baptista) também chamado pelas pessoas do Sobreiro S. João do Toledo – claro que não era um S. João oriundo da cidade de Toledo, Castela-a-Velha, em Espanha – mas do toledo (tolices), porque as pessoas do Sobreiro pregavam partidas umas às outras e dançavam no arraial, que naquele tempo só acontecia na festa de S. João onde não havia missa ou procissão ou padres, como se estivessem tolos. O S. João Baptista era naquele tempo um santo popular e o dia 24 de Junho, como é sabido, é muito perto do solstício de verão, a 21 de Junho.

Lembro-me que havia homens e mulheres a vender tremoços, amendoins, chupa-chupas, vinho, alguns petiscos e pirolitos no Largo do S. João. Os garotos divertiam-se a apanhar canas de foguetes depois de explodirem no ar, passeavam pela festa, pensavam nas miúdas, mas éramos demasiadamente novos para dançar ao som dos “jazes” como os Perus ou os Pavões.
Se tivéssemos dinheiro comprávamos um pirolito. Havia poucos frigoríficos naquele tempo, não havia arcas congeladoras, nem gelo e os pirolitos estavam quentes, mas eram deliciosos. O berlinde que impedia a saída da bebida tinha de ser empurrado para dentro da garrafa com o dedo para se poder beber o pirolito – termo também dado a um gole de água quando nadávamos nos poços, nas presas (represas) ou na praia. Eu não tinha força para empurrar o berlinde com o dedo, por isso pedia ao taberneiro para o fazer. Este empurrava-o com um pau para dentro do pequeno espaço do gargalo da garrafa que retinha o berlinde.
Não sei a composição do pirolito mas assemelhava-se a uma gasosa e continha água, açúcar, talvez um toque de limão e dióxido de carbono (CO2). O CO2 tinha três funções: tornar a mistura efervescente para ser mais agradável, retardar o crescimento microbiano na bebida e pressionar o berlinde contra a vedante de borracha no interior do gargalo da garrafa. Disseram-me em tempos a garrafa, com a bebida carbonatada era invertida, agitada para produzir dióxido de carbono que aumentava a pressão dentro da garrafa e mantinha o berlinde empurrado contra o vedante. Claro que os pirolitos pecavam por falta de higiene e a parte superior do gargalo ficava exposto ao exterior e com restos de açúcar que servia para a proliferação de micróbios. Nunca conheci alguém que ficasse doente por beber um pirolito, mas as garrafas foram proibidas há muito tempo.

Quando se partia uma garrafa podia-se aproveitar a pesada esfera de vidro para jogar “ao berlinde”. Confesso que, em Portugal, nunca joguei com este material, pelo simples facto de não possuir berlindes. Jogava, com os outros miúdos do Sobreiro, “à bugalha” que procurávamos nos carvalhos e que são bem redondinhas.


Não podemos confundir bugalhas com bolota. As bolotas são os frutos de carvalhos, enquanto que as bugalhas devem-se a uma reacção induzida por um ovo depositado logo debaixo da casca do carvalho por vespas da família Cynipidae. O ovo germina dentro da bugalha onde se transforma numa vespa. Claro que a vespa usa a bugalha para proteger os seus descendentes.
Cortem uma bugalha a meio e encontrarão um ovo, uma larva, uma pupa ou uma vespazinha com asas. Se a vespa tiver já saído deste invólucro protector, encontrarão um orifício no exterior e um espaço ovóide no centro do bugalha.

Hoje, garrafas de pirolito são coleccionadas por aqueles que se lembram desses tempos. Eu comprei duas a um antiquário há muitos anos e uma ainda tem o vedante de borracha. O Sérgio, ao que parece, também tem uma.
Milton Costa
Obs. de altino - imagem adaptada de VESPAS http://en.wikipedia.org/wiki/Gall_wasp

23 de maio de 2007

O pirolito

«A imagem chegou-me aos olhos trazida das funduras do tempo. Uma garrafa de pirolito! De vidro grosso, esverdeado. Que vinha para as lojas em grades de madeira, talvez de umas duas dúzias, e que refrescava as gargantas sequiosas nas tabernas e nos adros, em plena romaria…

Há quantos anos não a via? Obrigado, Sérgio, pela imagem recolhida sabe-se lá onde. Estou a vê-la e a recordar. A garrafa tinha uma argola de borracha vermelha no topo, onde encaixava a bolinha também de vidro. Quantas garrafas nós partimos à socapa para arranjar aqueles tão cobiçados «berlindes»?!

Abríamos o pirolito enfiando o dedo indicador e empurrando a bolinha para dentro. (Serviria de treino aos garotos para encenar estupros?) Por vezes, com o calor – porque o luxo dos frigoríficos ainda não chegara à terrinha, a água dos poços nem sempre estava à mão -, o líquido borbulhante espumava para fora, champanhe popular a derramar-se.

Era barato. E servia para misturar com vinho (aguando-o). Bom negócio da fábrica: água, uma pitada de açúcar e de gás… e estava feito o pirolito. Em garrafa maior, só tínhamos então as gasosas, mais caras.

Sérgio, serei um optimista incorrigível: estou a ver a garrafinha não vazia, não meia cheia, mas sim atestada até cima. À espera do meu dedo afiado, enfiado…»

[NOTA: Texto extraído de uma correspondência particular dirigida ao destinatário por Arsénio Mota.]

22 de maio de 2007

JÚNIOR 'OLÍMPICO' LOURO




VIAGEM ATRAVÉS DA AMÉRICA (4)

Muito mais descansado, tomei o pequeno almoço e preparei-me para a etapa que desta vez me irá levar até à cidade de Chicago.
Deixando o Estado do Nebraska para trás, entrámos no de Iowa. A paisagem e a exploração agrícola neste Estado são muito semelhantes à do território do Nebraska: vastas áreas usadas para o cultivo do milho e trigo e muito gado. Por aqui é mais vulgar verem-se lugares pequenos e cidades com nomes franceses, tais como Des Moines, capital do Estado de Iowa, pois esta região esteve no passado sob domínio de França. Em 1803, Thomas Jefferson, o terceiro presidente da América, comprou o território por 15 milhões de dólares. Esta compra, que envolvia uma área 23 vezes maior que Portugal, veio a chamar-se a “Louisiana Purchase”. O Estado do Iowa fazia parte dessa compra.

Demorámos mais de seis horas a atravessar o Iowa, cuja fronteira com o Estado do Illinois é o grande rio Mississippi. Ainda a uma grande distância do golfo do México, onde esta grande corrente desagua, o rio é impressionante! Parámos para o admirar de perto. Caminhei até à sua margem, talvez à procura de Tom Sawyer, imortalizado por Mark Twain (Samuel Clemmons) na sua obra clássica «Aventuras de Huckleberry Finn no rio Mississippi». Não encontrei o ladino mas falei com uns quantos indivíduos que passavam o tempo a pescar à beira-rio. Vi um deles apanhar dois peixes com uma só linha munida com dois anzóis. Assim vale a pena pescar!
Atravessámos o rio e seguimos viagem a caminho de Chicago.
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Chicago é uma cidade de 3 milhões de habitantes. Já passou por bons e por maus tempos. Nas décadas após 1950, aliás como já acontecia em tempos anteriores, as classes ricas que viviam no centro da cidade entraram a mudar-se mais para os subúrbios, afastando-se das classes pobres que iam chegando à cidade em grandes quantidades à procura de emprego e melhor vida. Para trás ficaram muitos bairros empobrecidos que logo foram ocupados por emigrantes vindos do Sul da América, geralmente de origem africana, e muitos outros vindos da Ásia, México, Puerto Rico, etc. Estes mesmos movimentos de mudança das classes mais influentes, usualmente de brancos, para os subúrbios, abandonando os centros urbanos e os problemas sociais associados com as classes pobres, repetiam-se e repetem-se em quase todos os grandes centros urbanos da América. Então estabelecem-se ali os «ghetos» e o crime começa a fazer parte do quotidiano – um ciclo vicioso.

Chicago sempre foi uma cidade com muita indústria e muitas oportunidades de trabalho para indivíduos sem grandes habilitações. Essas oportunidades de emprego têm diminuído ou têm sido transferidas para outras partes do mundo onde o preço da mão de obra é mais barato. Chamam a isto «globalização» …
O que fica são os edifícios das fábricas abandonadas e os equipamentos ferrugentos que se vêem por muitos lados. O aspecto é um pouco degradante. Encontram-se montes de ferro velho e asfalto por muitas partes. A beleza há tempos que não vive por aqui. Irá levar tempo a reabilitar estes espaços antes usados por indústrias ultrapassadas.
Mas o centro de Chicago é moderno. Os arranha-céus são tão altos que podemos vê-los a muitos quilómetros de distância. De facto, a cidade continua a ter um lugar importantíssimo no mundo de negócios.

Aproveito esta oportunidade para dar a conhecer aos meus compatriotas uma figura de luso-americano nascido e educado aqui em Chicago que se afirmou como um gigante no mundo da arquitectura americana. O seu nome é William Pereira. Filho de portugueses, nasceu em 1909 e faleceu em 1985. Teve um irmão que também era arquitecto mas não tão talentoso. O arquitecto Pereira era famoso pelo seu estilo futurista, tal como o edifício «pirâmide» (tem nome: «Transamerica») na cidade de San Francisco, que hoje é o ícone que identifica a cidade. Durante a sua carreira profissional, Pereira projectou o aeroporto internacional de Los Angeles, o planeamento da cidade de Irvine, o «campus» da Universidade da Califórnia em Irvine, o Museu de Arte de Los Angeles e centenas de outras obras de grande valor por todo o país. Em 1949, Pereira passou a ser também professor na Universidade de Southern California (USC) e chegou a ser dele a empresa de arquitectos que maior prestígio alcançou na América. Enfim, foi um dos grandes luso-americanos. Deve ser conhecido e reconhecido por nós pelo seu valor.
A visita a Chicago teve para mim um interesse especial. Lembro-me de, quando na faculdade, eu e os meus colegas que cursávamos Urbanismo ou Planeamento Urbano, tivemos de estudar uma iniciativa que tinha o nome de «The City Beautiful Movement» (o Embelezamento da Cidade). A iniciativa não começou em Chicago mas veio a ser aplicada pela primeira vez nesta cidade.

A segunda metade do século dezanove e os princípios do século vinte foram um período de grande transformação e mudança na sociedade americana em resultado da revolução industrial. Os dias de uma actividade agrária simples terminaram para dar começo a uma vida muito mais complexa, com bons e maus resultados. Uma grande parte da população veio viver para a cidade em busca de melhor vida, o que nem sempre aconteceu. As cidades começaram a revelar, num espaço concentrado, todos os males da sociedade: pobreza, crime, degradação de partes das cidades e, em muitos casos, o desespero de muita gente. Os residentes que tinham poder de compra, com o avanço de melhores meios de transporte individual, tinham encontrado e estabelecido residência nos subúrbios, abandonando os centros das cidades para as classes pobres, fenómeno este que ainda hoje se mantém.

Assim, alguma coisa tinha que ser feita para resolver o problema.
Os principais protagonistas do Embelezamento da Cidade acreditavam que isso de melhorar e embelezar as cidades iria ter um resultado positivo nas pessoas que as habitavam, inspirando-as a melhorar as suas condições de vida. Um outro objectivo era atrair para o centro das cidades as classes mais influentes. Seria uma maneira simples de corrigir ou aliviar problemas sociais complicados ou difíceis de resolver. A primeira aplicação desta iniciativa teve lugar em Chicago em 1893. Uma grande parte da urbe fronteira ao lago Michigan ficou transformada numa área lindíssima para receber a Feira Mundial – Columbian Exposition de 1893. Grandes arquitectos de fama mundial, tais como Louis Sullivan e Frederick Law Olmsted participaram no projecto.

O lugar embelezado teve um sucesso extraordinário e desde então tem servido de modelo a outras iniciativas semelhantes por toda a América.
É interessante notar a grande semelhança desta iniciativa com a reabilitação da área degradada na margem do rio Tejo, em Lisboa, que albergou a Exposição Mundial de 1998.

Uma vez mais, é tempo de partir. Neste momento já estamos próximos do nosso destino. Temos, uma vez mais, de ajustar os relógios, pois em breve entraremos na zona que já atinge uma diferença de três horas da hora local da nossa partida da Califórnia.

Alcides Freitas

21 de maio de 2007

Nossa Senhora de Vagos: a romaria

Todos conhecemos a ermida de Nossa Senhora de Vagos, santuário que datará do séc. XII e à volta do qual giram muitas lendas e tradições.
Reza a lenda que a imagem foi recolhida dum navio francês que terá naufragado na praia da Vagueira e que terá sido D. Sancho I a mandar erguer a ermida e uma torre militar, a fim de defender os peregrinos dos piratas que constantemente assaltavam aquela praia.

Não faltam milagres que a tradição associa a N.ª Sra. de Vagos, o mais interessante dos quais se prende com a fome que grassava nos campos de Cantanhede devido a uma seca prolongada. Ao ouvir um sino tocar para os lados do mar de Vagos, o povo aí se dirigiu. Chegados à ermida de Nossa Senhora de Vagos, a ela rezaram pela benfazeja chuva. Houve milagre e com ele a tradição dos povos de Cantanhede se deslocarem anualmente àquele local de peregrinação, distribuindo ao mesmo tempo esmolas, pão e outras benesses.

A tradição ainda se mantém e o pão de Cantanhede continua a ser distribuído em grande quantidade no largo da Nossa Senhora de Vagos.

Guardo a recordação dos pãezinhos duros que duravam uma vida, não por qualquer milagre dos pães, mas certamente porque não levavam fermento.

Entretanto, as festas de Vagos vão decorrer de 24 a 29 deste mês e não faltará mesmo uma Bienal do Pão, lá para 12 de Julho.
A partir das 18H30 da próxima 5ª feira será inaugurada uma exposição de rádios antigos, obviamente do nosso Manuel dos Rádios.
*
A propósito: no passado sábado, o nosso Alexandre Duarte escolheu o bonito e airoso espaço do santuário da N.ª Sra. de Vagos para juntar os trapinhos com a menina dos Correios de Bustos, natural daquele sítio; das areias, como usávamos dizer.
Aqui deixo dois pedidos à Sra. de Vagos: que o Alexandre continue a participar no NB e que a nossa querida estação dos correios não seja devorada pelo economicismo dos novos tempos.

Haja fé!
*
oscardebustos

20 de maio de 2007

APOIE A UDB

A QUEM A VERDADE POSSA INTERESSAR

A QUEM A VERDADE POSSA INTERESSAR

Não tinha a menor intenção de alimentar a maledicência dos meus fiéis detractores, sequer de contestar as suas profundas "verdades". Contudo, o silêncio é uma cobardia quando são atingidas pessoas que me distinguem com a sua amizade e as quais tanto trabalharam para a causa do ABC.

Assim, cumpre-me informar – digo-o sem falsa modéstia – que tive a honra de presidir a uma comissão que, no seu género, raras vezes vista, seja a nível local, seja por esses caminhos de Deus.

Como é fácil de verificar, não escondo o orgulho dela ter feito parte. Todavia, é importante referir que a referida comissão era um órgão colegial com todos os membros que tal órgão exige, ou seja, presidente, tesoureiro, secretário, etc. Neste órgão colegial, todas as deliberações eram propostas e deliberadas em plenário por todos os membros. Sendo, como é habitual, o tesoureiro o fiel depositário de todas as contribuições recebidas e estas assinadas pelo contribuinte e por dois membros da comissão a fim de que não houvesse "a posteriori" qualquer mal-entendido. A transparência desta comissão pode ser verificada pelo dossier que foi entregue no ABC e o qual deve estar lá arquivado.


Creio que quanto à comissão e ao seu exemplar procedimento nada há que não possa ser verificado e comprovado.
[…]
Embora não aprove o modo como bloguistas têm achincalhado a minha vida pessoal e profissional, sou capaz de conviver com esses acintosos comentários. O que não posso aceitar é que outras pessoas sejam aviltadas só porque outrora comigo colaboraram.

Convido, os divinos comentaristas – unidos pelo gosto da detracção e o desrespeito pelo outro – usaram a minha pessoa para entreter a sua ociosidade, mas, por favor, abstenham-se de escrevinhar críticas sobre os meus amigos.

Respeito por essa comissão é a palavra de ordem.
Ulisses de Oliveira Crespo
Orden Diego de Losada
(Comendador)

19 de maio de 2007

VIAGEM ATRAVÉS DA AMÉRICA (3)

É o terceiro dia da nossa viagem. Esta manhã, no hotel, tive conhecimento de que o tempo no mid-oeste estava turbulento e que era potencialmente perigoso. Meteorologistas, ao serviço da televisão e da imprensa, anunciavam previsões de ventos fortes, trovoadas, e até possibilidade de furacões nas regiões sul-oeste, a uns quinhentos quilómetros de onde estávamos. Estudámos as previsões e os mapas e decidimos partir o mais depressa possível. Com um bocadinho de sorte, poderíamos cruzar os estados do Wyoming e do Nebraska antes que a tempestade se virasse para o norte e viesse alterar o nosso programa.
A parte sul do Wyoming não tem montanhas. É uma região aberta, sem quaisquer barreiras, com terreno suavemente ondulado e coberto de verdes pastagens. Com a excepção da auto-estrada que percorremos e a linha de caminho de ferro quase paralela à nossa via, pouco mais parece ter alterado a fisionomia deste territorio desde tempos pré-históricos. São raras as vezes que avistamos qualquer tipo de povoação e, quando alguma se encontra, está sempre ao lado do caminho de ferro.
Não é de admirar que a maior parte das cidades no interior da América devem a sua existência ao caminho de ferro, salvo aquelas que se encontram ao lado dos grandes rios, tais como Omaha, Kansas City, Minneapolis, St. Louis, Memphis, etc. Estas cidades estão nas margens dos rios Missouri e Mississippi.
Antes da chegada dos pioneiros europeus e de outros aventureiros, isto era um território ocupado por muitas tribos indígenas. Os índios no Wyoming eram nómadas: mudavam-se de região para região, guiados pelo movimento das grandes manadas de búfalos e outros animais que lhes davam o sustento. Eram eles os Arapaho, Arikara, Bannock, Blackfeet, Cheyenne, Crow, Gros Ventre, Kiowa, Nez Perce, Sheep Eater, Sioux, Shoshone and Ute tribes.
Para os indios, isto deveria ser um autêntico paraíso. Pouco lhes faltava. Mas este paraíso não ia durar. Com a chegada dos primeiros caçadores de peles europeus e outros pioneiros, a região entrou numa fase cheia de conflitos e de guerra. Não tardou que os índios se dessem conta que os invasores traziam projectos, valores e aspirações pessoais muito diferentes. A terra e os animais que nela viviam eram para os indios propriedade comum e para ser venerada. Para os pioneiros brancos, a terra era um espaço a dividir pessoalmente e explorado, O búfalo, que era essencial à vida dos índios, era morto pelos invasores pela sua pele, para comercializarem. A guerra tornou-se inevitável. Os índios tudo fizeram para proteger as suas terras e maneiras de viver. Os pioneiros tentavam estabelecer-se nesta «nova fronteira» com a ajuda das forças militares americanas, vindas do Este dos Estados Unidos. Houve muitas mortes dos dois lados, mas no fim dos conflitos e combates foram os nativos quase totalmente desbaratados e os sobreviventes tiveram que submeter-se ao poder das «leis» dos novos ocupantes.
No período de 1807 a 1890, a região foi conhecida como o Oeste Selvagem (Wild West).
O maior negócio no Wyoming era a criação de gado que, em manadas, era guiado por cowboys desde as suas vastas pastagens para os novos centros de comércio de gado: Laramie, Cheyenne, e tantos outros centros em todo o mid-oeste.
Esta história da colonização da região, com todos os seus conflitos entre pioneiros, índios e cowboys, resolvidos pela «lei da pistola», tem sido imortalizada em filmes que nós tanto apreciávamos quando éramos garotos. Lamentavelmente, aqueles filmes raramente mostravam os lados todos de uma visão imparcial.
A nossa viagem prosseguiu, pois, apressadamente. Não muito longe da estrada, ocasionalmente, podíamos ver manadas de antílopes americanos (Antilocapra Americana). Lembrei-me então que este animal está a perder a luta pela sobrevivência com o desenvolvimento da região. Durante milhares de anos, o antílope migrou todos os anos para grandes distâncias. Mas agora muitas das suas rotas de migração estão a ser interrompidas pela construção de barragens, estradas, aquedutos, etc. Estas «trancas» ao movimento normal dos animais afectam não só a eles, afectam também outras espécies, como o lobo, o urso e o leão da montanha (também conhecido por puma), que vivem no Norte desta região e dependem dos antílopes para sobreviver.
Estamos a aproximar-nos de Laramie, cidade com um grande lugar na história do Oeste, mas que hoje parece ter perdido essa identidade. É pena que os líderes locais não tenham podido opor-se a esta sua «modernização», sacrificando o que ela tinha de histórico.

Seguimos viagem. Podemos notar, ao longo do nosso percurso, vários campos de extração de petróleo e gás natural. Paramos na capital de Wyoming, Cheyenne. Continua a chover e a ventar. Não há tempo a perder! A tempestade ainda nos ameaça. Temos que atravessar o Estado de Nebraska antes do anoitecer se quisermos fugir à borrasca. Nas últimas horas temos ouvido notícias de furacões, que destruíram completamente uma povoação no Estado de Kansas, mesmo a sul de onde nos encontramos.

A orografia do território do Nebraska é semelhante à do Wyoming, mas os solos são muito mais férteis. Aqui as propriedades são amplas, vastissimas. Quase todos os terrenos têm cultivos de milho, trigo ou soja. Ao invés do que se passa na Califórnia, aqui o trabalho na agricultura não requer muita mão de obra. O trabalho é feito com máquinas operadas pelo proprietário e membros da familia. Em geral, cada proprietário cultiva em média 150 hectares. Não vejo pomares nenhuns, um quintalzinho com couves, nabiças, saladas, aipo, cenouras, etc. Este tipo de produtos vêm da Califórnia, onde há necessidade de empregar muitos trabalhadores no cultivo de legumes. No mid-oeste a população é 98% branca e… muito conservadora.

Depois de ver campos de milho ao longo de mais de 300 quilómetros, chegamos finalmente à linda e moderna cidade de Omaha.


Estou cansado. Esta noite vou dormir bem! E amanhã, ao fim do dia, contamos estar em Chicago.

Alcides Freitas

18 de maio de 2007

João Simões- Assento de óbito



Aos quatro dias do mes de Abril de mil e setecentos e quarenta e dous annos faleceo da vida prezente João Simoens da Povoa de Bustos desta freguezia de San Simão da Mamarroza com todos os sacramentos da comfição e santissimo sacramento e extrema unçom e se sepultou nesta igreja de Sam Simão da Mamarroza elegeo sepultura na Capella de Sam
Lourenço de Bustos mas porque a ordem que tinha mandado buscar a Coimbra tardar e o corpo ter já alguma corruçom e mão cheiro detreminarão os famileares da caza o trouxesem a igreja e lhe des[s]em sepultura aonde esta emterrado e aon[de] se fez e esta sepultado entre o altar do Senhor e o da Senhora do Rozario debaixo de hua canpa e por verdade foi este termo que asigney no tempo supra.
___________________________________
Assento de óbito facultado pelo Professor Licínio.

viva> tasquinha de Bustos

COOPERAÇÃO DA JUNTA DE FREGUESIA COM A ESCOLA SECUNDÁRIA DE OLIVEIRA DO BAIRRO

Da acta da sessão da Assembleia de Freguesia de Bustos, de 22 de Dezembro último, em resposta “ao deputado Jorge Grangeia que tomou a palavra» a pedir esclarecimentos entre os quais «Desejou saber se existiam protocolos para alfabetização», o Presidente da Junta de Freguesia de Bustos «Salientou a disponibilidade para a cedência das instalações do rés do chão da Sede da Junta, para o ensino recorrente. Definiu que havia um protocolo com a Escola do Ensino Secundário de Oliveira do Bairro.»


A 14 de Dezembro de 2006, a Escola Secundária de Oliveira do Bairro (representada por Álvaro Pires dos Reis) e a Junta de Freguesia de Bustos (representada por Manuel da Conceição Pereira) tinham assinado um protocolo de cooperação[1] para o desenvolvimento do Sistema de Reconhecimento, Validação e Certificação de Competências [RVCC – Escolar e/ou Profissional] que, entre outros objectivos, irá proporcionar a “aquisição da formação de base dos activos com baixa escolaridade” e “reforçar e diversificar a oferta de cursos profissionalmente qualificantes” (do preâmbulo).

Uma medida a aplaudir.

sérgio micaelo ferreira
(à margem: os parabéns a «Bustos à Lupa» por ter conquistado a cooperação de Liciniosaurus bustuensis, xlx)

*


[1]

[cópia da página 1 do protocolo]

"PROTOCOLO DE COOPERAÇÃO
PREÂMBULO



Atendendo às medidas conducentes à promoção e à melhoria da qualificação escolar e profissional dos jovens e adultos consignadas na Iniciativa Novas Oportunidades e sustentadas nas directrizes do Plano Nacional de Emprego (PNE) e do Plano Tecnológico;
Considerando os princípios orientadores do PNE e do Plano Nacional de Acção para o Crescimento e Emprego {PNACE), que prevêem a rentabilização dos recursos existentes em termos de infra-estruturas, equipamentos, formadores e outros técnicos de formação, o estabelecimento de parcerias que potenciem o intercâmbio e a partilha de meios e experiências, a nível local;
Tendo presente a necessidade de reforçar e diversificar a oferta de cursos profissionalmente qualificantes e de promover a aceitação e a valorização social destas vias de formação e educação;
Tendo presente ainda a necessidade de desenvolver o Sistema de Reconhecimento, Validação e Certificação de Competências com vista à aquisição da formação de base dos activos com baixa escolaridade, na qualificação de 1.000.000 de activos até 2010 (meta estipulada na Iniciativa Novas Oportunidades);
Nestes termos, a Escola Secundária de Oliveira do Bairro, sedeada na Rua dos Colégios, em Oliveira do Bairro, com o número de contribuinte 600 022 757, devidamente representada por Álvaro Pires dos Reis, [...] Coordenador do Centro Novas Oportunidades da escola, doravante designado por primeiro outorgante, e a autarquia Junta de Freguesia de Bustos, pessoa colectiva de natureza pública n.º 507 623 576, com sede na Rua Jacinto dos Louros, 6, 3770-018 Bustos, devidamente representado neste acto pelo presidente Manuel Conceição Pereira, [...], doravante designado por segundo outorgante, é ce1ebrado o presente Protocolo de Cooperação.


Cláusula 1.ª
(Objectivos)

Constituem objectivos do presente Protocolo:
- Contribuir para a elevação dos níveis de qualificação dos jovens e adultos da região;
- Fazer do 12° ano o referencial mínimo de escolarização dos jovens, que saem hoje dos
sistemas de educação e formação e que os trajectos de qualificação profissional garantam, em simultâneo, uma certificação escolar e profissional;
- Promover dispositivos de Educação e Formação, conducentes à certificação de competências desenvolvidas em contextos formais, não formais e informais, com o objectivo de elevar os níveis de qualificação da população;
- Envolver um número crescente de adultos em percursos qualificantes, nomeadamente em Cursos de Educação e Formação de Adultos;
- Estimular a procura da qualificação, como condição de sucesso do trajecto pessoal, social e comunitário, mobilizando as populações para o desafio da aprendizagem;


Cláusula 2.ª
(Compromissos)

Para a concretização dos objectivos supra definidos, os Outorgantes assumem igualmente o compromisso de:
- Comungar com os princípios subjacentes ao presente Protocolo, empenhando-se concertadamente na sua execução e divulgação;
- Disponibilizar informação sobre a oferta formativa e respectivas componentes curriculares;
- Partilhar recursos e meios necessários, dentro das suas possibilidades, de forma a uma maior rentabi11dade, eficácia e eficiência.
- Participar nas reuniões com regularidade para, designadamente, trocar informações, apresentar sugestões e proceder a uma avaliação da evolução do cumprimento dos objectivos.


Cláusula 3.ª
(Duração)

O presente protocolo será válido pelo prazo de três anos, automaticamente renovado por iguais períodos, salvo denúncia por qualquer das partes, com a antecedência mínima de três meses.


Cláusula 4.ª
(Vigência)

O presente protocolo entra em vigor depois de assinado por ambos os outorgantes, sendo feito em duplicado, ficando um exemplar em poder de cada um deles.
Oliveira do Bairro, 14 de Dezembro de 2006"

(...)


17 de maio de 2007

Bustos no 'VIVA> 2007'

VIVAM AS ASSOCIAÇÕES!

O concelho de Oliveira do Bairro retomou hoje o seu feriado municipal da 5ª feira da Ascensão.
O regresso à celebração pagã do chamado “dia da espiga” resultou de deliberação da Assembleia Municipal em reunião de 30/6/2006, pondo fim ao feriado a 26 de Agosto que apenas se manteve em 2004, 2005 e 2006. A controvérsia suscitada com a criação do feriado com uma matriz política durou pouco tempo....

Chamo a vossa atenção para a inauguração que ontem decorreu do “2º VIVA AS ASSOCIAÇÕES”, no mesmo local do ano passado: pavilhão, piscinas e área envolvente da zona desportiva de Oliveira do Bairro, ali mesmo ao lado do estádio municipal.


As associações do nosso concelho estão lá representadas e percorrer os seus stands ajuda a conhecer e reconhecer o trabalho de muitos e de cada um em prol da colectividade.
Toca a ir lá até domingo próximo; e depressinha, que o tempo é curto.
Venham ver, ler e conhecer o que o nosso concelho tem de melhor: a pujança do movimento associativo.
*
É o 25 de Abril no seu melhor!
O resto são cantigas,
...que também as há.

A iniciativa camarária, a variedade e a riqueza do programa, merecem elogio grande e a melhor forma de o reconhecer é participar.
É ir e demorar a voltar.

*
Logo mais, espero trazer-vos o trabalho das 2 últimas fabricantes de esteiras do concelho, que ontem o cerimonial da inauguração não deu para descer à terra, a este chãozinho das nossas raízes.
..
Inté lá.
(clicar em cada imagem, para ver o programa ampliado).
*
oscardebustos

16 de maio de 2007

ACTIVIDADES DA JUNTA EM RESUMO

PROPOSTA [apresentada na sessão da Assembleia de Freguesia de Bustos, em (…) ]

Dado que compete à assembleia de freguesia acompanhar e fiscalizar a actividade da junta, sem prejuízo do exercício normal da competência desta e que esta acção de fiscalização, consiste numa apreciação casuística, posterior à respectiva prática, dos actos da junta de freguesia, como está regulamentado no Regimento Interno e na lei geral.

Entendem os membros do PPD/PSD desta Assembleia que a actividade da Junta de Freguesia passe a ser escrita e acompanhe a convocatória da Assembleia para que efectivamente esta possa ser verificada.
[Nota: a proposta vem assinada por Paulo Alves, Alcino Caetano da Rosa, Fernando Almeida, Mário Reis Pedreiras - membros da assmbleia pelo PSD e posteriormente subscrita por Humberto Reis Pedreiras (PS)]
[Em consequência desta, a Junta de Freguesia de Bustos apresentou o resumo de actividades realizadas no intervalo de 22.12.2006 a 13.04.2007], conforme se transcreve:
"ACTIVIDADES DA JUNTA DE FREGUESIA DE BUSTOS
RESUMO
22 de Dezembro de 2006 a 13 de Abril de 2007

1.
a) Restauro do Lavadouro do Cabeço
b) Recuperação da zona envolvente com saneamento de aguas pluviais, passeios e estacionamento
2. Limpeza geral ao cemitério
3. Limpeza de todas as zonas pedonais com passeio e preparação para varrimento automático das ruas
4. Limpeza das valetas em toda a Freguesia.
5. Poda de arvores nos jardins da Freguesia e Recinto da Feira.
6. Limpeza de caminhos nos limites da Freguesia com Covões e Mamarrosa.
7. Corte de jardins e rotunda e respectiva adubação.
8. Execução de placas de betão para colocar placas de toponímia.
9. Preparação de painéis toponímicos para todas as ruas da Freguesia.
10. Recuperação do Lavadouro das Coladas e inserção de novas escadas e passeio frontal.
11. Varias reuniões com o Executivo, assinatura de protocolos:
- Limpeza de valetas com a Câmara Municipal.
- Com a Escola Secundaria de Oliveira, directrizes (Plano Nacional de Emprego) e do Plano Tecnológico.
- Com o Centro de Emprego de Águeda (Plano Ocupacional de três trabalhadores por mais um período de seis meses)

O Presidente da Junta de Freguesia,
(ass.)
­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­_____________________________
Manuel da Conceição Pereira "

15 de maio de 2007

VIAGEM ATRAVÉS DA AMÉRICA (2)

Depois de ter percorrido mais de 500 quilómetros do deserto no Estado de Nevada, entrámos no Estado do Utah. A paisagem mudou. Nos próximos 200 quilómetros, a auto-estrada, sem qualquer curva, atravessa uma extensa área completamente plana, coberta de cristais de sal. É uma extensão do Great Salt Lake, ou Grande Lago do Sal. Exibe uma brancura que por vezes faz doer a vista. Nada parece viver neste ambiente. No fim da recta avistamos a linda cidade de Salt Lake City, capital do Estado. Localiza-se na margem do lago e num vale ladeado por montanhas altas e majestosas, as Montanhas Uinta. Aqui neva de verdade! Foi devido a estas condições orográficas e climáticas que a cidade de Salt Lake City acolheu os Jogos Olímpicos de Inverno em 2002.

Inicialmente, este território era ocupado por povos nativos de duas tribos: os Utes (deles deriva o nome do Utah) e os Navajos. Estas duas tribos viveram no seu território centenas e centenas de anos, muito antes da chegada dos exploradores e pioneiros de origem europeia.
Quando os residentes da parte Este do território americano se declararam independentes dos colonos ingleses e da Inglaterra em 1776, já exploradores católicos espanhóis e negociantes mexicanos documentavam as suas pesquisas sobre muitos aspectos físicos da região em volta de Salt Lake City.
Importa notar que esta parte do território americano fazia então parte do império espanhol, mas não havia ninguém a povoá-lo, a não ser, como é óbvio, os povos indígenas. Com a independência do México, o extenso território passou a “pertencer” aos mexicanos, ainda que não houvesse nenhuma ou quase nenhuma presença mexicana. Depois, à medida que novos exploradores do Este se deslocaram para estes territórios, tornou-se inevitável que mais tarde ou mais cedo iriam surgir conflitos para decidir quem ali exerceria a autoridade.
O problema veio a manifestar-se com a declarada autonomia do território do Texas. O México não concordou e depressa a discórdia resultou em guerra, a «guerra mexicana/americana». Este conflito militar, ocorrido em 1846-1848, resultou num tratado pelo qual os Estados Unidos tomaram posse dos territórios da Califórnia e do Nevada, Utah, Colorado, Arizona, Novo México e Wyoming.
Durante uns anos, nada aconteceu com o povoamento de Utah. Mas em 1847, membros da Igreja de Jesus Cristo dos Últimos Dias (os mormons), que estavam a ser perseguidos e oprimidos por razões religiosas pelos habitantes da costa Este dos Estados Unidos, decidiram fugir em grandes números e procurar refúgio em terras distantes no Oeste. E foi aqui, no vale de Salt Lake, que vieram estabelecer-se, fundando a cidade de Salt Lake City.
A sua influência e impacto foram tremendas. Instalaram sistemas de irrigação e programas agrícolas, promoveram a construção de muitas obras públicas, etc., etc. Apesar de todos estes contributos para o desenvolvimento do território, o Governo dos Estados Unidos recusou-se a aceitar Utah como um Estado enquanto a igreja e os mormons não abandonassem a prática da poligamia. O abandono foi declarado em 1890, quando os mormons fundamentalistas se separam da Igreja de Jesus Cristo dos Ultimos Dias, mas ainda hoje há lugares no Utah onde mormons praticam a poligamia.
Hoje Salt Lake é uma cidade moderna, limpa e próspera. A influência dos mormons e da sua igreja é evidente em todo o lado. No centro da cidade está o seu templo e um vasto complexo de edifícios que têm a aparência sumptuosa de autênticos palácios e que complementam as funções do templo.
Depois desta visita à cidade, a nossa viagem continuou, agora para “conquistar” as Montanhas Rochosas (Rocky Mountains). Estendem-se do Canadá, no Norte, ao México, no Sul, e traçam a divisão do continente americano em duas bacias hidrográficas: para Oeste das Montanhas Rochosas, as águas pluviais vão para o oceano Pacífico, e para Este vão para o Atlântico.
Atravessámos os Rockys debaixo de neve. As temperaturas eram baixas mas as condições na auto-estrada não eram muito más. Afrouxámos um pouco e seguimos viagem até entrar no Estado do Wyoming, lugar de índios e cowboys. Depois eu conto.

Alcides Freitas

14 de maio de 2007

VIAGEM ATRAVÉS DA AMÉRICA (1)

Nota introdutória
O bustuense Alcides Freitas concretizou há poucos dias um sonho. Partiu de Sacramento, capital administrativa da Califórnia (EE.UU.), em cuja zona vive, para atravessar o continente americano de costa a costa ao volante do seu automóvel. Durou seis dias esta aventura e dela começa hoje a falar-nos. Esperamos mais quatro textos com imagens recolhidas pelo bustuense, talvez o primeiro a realizar a façanha!
*****
Iniciada numa quarta-feira deste mês de Maio, a viagem tem o objectivo de percorrer o território americano da costa do Pacífico até à costa do Atlântico, uma distância de 4.800 quilómetros. É a realização de um desejo que há muito tempo venho alimentando: conhecer um pouco mais do interior deste continente com os seus habitantes, história, economia, centros urbanos e a sua paisagem. Neste percurso irei ver e apreciar alguns lugares históricos nos estados da Califórnia, Nevada, Utah, Wyoming, Nebraska, Iowa, Illinois, Indiana, Ohio, Pennsylvania, New Jersey e New York.
Chovia na manhã da partida, mas isso não apresentou nenhum obstáculo. Estávamos preparados. À medida que nos afastávamos de Sacramento, capital do Estado da Califórnia, começámos a avistar os picos da serra Nevada, uma cordilheira com um comprimento de 644 quilómetros que separa o Estado da Califórnia do Estado de Nevada. Em breve iríamos passar não muito longe de Coloma, lugar onde ouro foi descoberto pela primeira vez em 1849. Esta descoberta no leito do rio Americano, feita por acaso, teve grandes consequências sociais e económicas em todo o Oeste americano: a notícia espalhou-se como fogo por toda parte, até na Europa. A «corrida ao ouro», desde 1849, nas terras douradas da Califórnia, foi extraordinária. Cidades como San Francisco e Sacramento, que nessa altura mal existiam, cresceram e tornaram-se muito prósperas. Em 1850, a população da Califórnia era de 100 mil habitantes; uma década depois, tinha crescido para quase 400 mil pessoas. O ouro foi o maior factor para tal crescimento. Hoje a sua exploração quase desapareceu, mas o sentimento de que a Califórnia é um lugar «dourado», cheio de boas oportunidades e promessas, continua.

À medida que nos aproximávamos do pico da serra Nevada, a 2.800 metros de altura, a temperatura baixava para 2 graus negativos. A neve caía, branca e leve, branca e fria, como dizia o poeta. Este ano há falta de neve na serra. Uma boa acumulação de neve na Nevada é essencial para alimentar as grandes extensões agrícolas dos vales de Sacramento e San Joaquin e dar de beber à sede de um Estado que não pára de crescer. E logo entrámos no Estado de Nevada e na cidade de Reno.

É a maior cidade no norte do Estado de Nevada: tem uma população de cerca de 200 mil habitantes. A maior cidade neste Estado é a cidade de Las Vegas, localizada na parte sul.
A maior indústria de Reno, tal como em Las Vegas, são os casinos. Nevada foi o primeiro Estado nos Estados Unidos a legalizar o jogo e a prostituição. Hoje o jogo nos casinos existe em muitos estados na América.

Saindo da cidade de Reno, entramos no deserto. Não o típico deserto com areia por todo os lados, não. É uma vastíssima área árida, sem árvores e com uma vegetação baixa cor da prata. À primeira vista, este tipo de vegetação parece não ter qualquer vida, mas a presença de gralhas ao longo da estrada, mesmo no meio do deserto, demonstra que há coisas para comer, tais como pequenos animais que morrem ao tentar cruzar a estrada. Esses amigos de penas pretas, que também são carnívoros, alimentam-se com estes animais.

Muito embora seja «deserto», o ambiente está cheio de beleza natural, com vistas e cores deslumbrantes. Só o trânsito constante de carros e grandes camiões que transportam mercadorias, quebram o silêncio.

Mais umas centenas de quilómetros para Este, mesmo no meio do deserto, e aí encontramos a pequena cidade de Elko, que deve a sua existência ao caminho de ferro e à criação de gado. Elko está próxima do sopé das montanhas Ruby. É a neve que cai nestas montanhas que fornece a irrigação de vastas áreas, usadas para pastagens de gado. Elko continua a manter a aparência de um passado já distante. Os edifícios no centro da cidade dão-nos a impressão de que não foram construídos para durar muitos anos, pois têm um aspecto não muito moderno. Nesta cidade está estabelecida uma grande comunidade de Bascos. Imigraram para estes lados para cuidar dos grandes rebanhos de ovelhas e por aqui ficaram. São estes Bascos, do norte de Espanha, que têm dado bom nome à cidade, um lugar único, hospitaleiro, onde se come bem e ainda estão vivas as tradições e costumes desta gente oriunda da região europeia. À noitinha deixaremos o Estado de Nevada e entraremos no Estado de Utah.
A viagem continua…
Alcides Freitas

13 de maio de 2007

PROMESSA CUMPRIDA

“Nas romarias, verdadeiramente, não se divertem. Pagam nelas o dízimo espiritual ao santo ou à santa com quem têm contratos pelo ano fora, e fazem a barrela das suas relações humanas”
Miguel Torga, Um Reino Maravilhoso (Trás-os-Montes), Portugal, Coimbra
...
A escorregadela da mão no tacho fez despejar de chofre a água super aquecida sobre a sobrinhita, tendo provocado tal extensão da queimadura que a própria família fez-se vestir de luto antecipado.
Médico, orações e unguentos manipulados na Farmácia Assis Rei gravitaram à volta da criança. A tia escondida no seu lenço de carpir agarra-se à liana da sua Senhora do Leite e promete ir de joelhos, com a sobrinha ao colo, desde casa até à entrada da igreja.
Após três dias de choro, rezas, joão semana e botica, o toque das trindades expulsa o dia claro e os crepes da angústia.
- “temos mulher! …” o médico regozija-se.

O cumprimento da promessa foi adiado, os pais e a pirralha acompanharam a onda da emigração e, passada uma dúzia de anos, tia e sobrinha reencontram-se em Bustos.
"A promessa" era a espada de Dâmocles cada vez que olhava para a sobrinha... só que não tinha forças para poder cumprir o contrato.
“a sobrinha crescera” desalmadamente.

Oh Sr. Padre, eu não podia ir à estranja para cumprir o devido e ela nunca veio cá, de modo que a minha dívida ficou sempre em aberto. E hoje não tenho forças para respeitar o contrato.
O pároco, que fora bafejado pelas conclusões do Concílio do Vaticano II, conversa longamente com a devedora penitente.
Passados dias, tia de joelhos e abraçada à sobrinha partem de casa e fazem a viagem até à entrada da igreja de São Lourenço de Bustos, em carro de aluguer.
A promessa à "sua Senhora do Leite" estava cumprida.
sérgio micaelo ferreira

(Imagem de Jorge Colaço, 1916, Pagadoras de Promessas, azulejos da Estação de S. Bento (Porto), postal da Gráfica Simão Guimarães, Filhos, L.da. foto M. Ribeiro - colecção comemorativa do centenário da chegada do 1º Combóio - 1896 - 1996. Com a devida vénia de NB e um obrigado ao meu velho companheiro Guimarães)

Virgem de Fátima- Procissão cumpre 3ª etapa ( Cabeço- Barreira)


Ontem, dia 12 de Maio de 2007, às 21:00, partiu a procissão da Virgem de Fátima, da Capela de São Martinho no Cabeço com destino à Capela de José Gregório Hernandez na Barreira, onde a imagem ficará exposta. Cumpriu-se uma vez mais o percurso da procissão ladeada de velas depositadas pelos crentes, e acompanhada por uma pequena porção de pessoas. Ao longo do percurso, estavam expostos pequenos altares, depositados pelas pessoas em frente às suas habitações, expondo as suas imagens de carácter religioso, e um pequeno tapete de flores que indicava o percurso da procissão.

A 4ª etapa da procissão da Virgem de Fátima terá lugar no próximo sábado ás 21:00, com destino à Capela de Nossa Senhora dos Emigrantes na Azurveira.

12 de maio de 2007

BUSTOS TEM NOVO BLOG


“Bustos à Lupa” (http://www.bustosalupa.blogspot.com) é o título de mais um blogue bustuense, e o seu aparecimento não pode deixar de ser saudado.

O grande dinamizador deste novo espaço é Alberto Martins, jovem de 21 anos que frequenta o curso de História na Universidade de Coimbra e é habitual colaborador do “Notícias de Bustos”. O novo blogue conta ainda com a colaboração de dois jovens bustuenses: Álvaro Miguel Ferreira (21 anos), actualmente a frequentar o curso de Arqueologia na Universidade de Coimbra e Susana Marisa Martins Nunes (20 anos), que estuda enfermagem na Universidade de Aveiro. Todos eles são de Bustos e representam uma geração que já nasceu e cresceu em democracia.
Sejam bem vindos aqueles a quem o futuro pertence!

B.C

10 de maio de 2007

EU GOSTO É DO VERÃO?


Quando era miúdo adorava o Verão. Três meses de mergulhos no mar da Costa Nova, três meses de futeboladas no areal molhado, três meses de namoricos com miúdas que chegavam à praia idas de sítios exóticos como Águeda, Bustos, Palhaça, New Bedford...Três meses de banhos de mar de manhã, banhos de ria à tarde, de bolachinha americana, caranguejos pescados à linha com um pedaço de bacalhau ou apanhados à mão, três meses de sandes de Tulicreme de avelã ou chocolate, de encontros debaixo da bola de Nívea e festinhas nos porões com música dos Genesis, Barclay James Harvest e por aí fora (Atenção: as casas de Ílhavo não têm caves - têm porões com cheiro a salmoura que rangem a noite inteira como um navio numa tempestade).


Três meses com o mimo da minha avó, que nos ensinava orações católicas com letras de brincar para enganar os padres. "Salve rainha, salta para a vinha, aí vem o dono com uma vergastinha..."Terminava o Verão mais moreno e consolado do que um sultão das arábias. Foi na Costa que aprendi as coisas essenciais da vida: desapertar um soutien com a mão esquerda em menos de dez segundos, esmurrar um nariz com um golpe seco, enrolar um charro às escuras e contra o vento, marcar um penalti para a esquerda enquanto se olha para a direita, praguejar em alemão, estrelar um ovo, fintar a GNR, enfiar a isca num anzol sem furar um dedo. Essas coisas.Agora, mais velho, mais gordo e mais pálido confesso recear o Verão. O calor, o pó, o ar condicionado e a falta de fôlego para disputar um joguinho na areia molhada tiraram a piada ao Verão. Fiquem a matutar nisto enquanto eu vou num instante ao entupir as artérias a um restaurante de picanha.

RUI BAPTISTA , blog Amor e Ócio

Nota: Não conheço o Rui Baptista mas sou um leitor assíduo do blog Amor e Ócio onde tantas vezes me reencontro com cenários, situações, vivências que me são semelhantes, por isso hoje não resisti a “pescar” e aqui publicar esta pequena crónica sobre a Costa Nova e as miúdas que chegavam de sítios exóticos como Bustos…
(Belino Costa)