23 de março de 2007

Hilário Costa (12.03.1907 – 30.11.1994) – 1º centenário do seu nascimento. Um Resumo.

É urgente abrir as janelas,
… sem medos
(do contexto da intervenção de Belino Costa).
AS PALAVRAS
As palavras –
matéria perecível.
Som ossificado do momento.
Campânulas vazias.
Ampolas cheias de bálsamo e veneno.
Antídoto contra todo o esquecimento.

(Nuno David Elias, Folhagem de Sombras, extr. de “Millennium, 77 Vozes de Poetas Portugueses”, antologia coordenada por Cristino Cortes, Universitária Editora, 1ª edição 2002)

Hilário Costa (1907 – 1994), nascido em Bustos “na madrugada do dia 12 de Março de 1907” e aos sete anos rompeu o espartilho do analfabetismo, frequentando a escola primária, onde, juntamente com a sua família, apreende os valores do ideal republicano e que viria a defender sempre com a mesma coerência.
Na passagem da 1ª centúria do seu nascimento, Hilário Costa foi evocado em cerimónia íntima que Notícias de Bustos divulgou em 20.03.2007: “Hilário Costa … fez da sua terra a matéria-prima para o seu canto e arte. (Ulisses Oliveira Crespo)”.
A evocação de Hilário Simões da Costa foi transferida para o sábado, dia 17, em virtude de parte da Família não poder comparecer no dia do centenário do nascimento por impedimento de serviço.


Ao ilustre ciadadão Hilário Simões da Costa
Aconteceu o cerimonial desenhado na programação, as bandeiras em representação da Banda da Mamarrosa e da Associação de Beneficência e Cultura de Bustos abriram o desfile da romagem ao cemitério, uma coroa de flores foi depositada junto ao jazigo de Família, cumpriu-se o minuto de silêncio e ouviu-se a gravação do Hino de Bustos, musicado por Silas Granjo, sobre a letra de Hilário Costa. D. Aldina Mota e Gala, viúva de Hilário Costa, e o comendador Ulisses Oliveira Crespo descerraram a lápide a assinalar a efeméride e dedicada
“Ao ilustre cidadão
Hilário S. da Costa
12.03.1907 . 30.11.1994
Homenagem dos Amigos no
1º centenário do seu nascimento”.
O Comendador Ulisses Oliveira Crespo agradece em nome da Comissão
O presidente da comissão organizadora, comendador Ulisses Crespo proferiu uma breve alocução, tendo agradecido a presença de todos “que se dignaram assistir à consagração do ilustre bustoense” e enalteceu a “qualidade de cidadão do mundo [que] sempre acarinhou e divulgou a história pátria, em geral, e a história de Bustos e suas gentes, em particular. De ambas fez a matéria-prima para o seu canto e arte.”
Mostra Biográfica de Hilário Costa exposta na 'Biblioteca' [Pólo de Leitura]
A mostra biográfica exposta no espaço da “Biblioteca” que recolhia alguns trabalhos de Hilário Costa foi demoradamente visitada e elogiada. Abriu o apetite para que a experiência tenha continuidade. Ressaltou a necessidade de ser criado um espaço mais alargado.
Concorreram para o sucesso desta mini-exposição: Milton Costa; Prazeres Duarte, Alberto Martins; Câmara Municipal de Oliveira do Bairro (Presidente e Vereadora da Cultura); Associação de Beneficência e Cultura de Bustos; Óscar Santos, …entre outros. (Belino Costa irá publicar artigo de fundo)
O momento da palavra abre com Rosinda Oliveira a traçar o retrato de Hilário CostaO “Momento da Palavra” dedicado a Hilário Costa aconteceu no salão do condomínio da ABC e da Associação Orfeão de Bustos e recolheu contributos de alguns amigos, em vida, do homenageado.
Rosinda de Oliveira trouxe o retrato de Hilário Costa ao auditório, a força anímica do “Homem de fibra rija foi na vida um lutador inconformado. Inconformado com a política do seu tempo, com as várias carências socio-económicas, com os grandes desníveis sociais e culturais, com os atrasos e as desigualdades” o apego á Liberdade, o seu amor pela sua e nossa Banda da Mamarrosa. Dedicação reconhecida pela ascensão à qualidade de sócio benemérito nº 1da Associação Beneficente Cultura e Recreio da Mamarrosa. A concluir a sua participação, Rosinda Oliveira declamou o poema de Hilário Costa, ‘À Minha Terra’, que trouxe emoção.

"um português de torna viagem. Sempre com um pé na sua terra natal", Óscar Santos

Sérgio Micaelo Ferreira, cicerone da sessão, afirmou que a evocação a Hilário Costa “ajuda-nos a rever um passado calcorreado a custo, mas sempre orientado pelo sonho de uma sociedade mais progressiva, mais solidária, onde as barreiras controladoras das consciências nunca impediram as luzes de brilhar com todo o seu esplendor”.

Óscar Santos, um dos colaboradores do ‘Bairrada Livre’, lembra o cidadão Hilário Costa “Emigrante durante quase uma vida, [que] foi um português de torna viagem. Sempre com um pé na sua terra natal, aqui regressava para retemperar o amor pela terra-mãe, pela liberdade, pela democracia e pelo progresso, tendo como lema “a defesa e enaltecimento da Família, da Pátria, da Liberdade, da Democracia, do Desenvolvimento e da Instrução dos seus concidadãos”.

(...)
Agradecemos os favores
à União Liberal
(… )
(Mário Reis Pedreiras)

Mário Reis Pedreiras reviu-se o jovem de 11 anos que “aprendeu uma Lição daquelas que nunca mais esquece”, quando em 22 de Abril de 1922 participara numa “Festa organizada pela União Liberal de Bustos para inaugurar o conjunto de quadros pintados” oferecido por Hilário Costa às escolas de Bustos, a concluir, Mário Reis Pedreiras relembrou o poema recitado naquela Festa de que se reproduz a primeira quadra:

“Companheiros a Escola
É como a nossa Mãezinha
Ela ensina ela consola
Como o Sol que nos ilumina”.


1º de Novembro/1979 – Reunião dos Pioneiros do Palacete do Visconde, em casa do Dr. Jorge
O Dr. Jorge Micaelo realçou a participação cívica de Hilário Costa no apoio prestado à comunidade, mormente a acção desenvolvida na aquisição e arranjo do Palacete do Visconde. A célebre reunião dos «onze» no 1º de Novembro/79 em casa do Dr. Jorge que faz parte de imaginário edificante de Bustos, também foi assinalada.


Sem medo de abrir as janelas ao pensamento. Belino Costa intervém.
Belino Costa pôs em relevo a conduta do cidadão Hilário Costa em todos os actos da sua vida. Actos esses sempre adornados pelo ambiente da poesia,…parecia que tudo “estava envolvido pela poesia”.
Quantas pessoas andam subjugadas por tabus? Belino Costa pegou na alegoria das janelas de um edifício, umas abertas outras fechadas e apelou para que se não tivesse medo de abrir todas as janelas que cada um de nós tem dentro de si, como Hilário Costa o fez durante toda a vida, dando liberdade ao pensamento.

"dedicação às causas da Terra", Manuel RomãoManuel Romão recorda um exemplo de “dedicação às causas da Terra” e do Hilário Costa “defensor das liberdades pelas quais lutou sempre”.

O momento de poesia, dedicado aos “Provérbios” (Hilário Costa, "Versos dum emigrante") , foi desempenhado por Prazeres Duarte.
Hilário Costa nunca exorbitou das suas funções de presidente da Junta de Freguesia.
Para recordar a comissão administrativa da Junta de Freguesia de Bustos eleita em plenário realizado no salão do café Primor, Jó Duarte (secretário) Jó Duarte fez reviver os tempos de gestão difícil a seguir ao 25 de Abril, com o cofre camarário vazio, tendo apontado como exemplo de autarca, o então presidente da Junta, Hilário Costa que colocava o interesse da terra sempre em primeiro lugar. Hilário Costa era um democrata fiel aos seus princípios. Nunca exorbitou das suas funções, ideia já expandida por Óscar Santos. “As decisões eram tomadas colegialmente”. Hilário Costa foi um homem bom e quantas vezes “foi injustamente atacado”…

Amaral Reis Pedreiras, preso politico. Vítima da perseguição do estado novo.Uma impressionante ovação surgiu quando o nome de Amaral Reis Pedreiras (Tesoureiro da Junta de Freguesia/74), presente na sessão, foi citado entre os presos políticos vítimas da perseguição no tempo da ditadura de Salazar-Caetano.

Hilário Costa (ou Hissico ou Junqueiro) convivia com a poesiaMilton Costa, herdeiro do pensamento de Hilário Costa, encerrou a sessão.
Lembrou a educação recebida pelo se pai. “Nunca impôs as suas ideias”. Recordou que seu pai repudiava o Presidente Herbert Hoover pela sua actuação na crise que trouxe a fome e miséria, alargando a mendicidade à maioria dos trabalhadores dos Estados unidos. Em contraste, partilhava das ideias de Franklin Roosevelt que tomara medidas favoráveis ao desenvolvimento.
Hilário Costa falava “dos anos maus durante a Depressão nos EU comuma sorriso apesar de serem difíceis” e que fugira do hospital “porque não tinha dinheiro para pagar a operação ao apêndice”.
ÀS VEZES TUDO PARA MIM ERA POESIA, escreveu Hilário Costa no manuscrito editado em NB por bc. Milton Costa parece confirmar. Numa dada viagem, sentado no banco traseiro do automóvel, testemunhou o seu pai a conduzir com a mão esquerda e a escrever versos sobre um ‘bloco’ colocado à direita. À medida que ia escrevendo, atirava a folha para cima do banco e quando chegava a casa, ia para o escritório fazer a revisão.
O fim da intervenção foi comovente ouvir a longa lista dos nomes de amigos de Hilário Costa, que ajudaram a abrir os horizontes de Milton Costa e a conhecer o meio onde vivia.
Amigos, onde se encontravam alguns analfabetos, que me deram lições de vida, rematou Milton Costa.


JANTAR NO PIRI PIRIO Piri Piri foi o local escolhido para encerramento da homenagem atendendo à ligação que o nome deste restaurante tem à história da oposição republicana em Bustos, que, reunia os adversários-militantes do regime de Salazar em ocasiões dos eventos políticos, como o 18 de Fevereiro.


AGRADECIMENTOS

As comemorações pelo 1º centenário de nascimento de Hilário Costa tiveram alguma projecção local. Um agradecimento aos participantes que concorreram para mostrar a grandiosidade da personalidade homenageada.

O cerimonial foi levado a bom porto graças à participação de várias entidades que a Comissão Organizadora está agradecida. Sem a intenção de omitir, é de elementar justiça divulgar quem contribuiu para a realização deste evento.

Família de Hilário Simões da Costa (D. Aldina Mota e Gala e Milton Costa); Associação de Beneficência e Cultura de Bustos; Associação Orfeão de Bustos; Câmara Municipal de Oliveira do Bairro (Presidente e Vereadora da Cultura - que esteve presente); Pólo de Leitura de Bustos (antiga biblioteca fixa nº 26 da F.C.Gulbenkian); Associação Beneficente Cultura e Recreio da Mamarrosa e SóBustos.

A Amílcar Grangeia, os agradecimentos da Comissão Organizadora por ter permitido a realização da cerimónia no cemitério, para além do horário de serviço.

Uma menção especial para Adélio Martins dos Santos (Barroca); Alberto Martins; Duarte Novo; Emília Aires (Milita); João Oliveira; Manuel Romão; Prazeres Duarte; Sérgio Pato que criaram as condições para que as cerimónias decorressem em ambiente mais acolhedor.
Nota:

Aqui está o meu relato.
NB irá publicar a intervenções escritas proferidas durante a homenagem ao cidadão Hilário Simões da Costa pela ocasião do 1º centenário do seu nascimento.
O Museu de S. Pedro, da Palhaça, que esteve representado por João Lourenço, vai dedicar um trabalho museológico a Hilário Costa. A merecer uma visita.
Em 1.3.07, NB editou um depoimento que mereceu o título "ALCIDES & HELEN EVOCAM HILÁRIO COSTA". Irá constar do livro de testemunhos e depoimentos.

Hilário Simões da Costa é uma lição.

Um bem-haja.

sérgio micaelo ferreira

Sem comentários:

Enviar um comentário