Neste especial dia da Mulher, deposito excertos do conto “HAMINA «FAZ HARA-QUIRI» NOS TEMPLOS DA RUA ARAÚJO”, do grande senhor Zé Craveirinha:
…
Toda a gente sabia que a Hamina era rainha, gato-bravo, dançarina de primeira. E quando Hamina volteava no meio da sala os marinheiros abriam os olhos escandinavos e estendiam as mãos à procura da cintura de caniço. E a cintura fugia, vinha, esquivava-se, entregava-se, retraía-se.
Quem é que dançava melhor do que Hamina? Quem é que era capaz de rir mais alto do que Hamina? Quem é que era capaz de fazer dois metros de marinheiro loiro ficarem um passarinho xindjingueritana com nembo nas asas e bico mergulhado no suco da flor encarnada?
Hamina, come here – Hamina, anda cá – Hamina, buia aleno, Hamina, venez ici - e uma gargalhada feria os tímpanos da noite: - Ah!Ah!Ah! e os olhos de gato-bravo de Hamina relampejavam no algodão espesso dos cigarros de todas as marcas.
(…)
Quem fez Hamina? Quem ensinou Hamina? Quem mandou Hamina? Quem chupou Hamina? Foi saraveja. Foi cigarro. Foi uíque de chá. Foi vinho de água.
(…)
Ontem, Smith foi à Rua Araújo. Entrou. Atirou a madeixa loira para trás e Hamina não apareceu. Puxou o pacote de cigarros Lucky Strike e também nada.
Hamina nada. Smith jogou a última cartada: meteu a mão no bolso e tirou um punhado de dólares. Veio Joana. Veio Esperança. Veio Felicidade. Mas Hamina, isso. Hamina ficou escondida na ausência.
(…)
Hamina está estendida na cama. Um pulmão tem rock n'roll lá dentro. É dança dela. Dança de dançar estendida no Xipamanine.
Hamina está estendida na cama. Cama de colchão de milho. Cama de dormir; cama de serviço; cama de não levantar mais. Cama de Hamina grevar para sempre.
(in José Craveirinha, Hamina e outros Contos, “HAMINA «PAZ HARA-QUIRI» NOS TEMPLOS DA RUA ARAÚJO” excertos, Ndjira, Maputo, 1996, retirado – com a devida vénia, da Antologia do Conto Moçambicano, “As Mãos dos Pretos", organizada por Nelson Saúte, Publicações D. Quixote, 1ª edição, 2001)
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