29 de março de 2007

BUSTOS ... já foi ... BUSTO

Historiador, no meio das pesquisas sobre Covões, exibiu-me uma peça, referenciando o lugar de ‘busto’ já existente no séc. XIII. Enquanto se espera a sua divulgação circunstanciada, entendo ser oportuno editar o texto extraído de Bustos do Passado, (Arsénio Mota), Edição da Junta de Freguesia de Bustos, Fevereiro, 2000.

Pelos dados recolhidos pela profª Drª Maria Alegria H. Marques e citados por Arsénio Mota, pode inferir-se que afinal “Bustos” já foi “Busto”.

Os historiadores têm muito trabalho pela frente.
A merecer apoio.

Eis a peça inserta em “Bustos do Passado, de Arsénio Mota:

“Bustos em carta régia de 1425
Entretanto, não é o documento de 1460 que contém a referência mais antiga que se conhece ao topónimo que identifica a nossa terra. Graças a uma pesquisa especial efectuada pela na perspectiva de melhor informar o presente estudo, foi possível descobrir nos NA/TT uma carta de D. João I (1357- 1433) dada em Santarém, a 23 de Fevereiro de 1425. Refere-se a carta a uma contenda entre Martim Lourenço, maioral das vacas do prior do mosteiro de Cárquere e outros homens bons da serra de Montemuro, contra Diogo Afonso Correia, cavaleiro, sobre o «pagamento dos montados de Busto e da Messa e Malhada e Valles Covos e montados d'arredor». No texto, assim amavelmente trazido ao nosso conhecimento, o sítio de Busto é localizado no almoxarifado de Aveiro
[27]

Eis a mais remota alusão a Bustos que pudemos rastrear nas fontes documentais. Deste modo, conclui-se que esta terra era habitada já em 1527, pois o recenseamento da população desse ano regista aqui a existência de seis casas, e que antes, em 1425, pelo menos tinha nome identificador, sem todavia se poder saber se era terra habitada ou não.”
(pgs. 29)
_________
[27] Livro 1º de Direitos Reais (microfilme 1020), fls. 233-235, Arquivos Nacionais/Torre do Tombo. [Nota da profª dª Maria Alegria F. Marques]
***

28 de março de 2007

ARNALDO MARTINS DOS SANTOS - SEMPRE AO SERVIÇO DA UDB

Arnaldo Martins dos Santos, nascido em Malhapão, actualmente viaja pelos 70 anos e reside no Areeiro (Palhaça). Migrante desde criança. Aos quatro anos estava em Moscavide. Cozinheiro na Abel Pereira da Fonseca. Joga nos juniores(?) do “Atlético da Tapadinha”.
“Talvez por cunha” passa pelos “serviços auxiliares, quando rebenta a guerra em Angola”.
Por volta dos 25 anos de idade vai trabalhar para Oliveira de Bairro ; mantém-se aí durante 4 anos.
Mais tarde entra para o serviço da padaria de Manuel Simões da Cruz (o Cigano), onde se mantém “até fechar”, a seguir “passei para a padaria do Fontes” – Padaria Flor de Bustos (um dos símbolos no fabrico do pão e dos folares da Páscoa).

É do tempo em que trabalhava na padaria (hoje sede da União Desportiva de Bustos) que cortaram a ‘erva’ do campo Dr. Manuel dos Santos Pato; “as cabras do Aurélio Melo pastavam no campo”.

Apesar da Escola lhe ter passado ao lado, tirou a carta (“porque tinha amigos”) – “Eu só sabia escrever o nome”.

Jogou pelo Bustos, lembra-se ter jogado a guarda-redes na Póvoa do Forno...

O Arnaldo Martins dos Santos, que contactou com várias gerações de atletas, técnicos e dirigentes, onde cultivou amizades, que foi o marcador de campo durante anos e anos seguidos, que vê agora a sua actividade extinta devido às marcações definitivas da “relva” sintética, sente a nostalgia do tempo em que “deu o litro” pelo clube, quer fizesse sol, vento ou chuva.

O Arnaldo, sempre com a sua bicicleta, continua a ir até ao seu campo.

Nunca perdeu o bichinho pela União Desportiva de Bustos. Ainda hoje presta ajuda.

O Arnaldo Martins dos Santos merece estar na galeria dos servidores do “Bustos”. E eles foram (e são) tantos.

(Foi um breve esquisso de um figura recheada de pérolas biográficas).
sérgio micaelo ferreira, 28.03.2007

27 de março de 2007

FERNANDO VINAGRE - PREÂMBULO HISTÓRICO/DESPORTIVO DA ASSOCIAÇÃO DE FUTEBOL DE AVEIRO

Com a devida vénia, NB divulga trabalho de Fernando Vinagre com o título em epígrafe. inserto na Revista da Associação de Futebol de Aveiro 89/90, dedicada ao campeonato da 1ª divisaão distrital - Zona Sul.
Fetando Vinagre foi justamente homenageado pelo União Desportiva de Bustos, aquando as inaugurações das instalações e do 'relvado'.
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"Associação de Futebol de Aveiro
Preâmbulo Histórico/Desportivo

A Associação de Futebol de Aveiro, fundada em 22 de Setembro de 1924, por iniciativa de Mário Duarte (Pai), mais concretamente há 65 anos, nunca sofreu a mínima interrupção.
Urge, contudo, realçar os primeiros clubes que corporizaram o organismo máximo do Futebol Aveirense, decidindo alguns deles cedo enveredar por outros destinos.
- CLUBE DOS GALITOS (Aveiro)
- SPORT CLUBE BEIRA MAR
- SPORTING CLUBE DE ESPINHO
- SPORT ANADIA
- ASSOCIAÇÃO DESPORTIVA OVARENSE
- SPORTING CLUBE OVARENSE
- UNIÃO DESPORTIVA OLIVEIRENSE
- ASSOCIAÇÃO DESPORTIVA SANJOANENSE
- SPORTING CLUBE BUSTELO
- SOCIEDADE RECREIO ARTÍSTICO (Aveiro)
- PAÇOS DE BRANDÃO FOOT BALL CLUB
- FOGUEIRENSE FOOT BALL CLUBE
Passadas que foram algumas gerações, muitos outros clubes fizeram parte dos seus quadros e, hoje, como exemplo da pendularidade do trabalho desenvolvido, bastará citar-se o facto de estar a decorrer a 65ª edição do “Distrital" cimeiro, prova que principiou a ser disputada, sem qualquer intervalo de continuidade desde 1924 /25.
A Associação de Futebol de Aveiro tem um papel fundamental na dinamização regional do desporto em toda sua dimensão. Dada a sua infiltração em todo o espaço geográfico do Distrito, encontrando-se os 137 clubes inscritos, distribuídos pelos seguintes Concelhos:
- ÁGUEDA ............................... 12
- ALBERGARIA-A- VELHA...05
- ANADIA ................................ 14
- AROUCA................................ 03
- AVEIRO .................................14
- CASTELO PAlVA...................04
- ESPINHO................................03
- ESTARREJA...........................03
- STª Mª FEIRA.......................24
- ÍLHA VO.................................04
- MEALHADA...........................07
- MURTOSA .............................02
- OLIV. AZEMÉIS....................10
- OLIV. BAIRRO.......................10
- OVAR.......................................06
- SEVER VOUGA......................04
- S. JOÃO MADEIRA...............04
- VAGOS....................................04
- VALE CAMBRA.................... 04

O número de Jogadores inscritos, são de momento cerca de 7000, número, aliás, com tendência para aumentar.

Na temporada em curso, 19 clubes seus filiados, disputam Competições Nacionais:
- 2 na I Divisão, 5 na II Divisão, e 12 na III Divisão. Também 20 tomaram parte na Taça de Portugal, no C. N. Juniores, 4 no C. N. Juvenis, 2 na Taça N. Iniciados, 2 na Taça N. Infantis e 4 na Taça N. Fut. Feminino.

No âmbito Distrital encontram-se a disputar provas 250 equipas, assim distribuídas:
- 36 na I Divisão, 42 na II Divisão, 16 na III Divisão, 49 nos Juniores, 40 nos Juvenis, 30 nos Iniciados, 14 nos Infantis, 14 nos Femininos e 19 em Reservas.

Está também a decorrer a 2ª edição da Taça Distrito de Aveiro, e nela participam todos os clubes inseridos nos Campeonatos Distritais da I, II e III Divisões.

O Futebol de cinco teve o seu arranque, na presente época, tendo sido promovida a "1ª Taça Distrital de Futebol de cinco", na qual se inscreveram 8 equipas.

Corolário significativo, de profundidade e nível atingido pelo Futebol Distrital.

Distrito com uma população que ronda 630 000 almas, subdivide-se em dezanove Concelhos. Pois todos eles, por intermédio dos clubes, neles enraizados, disputam os "Distritais". Pormenor que demonstra exuberantemente a irradiação do Futebol na área da Associação de Futebol de Aveiro e, de certo modo, o trabalho frutuoso deste organismo.

ASSOCIAÇÃO DE FUTEBOL DE AVEIRO
O SECRETÁRIO GERAL
(Fernando Vinagre)"

PAINÉIS FOTOVOLTAICOS - 'made in' OLIVEIRA DO BAIRRO (Bairrada)

in dinheiro digital
"Oliveira do Bairro: SolarPlus investe 16 Milhões de euros; no fabrico painéis
A SolarPlus vai começar a produzir, dentro de dois meses, painéis fotovoltaicos para o mercado nacional e para exportação, numa fábrica cujo investimento inicial ronda os 16 milhões de euros."
...
Uma dupla boa notícia. Pelo investimento e pelo sector da exploração. Haja sol.

26 de março de 2007

HILÁRIO COSTA - 5 "foi um Homem defensor das liberdades pelas quais lutou sempre" (Manuel Romão)


Em primeiro lugar quero cumprimentar a Dona Aldina, seu filho Milton Costa e seus netos.


Tenho pouco a dizer acerca do Sr. Hilário Costa devido ao reduzido contacto que tivemos.


Mas lembro bem a oportunidade que tive de o conhecer em sua casa tendo sido muito bem recebido.


Relembro ainda o seu contributo para o Jardim da Azurveira.


Ainda hoje lá se encontra a placa com a mensagem que serve como um exemplo da sua dedicação às causas da Terra.


Hoje sei também que foi um Homem defensor das liberdades pelas quais lutou sempre.


Que o seu exemplo de vida seja admirado e continuado pelas gerações mais novas.
Os meus agradecimentos.


Manuel Romão, 17.03.2007

HILÁRIO COSTA - 4 "aprendemos uma Lição daquelas que nunca mais esquece", Mário Reis Pedreiras



Era eu um jovem com 11 anos apenas, frequentava a Escola primária de Bustos quando um acontecimento tendo por figura central o Senhor Hilário Costa me marcou até ao dia de hoje.


Estávamos em 22 de Abril de 1934 e o grande acontecimento para todos nós crianças, foi a Festa organizada pela União Liberal de Bustos para inaugurar o conjunto de quadros pintados e oferecidos por aquele que hoje estamos a homenagear.


A festa teve o direito a Banda de Música do Troviscal. Ofertas para os alunos mais Pobres, e um lanche que para nós, garotos, foi um Banquete digno de Príncipes.


Também houve discursos, todos eles falando da importância da Escola e dos estudos.


Naquele dia, graças à oferta do Senhor Hilário Costa, da sua vontade de tornar a Escola mais Bonita, nós crianças contudo ainda para aprender não só nos sentimos as pessoas mais importantes deste Mundo, como aprendemos uma Lição daquelas que nunca mais esquece.


Passaram muitos anos, mas permitam que me volte a sentir Criança e que volte a dizer aqui as quadras que então eu recitei e que nunca mais esqueci.
*
Companheiros a Escola
É como a nossa Mãezinha
Ela ensina ela consola
Como o Sol que nos ilumina.
*
De suas salas iluminadas
De esperanças mais sedutoras
Ela é, como um Castelo de fadas
De crianças torna homens e faz senhoras
*
À Escola Mãe espiritual
Que tens dado tanta Luz
Fizeste Grande Portugal
Grandes Louros tu tens jus.
*
Agradecemos os favores
Há União Liberal
E digamos viva os Snrs. Professores
Viva a República Viva Portugal.
Mário Reis Pedreiras, 17.03.2007

HILÁRIO COSTA - 3 "... FOI UM CIDADÃO EXEMPLAR", Oscar Santos



Conta-nos o Sr. Hilário que nasceu a 12 de Março de 1907 e que aos 19 anos já estava nos Estados Unidos da América a lutar pela vida.


Emigrante durante quase uma vida, foi um português de torna viagem. Sempre com um pé na sua terra natal, aqui regressava para retemperar o amor pela terra-mãe, pela liberdade, pela democracia e pelo progresso.


Foram esses os seus valores de sempre: valores de defesa e enaltecimento da Família, da Pátria, da Liberdade, da Democracia, do Desenvolvimento e da Instrução dos seus concidadãos.


Esteve nas grandes iniciativas ligados ao progresso e ao lazer de Bustos: os primeiros passos no futebol, então praticado pelo Luzitano Foot-Ball Club no local da futura feira do Sobreiro, a cuja criação também esteve ligado em 1937; movimentos associativos nos Estados Unidos ligados à colónia de emigrantes portugueses; promoção de actos cívicos junto das Escolas Primárias de Bustos; foi ainda membro fundador da União Liberal de Bustos, de que foi Presidente em 1935, ano em que a PIDE começou a perseguição dos democratas bustuenses ligados a esta associação cívica e republicana; criação e divulgou na América, a partir de 1969, o jornal “Farol da Liberdade” e, em Bustos, juntamente com o Dr. Santos Pato da Mamarrosa, o jornal “Bairrada Livre”, este após a libertação do País da jugo da ditadura, em 1974.


Em 1979, com outros 10 bustuenses, participa activamente na aquisição do Palacete de Bustos e na criação da Associação de Beneficência e Cultura de Bustos, a nossa ABC. Logo no ano seguinte parte para a Venezuela com a D. Aldina para promover uma campanha de angariação de fundos para aquisição do Palacete, périplo que obteve grande sucesso, não fossem os nossos emigrantes o grande esteio e a personificação do orgulho Bustuense.


Presidiu à 1ª Junta de Freguesia, eleita em plenário nos primeiros tempos da Liberdade de Abril.


A sua formação escolar elementar não o impediu de publicar dois livros de poemas: “Versos dum Emigrante” em 1954 e “Rosas e Espinhos”, este em 1955. e um poema dedicado à Mamarrosa, demonstrando o seu amor à nossa freguesia-mãe. Procurou chegar às suas raízes e às raízes da nossa aldeia, escrevendo em 1984 “Bustos – Memórias dum Bustoense” e a “Árvore genealógica da Família Costa”, em 1988.


Hilário Costa foi um cidadão exemplar, um marco inesquecível de Bustos e dos bustuenses.
Nobre, voluntarioso, lutador, amante da sua Terra, das suas Gentes, da sua Pátria.


Hilário Costa foi um Homem feliz e realizado:
- Na Família, cuja essência tão bem defendeu, como o primeiro e maior pilar de qualquer sociedade, matriz da verdadeira paz, da harmonia, do amor ao próximo, da Liberdade maior;
- Nos Amigos e na Amizade que, como poucos, cultivou e tão bem retribuído foi;
- Na Solidariedade para com os seus semelhantes, sobretudo os mais carenciados;


Recordo aqui, ainda miúdo, os magustos anuais nas Escolas de Bustos que sempre promovia, mesmo quando estava fisicamente longe; mais recordo, impõe-se realçá-lo, a sua solidariedade material e moral para com as crianças mais desprotegidas e a solidariedade perante a comunidade de Bustos.


- E realizado, finalmente, nessa Felicidade última e primeira de ter podido ainda viver e participar naquilo que de mais valioso e belo contém a verdadeira Liberdade: acima da diversidade de ideais própria dos cidadãos livres, a UNIÃO dos mesmos nas grandes causas, aquelas que vêm fazendo convergir as nossas vozes, as nossas mãos, as nossas acções e esquecer aquilo que – descobrimos agora – não chega para nos dividir.


Se existe uma outra e sublime vida para além da morte física, Hilário Costa olha-nos agora do paraíso, bem junto ao Grande Criador, a quem acena, embevecido, vaidoso de nós, como que a dizer-Lhe: vês como eles Nos merecem?


Sim, devemos merecê-lo e aos nossos dignos antepassados!


Bem Haja, Amigo Hilário Costa e Até Sempre!
*
Bustos, 17/3/2007

HILÁRIO COSTA -2 “E sempre levava no pensamento a minha aldeia” (HC) [Intervenção de Sérgio Micaelo Ferreira]

Excelentíssima Senhora D. Aldina Mota e Gala
Prof. Dr. Milton Costa e demais membros da Família de Hilário Costa
Companheiros de Hilário Costa
Comendador Ulisses de Oliveira Crespo, Presidente da Comissão Organizadora da evocação de Hilário Costa, no 1º centenário do seu nascimento
Representantes de instituições
Comunicação Social
Companheiros desta Comissão Organizadora

Senhoras e Senhores:

Saúdo respeitosamente a presença de membros da Família de Hilário Simões da Costa, principais testemunhas da homenagem a um ilustre cidadão que, desde novo, pugnou por desenvolver laços fraternos, praticar a solidariedade para com os mais desfavorecidos e testemunhar amor à sua e nossa Terra, bem expresso na sua quadra:

Se tu ajudares a fazer
Esta Terra grande e bela,
Podes alegre dizer
Que cá tens uma parcela.

Quero igualmente expressar o meu mais vivo agradecimento por tão carinhosa e expressiva presença de V. Ex.as, aos actos programadas para evocar Hilário Simões da Costa.

Para que as cerimónias tivessem um fio condutor consequente e pudessem trespassar os muros do alheamento, obtivemos o apoio logístico da Associação de Beneficência e Cultura de Bustos, Associação do Orfeão de Bustos, Câmara Municipal de Oliveira do Bairro, (nas pessoas do Senhor Presidente e da Senhora Vereadora da Cultura) e do Pólo de Leitura de Bustos, por intermédio da Dr.ª Prazeres Duarte. A todos o nosso muito obrigado.

Desejo expressar um agradecimento especial à boa vontade manifestada pela Associação Beneficente, Cultura e Recreio da Mamarrosa e pela União Filarmónica do Troviscal.

Não poderia omitir a nossa gratidão aos voluntários, que apareceram sem ter sido chamados, destacando especialmente Alberto Martins.

Que me seja desculpada qualquer omissão, embora involuntária.

Hoje, 17 de Março, a evocação de Hilário Costa, nascido na “madrugada do dia 12 de Março de 1907”, ajuda-nos a rever um passado calcorreado a custo, mas sempre orientado pelo sonho de uma sociedade mais progressiva, mais solidária, onde as barreiras controladoras das consciências nunca impediram as luzes de brilhar com todo o seu esplendor.

Hilário Costa sentiu, na alma, a mordaça da censura, ele que só exigia o exercício de votar em Liberdade...
Hilário Costa partilhou, como tantos outros, a diáspora, tendo sido emigrante durante 48 anos. A propósito, Hilário Costa escreveu:

“E lá fora lutei muitas vezes com sacrifício.
E sempre levava no pensamento a minha aldeia”

Comungo com Miguel Torga, também nascido em 1907, a ideia de que “o drama do emigrante português está por escrever”. Torga, aos 13 anos, experimentara igualmente o desenraizamento da emigração.

Nuvens de mudança demográfica global acompanham as alterações climáticas e a perdurável e ameaçadora transgressão marinha que tentamos menosprezar. A palavra ‘Mudança’ atinge a vida económica e arrasta todos os outros sectores.

No passado, Bustos atingiu notoriedade com o contributo da imigração interna. Actualmente, com o derrube dos “muros de Berlim”, a nossa Terra poderá fazer ressurgir apetência e criar condições para receber cidadãos da nova imigração e entrosá-los nas nossas vivências. Não será tarefa fácil, mas ajudará a construir um Bustos social e cultural mais frutuoso.
Urge pois, desenvolver a prática da cidadania plena, para bem do futuro das novas gerações.

Desejo que o post-1º centenário de Hilário Costa, que agora celebramos, contribua para arejar as ondas de reflexão de Bustos.

Para terminar, não será demais recordar que Hilário Costa, quer cidadão português ou emigrante estado-unidense, pautou a sua conduta com elevação, conforme nos deixou escrito:
Nunca deixámos de ser bons portugueses:
prestigiando a nossa Pátria e respeitando a América
(fim de citação).
Disse.
Sérgio Micaelo Ferreira, 17.03.2007

AS LIÇÕES DO PROFESSOR SÉRGIO


Sérgio Micaelo Ferreira é hoje um professor reformado, mas nem por isso deixou de dar lições, de ser um grande professor. Ao idealizar a homenagem a Hilário Costa (sim, ele foi o maior obreiro das comemorações) encontrou forma de nos fazer olhar para o passado através da vida e obra de um cidadão exemplar, sem deixar de interpelar o nosso presente, de desafiar o nosso conformismo, as nossas vaidades, as nossas presunções e defeitos.

Ao colocar Ulisses Crespo como presidente da comissão organizadora da homenagem, prática pouco vulgar entre nós já que, tradicionalmente, estas comissões são colegiais, Sérgio Ferreira quis afinal fazer uma declaração de princípios. Não só o fez por uma questão de justiça, reconhecendo o empenho que Ulisses Crespo sempre manifestou na comemoração do centenário de Hilário Costa, como quis deixar bem claro que não é por ser pobre que alguém deve ser descriminado, desprezado, abandonado.
É muito fácil, demasiado fácil, espezinhar quem não tem poder, influência e dinheiro. É muito fácil, demasiado fácil, esquecer quem está só e sem recursos, para valorizar quem já é importante e poderoso. O Sérgio preferiu o caminho mais difícil e ao destacar e enaltecer a figura do Comendador-Presidente, Ulisses Crespo, deu-nos uma enorme lição de humildade e cidadania, honrando da forma mais eloquente o significado da palavra amizade. E simultaneamente, de uma forma quase poética, engrandeceu a memória de Hilário Costa que foi Grande mesmo quando era um pobre emigrante lutando por ser alguém.
Esta foi, apenas, a primeira lição.

A SEGUNDA LIÇÃO DO PROFESSOR SÉRGIO




Ao organizar a pequena mas significativa exposição sobre a vida e obra de Hilário Costa nas instalações da biblioteca, e no seu entender esta só ali poderia ter lugar, o Sérgio interpelou-nos uma vez mais. A nós bustuenses, mas também a todos os cidadãos e muito especialmente aos líderes e dirigentes do nosso concelho.
Deixaremos nós que a biblioteca se transforme num mero armazém de livros com uma
existência para “inglês ver”, ou queremos fazer dela um organismo vivo, participante e enriquecedor das nossas vidas?
Também a exposição constituiu uma declaração de princípios, uma afirmação de que a biblioteca pode e deve ser um organismo vivo, aberto à sociedade, integrando-a, desafiando os cidadãos à leitura, à reflexão, ao conhecimento, ao convívio.

Pela primeira vez desde que está instalado nas instalações do ABC o núcleo de leitura de Bustos da Biblioteca Municipal abriu as suas portas ao povo numa iniciativa de carácter cultural. O que permitiu que muitos ali entrassem pela primeira vez, e serviu para trazer até nós a Chefe de Divisão da Biblioteca e Museus da Câmara Municipal, Cristina Calvo.
Com a sala da biblioteca cheia de gente foi um prazer poder conversar com a Dra Cristina Calvo que, simpaticamente, escutou as nossas aspirações para que a “nossa” biblioteca, a primeira a existir no concelho de Oliveira do Bairro, se mantenha activa, sendo reformada e melhorada.
Pois a responsável municipal pela biblioteca não só nos assegurou que o renovado pólo de leitura de Bustos deverá abrir antes de Outubro próximo, como terá instalações condignas, com espaços de leitura, para jovens e adultos, e computadores ligados à internet.
Entusiasmado com tão boas notícias logo desafiei a Dra Cristina Calvo a promover e impulsionar a criação de núcleos de amigos dos vários pólos da biblioteca municipal, que poderão ajudar a dinamizar os espaços de leitura, oferecendo livros, promovendo localmente iniciativas como a exposição dedicada a Hilário Costa.
Estamos dispostos a colaborar, a seguir o exemplo, a cumprir a lição dado pelo professor Sérgio Ferreira. Mais ainda. Aqui fica a solene promessa de que, no dia em que forem inauguradas as novas instalações do pólo de leitura de Bustos, o “NB” estará presente, oferecendo livros de autores bustuenses, para que estes lá tenham um lugar de destaque, um cantinho de afecto.

Belino Costa

25 de março de 2007

HILÁRIO COSTA -1 "ESCRAVO QUE NUNCA FOI..." (Rosinda de Oliveira)

Eis o discurso da escritora Rosinda de Oliveira.
(Esclarecimento: Se porventura houver alguma imprecisão na peça agora publicada, a responsabilidade é tão só do editor.)
*
Ex.mas Autoridades
Ex.ma Comissão organizadora desta homenagem

Minhas senhoras e meus senhores:
Decerto será até um atrevimento petulante da minha parte, falar de um homem com Hilário Costa, eu, que nem sequer sou de Bustos.

Todavia, porque tive a subida honra de o conhecer um pouco de perto, eu não ficaria de bem com a minha consciência, se hoje, no seu 100º aniversário não viesse aqui deixar o seu humilde testemunho e a minha sincera homenagem – ao cidadão, ao democrata e ao benemérito – Hilário Costa.

Homem de fibra rija foi na vida um lutador inconformado. Inconformado com a política do seu tempo, com as várias carências socio-económicas, com os grandes desníveis sociais e culturais, com os atrasos e as desigualdades.
Tudo isto tocava profundamente o seu espírito livre e ávido de democracia e igualdade. Os seus ideais nunca se conformaram com a tacanha mesquinhez dos tempos que corriam e tudo fez para ver se conseguia modificar essas vivências, de grande parte do século XX.

De uma família numerosa de 9 filhos – Hilário Costa ficou sem pai aos dois anos de idade. Bem cedo conheceu as agruras da vida quotidiana, mas também bem cedo mostrou a sua extraordinária capacidade de lutador incansável e destemido.

Pois, apenas com 13 anos, ei-lo à frente de uma taberna e mercearia, na própria casa dos pais, chegando a trabalhar ainda no comércio do seu tio – outro ilustre bustuense – Augusto Costa.

Mas em 1926, portanto com 19 anos de idade, emigra. Passa por Lisboa, Espanha e França, mas é a América do Norte o seu destino. E é aí que trabalha e trabalha mesmo duramente.

Minhas senhoras e meus senhores

Não foi fácil a vida de Hilário Costa.
Roído de saudades, com certeza quantas vezes de coração a sangrar, este homem abnegado e generoso mostrou sempre uma vontade indomável de vencer, enfrentado todos os desafios da sorte com uma coragem e determinação só próprias das almas grandes.

Na América trabalhou primeiro numa fábrica de escultura – Podemos lembrar a propósito os vários bustos modelados por Hilário Costa e algumas pinturas que ele ofertou generosamente a instituições de Bustos e que atestam bem a sua invulgar sensibilidade e inspiração estética.

Contudo, a dureza da sua vida, ele sentiu-a principalmente ao trabalhar na construção de estradas.

Não resisto a transcrever aqui as suas próprias palavras

“de pá e picareta ou com um marrão pesadíssimo a partir pedra como escravo”

Escravo que nunca foi porque o seu espírito sempre voou mais alto, muito alto, pairando nos domínios do intelecto onde buscava avidamente todos os meandros do saber, da cultura, quer no domínio das artes, quer no domínio da palavra oral ou escrita.

E no seu peito, palpitante, de ânsias de liberdade e fraternidade, moravam a sua família, a sua terra, os seus conterrâneos

À medida que conseguia um certo desafogo económico, cada vez ais estudava, lia e escrevia, ao mesmo tempo que procurava proporcionar aos seus descendentes – oportunidades a que ele não tivera acesso na sua infância e juventude, dedicando-se igualmente de alma e coração a colaborar no engrandecimento, progresso e bem-estar da sua terra e dos seus habitantes.

Sempre entusiasta, activo e empreendedor funda até, na colónia portuguesa americana, o jornal “Farol da Liberdade” – para aí dar largas aos seus sonhos e aos seus ideais, procurando unir todos os emigrantes, em especial, os bustuenses e de defender os seus legítimos interesses – e publica livros de prosa e poesia.

Mas o seu peito palpita de sonho e emoção, principalmente pós o 25 de Abril de 1974. Empolgado na luta pela liberdade que para si, era quase um sacerdócio, rodeia-se de vários amigos que com ele partilham e comungam dos mesmos ideais e é com um desses amigos que aqui lança outro jornal “Bairrada Livre”

Esse amigo é o Dr. Manuel dos Santos Pato da Mamarrosa, terra que também tem para com Hilário Costa uma antiga dívida de gratidão.

Hilário Costa amava a Banda Filarmónica da Mamarrosa com um desvelo e uma dedicação fora do vulgar. Dir-se-ia que tratava esta Banda quase como a menina dos seus olhos, sendo o seu 1º sócio honorário. Aliás, os altos serviços prestados à Banda por Hilário Costa foram reconhecidos pela Direcção da Associação Beneficente Cultura e Recreio da Mamarrosa ao homenageá-lo, em sessão de 1984, com um pergaminho e no 70º aniversário da Banda em 1986, com uma medalha – relíquias que, decerto a família ainda hoje guarda na sua saudade, com afecto e carinho.

Minhas senhoras e meus senhores

Muito mais há que dizer sobre as várias facetas da riquíssima personalidade deste homem de carácter, impoluto, forjado e temperado no cadinho da luta e da perseverança.

Mas não me vou alongar mais.

Todavia, permitam-me ainda que chame a atenção de todos para a família de Hilário Costa que foi seu apoio, abrigo e porto seguro.
E muito especial, para a sua digníssima esposa, a senhora D. Aldina Costa, sua sempre fiel colaboradora, defensora e incentivadora e que tem procurado seguir as suas pisadas.

Ela e os seus familiares são bem dignos deste momento de homenagem que de justiça também lhes pertence.
Aproveito para felicitar o povo de Bustos por esta tão feliz iniciativa. Lembrando e homenageando um dos valores da sua terra, está também a contribuir para proporcionar aos mais novos e aos vindouros, um marco que lhes servirá de exemplo a apontar os caminhos do futuro.

E agora sim, vou terminar.

Hilário Costa dominava a palavra que usava com instrumento de comunicação, mas essencialmente como arma de libertação, de progresso e trabalho e ainda como expressão de amor à família e à sua terra que ele amava acima de tudo.
Portanto, é com uma poesia que Hilário Costa fez há 53 anos que eu vos deixo.
À Minha Terra[1]
Sinto uma grande Saudade
– Imensa, profunda, infinda –
Por tudo quanto tu és,
– Grande Bustos – Terra linda!

Desse teu povo heróico,
Activo, forte risonho,
Que moureja noite e dia
E que vive a arder num sonho!

Dos teus campos verdejantes
Com vinhas e milheirais...
E das doces melodias
Trinadas pelos pinhais!...

Suave cachoar das fontes,
Do cantar das lavadeiras,
E das histórias contadas,
Há noite, pelas lareiras!

Dos caminhos e carreiros,
Através de toda a aldeia,
E das Moças a ceifar,
Em noites de lua cheia!

Das vindimas e colheitas,
Tão cheias de animação,
E das horas de folguedo,
Na noite de S. João!

Desse teu grande Mercado
Que eu ajudei a dar «vida»
E da velha Mocidade
Da «União Desportiva...»

E dessa antiga morada
Onde nasci e brinquei...
E do pomar perfumado
Que tristemente deixei!

E dos velhinhos que vi
Ao sol e de pau na mão...
– Ao recordá-los eu sinto
Uma dor no coração!...

E das meigas criancinhas
E de tudo, afinal!
– Rouxinois … e andorinhas
E céu azul de Portugal!

Por toda a parte há canções,
Mocidade e alegria!
Flores, beleza e encanto
– Minha amarga nostalgia!

Pudesse eu erguer um canto
Que agitasse corações …
Na doce linguagem lusa
– Tal como cantou Camões!

Mas não posso, pobre Musa!
Não posso, Bustos querido!
– Contudo, assim cantar,
Dou prova de grande amigo!


[1] Hilário Costa, Versos dum emigrante, edição do autor, Estados Unidos da América do Norte, 1954.



24 de março de 2007

HILÁRIO SIMÕES DA COSTA - ERRÂNCIAS

Hilário Simões da Costa
Nasce na madrugada do dia 12 de Março de 1907.
1914 ― dá entrada na Escola da Quinta Nova.
1918 (3 de Agosto) – faz a 4ª classe na Escola de Bustos. (termina os seus estudos oficiais).
1919 ― é empregado no estabelecimento do seu tio Augusto Costa (Quinta Nova).
1920 ― (com 13 anos) sai do emprego, abre loja e taverna. (mantém o negócio durante 3 anos).
1923 a 1926 ― passa estes anos “em suave convívio duma alegre mocidade”.
1923 – participa na realização dos “primeiros exercícios de Futebol em Bustos, no terreno do Dr. Santos Pato, onde está instalada a Feira”.
1926 (12 de Dezembro) – emigra para os Estados Unidos …
“Em Oliveira do Bairro embarquei no comboio que me transportou a Lisboa e dela segui para Cherbourg, na França. E, naquele porto francês, embarquei no navio americano “George Washington”, que me levou a New York”

“Enquanto o navio seguia o seu destino pensei em coisas que me eram muito queridas e escrevi esta quadra em louvor da minha mãe:Suprema entre as mulheresSejas sempre, mãe queridaE vai guiando, se puderesOs passos da minha vida”

1926 (22 de Dezembro) – chega à América para lutar pela vida.

– Em New Rochelle vive parte dos 48 anos de emigrante.

(lá comecei a trabalhar na construção de estradas. Alguns desses trabalhos eram feitos com pá e picareta, ou com um marrão pesadíssimo a partir pedra, como escravo)

1928 – é secretário da Assembleia-Geral do Portuguese Sporting Club, de Perth Amboy, New Jersey. Com o clube participa nos festejos do 1º centenário da cidade de Perth Amboy, com um barco montado no estrado de um camião. O barco à vela conquista o 1º lugar.

­– Promove a conferência “acerca da «Rocha de Dighton» e do navegador português – Miguel Corte Real” proferida pelo Cônsul de Portugal, Dr. Gilberto Marques. Pinta a «Rocha» e oferece o quadro à Sociedade de Geografia de Lisboa.

1932 (com 25 anos) – regressa a Portugal em consequência da "grave crise económica que o Presidente Hoover criou (ou não evitou) e atirou para o desemprego milhões de trabalhadores, obrigando-nos a abandonar a América e vir para as nossas terras; para não termos de caminhar, em bicha, de mãos estendidas, e não passarmos fome.”

1932 (29 de Dezembro) – é eleito secretário do “Luzitano Foot-Ball Club”. O primeiro clube a ser fundado em Bustos para a realização de futebol e bailes.

– Pinta os quadros que oferece às escolas de Bustos.
– Passados 2 anos, regressa aos Estados Unidos. Trabalhei em restaurantes na cidade de New Rochelle e New York. Devido ao frio contraí grave doença, tendo sido levado para o Hospital onde fui operado. Doente, triste e sem o carinho da minha mãe e dos meus familiares e amigos, eis a realidade dum emigrante!
– Volta a Portugal para recuperar a saúde. Tive novamente de regressar a Portugal para recuperar da saúde, onde permaneci cerca de 2 anos. Mas não desanimei. Era necessário emigrar, procurar longe da Pátria – o que a Pátria não oferecia…

1933 – O Luzitano é extinto, por aclamação dos sócios e é fundado o «Foot-Ball Clube de Bustos», tendo sido eleito seu presidente.

1934 (22 de Abril) – Em momento de grande festa, oferece às escolas 10 quadros com motivos históricos e cívicos, pintados a óleo. (Alma Popular traz notícia desenvolvida). A ditadura de Salazar mandaria retirar os quadros.

1935
(Junho) – Inicia a criação da Feira: “e eu e alguns bustuenses avistámo-nos com o Senhor Dr. Manuel dos Santos Pato, para cedência do seu terreno para a feira e ele, com muita satisfação, cedeu ao nosso pedido”. Durante 11 meses admnistrou os trabalhos de preparação do terrado da feira, "fez o mapa" e estabeleceu a marcação dos feirantes.

– Preside à União Liberal de Bustos (ULB), “organização cívica de republicanos de Bustos, Mamarrosa, Troviscal e Palhaça e Taboaço, com a finalidade de realizar enterros civis e de protecção aos pobres da freguesia”.
– A PIDE detém os membros da ULB: Hilário Costa, Presidente; Daniel José dos Reis, Secretário; Manuel Mota, Tesoureiro; confisca a bandeira e os livros e faz o interrogatório nos Paços do Concelho.
­– Empreiteiro nos Estados Unidos. Na América, de 1937 a 1946, fui empreiteiro de jardins em casas particulares e jardins de restaurantes famosos. Regressei à minha terra em 1946, não me sendo possível regressar mais cedo por causa da Guerra. Fui feliz por ter regressado e casado com a mulher, Aldina Mota e Gala, que eu desejei para esposa, cujo enlace matrimonial se realizou a 28 de Setembro de 1946. Tinha 39 anos e ela 21.
Do nosso casamento nasceram dois filhos: Milton e Hilário
.

1939 (8 de Outubro) – com mais portugueses funda o “Portuguese -American Club”, em New Rochelle, New York.

1942 – é inscrito voluntário da defesa civil na condução de ambulâncias.

1942 (27 de Dezembro) – é eleito presidente do “Portuguese -American Club”, em New Rochelle, New York e reeleito a 9 de Janeiro de 1944.

1948 a 1974 – empreiteiro construtor de «Septic Tanks». “E foi meu sócio, durante 25 anos, uma amigo, natural de Nariz”.

1949/50 (?) – Oferece um pára-raios à Escola da Quinta-Nova.
1953 (30 de Julho) – é inaugurado um pára-raios que ofereceu à Escola Primária do Corgo.
1954 – Publica “Versos dum emigrante”, “tendo oferecido 500 exemplares às Escolas de Bustos, para venda em benefício das cantinas Escolares”. O regime salazarista impediu apresentação do livro na escola.
1955 – Publica o livro de poemas “Rosa e Espinhos”.
– Publica um poemeto “Eu te Saúdo Mamarrosa»!.
– Regressado a Portugal, participa em “diversas sessões de propaganda democrática, discursa em Estarreja, Ílhavo, Bustos, Mamarrosa e Troviscal, . Com alguns dos homens de maior prestígio do distrito de Aveiro, como cidadãos e democratas convictos. Muitos deles sofreram na prisão as torturas da tenebrosa PIDE e eu, se não fui preso é porque me afastei da casa à pressa, porque sabia que no dia seguinte me vinham buscar. Pois no dia seguinte bateram à minha porta e a minha esposa mostrou-lhes um telegrama que dizia: - Cheguei bem.
– Cheguei são e salvo à terra da Liberdade! E os Pides seguiram o caminho de Coimbra, desgostosos!”
– (durante doze anos, o casal (Hilário Costa e D. Aldina) oferece magustos às crianças da escola …)
– Promove uma festa de corrida das cantarinhas – com 7 esbeltas raparigas; corridas a pé, de sacos e de puxar à corda.
– Oferece um pára-raios para a Igreja nova de Bustos…

1968 – modela o seu busto em barro.

1969 – publica nos Estados Unidos o jornal «Farol da Liberdade». Nele, entre outros artigos e notícias escrevi “Carta Aberta ao Professor Marcelo Caetano, Presidente do Conselho do Governo Português”, lembrando-o que os portugueses não podiam continuar a viver em ditadura e sob a lei opressora da PIDE, e era a ele que competia dar ao povo liberdade e democracia.

1971 – Oferece segundo pára-raios à Escola Primária da Quinta Nova, por ter sido danificado o anterior durante a execução das obras de ampliação.
1973 (18 de Fevereiro) – Promove e financia uma ’Justa Homenagem’ a Jacinto dos Louros e ao Dr. Manuel dos Santos Pato, da Barreira, com a inclusão do nome destas figuras na toponímia local.
1974
25 de Abril – Revolução dos Cravos
– Vende a quota, a Firma manteve a mesma designação, Costa & Ferreira Inc.
(Maio) – Regressa a Portugal com a esposa.
- É Presidente da Comissão Administrativa da primeira Junta de Freguesia de Bustos post-25 de Abril; Jó Ferreira Duarte – Secretário; Amaral Reis Pedreiras – Tesoureiro.
(12 de Julho) – Com o Dr. Manuel dos Santos Pato (médico da Mamarrosa) publica o “Bairrada Livre”, com sede no Sobreiro, “jornal quinzenário, democrático e defensor da região bairradina”. O “Bairrada Livre” fora fundado por Cipriano Alegre.

1975 (6 de Julho) – sai o último número (nº 24) do “Bairrada Livre”, por falecimento do seu grande amigo Dr. Manuel dos Santos Pato. E por “não querer continuar com tantas despesas e responsabilidades.”

1976 – modela o busto do Dr. Manuel dos Santos Pato, (médico), da Mamarrosa.
1979 (1º de Novembro) – com mais 10 bustuenses iniciam processo da compra do palacete aos herdeiros do visconde e da formação da Associação de Beneficência e Cultura de Bustos (ABC).
1980 – desloca-se à Venezuela com a esposa . Visita familiares, amigos e angaria fundos para custear a compra do palacete. Ulisses Oliveira Crespo organiza a recepção e promove uma recepção que culmina com a angariação de 3.200 contos (15961,53€). Em Caracas lê o poema «Bustos – terra linda».

1982 (18 de Fevereiro) – com o “Sr. Vitorino Reis Pedreiras, hasteámos na varanda do Palacete as bandeiras, a nacional e a nova bandeira, símbolo de Bustos, com a presença de centenas de pessoas, a quem eu, com voz forte, disse:
- Viva Bustos! Viva o 18 de Fevereiro!”

Foi a primeira vez que estas bandeiras foram hasteadas no Palacete. E eu disse ao Sr. Vitorino: “Se o Visconde aparecesse agora aqui, com sua juventude e o grande amor pela monarquia, atirava-nos desta janela à rua!”
1983 ­– é eleito Presidente da Assembleia-Geral da Casa do Povo.
1984 – publica o livro “Bustos – memórias de um bustoense”, “tendo oferecido 400 exemplares à Associação de Beneficência e Cultura de bustos, para venda, cujo produto reverterá a favor das obras do palacete”
– sócio honorário nº 1 da Associação Beneficente Cultura e Recreio da Mamarrosa.
1986 (26 de Outubro) – pela comemoração do 70º aniversário da Banda da Mamarrosa, no Restaurante Gaúcha, recorda o seu fundador, Jaime Oliveira recordando o discurso proferido há 50 anos naquele mesmo local.

1988 – publica (‘árvore genealógica da família costa', Sobreiro – Bustos, 1988 .

30.11.1994. Despedida.
Repousa em Jazigo de Família desde o 1º de Dezembro de 1994.

23 de março de 2007

Hilário Costa (12.03.1907 – 30.11.1994) – 1º centenário do seu nascimento. Um Resumo.

É urgente abrir as janelas,
… sem medos
(do contexto da intervenção de Belino Costa).
AS PALAVRAS
As palavras –
matéria perecível.
Som ossificado do momento.
Campânulas vazias.
Ampolas cheias de bálsamo e veneno.
Antídoto contra todo o esquecimento.

(Nuno David Elias, Folhagem de Sombras, extr. de “Millennium, 77 Vozes de Poetas Portugueses”, antologia coordenada por Cristino Cortes, Universitária Editora, 1ª edição 2002)

Hilário Costa (1907 – 1994), nascido em Bustos “na madrugada do dia 12 de Março de 1907” e aos sete anos rompeu o espartilho do analfabetismo, frequentando a escola primária, onde, juntamente com a sua família, apreende os valores do ideal republicano e que viria a defender sempre com a mesma coerência.
Na passagem da 1ª centúria do seu nascimento, Hilário Costa foi evocado em cerimónia íntima que Notícias de Bustos divulgou em 20.03.2007: “Hilário Costa … fez da sua terra a matéria-prima para o seu canto e arte. (Ulisses Oliveira Crespo)”.
A evocação de Hilário Simões da Costa foi transferida para o sábado, dia 17, em virtude de parte da Família não poder comparecer no dia do centenário do nascimento por impedimento de serviço.


Ao ilustre ciadadão Hilário Simões da Costa
Aconteceu o cerimonial desenhado na programação, as bandeiras em representação da Banda da Mamarrosa e da Associação de Beneficência e Cultura de Bustos abriram o desfile da romagem ao cemitério, uma coroa de flores foi depositada junto ao jazigo de Família, cumpriu-se o minuto de silêncio e ouviu-se a gravação do Hino de Bustos, musicado por Silas Granjo, sobre a letra de Hilário Costa. D. Aldina Mota e Gala, viúva de Hilário Costa, e o comendador Ulisses Oliveira Crespo descerraram a lápide a assinalar a efeméride e dedicada
“Ao ilustre cidadão
Hilário S. da Costa
12.03.1907 . 30.11.1994
Homenagem dos Amigos no
1º centenário do seu nascimento”.
O Comendador Ulisses Oliveira Crespo agradece em nome da Comissão
O presidente da comissão organizadora, comendador Ulisses Crespo proferiu uma breve alocução, tendo agradecido a presença de todos “que se dignaram assistir à consagração do ilustre bustoense” e enalteceu a “qualidade de cidadão do mundo [que] sempre acarinhou e divulgou a história pátria, em geral, e a história de Bustos e suas gentes, em particular. De ambas fez a matéria-prima para o seu canto e arte.”
Mostra Biográfica de Hilário Costa exposta na 'Biblioteca' [Pólo de Leitura]
A mostra biográfica exposta no espaço da “Biblioteca” que recolhia alguns trabalhos de Hilário Costa foi demoradamente visitada e elogiada. Abriu o apetite para que a experiência tenha continuidade. Ressaltou a necessidade de ser criado um espaço mais alargado.
Concorreram para o sucesso desta mini-exposição: Milton Costa; Prazeres Duarte, Alberto Martins; Câmara Municipal de Oliveira do Bairro (Presidente e Vereadora da Cultura); Associação de Beneficência e Cultura de Bustos; Óscar Santos, …entre outros. (Belino Costa irá publicar artigo de fundo)
O momento da palavra abre com Rosinda Oliveira a traçar o retrato de Hilário CostaO “Momento da Palavra” dedicado a Hilário Costa aconteceu no salão do condomínio da ABC e da Associação Orfeão de Bustos e recolheu contributos de alguns amigos, em vida, do homenageado.
Rosinda de Oliveira trouxe o retrato de Hilário Costa ao auditório, a força anímica do “Homem de fibra rija foi na vida um lutador inconformado. Inconformado com a política do seu tempo, com as várias carências socio-económicas, com os grandes desníveis sociais e culturais, com os atrasos e as desigualdades” o apego á Liberdade, o seu amor pela sua e nossa Banda da Mamarrosa. Dedicação reconhecida pela ascensão à qualidade de sócio benemérito nº 1da Associação Beneficente Cultura e Recreio da Mamarrosa. A concluir a sua participação, Rosinda Oliveira declamou o poema de Hilário Costa, ‘À Minha Terra’, que trouxe emoção.

"um português de torna viagem. Sempre com um pé na sua terra natal", Óscar Santos

Sérgio Micaelo Ferreira, cicerone da sessão, afirmou que a evocação a Hilário Costa “ajuda-nos a rever um passado calcorreado a custo, mas sempre orientado pelo sonho de uma sociedade mais progressiva, mais solidária, onde as barreiras controladoras das consciências nunca impediram as luzes de brilhar com todo o seu esplendor”.

Óscar Santos, um dos colaboradores do ‘Bairrada Livre’, lembra o cidadão Hilário Costa “Emigrante durante quase uma vida, [que] foi um português de torna viagem. Sempre com um pé na sua terra natal, aqui regressava para retemperar o amor pela terra-mãe, pela liberdade, pela democracia e pelo progresso, tendo como lema “a defesa e enaltecimento da Família, da Pátria, da Liberdade, da Democracia, do Desenvolvimento e da Instrução dos seus concidadãos”.

(...)
Agradecemos os favores
à União Liberal
(… )
(Mário Reis Pedreiras)

Mário Reis Pedreiras reviu-se o jovem de 11 anos que “aprendeu uma Lição daquelas que nunca mais esquece”, quando em 22 de Abril de 1922 participara numa “Festa organizada pela União Liberal de Bustos para inaugurar o conjunto de quadros pintados” oferecido por Hilário Costa às escolas de Bustos, a concluir, Mário Reis Pedreiras relembrou o poema recitado naquela Festa de que se reproduz a primeira quadra:

“Companheiros a Escola
É como a nossa Mãezinha
Ela ensina ela consola
Como o Sol que nos ilumina”.


1º de Novembro/1979 – Reunião dos Pioneiros do Palacete do Visconde, em casa do Dr. Jorge
O Dr. Jorge Micaelo realçou a participação cívica de Hilário Costa no apoio prestado à comunidade, mormente a acção desenvolvida na aquisição e arranjo do Palacete do Visconde. A célebre reunião dos «onze» no 1º de Novembro/79 em casa do Dr. Jorge que faz parte de imaginário edificante de Bustos, também foi assinalada.


Sem medo de abrir as janelas ao pensamento. Belino Costa intervém.
Belino Costa pôs em relevo a conduta do cidadão Hilário Costa em todos os actos da sua vida. Actos esses sempre adornados pelo ambiente da poesia,…parecia que tudo “estava envolvido pela poesia”.
Quantas pessoas andam subjugadas por tabus? Belino Costa pegou na alegoria das janelas de um edifício, umas abertas outras fechadas e apelou para que se não tivesse medo de abrir todas as janelas que cada um de nós tem dentro de si, como Hilário Costa o fez durante toda a vida, dando liberdade ao pensamento.

"dedicação às causas da Terra", Manuel RomãoManuel Romão recorda um exemplo de “dedicação às causas da Terra” e do Hilário Costa “defensor das liberdades pelas quais lutou sempre”.

O momento de poesia, dedicado aos “Provérbios” (Hilário Costa, "Versos dum emigrante") , foi desempenhado por Prazeres Duarte.
Hilário Costa nunca exorbitou das suas funções de presidente da Junta de Freguesia.
Para recordar a comissão administrativa da Junta de Freguesia de Bustos eleita em plenário realizado no salão do café Primor, Jó Duarte (secretário) Jó Duarte fez reviver os tempos de gestão difícil a seguir ao 25 de Abril, com o cofre camarário vazio, tendo apontado como exemplo de autarca, o então presidente da Junta, Hilário Costa que colocava o interesse da terra sempre em primeiro lugar. Hilário Costa era um democrata fiel aos seus princípios. Nunca exorbitou das suas funções, ideia já expandida por Óscar Santos. “As decisões eram tomadas colegialmente”. Hilário Costa foi um homem bom e quantas vezes “foi injustamente atacado”…

Amaral Reis Pedreiras, preso politico. Vítima da perseguição do estado novo.Uma impressionante ovação surgiu quando o nome de Amaral Reis Pedreiras (Tesoureiro da Junta de Freguesia/74), presente na sessão, foi citado entre os presos políticos vítimas da perseguição no tempo da ditadura de Salazar-Caetano.

Hilário Costa (ou Hissico ou Junqueiro) convivia com a poesiaMilton Costa, herdeiro do pensamento de Hilário Costa, encerrou a sessão.
Lembrou a educação recebida pelo se pai. “Nunca impôs as suas ideias”. Recordou que seu pai repudiava o Presidente Herbert Hoover pela sua actuação na crise que trouxe a fome e miséria, alargando a mendicidade à maioria dos trabalhadores dos Estados unidos. Em contraste, partilhava das ideias de Franklin Roosevelt que tomara medidas favoráveis ao desenvolvimento.
Hilário Costa falava “dos anos maus durante a Depressão nos EU comuma sorriso apesar de serem difíceis” e que fugira do hospital “porque não tinha dinheiro para pagar a operação ao apêndice”.
ÀS VEZES TUDO PARA MIM ERA POESIA, escreveu Hilário Costa no manuscrito editado em NB por bc. Milton Costa parece confirmar. Numa dada viagem, sentado no banco traseiro do automóvel, testemunhou o seu pai a conduzir com a mão esquerda e a escrever versos sobre um ‘bloco’ colocado à direita. À medida que ia escrevendo, atirava a folha para cima do banco e quando chegava a casa, ia para o escritório fazer a revisão.
O fim da intervenção foi comovente ouvir a longa lista dos nomes de amigos de Hilário Costa, que ajudaram a abrir os horizontes de Milton Costa e a conhecer o meio onde vivia.
Amigos, onde se encontravam alguns analfabetos, que me deram lições de vida, rematou Milton Costa.


JANTAR NO PIRI PIRIO Piri Piri foi o local escolhido para encerramento da homenagem atendendo à ligação que o nome deste restaurante tem à história da oposição republicana em Bustos, que, reunia os adversários-militantes do regime de Salazar em ocasiões dos eventos políticos, como o 18 de Fevereiro.


AGRADECIMENTOS

As comemorações pelo 1º centenário de nascimento de Hilário Costa tiveram alguma projecção local. Um agradecimento aos participantes que concorreram para mostrar a grandiosidade da personalidade homenageada.

O cerimonial foi levado a bom porto graças à participação de várias entidades que a Comissão Organizadora está agradecida. Sem a intenção de omitir, é de elementar justiça divulgar quem contribuiu para a realização deste evento.

Família de Hilário Simões da Costa (D. Aldina Mota e Gala e Milton Costa); Associação de Beneficência e Cultura de Bustos; Associação Orfeão de Bustos; Câmara Municipal de Oliveira do Bairro (Presidente e Vereadora da Cultura - que esteve presente); Pólo de Leitura de Bustos (antiga biblioteca fixa nº 26 da F.C.Gulbenkian); Associação Beneficente Cultura e Recreio da Mamarrosa e SóBustos.

A Amílcar Grangeia, os agradecimentos da Comissão Organizadora por ter permitido a realização da cerimónia no cemitério, para além do horário de serviço.

Uma menção especial para Adélio Martins dos Santos (Barroca); Alberto Martins; Duarte Novo; Emília Aires (Milita); João Oliveira; Manuel Romão; Prazeres Duarte; Sérgio Pato que criaram as condições para que as cerimónias decorressem em ambiente mais acolhedor.
Nota:

Aqui está o meu relato.
NB irá publicar a intervenções escritas proferidas durante a homenagem ao cidadão Hilário Simões da Costa pela ocasião do 1º centenário do seu nascimento.
O Museu de S. Pedro, da Palhaça, que esteve representado por João Lourenço, vai dedicar um trabalho museológico a Hilário Costa. A merecer uma visita.
Em 1.3.07, NB editou um depoimento que mereceu o título "ALCIDES & HELEN EVOCAM HILÁRIO COSTA". Irá constar do livro de testemunhos e depoimentos.

Hilário Simões da Costa é uma lição.

Um bem-haja.

sérgio micaelo ferreira

22 de março de 2007

19 a 24 ACONTECE - POESIA & 'EXPOSIÇÃO'

O sol de dia, as estrelas
De noite, quantas que vemos!
Nacem delas, põem-se delas:
Olhamos mais que entendemos!
E a lua, fermosa entre elas,
Que se renova e reveza,
Ora um fio, ora mais chea,
Ora em sua redondeza,
Cada mês – com que certeza! –,
Semelha à da nossa aldea.

(Francisco Sá de Miranda)
*
Laurentina Cesariniana 2
Mestiços somos nós todos
e eu também
mestediços visigodos
tinham um palato a modos
não muito por aí além.

Mestiços somos nós todos
Judeus e mouros
E ainda bem
(Grabato Dias,
antologia de Manuel Ferreira no reino de Caliban III, Plátano Editora, 3º volume)
*
O CHICOTE E O CAFÉ
Numa roça,
Implacavelmente
O chicote traçou novo risco
Vermelho nas costas do contratado.
Já cansado
O capataz grita com desdém:
«É para que aprendas, minha besta!»
E limpou o suor na testa.

E todos foram na tonga[1]
Silenciosamente,
Levando nos ouvidos
Os silvos do chicote
Rasgando a pele do camarada.

Em Luanda,
Um senhor distinto
Depois de bem almoçado
Pede um café.
(Eliseu Areia)
Poesia angolana de revolta, antologia, organização Giuseppe Mea, Paisagem Editora, Porto.
*
ULISSES
Recusa, poeta, suster o vento em tuas mãos.
Impossível, e não é alimento da fome
tão romântica
que rói tua alma pouco a pouco.
Respira e vive,
suavemente.
Apaga as músicas da distância,
os sinais de dramas só-palavras,
a vida abúlica que nirvanas pensam dar-te!
Afasta-as, homem-poeta,
edifica de novo
o gesto livre,
do homem a suprema glória!
Te lembro palavras de Ulisses
a Circe, olímpica feiticeira:
O homem só é grande
Quando igual a si mesmo.
Arsénio de Bustos, heterónimo de Arsénio Mota, hoje com harmonia dentro, 1956)
________________________
[1] Trabalho na plantação

Hilário Costa alvo de homenagem



A freguesia de Bustos homenageou, no sábado, dia 17, pela passagem do primeiro centenário do seu nascimento, Hilário Costa, um bustuense, autodidacta e cidadão que sempre lutou pela democracia, praticante da solidariedade e amante das artes.

Para o efeito, foi constituída uma comissão composta por Ulisses Crespo, Adélio Santos [1] , Agostinho Pires [2], Belino Costa, Emília Aires [3] , Humberto Pedreiras [4] , Jó Duarte, Jorge Micaelo, Manuel Romão, Manuel Júnior [5], Mário Pedreiras [6] , Óscar Santos e Sérgio Micaelo Ferreira.
Coube a este último elemento a apresentação da sessão, que foi presidida por Aldina Mota e Gala, viúva de Hilário Costa. Depois da romagem ao cemitério, onde foi descerrada uma lápide no jazigo da família e de se ter ouvido o hino de Bustos, cuja letra pertence ao homenageado, os convidados deslocaram-se para o salão polivalente do condomínio "ABC e Orfeão".


Rosinda de Oliveira foi a primeira a usar da palavra. "Homem de fibra rija foi na vida um lutador inconformado, com a política do seu tempo, com as várias carências socio-económicas, com os grandes desníveis sociais e culturais, com os atrasos e as desigualdades", afirmou, frisando que "tudo isto tocava profundamente o seu espírito livre e ávido de democracia e igualdade. Os seus ideais nunca se conformaram com a tacanha mesquinhez dos tempos que corriam e tudo fez para ver se conseguia modificar essas vivências".
Segundo a oradora, "em 1926, portanto com 19 anos de idade, emigra. Passa por Lisboa, Espanha e França, mas é a América do Norte o seu destino e é aí que trabalha e trabalha mesmo duramente".
"Na América trabalhou primeiro numa fábrica de escultura. Podemos lembrar, a propósito, os vários bustos modelados por Hilário Costa e algumas pinturas que ele ofertou generosamente às instituições de Bustos e que atestam bem a sua invulgar sensibilidade e inspiração estética", referiu, sem nunca esquecer a dureza da sua vida.
Hilário Costa, na colónia portuguesa, fundou o jornal "Farol da Liberdade" - para aí dar largas aos seus sonhos e aos seus ideais, procurando unir todos os emigrantes, em especial, os bustuenses e de defender os seus legítimos interesses - e publica livros de prosa e poesia. Após o 25 de Abril de 1974, empolgado na luta pela liberdade que para si, era quase um sacerdócio, rodeia-se de vários amigos que com ele partilham e comungam dos mesmos ideais e é com um desses amigos que aqui lança outro jornal "Bairrada Livre".
Sérgio Micaelo Ferreira, um bustuense a residir em Águeda, interveio para elogiar a forma como foi idealizada a homenagem.

"Para que as cerimónias tivessem um fio condutor consequente e pudessem trespassar os muros do alheamento, obtivemos o apoio logístico da Associação de Beneficência e Cultura de Bustos, Associação do Orfeão de Bustos, Câmara Municipal de Oliveira do Bairro, (nas pessoas do Senhor Presidente e da vereadora da Cultura) e Pólo de Leitura de Bustos, através da drª Prazeres Duarte", agradeceu, expressando um agradecimento especial à boa vontade manifestada pela Associação Beneficente, Cultura e Recreio da Mamarrosa e pela União Filarmónica do Troviscal". "Hoje, 17 de Março, a evocação de Hilário Costa, nascido na "madrugada do dia 12 de Março de 1907", ajuda-nos a rever um passado calcorreado a custo, mas sempre orientado pelo sonho de uma sociedade mais progressiva, mais solidária, onde as barreiras controladoras das consciências nunca impedissem a luz de brilhar com todo o seu esplendor", disse.
Intervieram ainda Óscar Santos, Jorge Micaelo, Belino Costa, Manuel Romão e Mário Pedreiras, que elogiaram o trabalho de Hilário Costa.
Registo ainda para as intervenções de Prazeres Duarte (momento de poesia), Jó Duarte (membro da comissão administrativa da Junta de Freguesia de Bustos, entre 1974 e 1976), que fez reviver os tempos de gestão difícil do período conturbado de 1975, com o cofre camarário sem dinheiro. Jó Duarte recordou a tomada das decisões do Executivo colegialmente.
A terminar, Sérgio Micaelo sugeriu que fossem publicadas as intervenções, um desafio a que Laura Pires, respondeu afirmativamente.

Autor: Miguel Cunha Quarta-feira, 21 de Março de 2007 - 11:29
(in Litoral centro, editado em NB com a devida vénia)

http://www.litoralcentro.pt/index.php?zona=ntc&tema=5&lng=pt&id=801
http://www.litoralcentro.pt/


nota do editor altino:
seguem-se os nomes por que são conhecidos em Bustos:
[1] - Adélio Martins dos Santos (Barroca);
[2] - Manuel Agostinho Pires (Barrilito);
[3] - Emília Aires (Milita);
[4] - Humberto Reis Pedreiras (Chico);
[5] - Manuel Simões Luzio Júnior;
[6] - Mário Reis Pedreiras.
*
O Hilário Costa
Homem incólume e bastante "douto"
Que entre os bons estava de primeiro
Foi humanista, um grande patriota e escritos
Cantou à sua terra cá e desde o estrangeiro.

Ulisses O. Crespo, Lustros de Bustos, edição 'Glória ao Povo de Bustos' (policopiada), anterior a 13.07.2003, pg.s 107.

20 de março de 2007

“Hilário Costa … fez da sua terra a matéria-prima para o seu canto e arte. (Ulisses Oliveira Crespo)



“Enganaste (...) a morte vem antes da vida, morreu quem fomos, nasce quem somos, por isso é que não morremos de vez. E quando vamos para debaixo da terra vida (...) não será isso morte sem recurso. Se estamos falando dele, nasce (...). Mas ele não o sabe. Tal como nós não sabemos bastante quem somos e estamos vivos.”

(José Saramago, Memorial do Convento)


Não vou dizer que em Bustos o conhecimento não abunda e o reconhecimento escasseia, tão-só erigir um memorial de toscas palavras para celebrar o centenário do nascimento de um bustoense que fez da sua terra a matéria-prima para o seu canto e arte. Falo, bem o sabeis, meus caros conterrâneos, de Hilário Costa (1907-2007). Falo de um homem que conheceu as agruras da emigração; conheceu os sabores da saudade do seu Bustos natal; cantou as suas gentes e prestigiou o nome de Portugal, quer nos Estados Unidos, quer na Venezuela, onde foi distinguido com a medalha de mérito Diego Losada. Contudo, também não esqueço a meritória campanha que desenvolveu em Bustos para dotar as escolas de pára-raios e a luta que travou para as equipar com cantinas escolares. Preocupações que evidenciam a ternura sentida pelas crianças.


Similarmente, nesta singela homenagem, reconheço a singularidade do seu carácter, a magoada saudade dos seus versos e, ao fazê-lo, tenho como desígnio evitar que a morte não seja «sem recurso» e a memória da sua passagem pela terra definitivamente amortalhada pelo esquecimento.


Acredito que uma das poucas obrigações dos vivos, no meu humano entender, é preservar a mem6ria dos mortos, não apenas em epitáfios os quais apenas inscrevem o começo e o fim de uma vida, senão em transmitir o legado ou legados que distinguiram a sua vida de homem. A 12 de Março de 2007, cumprir-se-á o centenário do nascimento de Hilário Simões da Costa. É tempo, pois, de dar a conhecer a sua poesia, de assinalar o centenário do seu nascimento com uma homenagem oficial e digna. É tempo de acabar com a falta de amor pelo autóctone; de consagrar a memória dos bustoenses dignos de mérito.


Assim, embora Hilário Costa já não esteja entre nós, ingratos vivos, cumpre às entidades oficiais homenageá-lo e, àqueles que o conheceram presentificar os seus feitos de homem, entoantando um hino à memória do:


Pintor de alma pura

Que pintas quadros de paixão em fogo

Para isso tens muito jeito.

Não me pintes cenas de guerra…

Já que nasceste com coração no peito,

Não te esqueças do meu povo

E se te sobrar pintura;

Pinta-me a gente da minha terra!...


Ulisses Oliveira Crespo, Crónicas de Bustos,
publicado em folha A4, com circulação restrita, anterior a 11 Novembro de 2006
.


12.03.2007, Com lágrima


.Partilhado o minuto de silêncio com Hilário Simões da Costa, o Comendador Ulisses de Oliveira Crespo dirigiu-se “ao sarcófago de Hilário Simões da Costa e disse:
Amigo Hilário, se há algum sítio no mundo donde possa estar, creio que nos está a ouvir…
Hoje, 12 de Março de 2007, viemos aqui …
Ponha-se forte que sábado vai encontrar aqui muitos amigos que nunca o esquecerão.
Até sábado, Hilário”, concluiu.
Aconchegados pela memória do ilustre bustuense, Hilário Costa, foi lida a peça de Belino Costa editada para a sua evocação no Notícias de Bustos:“ÀS VEZES TUDO PARA MIM ERA POESIA” – HILÁRIO COSTA NA PRIMEIRA PESSOA”. O dardo da emoção vidrou os olhos.
...
O encerramento aconteceu ao jantar, no Piri-Piri, que trouxe "mil” memórias e ainda houve tempo para perspectivar o próximo, e já acontecido, 17, dia da evocação de Hilário Costa.
sérgio micaelo ferreira



19 de março de 2007

A NET NA PAPELARIA


Portugal está a atravessar uma transformação profunda. Um novo ciclo de desenvolvimento está em marcha, deixando para traz o ciclo da construção civil e do consumo interno. Desta vez são as exportações a promover a recuperação económica, são as novas tecnologias e a industria de ponta a substituir as industrias tradicionais como o calçado ou os texteis. Portugal está em mudança e aos poucos o "choque tecnológico" vai integrando o nosso quotidiano, assumindo formas que ainda há poucos anos seriam impensáveis.


Talvez este seja um pequeno exemplo mas, em nosso entender, é bem revelador da evolução que começa a marcar o nosso quotidiano. É um sinal. A Papelaria Cristal, na Rua do Sobreiro, nº30, sentiu necessidade de corresponder às novas necessidades. Até agora vendia, jornais, revistas, livros, cigarros e fotocópias, mas precisou de introduzir uma nova "mercadoria", passando a disponibilizar o serviço de internet.



Papelaria Cristal

De segunda-feira a sábado, das 8h30 às 20 horas. Trinta minutos de internet por 1 Euro.




15 de março de 2007

HILÁRIO COSTA: SEMPRE!


“Onde estão os corpos daqueles que inventaram mundos? A questão interessa-me porque quem gosta da morte gosta da vida.” François Mitterrand

Hilário Simões da Costa faleceu a 30 de Novembro de 1994. Repousa no cemitério de Bustos, coberto pela bandeira da República.
Hilário Simões da Costa foi mais do que o lutador pela democracia, mais do que o presidente bustuense do 25 de Abril, mais do que o benemérito, mais do que o jornalista, mais do que o poeta popular, mais do que o artista ingénuo, mais do que o activista cívico empenhado, mais do que o trabalhador, mais do que o amigo, mais do que o emigrante apaixonado pela sua aldeia. E mais ainda.

Sendo tudo isso ele tornou-se um exemplo, a síntese de uma geração que correu mundo e comeu o pão que o diabo amassou. Ele é parte da gente que criou a identidade de Bustos; homens formados no gosto pelo trabalho, marcados pela ambição de serem livres.

Belino Costa

14 de março de 2007

LER OS SABORES


A passada 6ª feira foi dia de provar outros sabores. Vá-se lá saber se o pretexto foi a inauguração da vasta biblioteca do amigo Manuel Romão da Azurveira, ou se o verdadeiro mote foram os saborosos rojões caseiros.
Rodeados por milhares de livros e velharias, tudo recolhido ao longo dos anos pelo Romão, degustámos os tradicionais rojões fritos em banha de porco.

Os convivas foram mais que muitos e ficámos a saber pela voz do Milton que o próximo encontro terá como tema a chanfana de carneiro em forno de lenha. O Xico já está em pulgas pelo novo encontro, mortinho por voltar a partir a loiça toda e desancar a torto e direito, como é seu uso.

Como sempre, foram várias as teses ali defendidas. O Milton continua virado para os temas exotéricos e, desta vez, ensinou-nos que o Corão (Al Corão) se aproxima mais da génese humana que a nossa Bíblia: afinal e ao contrário do que muitos aprendemos, o homem não foi feito apenas de barro; na palavra de Maomé, o homem foi feito de barro e também de esperma. Diferentes leituras da palavra do mesmo Deus.
A natureza médico-científica do livro sagrado dos muçulmanos foi o melhor convite para o Nunes usar da palavra e falar da nossa terra e da liderança que Bustos vem perdendo nos últimos anos.
Foi outra lição, que se espera tenha sido bem escutada pelos políticos e autarcas presentes.
*

oscardebustos

12 de março de 2007

ÀS VEZES TUDO PARA MIM ERA POESIA

HILÁRIO COSTA NA PRIMEIRA PESSOA


Nasci na madrugada do dia 12 de Março de 1907. A minha mãe, Maria dos Santos Silva, que era muito bondosa, acarinhou-me durante o tempo que vivi com ela. Faleceu em 1936, com 77 anos, tendo sofrido muitos anos de uma úlcera no estômago. O meu pai, Domingos Simões da Costa, faleceu quando eu tinha dois anos de idade, ou seja em 1909.

Aos sete anos de idade dei entrada na Escola da Quinta Nova, tendo feito a 4ª Classe na Escola de Bustos, no dia 3 de Agosto de 1918, com 11 anos de idade; e assim terminaram os meus estudos oficiais.

Depois fui trabalhar para o estabelecimento do meu tio Augusto Costa, onde permaneci cerca de um ano; mas aos 13 anos, abri loja de mercearias e taverna na minha casa, o que durou 3 anos. E os 3 anos seguintes – de 1923 a 1926 – passei-os em suave convívio duma alegre mocidade.

Tinha 19 anos quando me despedi da minha mãe e de alguns familiares e amigos tendo saído de minha casa e da minha terra, a caminho da América. Em Oliveira do Bairro embarquei no comboio que me transportou a Lisboa e dela segui para Cherbourg, na França. E, naquele porto francês, embarquei no navio americano “George Washington”, que me levou a New York. Saí da minha terra aos 12 dias do mês de Dezembro de 1926 e cheguei aos Estados Unidos da América no dia 22 do mesmo mês.

Enquanto o navio seguia o seu destino pensei em coisas que me eram muito queridas e escrevi esta quadra em louvor da minha mãe:

Suprema entre as mulheres
Sejas sempre, mãe querida
E vai guiando, se puderes
Os passos da minha vida

Depois a luta pela vida. Fui trabalhar numa fábrica com o título “ Terra Cotta”, fábrica de esculturas feitas com barro e diversos materiais, por competentes artistas, para museus e frontarias dos edifícios do Estado e de casas particulares, muito em uso naquela época. Era eu que mexia o gesso com uma betoneira eléctrica.

Gostava de ver os artistas transformarem o barro em figuras humanas, animais, flores. Mas pouco tempo permaneci naquela fábrica tendo ido para New Rochelle, bela cidade do estado de New York, onde vivi parte dos meus 48 anos de emigrante. E lá comecei a trabalhar na construção de estradas. Alguns desses trabalhos eram feitos com pá e picareta, ou com um marrão pesadíssimo a partir pedra, como escravo.
Em 1928 fui secretário da Assembleia Geral do Portuguese Sporting Club, de Perth Amboy, New Jersey.

Em 1932 a grave crise económica que o Presidente Hoover criou (ou não evitou) atirou para o desemprego milhões de trabalhadores, obrigando-nos a abandonar a América e vir para as nossas terras; para não termos de caminhar, em bicha, de mãos estendidas, e não passarmos fome. Tinha eu 25 anos.
Regressei a Portugal em 1932 e, a 29 de Dezembro, fui eleito secretário do “Luzitano Foot-Ball Club”. O primeiro clube a ser fundado em Bustos para a realização de futebol e bailes.

Passados dois anos de uma vida activa em Portugal, pintando os quadros que ofereci às escolas de Bustos, eis-me novamente a caminho da América.

Trabalhei em restaurantes na cidade de New Rochelle e New York. Devido ao frio contraí grave doença, tendo sido levado para o Hospital onde fui operado. Doente, triste e sem o carinho da minha mãe e dos meus familiares e amigos, eis a realidade dum emigrante!

Tive novamente de regressar a Portugal para recuperar da saúde, onde permaneci cerca de 2 anos. Mas não desanimei. Era necessário emigrar, procurara longe da Pátria – o que a Pátria não oferecia…
Em Junho de 1935 eu e alguns bustuenses avistámo-nos com o Senhor Doutor Manuel dos Santos Pato, para cedência do seu terreno para a feira e ele, com muita satisfação, cedeu ao nosso pedido. Era eu presidente da União Liberal de Bustos, organização cívica de republicanos de Bustos, Mamarrosa, Troviscal e Palhaça e Taboaço, com a finalidade de realizar enterros civis e de protecção aos pobres da freguesia.
Na América, de 1937 a 1946, fui empreiteiro de jardins em casas particulares e jardins de restaurantes famosos. Regressei à minha terra em 1946, não me sendo possível regressar mais cedo por causa da Guerra. Fui feliz por ter regressado e casado com a mulher, Aldina Mota e Gala, que eu desejei para esposa, cujo enlace matrimonial se realizou a 28 de Setembro de 1946. Tinha 39 anos e ela 21. Do nosso casamento nasceram dois filhos: Milton e Hilário.
A 8 de Outubro de 1939 eu e um grupo de portugueses fundámos o “Portuguese -American Club”, em New Rochelle, New York. E, a 27 de Dezembro de 1942 fui eleito presidente, sendo reeleito a 9 de Janeiro de 1944.

Fui e regressei algumas vezes. E lá fora lutei muitas vezes com sacrifício. E sempre levava no pensamento a minha aldeia. E nela a minha mãe, os meus familiares e as pessoas da minha amizade.

Em Portugal, a 30 de Julho de 1953, foi inaugurado um pára-raios que ofereci à Escola de Bustos. Por duas vezes ofereci pára-raios à Escola da Quinta Nova. Durante 12 anos, pelo Natal, eu e a minha esposa oferecemos magustos às crianças da freguesia.

Escrevi no meu primeiro livro “ Versos de um Emigrante” e, em 1955, o livro de versos “Rosas e Espinhos.” Em 1968 fiz o meu busto em barro, tendo sido copiado para o bronze numa das mais famosas oficinas de New York.
Às vezes tudo para mim era poesia, a encorajar-me para prosseguir na luta. E assim, nas minhas horas de descanso escrevia, pintava ou moldava. Procurava aprender alguma coisa, ser alguém.

Em 1969, na América, publiquei o jornal “Farol da Liberdade”. Nele, entre outros artigos e notícias escrevi “Carta Aberta ao Professor Marcelo Caetano, Presidente do Conselho do Governo Português”, lembrando-o que os portugueses não podiam continuar a viver em ditadura e sob a lei opressora da PIDE, e era a ele que competia dar ao povo liberdade e democracia. Mas Marcelo Caetano não me quis ouvir e daí a cinco anos, na madrugada do dia 25 de Abril, briosos e valentes soldados lhe bateram à porta, exigindo para se afastar do país. E Marcelo Caetano embarcou para o Brasil, onde faleceu e foi sepultado.

Regressei a Portugal e assisti a diversas sessões de propaganda democrática, durante a ditadura e discursei em Estarreja, Ílhavo Bustos, Mamarrosa e Troviscal. Com alguns dos homens de maior prestígio do distrito de Aveiro, como cidadãos e democratas convictos. Muitos deles sofreram na prisão as torturas da tenebrosa PIDE e eu, se não fui preso é porque me afastei da casa à pressa, porque sabia que no dia seguinte me vinham buscar. Pois no dia seguinte bateram à minha porta e a minha esposa mostrou-lhes um telegrama que dizia: - Cheguei bem.
Cheguei são e salvo à terra da Liberdade! E os Pides seguiram o caminho de Coimbra, desgostosos!”

Chegou o 25 de Abril do meu contentamento, pela restauração da democracia e liberdade em Portugal. E o meu amigo Dr. Manuel Santos Pato, da Mamarrosa, telegrafou-me para a América convidando-me para regressar imediatamente, para publicarmos um jornal. Regressei e o jornal foi publicado com o título “Bairrada Livre”, jornal quinzenário democrático e defensor da região bairradina”, com redacção e administração na minha casa do Sobreiro. Iniciámos a sua publicação a 12 de Julho de 1974. E a 6 de Julho de 1975 terminei a sua publicação. A razão deve-se ao facto de ter falecido o meu amigo Dr. Santos Pato e eu não querer continuar com tantas despesas e responsabilidades.”
Após a minha chegada a Bustos, vindo dos Estados Unidos da América, em 1974, e ainda no alvor da Revolução de Abril, foi convocado o povo da nossa terra para o Salão do Café Primor, tendo comparecido grande número de pessoas. E ali se discutiram assuntos de grande importância para o progresso de Bustos, tendo sido eleita a nova Junta de Freguesia, por unanimidade, ficando assim constituída: Hilário Costa (Presidente), Jó Ferreira Duarte (Secretário) e Amaral dos Reis Pedreiras (Tesoureiro).”
No dia 1 de Novembro de 1979, eu e 10 conterrâneos reunimo-nos muito animados com a ideia de comprar o Palacete dos herdeiros do Visconde.

Em 1980, eu e a minha esposa, fomos à Venezuela para visitar familiares e amigos e promover uma campanha no sentido de angariar fundos entre os nossos conterrâneos e amigos, para ajudarem a pagar a compra do Palacete. E isso contribuiu para que os nossos conterrâneos, naquele país, tenham enviado cerca de 3.200 contos.

Em 1982, nas festas do dia 18 de Fevereiro e 62º aniversário da nossa independência da freguesia da Mamarrosa, eu e o Sr. Vitorino Reis Pedreiras, hasteámos na varanda do Palacete as bandeiras, a nacional e a nova bandeira, símbolo de Bustos, com a presença de centenas de pessoas, a quem eu, com voz forte, disse:
- Viva Bustos! Viva o 18 de Fevereiro!”
Foi a primeira vez que estas bandeiras foram hasteadas no Palacete. E eu disse ao Sr. Vitorino: “ Se o Visconde aparecesse agora aqui, com sua juventude e o grande amor pela monarquia, atirava-nos desta janela à rua!”

Em 1983 fui eleito Presidente da Assembleia da Casa do Povo.

Em 1984 publiquei o livro “Bustos – Memórias de um Bustoense”.

Hilário Costa

A partir de: “Árvore Genealógica da Família Costa” (1988) e “Memórias de um Bustoense” (1984), edições do autor.