Debruço-me sobre matérias passadas, publicadas no Notícias de Bustos e lá me deparo com pequena biografia de um poeta Bustuense: António Pato.
Imediatamente a agitação de meus neurônios me trazem à memória mais algumas lembranças de criança, então com 6 anos de idade. A minha presença na casa de meus avós era constante. Com essa idade eu já ia sozinho até à casa de meus antecedentes maternos. E lá, na casa onde nasceu minha mãe Cândida Correia, algumas coisas me atraiam. A bateria do conjunto em que meu tio padrinho David tocava, que às vezes ficava guardada no pátio em cima de um balcão; Os figos, as nespras e as ameixas amarelas, três de outras tantas frutas do aido dos avós; Os abusados carinhos de uma tia. E o namoro do filho do Dr. Pato e de uma cunhada do Dr. Vicente. A respeito de minha tenra idade, eu fora atraído por uma curiosidade imensa, quanto inocente, a respeito de um namoro um tanto estranho para mim, a considerar toda uma cultura daquele tempo. Dentro do contesto curiosidade devo confessar minha estranha atração por um carro de linhas sem igual do filho de Sr Dr. Pato: Um Citroem Preto (acho que a marca era fabricada somente nesta cor). Ele me parecia mais largo e atarracado que os outros carros que conhecia (e que não passavam de uma dezena). Por essa época, apoderou-se de mim uma grande obsessão: espiar o andamento daquele namoro que fugia bastante das “normas e procedimentos” de namoro conhecidos, em que a junção de corpos entre namorados só ocorria nos bailes e, até nessa circunstância, nem sempre a rapariga consentia com uma aproximação, diria, mais acalorada...
A casa de meus avós ainda se encontra intacta como eu a conheci, na rua 18 de fevereiro. Era no segundo pavimento que ficava a janela de meu observatório. E como era excitante ver aquele colóquio à frente da porta de entrada da casa em frente, do outro lado da rua. Somente agora me dou conta de que aqueles rostos juntinhos era a forma mais sublime de um sussurro d alma, ao pé de ouvido de uma amada, a verter em versos, a fala de um coração...
“Eu passo toda a semana/Com o domingo na mente/Se ao domingo te não vejo/Seis dias fico doente”.
Irmãos Santos Pato: António, José, Manuel (Néu) - foto do arquivo do Eng.º Santos Pato
Estive em Portugal recentemente, achando-me presente no Troviscal, num jantar de comemoração dos 100 anos da proclamação da República. Eventos alusivos à efeméride espalharam-se por todos os cantos do país luso. Na Palhaça, presenciamos a inauguração de um maravilhoso complexo de ensino.
Pensando República, Bustos também teve seus notáveis republicanos, cuja história vem sendo pormenorizadamente resgatada por uns pouco abnegados pesquisadores conterrâneos. E como expoente maior desse marcante acontecimento de 1910 avulta o nome de Jacinto dos Loiros, nome igualmente consagrado na luta pela emancipação da freguesia de Bustos tendo como data comemorativa, o 18 de fevereiro.
Pois foi na antiga moradia de Jacinto do Loiros que eu alimentei minha curiosidade infantil, aguçando minha acuidade espiâ. Foi nessa residência que morou durante muitos anos, Dr. Vicente. Mas... Porque me detenho em tal referência? Preciso declarar a meus conterrâneos que foi com uma imensa tristeza que vi desaparecido aquele imóvel, que deu lugar a uma outra construção. A sua preservação, certamente representaria e distinguiria um rico e importante período da história da freguesia de Bustos. De um lado o majestoso palácio do Sr. Visconde, símbolo máximo de uma monarquia sucumbida. Do outro lado, uma vivenda de linhas personalizadas a registrar para sempre a existência de um guerreiro, que despontou como o grande arauto da república proclamada e da emancipação da nossa terra.
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