17 de novembro de 2006

PERTO DE LONGE



"Na semana passada, atei os olhos no abandono da estação dos caminhos de ferro de Oliveira do Bairro. O que mais me espantou nesta viagem foi a distância real entre Aveiro e Oliveira do Bairro para quem lá vai de comboio. Não devia ser longe. Mas é.

Na mesma surtida, espantou-me ver como são curtos os caminhos entre as pessoas que se ocupam do saber, da educação, da cultura científica no futuro, da fala entre as gerações. Onde alguns me apontaram a distância de um abismo, vi como fica perto a porta da casa onde comungamos o privilégio de chamar pelos nomes os jovens que trabalham e se destacam nas escolas locais. Havia uma ponta de vaidade e orgulho na voz dos responsáveis do "Jornal da Bairrada" quando chamavam pelos melhores filhos da terra. É esse fio de voz que nos leva daqui até ao futuro. Os jornais locais são o fio em que nos equilibramos quando encetamos a nossa travessia de funâmbulos. Se cairmos nesse caminho, caímos em casa. Esse é o conforto que anseio ao procurar uma casa comum em Aveiro.

A ver passar os comboios em Oliveira do Bairro, liguei os quatro cantos da casa comum de Aveiro por comboio. Linha por linha."

Arselio Martins
[o aveiro; 16/11/2006]

3 comentários:

  1. Anónimo21:08

    Em cerimónia ornada pela injustificada ausência do secretário de estado Walter Lemos, o Jornal da Bairrada fez entregar os seus prémios aos melhores alunos de Portugês e de Matemática e Arsélio Martins mostrou a presença da matemática desde os actos mais simples do quotidiano. E, mais adiante, abana o auditório ao lembrar em voz alta que a formação da cidadania não abdica dos saberes alcançados pela dita matemática – talvez a disciplina que a sociedade mais abomina.
    A máquina que dá pelo nome de educação anda à procura dos seus carris. Como o secretário de estado faltou ao discurso e confundindo a ficção com a realidade, escolhi um excerto do Mestre Aquilino.
    “ – Existe na língua portuguesa um livro único, curiosíssimo, chamado o ‘Perfeito Capitão’, que veio a lume com as bênçãos todas do Santo Ofício, do Ordinário e do Paço e justamente encomiado por sonetos e outras peças 1íricas de grandes nomes na religião e nas letras. Não imagine, porém, que se ensina nele a arte da guerra, não. Mas nada melhor para se saber o número de pregas que devem ter os bofes da camisa, como se há de frizar o rabicho, dar o nó da gravata, fazer a mesura ao entrar e sair duma sala, beijar a mão, e outras cerimónias de natureza religiosa e civil como receber o Santíssimo Sacramento em casa, estar à mesa com decência, observar a boa etiqueta.” (Aquilino Ribeiro, Anastácio da Cunha – o lente penitenciado, Livraria Bertrand, Lisboa).

    ResponderEliminar
  2. Anónimo19:42

    E essa distância vai muito além da estação de comboios. Passa, por exemplo, pelo Jornal da Bairrada que não gosta de polémica nem suporta quem pensa de forma diferente. É por isso que o seu contributo para o progresso do concelho é diminuto, não vai além da visão do cacique. É tanto assim que eles não suportam blogs como este ( nem a eles se referem.)

    O Jornal da Bairrada esteve ao serviço da ditadura Salazarista, colocou-se de joelhos perante o CDS, e irá a continuar a dobrar-se em função de meras conveniências particulares...

    Também no pluralismo jornalistico é enorme a distância entre Oliveira do Bairro e Aveiro.
    Somos a cidade que mais longe da cidade fica.

    ResponderEliminar
  3. Anónimo19:59

    Apesar dos seus inúmeros defeitos -- alguns deles bem graves e na ordem do dia --, há um facto incontestável: quem quiser acompanhar e/ou participar nos debates que actualmente se fazem na sociedade portuguesa não pode contornar a blogosfera. É por isso que cada vez mais surgem referências na comunicação social aos seus debates e às suas polémicas. Longe vão os tempos em que referir os debates e as polémicas na blogosfera retirava gravitas aos comentadores institucionais. A blogosfera não tinha pedigree. Hoje acontece o contrário: comentador que diga que não lê blogues faz uma figura ridícula. É como dizer que, apesar de se ser comentador, não lê jornais e/ou não vê televisão.
    A blogosfera vai fazendo o seu caminho enquanto espaço comunicacional. Institucionalizando-se. Vendo o seu peso ser reconhecido.

    in Bloguitica

    ResponderEliminar