Duarte Novo, presidente da Junta de Freguesia, tem feito um bom trabalho. Tendo em conta os meios e os poderes de que dispõe pouco mais lhe será exigível. Falhou no entanto num ponto essencial e acaba por ser vítima de alguma falta de estratégia política.
Se mais razões não existissem, e elas são muitas, só o facto de integrar uma força partidária que é minoritária (o domínio concelhio do PSD é esmagador), Duarte Novo deveria ter tentado alargar a sua base de apoio, promovendo o debate de ideias, gerando aliados em torno de propostas e soluções. Um pouco menos de karaoke e um pouco mais de abertura ao pensamento teriam ajudado.
Agora está perante a irónica situação de ter ouvido o Presidente da Câmara, na sua casa, pedir propostas, mostrando toda a vontade de resolver os nossos problemas tendo ficado à espera, pacientemente, pelas ideias e soluções dos bustuenses... E se nada fizer é porque Bustos e Duarte Novo não indicaram a luz ao fundo do túnel!
Todos nós, teoricamente, podemos apresentar propostas à C.M.O.B e ao seu presidente, mas se este desejasse, realmente, a participação da população concelhia na elaboração do orçamento camarário, já tinha criado um orçamento específico para tal como, por exemplo, acontece com o “Orçamento Participativo”, em Lisboa. Nada de semelhante foi proposto ou pensado. Aqui a participação popular só interessa quando serve para adiar problemas e responsabilizar terceiros pela inacção do poder politico concelhio.
Como faltam ideias, projectos, vontade, os nossos líderes esperam que os iluminemos. Mesmo sabendo que essa é uma tarefa inglória, vale a pena tentar.
Indiquemos a primeira premissa do debate:
Tudo deve ser equacionado em dois planos, no plano das necessidades imediatas da freguesia, como por exemplo a recuperação do Palacete, e no plano de uma estratégia concelhia para a zona sul, como por exemplo o destino a dar aos terrenos da feira.
Bustos cometerá um erro crasso se defender um plano estratégico fechado sobre os limites da freguesia, sem se enquadrar numa perspectiva concelhia e distrital. Comecemos por colocar algumas questões essenciais:
Qual a função de Bustos dentro de uma estratégia concelhia de desenvolvimento? O que é que temos a oferecer? Que mais-valias, que sinergias, que trunfos temos que possam jogar um importante papel no desenvolvimento concelhio, especialmente na zona sul, a que menos cresceu na última década.
Os dados já conhecidos do último censo revelam uma realidade indesmentível, o norte progrediu, o sul quase estagnou. O concelho cresceu em população residente, tem mais 1864 habitantes do que em 2010. Desses, 1525 instalaram-se nas freguesias de Oiã e Oliveira do Bairro. Os outros 339 espalharam-se pelas restantes freguesias, ficando a Palhaça com a maior fatia, 259. A freguesia mais a sul, Mamarrosa, perdeu 39 habitantes, enquanto Troviscal quase não cresceu dado os seus 7 novos residentes. Bustos assinala um crescimento mediano com 76 novos habitantes.
Estes números são uma demonstração de que o desenvolvimento do sul do concelho tem sido descurado em prol do norte. Denunciar esta dualidade, defender a necessidade do sul do concelho ter um pólo de desenvolvimento deverá ser a primeira questão a colocar sobre a mesa. Mas para isso o executivo da Câmara Municipal terá que rever e repensar o plano estratégico de desenvolvimento, se é que ele existe. O que não será fácil porque a força eleitoral das freguesias a norte se reforçou e, para qualquer um político, são os votos que contam. Em tempo de eleições não contam as freguesias, contam os fregueses.
Belino Costa