Segunda-feira, cinco de Outubro de 2009. São duas da tarde. O céu está cinzento, prometendo chuva. No café somos seis clientes e três empregadas. A rua está calma, passam alguns carros com vontade de chegar a casa antes que comece a trovejar. Na rotunda do sobreiro, engalanada de cartazes eleitorais gigantescos, o trânsito é próprio de um feriado sem futebol, faltando o tradicional frenesim de um dia de trabalho. Mas nem todos descansam porque, apesar de faltarem quatro dias para a campanha eleitoral terminar, ainda há necessidade de pendurar mais dois cartazes. Imprescindível! Tanto assim que uma camioneta, vinda de Oliveira do Bairro, faz meia rotunda e estaciona em cima do passeio.
Salta de lá um jovem de barrete vermelho e tronco nú que, enquanto calça umas luvas, me interpela. É brasileiro e quer saber onde fica o cinema de Bustos.
- Fica ao fim desta avenida – explico enquanto aponto a direcção. – E porque razão o quer saber?
O rapaz olha-me sem admiração e acena para o material na carroçaria:
- É para montar um cartaz. Mas primeiro monto um aí, no centro da rotunda.
Encaro o rapaz, de cigarro ao canto da boca, e percebo que não vale a pena explicar-lhe que é perigoso criar barreiras visuais no centro das rotundas. A culpa que ele transporta não lhe pertence, é de outra origem. É um jovem emigrante cumprindo ordens. Para ele aqueles cartazes são úteis, permitem-lhe ganhar o duro pão. Nem que chova e o dia seja feriado nacional.
Tiro-lhe o retrato enquanto outro retrato nos olha lá de cima, circunspecto e rigoroso. Olho e compreendo a urgência, a decisiva necessidade de mais um cartaz no meio da rotunda. O rapaz segue o meu olhar. Gingão e bem disposto também ele encara o enorme rosto do candidato que nos olha lá do alto. Depois sorri para mim, puxa o cigarro para o canto da boca e canta:
-Ó tempo volta para traz, que eu vou ali montar mais um cartaz!
BC
- Fica ao fim desta avenida – explico enquanto aponto a direcção. – E porque razão o quer saber?
O rapaz olha-me sem admiração e acena para o material na carroçaria:
- É para montar um cartaz. Mas primeiro monto um aí, no centro da rotunda.
Encaro o rapaz, de cigarro ao canto da boca, e percebo que não vale a pena explicar-lhe que é perigoso criar barreiras visuais no centro das rotundas. A culpa que ele transporta não lhe pertence, é de outra origem. É um jovem emigrante cumprindo ordens. Para ele aqueles cartazes são úteis, permitem-lhe ganhar o duro pão. Nem que chova e o dia seja feriado nacional.
Tiro-lhe o retrato enquanto outro retrato nos olha lá de cima, circunspecto e rigoroso. Olho e compreendo a urgência, a decisiva necessidade de mais um cartaz no meio da rotunda. O rapaz segue o meu olhar. Gingão e bem disposto também ele encara o enorme rosto do candidato que nos olha lá do alto. Depois sorri para mim, puxa o cigarro para o canto da boca e canta:
-Ó tempo volta para traz, que eu vou ali montar mais um cartaz!
BC
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