30 de junho de 2006

«QUERIDA ESTAÇÃO» DOS CTT! (*)

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Uma simples caixa postal, criada em 1886, não podia servir bem a população da freguesia de Bustos no início dos anos 20. A expansão das actividades comerciais, industriais, culturais e sociais em geral exigia com urgência uma estação telégrafo-postal na localidade.

Foi no termo de Maio de 1927 que a Junta de Freguesia local, presidida por Manuel Francisco Rei, viu criado pelo Governo, a seu pedido, aquele serviço público, que só em 14 de Outubro seguinte viria a ficar instalado numa Casa particular. Era, apenas, o começo de uma pequena «odisseia», que Manuel Joaquim d’Oliveira Sérgio recorda, com pinceladas de cores vivas, no opúsculo «Há males que vêm por bem – Como foi criada a Estação Telégrafo-Postal em Bustos», publicado em 1956.

Um grupo de meia dúzia de bairristas teve logo que angariar nas próprias aIgibeiras a quantia de 5700$00[1] para custear a aparelhagem necessária à estação. Naquela altura, quando a franquia de uma carta importava em dez centavos[2] (ou ainda menos?), 5700$00 era bastante dinheiro. Mas, em 1930, foi preciso ir além disso e comprar também o terreno próprio para construir o edifício da estação, o qual custou 9.000$00[3] e foi pago pelo mesmo grupo, e outros elementos da população. Por outro lado, este grupo responsabilizava-se pelo pagamento do aluguer anual (200$00[4]) das instalações provisórias e teve de pagar 13$40[5], por cabeça, pela escritura de doação do terreno ao Estado...

Assim, com o progresso arrancado «a ferros», merece homenagem esse grupo de bustuenses animosos, parte dos quais eram comerciantes: Manuel Nunes Pardal, Herculano da Silva, Albano Tavares da Silva, Manuel Francisco Domingues, dr. Manuel dos Santos Pato, Manuel Reis Pedreiras, Vitorino Reis Pedreiras e Manuel Joaquim d'Oliveira Sérgio. A lista não é exaustiva e a ordem dos nomes é arbitrária.

A estação telégrafo-postal começou a funcionar apenas em 1 de Janeiro de 1928. A Junta de Freguesia pagou a condução das duas malas do correio desde 10 de Junho de 1929 até 19 de Fevereiro de 1932. A partir desta data, tal encargo ficou reduzido a metade. A despesa da condução das malas postais passou integralmente a ser suportado pelos Correios em 16 de Janeiro de 1940 e só em 1 de Agosto de 1946 a estação começou a beneficiar de distribuição oficial de correspondência (carteiro, para Bustos e Mamarrosa).

Em 15 de Fevereiro de 1950, as malas postais deixaram de circular por via ferroviária, passando a ser conduzidas pela carreira de camionagem Coimbra-Aveiro. A seguir veio um edifício novo e a instalação da central telefónica automática, inaugurando melhores tempos...

Enfim, foi longa a luta que fez nascer e manter a estação local dos Correios. Deixou uma estrada de sacrifícios. Por isso se justificou bem toda a música e foguetes, toda a alegria e tristeza que rodearam, no dia inaugural, a «querida Estação».

Rematando com Manuel Joaquim d'Oliveira Sérgio, diremos, transcrevendo o seu opúsculo:
«Como vêem, os que naquele tempo ainda não existiam ou eram crianças, e é a estes que me propus dar este esclarecimento, o letreiro que encimava a fachada do edifício dos Correios não representava a expressão da verdade, pois que, a fazer-se um letreiro, deveriam incluir-se nele os nomes de todos aqueles que, pela obra, se sacrificaram». (a)
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(*)Arsénio Mota, Bustos – elementos para a sua história, Edição da Associação de Beneficência e Cultura de Bustos, 1983.
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[a] Desaparecido o opúsculo, perdeu-se uma franja da História de Bustos.
Na fase inicial da sua actividade, os correios tinham pouca procura, logo arrecadava pouco dinheiro. Perante tão diminuto movimento, Bustos poderia ser penalizado pela Administração dos Correios. Havia que dinamizar o movimento da “querida estação”. Num golpe de magia, Manoel Joaquim d’Oliveira Sérgio compra selos aos contos de reis. As receitas da estação telégrafo-postal trepam em flecha, tendo desaparecido as ameaças de cortes nos serviços da estação.
O Senhor Sérgio, prestigiado comerciante, tinha previamente acertado com alguns fornecedores que os pagamentos pudessem ser efectuados em selos do correio.
[Ainda será possível recolher mais pormenores desta peripécia que proporcionou melhor sustentabilidade «à querida estação»?
- A gravura representa tão só um esboço do letreiro colocado a meio do edifício. É provável que exista alguma foto a reproduzir a fachada dessa estação dos correios]
(srg)
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[1] 28,43 €
[2] 0,0005 €
[3] 44,89 €
[4] 1,00 €
[5] 0,07 €

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