28 de junho de 2006

"QUASE TUDO NADA" DE ARSÉNIO MOTA



Já está editado "Quase Tudo Nada", o livro com que Arsénio Mota conquistou o prémio literário Carlos de Oliveira.
Aqui fica um cheirinho para abrir o apetite à leitura:

“Quando acordou de nascer, estava deitado numa cesta, à sombra de uma oliveira em campo aberto. Não se via ninguém mas ouviam-se sons espaçados: um rancho de cavadores, em fila ombro a ombro, manejava as enxadas. As lâminas penetravam na terra fresca com um pequeno estampido, surdo e metálico, enquanto os homens soltavam uma espécie de exclamação, ah!, que soava também como o arquejo do esforço feito.
Soube que era nascido porque via um céu azul claro e ouvia aqueles sons cavos e ritmados, entre o piar dos pássaros que por vezes, voando, rasavam a cesta onde Tumim abria os olhos para o mundo. Saudariam eles, de asas abertas, o seu nascimento?”

Não percam tempo porque o prazer da leitura espera-vos. Encomendem o livro na vossa livraria habitual, na Câmara Municipal de Cantanhede ou via “Campo das Letras”, aqui .

Quase Tudo Nada
Campo das Letras
R. D. Manuel II, 33-5º
4050-345 PORTO

campo.letras@mail.telepac.pt

1 comentário:

  1. Carlos Oliveira «obrigou» o seu velho amigo e vizinho Arsénio a mostrar-se Simões, Mota, bustuense-gandarês, tripeiro e planetário. Quase Tudo Nada não condensará Qause Toda a biografia do premiado autor?
    Para aguçar o apetite, destaco um quadro onde Arsénio Mota fotografa o seu amanhã............
    "Quase todos se tuteavam. A mesa comiam da mesma comida, tirada da panela igualitária. Nas horas poucas de folgança da gente grande tão-pouco havia distinções. Naquele terrunho a democracia não se aprendia, praticava-se.
    As conversas dos homens interessavam-no. Na loja comercial do pai, onde sempre se seroava, discutiam-se ideias e temas de história, religião, política, literatura, geometria, matemática... e as discussões eram vivas, chegavam ao rubro. Caso espantoso em meio pequeno? Pois seja, mas verídico e, para todos os efeitos, a primeira universidade que Tumim frequentou e note-se, em horário pós-laboral. Assim se foi o rapazinho habituando a uma aprendizagem livre e espontânea conseguida com esforço.
    O serão começava com a chegada de dois dos primeiros fregueses, ainda solavancavam nas pedras da estrada, rente ao lusco-fusco, os derradeiros carros de bois guiados por homens com longas varas de aguilhão nas mãos terrosas. Via-os, encostado ao balcão, passar diante das portas abertas da loja, seguidos pelos últimos trabalhadores de enxada ao ombro, enquanto, pelo ouvido curioso, ia aprendendo a medir a altura de uma árvore, a conhecer o valor de Pi, a linguagem gestual dos surdos-mudos, de mistura com, técnicas de enxertia, fabrico artesanal de cerveja ou obtenção de heliocópias ...
    Tudo isto em amálgama o maravilhava, não menos que as outras histórias, de origem diversa, que ia devorando com crescente regozijo: iniciara a viagem através ..." in Arsénio Mota, Quase Tudo Nada
    ...................................
    sérgio micaelo ferreira

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