«MÉTODO DA VIUVEZ» FAZ CAMPEÕES

Evaristo Pinto tem o nome gravado em páginas de ouro do futebol de Bustos. Defesa–central de peito feito e cara levantada. Iniciou a sua formação de jogador nos tempos da escola, com uma bola de trapos e pé-descalço. Como era de regra. «Quem não se descalçava, não jogava». Aplicava-se o princípio da igualdade, com rigor. Até o «keeper» jogava sem botas ou chancas.

APRENDIZ DE CARPINTEIRO - TREINADOR DE CAMPEÕES
O aprendiz e mestre carpinteiro, mais tarde construtor civil portas adentro, empresário da construção de sucesso na Califórnia, para além de futebolista desde os tempos dos Gavetas[1], clube genuinamente do Povo, do «União Desportiva de Bustos» do não-oficial Sport Lisboa e Bairrada[2] e de tantas equipas que se formaram para disputar torneios populares.
A sua carrinha Peugeot (a primeira foi uma 203 e mais tarde a 403) de caixa aberta tantas vezes serviu para transportar parte da equipa, recordou em tempos o Jó Duarte, então guarda-redes… Era uma festa!
O Evaristo Pinto também foi um columbófilo campeão, aliás um campeoníssimo.

PARA A BAIRRADA … PARA BUSTOS
A marcação de golos pela equipa do Bustos, o resultado ao intervalo e resultado final disputados fora ou no Sobreiro eram transmitidos via pombo-correio. A chegada dos pombos antes do fim do jogo era sinal seguro de «o nosso União» estava a ganhar.
O papel (telegrama) era retirado da anilha, aberto e lá estava o resultado.
‘Sempre que fazíamos uma longa viagem e especialmente se fosse ver um jogo do Porto, porque o sangue que lhe corria nas veias era azul e branco ou em Coimbra, o Evaristo tinha o habitual costume de levar uma grande quantidade de pombas que soltava antes de começar o jogo. Dezenas de pessoas juntavam-se ao redor e sempre havia a pergunta "para onde vão" com a mesma respoosta "para a Bairrada".
Na minha memória ainda as vejo dispersar, ganhar altura e circular o estádio das Antas, como que a esperar por todas as companheiras. Duas ou três voltas dadas e lá partiam alinhadas na direcção de casa...para a Bairrada...para Bustos’ (Franklin Pinto)

CORRUPIO NO POMBAL
As manhãs de provas columbófilas traziam um corrupio na casa do Evaristo. ‘Eu passei muitos domingos de manhã, dentro da casita que ele tinha feito por cima da eira, à espera da chegada. Havia uma máquina com relógio, carimbada, onde se introduzia a anilha tirada da pomba que acabava de chegar e registava a hora do momento.
Telefonema para aqui e para ali e vinha a habitual confirmação … mais uma alegria, mais uma vitória.
Tantas vezes se repetiu que foi um acumular contínuo de sucessos e de dezenas de taças ‘que pessoas apareciam à nossa porta de tão longe como Lisboa, para ver se ele lhes vendia ovos das melhores competidoras’ (Franklin Pinto).

GUANO NÃO FALTAVA
O Evaristo «treinava pombos-campeões».
Os pombos de alta competição não comiam milho, por isso tinha de ser comprada ração própria. E havia perto de cem, cada um com a sua gaiola, E tudo era limpo, regularmente, muitas vezes por mim. Falta de guano[3] não havia. (Franklin Pinto)

MÉTODO DA VIUVEZ
‘Havia um segredo para fazer campeões.
‘Usava machos exclusivamente para as provas, isolando-os das fêmeas. Antes das corridas os pombos ficavam recolhidos na mesma jaula. A esta técnica designou-a por “método viuvez". Ainda recordo a alegria vivida com os êxitos alcançados nos longos percursos de Espanha, por ex. de Vigo e de Real de Madrid.
Além disso, tinha outro segredo, várias vezes observei a ingestão forçada de um suplemento alimentar, o óleo de castor dado através de conta-gotas’. (Franklin Pinto).

POMBOS QUE TANTO AMAVA
Por volta da década de ‘950, o Evaristo Pinto foi associado da Columbófila do ‘Troviscal, situada em frente à velha Igreja, e por cima da loja que pertencia a minha tia Maria, mãe do Jaime Pato que vive na Palhaça. Fechou as portas por falta de dinheiro e então associou-se na Columbófila de Ílhavo, onde permaneceu até desistir, pouco antes de imigrar para a Califórnia, dando os pombos que tanto amava a amigos e vendendo alguns a desconhecidos. (Franklin Pinto)

FAMÍLIA É COMPARTE DOS SUCESSOS
Pelo apoio logístico diário, a Maria Augusta e o filho Franklin também são compartes no êxito do Evaristo no mundo da columbofilia.

Evaristo Pinto está na galeria dos campeões de ontem, de hoje e de sempre da Alma de Bustos.
(Outros nomes também merecem ser lembrados)
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02-02-2006
Franklim Pinto (Califórnia)
com a colaboração de Sérgio Micaelo Ferreira (Rossio da Póvoa)

[1] Futebol Clube de Bustos

[2] Seria (?) esta a designação optada quando foi tentada a inscrição na Associação de Futebol de Coimbra para fugir ao pagamento de uma pesada multa aplicada pela Associação de Aveiro. [para efeitos de fuga, a sede do clubeseria na Malhada, concelho de Cantanhede, distrito de Coimbra, conforme informação de Joaquim Simões Pedreiras (Anacleto) e confirmado pelo Dr. Assis Rei]

[3] Recorda-se a publicidade em painel de azulejo “Nitrato do Chile”. Haverá por aí alguma foto desse painel? (Ao tempo comprava-se 'um saco de «buano»', srg)