23 de fevereiro de 2006

ACONTECEU NO BARRILITO OU O ARROZ DE COLEGAS



Entrei no “Barrilito” após uma ausência de cerca de duas semanas. Alguns perguntaram-me se tinha morrido, se estive doente ou se estava zangado com o Agostinho. A verdade é que tive tanto de fazer que não foi possível estar com os amigos [1] no local que é por vezes conhecido como o “Centro Social do Sobreiro”. Sentei-me a uma mesa a beber um copo de vinho tinto com o “Chico”, o Romão da Azurveira e mais uns amigos. Pouco tempo depois entrou o Amândio (Menino Jesus) Ferreira, pediu um copo vazio ao Agostinho e sentou-se à nossa mesa onde já havia uma garrafa aberta. Depois de questionar sobre a minha ausência de muitos dias perguntou-me:

“Sabe o que é que comi ao almoço?”
Respondi que não sabia.
“Comi arroz de colegas”, afirmou o Menino Jesus.
“Colegas!?” … perguntei admirado com tal ementa.
“Sim, colegas”, voltou a afirmar o Amândio. E seguiu-se um silêncio de segundos eu enquanto fitava incrédulo este distinto frequentador do “Barrilito”.
O Amândio perguntou-me então como se chamavam “os filhos das pombas”.
Respondi que eram “borrachos”. Aí percebi que este filósofo tinha comido arroz de borrachos e usou um trocadilho de palavras chamando “colegas” aos borrachos.

Muitos leitores não percebem, mas eu percebi o trocadilho, especialmente vindo do Amândio.

...AQUELE … “ESTÁ COLEGA!”
Acontece que, há muitos anos, um grupo de amigos que incluía o meu pai Hilário Costa, o Manuel Joaquim dos Santos, o Manuel Costa da Póvoa, o Domingos da Maia Romão (Alfaiate), o “Chico” Pedreiras, o Manuel Aires (Aires Gordo), o Amaral Reis Pedreiras, o Adélio Reis Pedreiras, o Eduardo Santos (dos Correios), o Manuel Micaelo entre outros, nunca chamavam bêbedo ou borracho a ninguém; chamam-lhes elegantemente “colegas”.

Nunca diziam “...aquele … está bêbedo.” ou “...tu estás … é bêbedo!”. Diziam sim, “...aquele … está colega.” Ou “...tu estás … é colega!”.

Penso que foram estes amigos que cunharam este termo, mas não tenho a certeza. De qualquer forma, nunca tinha ouvido o termo "colega" usado antes neste sentido.

Segundo estes amigos, que depois de muitos funerais iam jantar uma caldeirada de enguias ao Restaurante “Fim do Mundo” na Vagueira, não havia bêbedos ou borrachos. Não ofendiam ninguém com termos depreciativos e sabiam que mais tarde ou mais cedo podiam estar nas mesmas condições e com “um grão na asa” ou mesmo completamente “chumbados”. Ainda há poucos anos, duas pessoas bem conhecidas no Concelho de Oliveira do Bairro ficaram sem carta de condução por terem sido apanhados a conduzir com excesso de álcool. Alguns chamavam-lhes “bêbedos” ou mesmo “bêbados”, mas eu dizia a essas pessoas mal educadas que isso podia acontecer a qualquer um de nós e que são meros colegas.

O POVO DE BUSTOS TEM MUITAS HISTÓRIAS PARA CONTAR

Esta história não relata acontecimentos importantes, nem é uma história sobre políticos importantes ou das suas decisões para o futuro da nossa terra. Esta história não é sobre pessoas de relevo local, nem sobre inaugurações, nem sobre homenagens ou acontecimentos sociais dignos de aparecerem em notícias no jornal local. É uma história sobre pessoas simples, mas com humor e pelas quais tenho muito carinho.
A História dos povos é também feita pelo o povo e o povo de Bustos tem muitas histórias para contar.

Por isso caros colegas, nunca chamem «bêbedo» a ninguém.

Milton Costa

[1] «ir ao treino» era o código de "Estar com os amigos a laurear o colega Baco (Dionysos)"

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