Quando eu era miúdo
Não sabia absolutamente nada
E pensava que sabia tudo
Só depois aprendi muito desta vida atribulada
Não sabia do sofrimento do lavrador
Que enganava o sono em cada madrugada
...
Só então pude ver
Que o lavrador se levanta antes de o sol nascer
E assim faça calor ou frio
Lavra a terra a cheirar a bafio
E comia um naco de pão com toucinho
Meia dúzia de azeitonas, um copo de vinho
E a fome agigantada tinha de ficar morta
Lavrava, semeava e não saía da cepa torta
E maldizia a sua sorte numa monótona litania
Passava tanta fome e, às vezes, nem comia,
E vinham gentes das cidades
Que até tiravam "retratos"
Não sabia absolutamente nada
E pensava que sabia tudo
Só depois aprendi muito desta vida atribulada
Não sabia do sofrimento do lavrador
Que enganava o sono em cada madrugada
...
Só então pude ver
Que o lavrador se levanta antes de o sol nascer
E assim faça calor ou frio
Lavra a terra a cheirar a bafio
E comia um naco de pão com toucinho
Meia dúzia de azeitonas, um copo de vinho
E a fome agigantada tinha de ficar morta
Lavrava, semeava e não saía da cepa torta
E maldizia a sua sorte numa monótona litania
Passava tanta fome e, às vezes, nem comia,
E vinham gentes das cidades
Que até tiravam "retratos"
Mofar-se, dizendo com toda a naturalidade
Que eles comiam sempre sopa e dois pratos
E os filhos descalços e ranhosos
Vestiam as roupas por herança
E corriam alegres, atrás de borboletas
Enquanto os bois se mareavam à volta do poço
Naquelas tardes de vapores calorosos
E ainda havia que apanhar pasto para lhes encher a pança
Disto eu não sabia quando era moço
O que eu sabia eram apenas tretas
As pupilas do lavrador tinham a cor da desgraça
A tez morena que o sol e a neve castigava
Nas artroses anunciadas em cada inverno
e lá em cima um deus alheio ao que no campo se passa
A rir-se da enxada que a mão calosa acariciava
A negar-lhe o céu numa guia de marcha para o inferno
E o lavrador roído na tristeza desta vida dura
A última terra que cavou foi a da sua própria sepultura.
*
poema do Carlitos Luzio, o Pescador de Sonhos
O Amigo que nunca se esquece
*
oscardebustos
Que eles comiam sempre sopa e dois pratos
E os filhos descalços e ranhosos
Vestiam as roupas por herança
E corriam alegres, atrás de borboletas
Enquanto os bois se mareavam à volta do poço
Naquelas tardes de vapores calorosos
E ainda havia que apanhar pasto para lhes encher a pança
Disto eu não sabia quando era moço
O que eu sabia eram apenas tretas
As pupilas do lavrador tinham a cor da desgraça
A tez morena que o sol e a neve castigava
Nas artroses anunciadas em cada inverno
e lá em cima um deus alheio ao que no campo se passa
A rir-se da enxada que a mão calosa acariciava
A negar-lhe o céu numa guia de marcha para o inferno
E o lavrador roído na tristeza desta vida dura
A última terra que cavou foi a da sua própria sepultura.
*
poema do Carlitos Luzio, o Pescador de Sonhos
O Amigo que nunca se esquece
*
oscardebustos
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