Aos treze anos, em dezanove de Setembro de mil novecentos e dez (1910), fui para casa comercial de um primo, Manoel Simões dos Louros, na Travessa de Santo António à Graça, Lisboa, a fim de me instruir, que era essa a vontade de meu pai.
A vida alfacinha despertou em mim alguns predicados para o comércio que em breve tempo aprendi a conhecer os seus primeiros passos, dizendo meu primo que eu tinha jeito para o negócio.
Poucos dias depois da minha chegada, houve a Revolução Republicana que veio banir o trono dos Braganças, em que forte peleja se travou entre as hostes fiéis e as revoltosas e, como eu estava entre os dois conventos, Bom Pastor e Senhor da Graça, houve forte fuzilaria sobre a casa em que estava. Lá para os lados do Tejo e Rotunda da Avenida a artilharia troa descomunal. O povo, em grande parte, ajuda os revoltosos, e no dia quatro de Outubro podia dizer-se que a República estava implantada.
No dia seis fui à Rotunda da Avenida a fim de ver as barricadas que os revoltosos tinham feito e os estragos produzidos pelas granadas.
No domingo imediato fui ver o cortejo dos funerais, de Miguel Bombarda e do Almirante Cândido dos Reis, o que foi de facto a maior manifestação de luto que tenho visto, assisti a grandes manifestações aos caudilhos Republicanos que o povo em triunfo aclamava.
A vida na cidade e estas manifestações a que assisti fizeram nascer o amor à causa Republicana que ainda hoje consagro com a fé de um convicto. O povo delirante, oprimido durante largos anos, dava-se a expansões de alegria. A vida citadina começa a estimular-me os sentimentos que na minha alma brotam para a nova vida que me surge.
Vitorino Reis Pedreiras, Memórias.
6 de outubro de 2006
MEMÓRIA: "COM A FÉ DE UM CONVICTO"
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