O INÍCIO DA QUEDA [E FUGA DOS BRAGANÇAS]
MACHADO SANTOS INICIA REVOLTA ANTES DA HORA
Pouco faltava para a uma da manhã de dia 4. Do Centro Republicano de Santa Isabel, situado nas proximidades do quartel de Infantaria 16, em Campo de Ourique e onde combinara encontro com o grupo carbonário chefiado pelo civil Meireles, Machado Santos sai para cumprir a missão que lhe fora confiada. Apenas dispõem de catorze armas. Mesmo assim não hesitam, nem sequer esperam o quarto de hora que ainda falta para a hora combinada. Tomam Infantaria 16 onde os sargentos tinham sido já conquistados na totalidade por Machado Santos.
Não muito longe dali, em Artilharia 1, o capitão Afonso Pala procura cumprir a parte que lhe coubera nesta jornada histórica. É ele a quem cabe dar ordem de fogo aos canhões que vão anunciar o início da revolução. Este está marcado para a uma da manhã.
Se em Infantaria 16 os carbonários não esperam pela hora, em Artilharia 1 ainda não era meia-noite e meia hora e já esses revolucionários civis estavam dentro do quartel.
Porém, a tarefa de Afonso Pala encontra dificuldades com que não contava. A antecipação do ataque ao quartel de Campo de Ourique fizera accionar o alarme geral por parte do Comando Militar da Divisão.
CÂNDIDO DOS REIS SUICIDA-SE [REVOLUÇÃO ABORTOU?]
OFICIAIS VESTEM-SE «À CIVIL»
TENENTE MACHADO SANTOS ASSUME COMANDO
Entretanto, chega a informação do suicídio do Almirante Cândido dos Reis, carbonário e chefe militar da sublevação.
Seriam cerca de 7 horas da manhã do dia 4 quando a notícia da morte do almirante Cândido dos Reis chegou à Rotunda. O velho militar republicano e chefe carbonário aparecera morto, para os lados de Arroios. Suicidara-se ao julgar que a Revolução voltara a falhar.
No acampamento revolucionário a notícia causa grande abalo. Os oficiais presentes decidem reunir em conselho. Ao todo não chegam a ser uma dúzia. Na cocheira do palacete do conde de Saborosa reúnem duas vezes para avaliar a situação. Concluem que não há nada a fazer e votam por abandonar o local. Há apenas um voto contra: Machado Santos.
Vestem-se à civil e partem cada para seu lado. Um é teimoso e fica: Machado Santos.
Os que partem alegam que o plano geral tinha falhado e que o Governo podia dispor de forças mais que suficientes para esmagar a concentração da Rotunda. Os 4470 soldados e os 3771 polícias controlados pelo estado-maior monárquico chegavam e sobravam para dar cabo das quatro centenas de carbonários civis e militares que estavam no Parque. A Marinha tardava em dar sinal de si. Os dirigentes políticos do Directório tinham faltado nos locais combinados.
SEM OFICIAIS, MACHADO SANTOS MANDA TOCAR A SARGENTOS
Agora sem oficiais, Machado Santos manda tocar a sargentos. Respondem nove. Estão para o que der e vier. São todos carbonários. Vão ficar na História: serão os comandantes dos menos de 200 militares que restam depois da saída dos oficiais. Alguns jovens cadetes da Escola de Guerra estão lá também. O reduto revolucionário dispõe de oito peças para sustentar a sua defesa pesada. As barricadas são aquilo que se pode arranjar: toscas, improvisadas, incapazes de resistir a um ataque a sério das forças monárquicas.
PAIVA COUCEIRO COMANDA AS FORÇAS MONÁRQUICAS
Ao meio-dia e meia hora começam a chover as primeiras granadas que anunciam a chegada de Paiva Couceiro à frente das baterias de Queluz. A pontaria não é de aprendiz de artilheiro. Caem em cheio sobre a primeira linha de fogo. O duelo de peças é feroz e intensa a fuzilaria que envolve por completo a Rotunda.
CAMACHO BRANDÃO, ALFERES À PAISANA’, JUNTA-SE A MACHADO SANTOS
PAIVA COUCEIRO 'Maestro'
No meio do combate, Machado Santos olha para o lado e vê, ainda vestido a paisana, um dos oficiais que tinha abandonado o acampamento revolucionário. Era o alferes Camacho Brandão, que regressava para se pôr ao lado dos que aquela hora já morriam pela República. De volta a Rotunda, é-lhe confiado comando das peças que vão conseguir suster o ataque de Paiva Couceiro. Durante toda a luta, dirigiu o tiro de artilharia com um tal convencimento que pôs as tropas monárquicas em completo desnorteio. Comandava o fogo das peças com «tanta serenidade e com um movimento de braços tão compassados como se estivesse dirigindo a orquestra de S. Carlos!»
BATERIAS MONÁRQUICAS - 4 DA TARDE: HORA DE DESISTÊNCIA
A REPÚBLICA ROMPE PELA ALVORADA do dia 5 de OUTUBRO
Por volta das quatro da tarde, as baterias de Queluz entendem que o melhor é voltarem para as frescas bandas da Serra de Sintra e com este ânimo põem-se a caminho da respectiva unidade.
Ao romper da alvorada de dia 5 já a República podia ser dada como certa em Portugal. Finalmente a Marinha estava onde era ansiosamente esperada pelos resistentes do Parque.
MACHADO SANTOS
OS HERÓIS … QUEDARAM-SE SOSSEGADOS …
Os «doidos» da Rotunda tinham mesmo conseguido pôr fim a oito séculos de Monarquia. A teimosia do seu chefe fizera-se História.
Às oito e trinta da manhã de dia 5, Machado Santos desce pela Avenida a caminho do quartel-general monárquico instalado no Palácio do Almada, no Largo de S. Domingos. Vai acontecer o último acto do regime real.
«O herói levava a farda desabotoada, poeirenta, barba de três dias e só uma dragona.» No meio de uma multidão, que o arranca de cima do cavalo e o leva ao colo até a entrada do Palácio, Machado Santos vem acompanhado de uma guarda de honra de soldados, marujos e civis, «num desalinho impressionante, mas empunhando as carabinas com aquela decisão e desenvoltura de quem iria vender a vida pelo preço de um por dez.» — Diz quem viveu esse momento ao seu lado.
«Aos que ficaram na Rotunda tremeu-lhes a passarinha durante aquela meia hora de ausência do Chefe, até a população surgida de toda a parte coalhar como um mar de gente a Avenida da Liberdade de lés-a-lés.» — Recorda o herói.
Seriam para aí umas três da tarde, quando Machado Santos volta a Rotunda: — «e então que caras eu lá vi!»
«Todos me tratavam democraticamente por tu, mesmo pessoas que eu nunca vira; todos desejavam tornar-se vistos por mim para mais tarde eu poder certificar que haviam estado na Rotunda! Mas os valentes, os heróis, esses quedaram-se muito sossegados à sombra das árvores como que envergonhados da vitória alcançada e que só ao seu heroísmo era devida!»
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Da biografia de
Machado Santos, Herói de Monsanto1908: Em Junho é iniciado na Carbonária; participa na revolta do 28 de Janeiro.
1910: Tem o posto de 2.º tenente ou comissário de 2.ª classe, na altura da Revolução de 5 de Outubro de que é o protagonista.
1921: Morre, assassinado, em Lisboa na noite de 19 de Outubro …
(Percurso retirado de "Vidas lusófonas" – José Augusto de Jesus Brandão,
zebrandao804@msn.com,
http://www.vidaslusofonas.pt/jose_brandao.htm
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Nota: Em dia de comemoração, Machado Santos (meio escondido) irá apreciar o cortejo das viaturas utilizadas por suas excelências os senhores Presidentes da República. Nesse cortejo faltarão os táxis que serviram um ou outro presidente da 1ª república. [sérgio micaelo ferreira]