Caro Arsénio,
Agradeço o convite para o lançamento do livro “Arsénio Mota – 50 Anos de Escrita”. Bem gostaria de estar aí no Porto, poder partilhar contigo tão significativo momento, mas mais do que os quase trezentos quilómetros que nos separam são as grilhetas do trabalho que me tramam e impedem de estar presente. Como queria. Como devia.
Mas não me vou açoitar em penitência, nem repetirei os lugares comuns da presença em espírito ou pensamento, essa etérea ubiquidade que nos permite, tal como a Deus, estar em todos os lugares ao mesmo tempo. Não vou porque não posso, o que lamento, quanto ao resto continuarei a não acreditar em Deus, até porque é um fraco argumento para justificar a existência.
Gostaria de estar aí, de te ver atrapalhado no meio dos abraços, os olhos tentando disfarçar o ror das emoções, mas sempre sereno, ponderando cuidadosamente cada adjectivo. Gostaria de te olhar com a cumplicidade de quem partilha este estranho amor pelas palavras e depois tratar-te por Você e por Senhor.
E perante o teu protesto pedir desculpa, mas não sem verberar esse impulso de te olhar com respeito e admiração. Porque és mais do que o homem e o escritor, és Bustos.
Você, Senhor Arsénio Mota, é a minha terra natal, é parte de uma identidade fundadora, mais profunda do que a noção de lugar e família. Porque sendo lugar e família é também a expressão dos valores que nos enformam, o cimento que tudo consolida.
Com palavras. Com palavra.
Gostaria de estar aí mas não posso, sou refém das minhas circunstâncias. Perdoa a minha ausência. Mas prometo que nos iremos encontrar em Bustos, os corações prontos a sentir, os olhos abertos à beleza do que é banal. E se for caso disso iremos ao Carlos, até porque certas conversas exigem a cadeira de um bom barbeiro.
Até lá. Até já.
Recebe um abraço amigo do
Belino Costa
22 de setembro de 2005
GOSTARIA DE ESTAR AÍ
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