Jacinto Simões dos Louros António Duarte Sereno (Visconde)
Com a implantação da República em 1910, a liderança
política de Bustos passa a ser protagonizada por Jacinto Simões dos Louros
(1878-1963), mas no seu palacete António Duarte Sereno (1859-1944), contínua
fiel aos ideais monárquicos. Ao contrário de tantos outros não se converte à República,
assume com honra e empenho a condição de Visconde, permanecendo fiel à bandeira
azul e branca.
Estão criadas as condições para um
combate político sem tréguas.
Em 1911 Jacinto Simões dos Louros exerce funções de vogal na
comissão Municipal que o nomeia delegado da Câmara Municipal de Oliveira do Bairro para
representar o concelho na abertura da Assembleia Constituinte, em Lisboa. Organiza
ainda um grande comício republicano em Bustos, com a presença da Banda da
Palhaça dirigida por Adelino Ferreira Pinhal.
Por seu turno António Duarte Sereno
conspira. Não só acredita no regresso da monarquia como é um dos crentes no
mito da invencibilidade de Paiva Couceiro que na Galiza prepara a incursão
militar monárquica. Estamos a 1 de Outubro de 1911, dentro de dois dias um
improvisado exército monárquico haverá de iniciar a sua marcha e os aliados
internos querem prepara-lhe o caminho. No nosso concelho é organizado um
atentado contra a comboio que transporta tropas republicanas para ao norte do
país, mas tudo acaba por se gorar, como informa “O Ideal” na edição de 7 de
Outubro:
“Na
tarde de sábado último, mãos criminosas desaparafusaram os rails do caminho de
ferro, numa extensão de 10 metros junto à ponte de ferro próximo da estação
desta villa, no intuito de fazerem descarrilar o rápido ao mesmo tempo que
pretenderam também fazer ir pelos ares sob a acção poderosa da dynamite a Ponte
do Panno à passagem do mesmo comboio.”
Nesse mesmo dia o “Campeão das
Províncias” faz as primeiras revelações sobre os conspiradores:
“O movimento
iniciado na fronteira
e secundado cá dentro
pelos que
irromperam contra a integridade
da Pátria , tinha ,
infelizmente , adeptos
em torno
de nós .
“Em
Oiã, a dois passos
de nós , levantaram-se os rails para fazer despenhar
os comboios ! Ali
estiveram, nas prisões locais , os autores
do atentado , à frente
dos quais se encontrava o pároco da freguesia !
Atribui-se-lhe o malévolo intento . (…)
Os cabecilhas fizeram espalhar , com visos de verdade , que Paiva Couceiro entraria em
Portugal três ou
quatro horas
antes de rebentar
o movimento .”
Na
lista de presos
do concelho de Oliveira do Bairro constam os o nomes de. Maria Rosa de Jesus, Padre
Abel da Conceição e Silva, João da Silva Pereira
e Umbelina Rita de Jesus (todos de Oiã)
e José Augusto de Souza Maia. A estes se
juntarão outros, entre os quais, Manuel de Bastos ,
de Bustos , padre
Joaquim Ferreira Maneta ,
de Oliveira do Bairro ,
Augusto Porphirio Correia ,
de Coimbra.
Dias
depois o “Soberania do Povo” informa que, no dia
10, “foram presos em
Oliveira do Bairro ,
sendo transportados para Aveiro, os Srs Visconde de Bustos ,
o seu chauffer, e o empregado
comercial da casa de que o Sr. Visconde
é chefe , Manuel de Mattos Alla, de Águeda”.
Para
António Duarte Sereno é a primeira prisão e a primeira grande desilusão. Mas a
detenção, que não dura muito, é encarada com orgulho. É uma medalha na lapela
da luta pelo regresso da monarquia, pelo que todos se fazem fotografar para que
fique registo do seu esforço, da sua luta. O Visconde de Bustos sente-se herói.
Anos
depois Manuel de Mattos Alla haverá de
contar as
razões porque, pela sua parte, não conseguiu provocar o descarrilamento. É uma
daquelas histórias de família, aqui recordada pelo genro, Augusto Simões da
Costa, marido de Maria Isabel Tavares Urbano
Ala:
“A
primeira prisão do meu sogro teve circunstâncias rocambolescas. Sabia-se que
havia tropas republicanas que iam de comboio para o Porto. O Visconde, enquanto
chefe monárquico, terá determinado que se fizesse descarrilar o comboio. Foram
organizados dois grupos para cumprir a missão, se um falhasse o outro haveria
de conseguir. Um usava dinamite o outro tirava parte da linha. Coube esta
última missão ao Matos Alla, ao Padre de Oliveira do Bairro e a mais alguém,
julgo que da Mamarrosa. Lá foram os três para a linha do comboio decididos a
tirar as cavilhas dos carris. Era noite cerrada, silenciosa, o que mais
aumentava o barulho que faziam ao bater no ferro. Tanto tilintar chamou à
atenção de um guarda. Ao aperceberem-se que tinham sido descobertos lá fugiram
a bom fugir, protegidos pelo escuro da noite. A coisa até podia ter corrido
bem, o problema é que o padre de Oliveira do Bairro (Joaquim Ferreira Maneta)
deixou para trás o casaco. E ao pé do casaco ficou também o cão, quieto e
calado como lhe tinha sido ordenado. Foi por um descuido que acabaram
identificados e presos.”
A
resposta republicana à primeira incursão monárquica passa pela organização de
grupos de defesa. Tarefa que Jacinto dos Louros assume com o tradicional
empenho, organizando o grupo de defesa da Republica no Concelho, “ o mais numeroso e disciplinado de todo o
distrito.”
O
povo amotina-se
Em
20 de Abril de 1911 é publicada a Lei de Separação do Estado das Igrejas, da
autoria de Afonso Costa, sendo criadas as comissões cultuais. Na freguesia da
Mamarrosa a Irmandade das Almas solicita a constituição em Associação Cultual,
em 24 de Dezembro desse ano.
“Elle juiz declarou à
assembleia que a tinha convocado para lhe dar conhecimento que o Governo da
Republica tinha publicado o Decreto da Lei de Separação do Estado das Igrejas,
em que se concede ás Irmandades a faculdade d’estas continuarem a ter
existência legal, como corporações erectas constituindo-se em Cultual e
reformando os seus estatutos e pondo-os em harmonia com as leis do País(…)”
Da
Acta da sessão extraordinária do dia 24 de Dezembro de 1911
António
Duarte Sereno não é um crente (acabará por ter um funeral civil) mas guarda uma
das chaves da capela de Bustos e recebe habitualmente a visita de vários
párocos. Não são as questões do espírito que dominam as conversas, é a
política.
Do
outro lado da barricada Jacinto dos Louros, acredita que a política não se deve
misturar com a religião. Não só recusa entrar para a Comissão Cultual como
defende que todos os republicanos de Bustos façam o mesmo, pelo que a comissão
fica constituída apenas por elementos da sede da freguesia.
É
em fevereiro de 2013 que se dá a “maior amotinação dos anais da nossa terra”,
segundo palavras de Vitorino Reis Pedreiras. Uma “amotinação” que melhor se
compreende se tivermos em consideração que anos antes, em 1904/5, acontecera o
“Caso das Pratas.”
Era
costume nas festas de Bustos, os locais servirem-se as alfaias religiosas da
Igreja da Mamarrosa. Naquele ano deu-se a coincidência da festa
de Sto. António de Bustos coincidiu com a de Sto. António dos Covões e estes usavam o
mesmo recurso. O pároco bem entendeu que as alfaias deviam ir para Bustos, mas
tal não aconteceu. Quando os mandatários de Bustos chegaram à igreja da Mamarrosa
não encontraram vestes ou insígnias, tudo tinha desaparecido. Tentaram saber
delas e acabaram insultados e corridos à pedra.
Uma
pedra bem viva na memória popular, uma lembrança que ajudou a incendiar o
rastilho da revolta na manhã do dia 14 de Fevereiro de 1913.
O
alarme espalha-se a toques de sineta e, mais veloz ainda, corre o boato de que
“os da Mamarrosa” querem levar o santo e as alfaias religiosas.
A capela de Bustos, e a loja de António Duarte Sereno
A
reação do povo é imediata. Abandonam o trabalho e correm para Bustos dispostos
a defender a capela e a imagem do santo. Uns trazem foicinhas, outros paus,
enxadas e forquilhas e todos, no meio de grande algazarra se vão juntando em
frente da entrada do templo. Entre eles destacam-se as mulheres. O mais curioso
é que trazem também bandeiras republicanas.
Do alto da janela do primeiro andar do seu
palacete António Duarte Sereno, o responsável pelo boato, tudo observa e controla.
Para ele trata-se de dar combate aos republicanos, de continuar a lutar pelo
regresso da monarquia.
É
só por volta do meio-dia, ao regressar a casa vindo de Oliveira do Bairro,
que Jacinto dos Louros tem conhecimento
da tentativa de arrolamento de bens e da desordem entretanto instalada. Logo se
dirige para a capela e pelo caminho esbarra nos membros da Junta de Freguesia, no
Administrador do Concelho e numa pequena força de cavalaria de Aveiro.
Em
estado de desnorte, perante o povo em fúria, autoridades e militares não sabem
o que fazer. Perante tanta indecisão o comandante da força militar pede ao Senhor
Administrador um ofício ordenando a reposição da ordem pública. De acordo com
Jacinto dos Louros, que descreve o episódio nas suas memórias, disse:
”Entregando-me o ofício vou ao arraial, dou os
toques de ordenança e mando dar uma carga de espadeirada e recuamos até aqui.
Aqui entrego os cavalos a uma praça, pomos os joelhos em terra e damos umas
descargas rasteiras que há-de ficar um exemplo enquanto esta gente for viva.”
Ao
ouvir tais palavras Jacinto dos Louros pede licença para falar mas não espera
pela autorização para invectivar o Senhor Administrador:
“Veja bem o que faz, o
senhor assume uma responsabilidade tremenda! Eu, no seu lugar, nunca faria esse
ofício sem esgotar todos os recursos para levar as coisas a bom caminho, sem o
emprego da força.”
O
militar irrita-se, reage à intromissão: “Quem
é o senhor para se meter em assunto que só a mim e ao Sr. Administrador
pertence?”
Responde-lhe
Jacinto sem perca de tempo ou hesitação: “Sou
um republicano e um filho desta terra e, como tal, assiste-me o direito, julgo
eu, de aconselhar a maior calma e prudência porque a precipitação pode dar
lugar a que esta terra fique transformada num lago de sangue e num montão de
cadáveres, é isso que todos nós temos o dever de evitar!”
Encolhe-se
o Administrador enquanto o militar desespera. “Eu nunca vi gente tão malcriada como esta!”, exclama o político
que, incapaz de decidir, pergunta a Jacinto dos Louros:
”O
senhor o que fazia para resolver ordeiramente o assunto?”
Responde
Jacinto dos Louros: “Enviava um telegrama
ao Sr. Governador Civil a pedir-lhe mais 50 ou 60 praças e logo que chegassem
reunia-as a estas, depois ia ao arraial e explicava ao povo a razão do
inventário.”
A
proposta é aceite, com alívio, pelo Administrador. Enquanto segue o telegrama para o Governador Civil e se espera a eventual
chegada de mais militares, o povo amotinado em frente do templo vai adotando
estratégias de resistência. A tradição oral guardou até aos dias de hoje, o
testemunho de que “duas mulheres prenhas”, quais escudos humanos, foram
colocadas na frente da porta, e de que foi feito uso de bandeiras da República,
estrategicamente abertas no chão para impedirem a tropa a cavalo de avançar.
Acreditavam que os militares não se atreveriam a calcar tal símbolo.
Na
obra “A “Guerra Religiosa” na Primeira República” (edição do Centro de Estudos
de História Religiosa da Universidade Católica, Lisboa 2010) a historiadora,
Maria Lúcia de Brito Moura, referindo a amotinação do povo de Bustos assinala:
“A população não revelou
qualquer hostilidade em relação ao regime instituído em 1910. Pelo contrário
ouviram-se vivas à República e à liberdade e duas mulheres empunhavam bandeiras
nacionais”.
Mesmo
sem conhecer a realidade local a historiadora alvitra: ”Talvez este comportamento encontre explicação no desejo de evitar que
fossem confundidas as lutas pelos direitos à posse da capela com questões
políticas que, para os contestatários, seriam secundárias.”
Tem
parcialmente razão Maria Lúcia de Brito Moura, porque o levantamento popular tem
na sua génese uma mentira que não explora sentimentos anti republicanos mas sim
a rivalidade com a vizinha Mamarrosa.
“O santo é nosso! O santo
é nosso!”, exalta-se
o povo no seu heróico engano.
Entretanto
o Governador Civil não só dá despacho ao pedido de mais tropas como surge em
Bustos com os reforços militares. Avança para o largo da capela que está
repleto de povo. Todos se calam à vista da força militar com 80 homens a
cavalo. O Governador Civil, dirigindo-se à multidão, começa a explicar que o
recheio da capela não será retirado, mas rapidamente a sua fraca voz desaparece no meio da gritaria: “Fora! Fora! Fora! O que aqui está é muito
nosso! Fora! Fora!”
Cresce
a tensão. Escarnecido pelos amotinados o Governador Civil manda deter os mais
entusiastas. Os tropas avançam e prendem António Caçalho, do Cabeço, António
Marques, da Picada, João Pedro, de Bustos, Manuel Pedro, da Póvoa, e Manuel Rei
Pedreiras, da Póvoa, que ficam detidos, com sentinela à vista, no pátio do
Jacinto Morneta.
No
arraial o protesto parece não ter fim. É então que o Governador Civil ordena a
um oficial que prenda aquele que do alto da sua varanda dirige o protesto. António
Duarte Sereno é detido e levado sob escolta para o pátio onde se encontram os
restantes presos, o que deixa o povo sem liderança. Entretanto a notícia de que
nada seria retirado do templo vai percorrendo o arraial. Aos poucos os
amotinados vão desmobilizando e o arrolamento acaba por se concretizar sem
novos incidentes.
O
que ameaçara transformar-se num banho de sangue acaba resolvido sem prejuízo de
maior. É então que Jacinto dos Louros interpela o Governador Civil com um
último pedido: “Senhor Governador, está
certo que prenda o mandante, mas não leve todos os outros que foram enganados
na sua boa fé!”
O
pedido é aceite e António Duarte Sereno é o único que segue para os calabouços
de Aveiro, onde ficará retido por pouco tempo.
TOLERÂNCIA
RELIGIOSA E REPUBLICANISMO
Jacinto
dos Louros é um adepto de Afonso Costa e apoia a Lei da Separação e a
necessidade de retirar à Igreja o papel exorbitante que desempenhava na
sociedade portuguesa. Mas o radicalismo anticlerical não tem em Bustos grandes
adeptos, nem condições para se desenvolver. Todos os republicanos estão, por
ligações familiares de cultura e tradição, demasiado próximos da crença
religiosa para a combaterem ou desrespeitarem. O que eles reclamam é o direito
a também serem respeitados, apesar de não terem batismo, apesar de não
acreditarem na existência de Deus.
Há
um pequeno episódio, narrado por Jacinto dos Louros nas suas memórias, que é
bem esclarecedor da postura dos republicanos de Bustos.
Estamos
em 1911, num restaurante de Anadia, e a discussão anda em torno do funeral do
Padre Seabra, que fora civil. Albino Pintor barafusta, dizendo que “um enterro civil não é um enterro, mas uma
farsa”. E conclui com arrogância:
“Não tirei o meu chapéu
porque não respeito farsas!”
Responde-lhe
Jacinto dos Louros:
“Eu vejo as coisas de
uma maneira diferente. Já por vezes tenho encontrado cortejos religiosos na
minha passagem. Se vou a tempo de passar sem dar nas vistas, passo e vou
embora, se não vou a tempo e se vou de bicicleta, apeio-me e tiro o meu chapéu,
para respeitar a crença alheia, para ter o direito de respeitarem a minha.”
Respeito
mútuo é a divisa. O que explica a construção da torre da igreja em plena
ebulição revolucionária. A obra, promovida por uma comissão criada em 1915, é
encarada pelos republicanos, com o uma forma de Bustos se afirmar e de mostrar
a sua vontade independentista. Como disse, de forma inequívoca, Vitorino Reis
Pedreiras no discurso que proferiu na sessão comemorativa do 58º aniversário da
criação da freguesia de Bustos:
“Os anos
agitados que
se seguiram à implantação da República não
fizeram parar a ambição
de nos impormos, mostrando a nossa vontade .
Compraram-se os sinos em 1915 e, embora
a torre ainda
não estivesse pronta ,
estes fizeram-se ouvir
colocados no adro em
cima de grossos
paus . Construída a torre
até às bocas
dos sinos , para
lá estes
foram içados, ainda a torre não tinha cúpula . Só em 1918 é que a torre foi
acabada, terminando assim a última etapa da
nossa persistente
jornada .”
Vitorino
Reis Pedreiras considera mesmo que a criação da irmandade de S. Lourenço foi o
primeiro grande passo independentista de Bustos face à Mamarrosa:
“Compraram-se as insígnias e foi criada
a irmandade de S. Lourenço, que
se tornou o padroeiro da futura freguesia ;
adquiriram-se as alfaias e paramentos de que
necessitávamos, sendo esta a resposta dada àqueles que nos tinham
negado o que nos
pertencia e ainda por
cima , nos
tinham vexado . Estava vencida mais uma etapa para a nossa independência .”
A
ausência de um verdadeiro anticlericalismo leva a que, já depois da criação da
freguesia civil, em 1920, sejam os seguidores de Jacinto dos Louros a promover
a criação da freguesia canónica como explica Vitorino Reis Pedreiras nas suas
“Memórias”:
“Era
natural que os católicos desejassem também a independência religiosa para que
ficassem totalmente separados. Apesar de já cá se fazerem batizados e
casamentos era o pároco da Mamarrosa que fazia todos os trabalhos.
Consultado
Jacinto dos Louros disse que sim, “que tratassem disso”, que não se opunha e
considerava justo. Quem iria tratar disso?
Os
amigos do Sr. Visconde não iriam por certo. Era necessário alguém que
acompanhasse e levasse ao Senhor Bispo a nossa pretensão. Mas primeiro era
preciso um abaixo-assinado da grande maioria do povo, com petição junta.
Coube-me
a mim fazer a petição e outros foram angariando as assinaturas. Quero dizer que
foram também os ateus a trabalhar e dirigir os primeiros trabalhos.
Poucos
foram os que não quiseram assinar e, depois de tudo pronto, uma comissão mista
de católicos a ateus foi a Coimbra entregar a Sua Excelência Reverendíssima a
petição do povo de Bustos.
O
senhor Bispo recebeu muito bem a comissão e prometeu que iria tratar do assunto
com a melhor vontade, dizendo, no entanto, que tinha falta de padres.
Continuámos assim a ser servidos pelo padre da Mamarrosa, o que dava motivo de
orgulho ao povo de lá. O tempo foi passando e tudo continuou na mesma, até que
fomos de novo dizer ao Senhor Bispo que não queríamos ser servidos pelo pároco
da Mamarrosa, indicando-lhe que residia em Bustos o ex-pároco da Mamarrosa, o
velho padre Caniçais, que tendo sido expulso da Mamarrosa se acolheu em Bustos.
E aqui faleceu e está sepultado. Este padre foi sempre amigo de Bustos tendo
contribuído muito para a celebração do culto.
Nada,
continuávamos na mesma. Então, num domingo, um grupo ordeiro esperou o padre na
Quinta Nova para lhe dizer que, em virtude do Senhor Bispo não ter dado
satisfação ao nosso pedido vínhamos dizer-lhe que dispensávamos os seus
serviços.
O
padre, se não me falha a memória, era Severiano Gonçalves, homem de rara
cultura e um orador de grande eloquência, como jamais vi outro, concordou em
voltar para trás, dando-nos razão.
Bustos
não tinha padre. O velho Caniçais não tinha ordem para receber o serviço
religioso, o tempo passava e nada. Teve o Jacinto dos Louros uma bela ideia e taco
político, dizendo-nos que fossemos convidar o Dr. Manuel dos Santos Pato,
casado havia pouco tempo com a filha dos Alexandres da Barreira, gente muito
católica e de muito respeito, que era a pessoa indicada para nos representar
junto do Senhor Bispo.
Manuel dos Santos Pato
Foi
uma bela ideia e assim a comissão foi a casa do Dr. Santos Pato e sogros
informando-o de tudo quanto se passava, pedindo-lhe o favor de nos acompanhar
ao senhor Bispo, no que ele acedeu de boa vontade. Pouco tempo depois o Senhor
Bispo autorizava o velho prior Caniçais a prestar os serviços religiosos.”
Iniciava-se
o processo que conduzirá à criação da paróquia de Bustos em 1925.
Belino Costa
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