4 de junho de 2015

A MAIOR AMOTINAÇÃO DO POVO DE BUSTOS

 Jacinto Simões dos Louros                     António Duarte Sereno (Visconde)

Com a implantação da República em 1910, a liderança política de Bustos passa a ser protagonizada por Jacinto Simões dos Louros (1878-1963), mas no seu palacete António Duarte Sereno (1859-1944), contínua fiel aos ideais monárquicos. Ao contrário de tantos outros não se converte à República, assume com honra e empenho a condição de Visconde, permanecendo fiel à bandeira azul e branca.
Estão criadas as condições para um combate político sem tréguas.

Em 1911 Jacinto Simões dos Louros exerce funções de vogal na comissão Municipal que o nomeia delegado da Câmara Municipal de Oliveira do Bairro para representar o concelho na abertura da Assembleia Constituinte, em Lisboa. Organiza ainda um grande comício republicano em Bustos, com a presença da Banda da Palhaça dirigida por Adelino Ferreira Pinhal.

Por seu turno António Duarte Sereno conspira. Não só acredita no regresso da monarquia como é um dos crentes no mito da invencibilidade de Paiva Couceiro que na Galiza prepara a incursão militar monárquica. Estamos a 1 de Outubro de 1911, dentro de dois dias um improvisado exército monárquico haverá de iniciar a sua marcha e os aliados internos querem prepara-lhe o caminho. No nosso concelho é organizado um atentado contra a comboio que transporta tropas republicanas para ao norte do país, mas tudo acaba por se gorar, como informa “O Ideal” na edição de 7 de Outubro:

“Na tarde de sábado último, mãos criminosas desaparafusaram os rails do caminho de ferro, numa extensão de 10 metros junto à ponte de ferro próximo da estação desta villa, no intuito de fazerem descarrilar o rápido ao mesmo tempo que pretenderam também fazer ir pelos ares sob a acção poderosa da dynamite a Ponte do Panno à passagem do mesmo comboio.” 

Nesse mesmo dia o “Campeão das Províncias” faz as primeiras revelações sobre os conspiradores:

“O movimento iniciado na fronteira e secundado dentro pelos que irromperam contra a integridade da Pátria, tinha, infelizmente, adeptos em torno de nós.
Em Águeda, Oliveira do Bairro, na Angeja em Espinho e noutros pontos do distrito descobriu-se-lhe as ramificações. (…)
 “Em Oiã, a dois passos de nós, levantaram-se os rails para fazer despenhar os comboios! Ali estiveram, nas prisões locais, os autores do atentado, à frente dos quais se encontrava o pároco da freguesia! Atribui-se-lhe o malévolo intento.  (…)
Os cabecilhas fizeram espalhar, com visos de verdade, que Paiva Couceiro entraria em Portugal três ou quatro horas antes de rebentar o movimento.”

Na lista de presos do concelho de Oliveira do Bairro constam os o nomes de. Maria Rosa de Jesus, Padre Abel da Conceição e Silva, João da Silva Pereira e Umbelina Rita de Jesus (todos de Oiã) e José Augusto de Souza Maia. A estes se juntarão outros, entre os quais, Manuel de Bastos, de Bustos, padre Joaquim Ferreira Maneta, de Oliveira do Bairro, Augusto Porphirio Correia, de Coimbra.
Dias depois o “Soberania do Povo” informa que, no dia 10, “foram presos em Oliveira do Bairro, sendo transportados para Aveiro, os Srs Visconde de Bustos, o seu chauffer, e o empregado comercial da casa de que o Sr. Visconde é chefe, Manuel de Mattos Alla, de Águeda”.
Para António Duarte Sereno é a primeira prisão e a primeira grande desilusão. Mas a detenção, que não dura muito, é encarada com orgulho. É uma medalha na lapela da luta pelo regresso da monarquia, pelo que todos se fazem fotografar para que fique registo do seu esforço, da sua luta. O Visconde de Bustos sente-se herói.


Anos depois  Manuel de Mattos Alla haverá de contar as razões porque, pela sua parte, não conseguiu provocar o descarrilamento. É uma daquelas histórias de família, aqui recordada pelo genro, Augusto Simões da Costa, marido de Maria Isabel Tavares Urbano Ala:
“A primeira prisão do meu sogro teve circunstâncias rocambolescas. Sabia-se que havia tropas republicanas que iam de comboio para o Porto. O Visconde, enquanto chefe monárquico, terá determinado que se fizesse descarrilar o comboio. Foram organizados dois grupos para cumprir a missão, se um falhasse o outro haveria de conseguir. Um usava dinamite o outro tirava parte da linha. Coube esta última missão ao Matos Alla, ao Padre de Oliveira do Bairro e a mais alguém, julgo que da Mamarrosa. Lá foram os três para a linha do comboio decididos a tirar as cavilhas dos carris. Era noite cerrada, silenciosa, o que mais aumentava o barulho que faziam ao bater no ferro. Tanto tilintar chamou à atenção de um guarda. Ao aperceberem-se que tinham sido descobertos lá fugiram a bom fugir, protegidos pelo escuro da noite. A coisa até podia ter corrido bem, o problema é que o padre de Oliveira do Bairro (Joaquim Ferreira Maneta) deixou para trás o casaco. E ao pé do casaco ficou também o cão, quieto e calado como lhe tinha sido ordenado. Foi por um descuido que acabaram identificados e presos.”
  
A resposta republicana à primeira incursão monárquica passa pela organização de grupos de defesa. Tarefa que Jacinto dos Louros assume com o tradicional empenho, organizando o grupo de defesa da Republica no Concelho, “ o mais numeroso e disciplinado de todo o distrito.”
O povo amotina-se

Em 20 de Abril de 1911 é publicada a Lei de Separação do Estado das Igrejas, da autoria de Afonso Costa, sendo criadas as comissões cultuais. Na freguesia da Mamarrosa a Irmandade das Almas solicita a constituição em Associação Cultual, em 24 de Dezembro desse ano.

“Elle juiz declarou à assembleia que a tinha convocado para lhe dar conhecimento que o Governo da Republica tinha publicado o Decreto da Lei de Separação do Estado das Igrejas, em que se concede ás Irmandades a faculdade d’estas continuarem a ter existência legal, como corporações erectas constituindo-se em Cultual e reformando os seus estatutos e pondo-os em harmonia com as leis do País(…)”
                        Da Acta da sessão extraordinária do dia 24 de Dezembro de 1911


António Duarte Sereno não é um crente (acabará por ter um funeral civil) mas guarda uma das chaves da capela de Bustos e recebe habitualmente a visita de vários párocos. Não são as questões do espírito que dominam as conversas, é a política.
Do outro lado da barricada Jacinto dos Louros, acredita que a política não se deve misturar com a religião. Não só recusa entrar para a Comissão Cultual como defende que todos os republicanos de Bustos façam o mesmo, pelo que a comissão fica constituída apenas por elementos da sede da freguesia.

É em fevereiro de 2013 que se dá a “maior amotinação dos anais da nossa terra”, segundo palavras de Vitorino Reis Pedreiras. Uma “amotinação” que melhor se compreende se tivermos em consideração que anos antes, em 1904/5, acontecera o “Caso das Pratas.”
Era costume nas festas de Bustos, os locais servirem-se as alfaias religiosas da Igreja da Mamarrosa. Naquele ano deu-se a coincidência da festa de Sto. António de Bustos coincidiu com a de Sto. António dos Covões e estes usavam o mesmo recurso. O pároco bem entendeu que as alfaias deviam ir para Bustos, mas tal não aconteceu. Quando os mandatários de Bustos chegaram à igreja da Mamarrosa não encontraram vestes ou insígnias, tudo tinha desaparecido. Tentaram saber delas e acabaram insultados e corridos à pedra.
Uma pedra bem viva na memória popular, uma lembrança que ajudou a incendiar o rastilho da revolta na manhã do dia 14 de Fevereiro de 1913.
O alarme espalha-se a toques de sineta e, mais veloz ainda, corre o boato de que “os da Mamarrosa” querem levar o santo e as alfaias religiosas.




A capela de Bustos, e a loja de António Duarte Sereno

A reação do povo é imediata. Abandonam o trabalho e correm para Bustos dispostos a defender a capela e a imagem do santo. Uns trazem foicinhas, outros paus, enxadas e forquilhas e todos, no meio de grande algazarra se vão juntando em frente da entrada do templo. Entre eles destacam-se as mulheres. O mais curioso é que trazem também bandeiras republicanas.
 Do alto da janela do primeiro andar do seu palacete António Duarte Sereno, o responsável pelo boato, tudo observa e controla. Para ele trata-se de dar combate aos republicanos, de continuar a lutar pelo regresso da monarquia.

É só por volta do meio-dia, ao regressar a casa vindo de Oliveira do Bairro, que  Jacinto dos Louros tem conhecimento da tentativa de arrolamento de bens e da desordem entretanto instalada. Logo se dirige para a capela e pelo caminho esbarra nos membros da Junta de Freguesia, no Administrador do Concelho e numa pequena força de cavalaria de Aveiro.
Em estado de desnorte, perante o povo em fúria, autoridades e militares não sabem o que fazer. Perante tanta indecisão o comandante da força militar pede ao Senhor Administrador um ofício ordenando a reposição da ordem pública. De acordo com Jacinto dos Louros, que descreve o episódio nas suas memórias, disse:
 ”Entregando-me o ofício vou ao arraial, dou os toques de ordenança e mando dar uma carga de espadeirada e recuamos até aqui. Aqui entrego os cavalos a uma praça, pomos os joelhos em terra e damos umas descargas rasteiras que há-de ficar um exemplo enquanto esta gente for viva.”
Ao ouvir tais palavras Jacinto dos Louros pede licença para falar mas não espera pela autorização para invectivar o Senhor Administrador:
“Veja bem o que faz, o senhor assume uma responsabilidade tremenda! Eu, no seu lugar, nunca faria esse ofício sem esgotar todos os recursos para levar as coisas a bom caminho, sem o emprego da força.”
O militar irrita-se, reage à intromissão: “Quem é o senhor para se meter em assunto que só a mim e ao Sr. Administrador pertence?”
Responde-lhe Jacinto sem perca de tempo ou hesitação: “Sou um republicano e um filho desta terra e, como tal, assiste-me o direito, julgo eu, de aconselhar a maior calma e prudência porque a precipitação pode dar lugar a que esta terra fique transformada num lago de sangue e num montão de cadáveres, é isso que todos nós temos o dever de evitar!”
Encolhe-se o Administrador enquanto o militar desespera. “Eu nunca vi gente tão malcriada como esta!”, exclama o político que, incapaz de decidir, pergunta a Jacinto dos Louros:
 ”O senhor o que fazia para resolver ordeiramente o assunto?”
Responde Jacinto dos Louros: “Enviava um telegrama ao Sr. Governador Civil a pedir-lhe mais 50 ou 60 praças e logo que chegassem reunia-as a estas, depois ia ao arraial e explicava ao povo a razão do inventário.”

A proposta é aceite, com alívio, pelo Administrador. Enquanto segue o telegrama  para o Governador Civil e se espera a eventual chegada de mais militares, o povo amotinado em frente do templo vai adotando estratégias de resistência. A tradição oral guardou até aos dias de hoje, o testemunho de que “duas mulheres prenhas”, quais escudos humanos, foram colocadas na frente da porta, e de que foi feito uso de bandeiras da República, estrategicamente abertas no chão para impedirem a tropa a cavalo de avançar. Acreditavam que os militares não se atreveriam a calcar tal símbolo.

Na obra “A “Guerra Religiosa” na Primeira República” (edição do Centro de Estudos de História Religiosa da Universidade Católica, Lisboa 2010) a historiadora, Maria Lúcia de Brito Moura, referindo a amotinação do povo de Bustos assinala:
“A população não revelou qualquer hostilidade em relação ao regime instituído em 1910. Pelo contrário ouviram-se vivas à República e à liberdade e duas mulheres empunhavam bandeiras nacionais”.
Mesmo sem conhecer a realidade local a historiadora alvitra: ”Talvez este comportamento encontre explicação no desejo de evitar que fossem confundidas as lutas pelos direitos à posse da capela com questões políticas que, para os contestatários, seriam secundárias.”
Tem parcialmente razão Maria Lúcia de Brito Moura, porque o levantamento popular tem na sua génese uma mentira que não explora sentimentos anti republicanos mas sim a rivalidade com a vizinha Mamarrosa.
“O santo é nosso! O santo é nosso!”, exalta-se o povo no seu heróico engano.

Entretanto o Governador Civil não só dá despacho ao pedido de mais tropas como surge em Bustos com os reforços militares. Avança para o largo da capela que está repleto de povo. Todos se calam à vista da força militar com 80 homens a cavalo. O Governador Civil, dirigindo-se à multidão, começa a explicar que o recheio da capela não será retirado, mas rapidamente a sua fraca voz  desaparece no meio da gritaria: “Fora! Fora! Fora! O que aqui está é muito nosso! Fora! Fora!”
Cresce a tensão. Escarnecido pelos amotinados o Governador Civil manda deter os mais entusiastas. Os tropas avançam e prendem António Caçalho, do Cabeço, António Marques, da Picada, João Pedro, de Bustos, Manuel Pedro, da Póvoa, e Manuel Rei Pedreiras, da Póvoa, que ficam detidos, com sentinela à vista, no pátio do Jacinto Morneta.
No arraial o protesto parece não ter fim. É então que o Governador Civil ordena a um oficial que prenda aquele que do alto da sua varanda dirige o protesto. António Duarte Sereno é detido e levado sob escolta para o pátio onde se encontram os restantes presos, o que deixa o povo sem liderança. Entretanto a notícia de que nada seria retirado do templo vai percorrendo o arraial. Aos poucos os amotinados vão desmobilizando e o arrolamento acaba por se concretizar sem novos incidentes.
O que ameaçara transformar-se num banho de sangue acaba resolvido sem prejuízo de maior. É então que Jacinto dos Louros interpela o Governador Civil com um último pedido: “Senhor Governador, está certo que prenda o mandante, mas não leve todos os outros que foram enganados na sua boa fé!”
O pedido é aceite e António Duarte Sereno é o único que segue para os calabouços de Aveiro, onde ficará retido por pouco tempo.

TOLERÂNCIA RELIGIOSA E REPUBLICANISMO

Jacinto dos Louros é um adepto de Afonso Costa e apoia a Lei da Separação e a necessidade de retirar à Igreja o papel exorbitante que desempenhava na sociedade portuguesa. Mas o radicalismo anticlerical não tem em Bustos grandes adeptos, nem condições para se desenvolver. Todos os republicanos estão, por ligações familiares de cultura e tradição, demasiado próximos da crença religiosa para a combaterem ou desrespeitarem. O que eles reclamam é o direito a também serem respeitados, apesar de não terem batismo, apesar de não acreditarem na existência de Deus.

Há um pequeno episódio, narrado por Jacinto dos Louros nas suas memórias, que é bem esclarecedor da postura dos republicanos de Bustos.
Estamos em 1911, num restaurante de Anadia, e a discussão anda em torno do funeral do Padre Seabra, que fora civil. Albino Pintor barafusta, dizendo que “um enterro civil não é um enterro, mas uma farsa”. E conclui com arrogância:
“Não tirei o meu chapéu porque não respeito farsas!”
Responde-lhe Jacinto dos Louros:
“Eu vejo as coisas de uma maneira diferente. Já por vezes tenho encontrado cortejos religiosos na minha passagem. Se vou a tempo de passar sem dar nas vistas, passo e vou embora, se não vou a tempo e se vou de bicicleta, apeio-me e tiro o meu chapéu, para respeitar a crença alheia, para ter o direito de respeitarem a minha.”

Respeito mútuo é a divisa. O que explica a construção da torre da igreja em plena ebulição revolucionária. A obra, promovida por uma comissão criada em 1915, é encarada pelos republicanos, com o uma forma de Bustos se afirmar e de mostrar a sua vontade independentista. Como disse, de forma inequívoca, Vitorino Reis Pedreiras no discurso que proferiu na sessão comemorativa do 58º aniversário da criação da freguesia de Bustos:
“Os anos agitados que se seguiram à implantação da República não fizeram parar a ambição de nos impormos, mostrando a nossa vontade. Compraram-se os sinos em 1915 e, embora a torre ainda não estivesse pronta, estes fizeram-se ouvir colocados no adro em cima de grossos paus. Construída a torre até às bocas dos sinos, para estes foram içados, ainda a torre não tinha cúpula. em 1918 é que a torre foi acabada, terminando assim a última etapa da nossa persistente jornada.”
Vitorino Reis Pedreiras considera mesmo que a criação da irmandade de S. Lourenço foi o primeiro grande passo independentista de Bustos face à Mamarrosa: 
“Compraram-se as insígnias e foi criada a irmandade de S. Lourenço, que se tornou o padroeiro da futura freguesia; adquiriram-se as alfaias e paramentos de que necessitávamos, sendo esta a resposta dada àqueles que nos tinham negado o que nos pertencia e ainda por cima, nos tinham vexado. Estava vencida mais uma etapa para a nossa independência.”

A ausência de um verdadeiro anticlericalismo leva a que, já depois da criação da freguesia civil, em 1920, sejam os seguidores de Jacinto dos Louros a promover a criação da freguesia canónica como explica Vitorino Reis Pedreiras nas suas “Memórias”:
“Era natural que os católicos desejassem também a independência religiosa para que ficassem totalmente separados. Apesar de já cá se fazerem batizados e casamentos era o pároco da Mamarrosa que fazia todos os trabalhos.
Consultado Jacinto dos Louros disse que sim, “que tratassem disso”, que não se opunha e considerava justo. Quem iria tratar disso?
Os amigos do Sr. Visconde não iriam por certo. Era necessário alguém que acompanhasse e levasse ao Senhor Bispo a nossa pretensão. Mas primeiro era preciso um abaixo-assinado da grande maioria do povo, com petição junta.
Coube-me a mim fazer a petição e outros foram angariando as assinaturas. Quero dizer que foram também os ateus a trabalhar e dirigir os primeiros trabalhos.
Poucos foram os que não quiseram assinar e, depois de tudo pronto, uma comissão mista de católicos a ateus foi a Coimbra entregar a Sua Excelência Reverendíssima a petição do povo de Bustos.
O senhor Bispo recebeu muito bem a comissão e prometeu que iria tratar do assunto com a melhor vontade, dizendo, no entanto, que tinha falta de padres. Continuámos assim a ser servidos pelo padre da Mamarrosa, o que dava motivo de orgulho ao povo de lá. O tempo foi passando e tudo continuou na mesma, até que fomos de novo dizer ao Senhor Bispo que não queríamos ser servidos pelo pároco da Mamarrosa, indicando-lhe que residia em Bustos o ex-pároco da Mamarrosa, o velho padre Caniçais, que tendo sido expulso da Mamarrosa se acolheu em Bustos. E aqui faleceu e está sepultado. Este padre foi sempre amigo de Bustos tendo contribuído muito para a celebração do culto.
Nada, continuávamos na mesma. Então, num domingo, um grupo ordeiro esperou o padre na Quinta Nova para lhe dizer que, em virtude do Senhor Bispo não ter dado satisfação ao nosso pedido vínhamos dizer-lhe que dispensávamos os seus serviços.
O padre, se não me falha a memória, era Severiano Gonçalves, homem de rara cultura e um orador de grande eloquência, como jamais vi outro, concordou em voltar para trás, dando-nos razão.
Bustos não tinha padre. O velho Caniçais não tinha ordem para receber o serviço religioso, o tempo passava e nada. Teve o Jacinto dos Louros uma bela ideia e taco político, dizendo-nos que fossemos convidar o Dr. Manuel dos Santos Pato, casado havia pouco tempo com a filha dos Alexandres da Barreira, gente muito católica e de muito respeito, que era a pessoa indicada para nos representar junto do Senhor Bispo.

Manuel dos Santos Pato

Foi uma bela ideia e assim a comissão foi a casa do Dr. Santos Pato e sogros informando-o de tudo quanto se passava, pedindo-lhe o favor de nos acompanhar ao senhor Bispo, no que ele acedeu de boa vontade. Pouco tempo depois o Senhor Bispo autorizava o velho prior Caniçais a prestar os serviços religiosos.”
Iniciava-se o processo que conduzirá à criação da paróquia de Bustos em 1925.


Belino Costa

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