22 de dezembro de 2009

CARTA DO BRASIL: MARÉ ALTA

MARÉ ALTA
De A. C. Arrais

Mergulho no Notícias de Bustos. Vou sorvendo uma a uma, as referências estampadas e com elas vem as recordações de minha infância, realizando sua caminhada a passar por personagens, lugares e acontecimentos de então. O sentimento da saudade aflora vigorosamente como se estivesse vivenciando agora o passado de quase 60 anos.

Leio: “...... Como disse Mário Reis Pedreiras no seu discurso, “recordar é viver duas vezes a vida”. E imediatamente inicia-se um desfilar de imagens em minha mente: É o Humberto Reis Pedreiras 2 anos mais velho do que eu; É seu pai de saudosa memória.

A família dos Reis Pedreiras era freguês de meu pai, considerado um dos bons alfaiates da região. Manuel Reis Pedreiras e meu pai eram ateus. Aparentemente distraído, eu criança, mas atento ao que adultos falavam, escuto certa ocasião, meu pai em seu atelier, comentar com o Reis Pedreiras:
- Ouvi dizer que já estão elaborando um projeto para a saída da velha igreja daquele lugar, é verdade?
-Não sei, não... Mas espero que seja. Toda a vez que meus bois tem de passar por ali eles embirram com o estreitamento da rua.


E por falar em ateísmo de meu pai, ele veio para o Brasil, em 1950. Um ano depois chamou o resto da família. E logo que chegamos tivemos uma grande surpresa (permitam-me a ousadia de expor o trecho de um livro em gestação): “No primeiro domingo de Brasil, nós, recém-chegados, fomos suspreendidos com um convite feito pela minha madrinha Célia: Assistir à escola dominical da Igreja Batista local, que ela freqüentava. E mais suspreendentes ficamos quando vimos nosso pai, de bíblia na mão, preparado para nos acompanhar.
A esta altura dos acontecimentos eu tomara consciência de que haviam ocorrido três milagres: Havermos chegado ao Brasil, depois de 18 dias de sofrida viagem naquele calhambeque de navio; Meus pais terem conseguido transformar um pequeno quarto, em quarto, sala, cosinha, sala de jantar e oficina de alfaiate; Meu pai, um empedernido ateu, ter se convertido”.

Sim! Não tenho a menor dúvida de que recordar é viver duas vezes a vida!

2 comentários:

  1. Anónimo18:31

    Senhor Arrais,

    Obrigado pelas memorias.
    Continue a partilhar connosco as suas memorias dos tempos passados em Bustos.
    Boas Festas e Prospero Ano Novo 2010.

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  2. Amigo e primo Aristides:
    Um prazer ler as tuas memorias da nossa terra. Por favor continua a escrever. Desejos de Prospero Ano 2010.

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