20 de dezembro de 2006

Visconde de Bustos (a)

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António Duarte Sereno nasceu em Bustos no dia 4 de Junho de 1870. O título de visconde foi-lhe concedido por D. Manuel II em 9 de Julho de 1908, tinha ele 38 anos de idade. Porfiou muito para o conseguir e, contudo, o título teve somente a categoria de vitalício, ou seja, extinguiu-se com a morte do titular. Mas não foi preciso esperar tanto para que viesse a sofrer outro revés: decorridos dois anos, a implantação do regime republicano empanou naturalmente o brilho social de todos os títulos nobiliárquicos existentes. Neste caso, para as opiniões reinantes, acabou por valer mais como motivo de troça que de distinção.

Ao que constou na época, o visconde de Bustos alcançou o título graças a muita persistência e dinheiro, e dinheiro gasto não apenas na construção, iniciada em 1905, do seu palacete. Dispunha de recursos suficientes, é certo. Era filho de Joaquim Duarte Sereno e de Carolina lnácia de Almeida Sereno, comerciantes abastados que tiveram estabelecimento ao lado do palacete.
[56]

Monárquico convicto, alinhou sempre, de forma muito interventiva, contra os movimentos republicanos locais, concelhios e mesmo distritais. Os republicanos e liberais de Bustos acusaram-no de tomar atitudes reaccionárias quando estavam em causa melhoramentos concretos a realizar na terra, como no caso do relógio da torre da igreja velha, da criação da freguesia, da estação dos Correios, etc. Por motivações políticas apenas, diziam, o homem atacava tudo o que viesse do lado dos republicanos, que no entanto eram a maioria e por isso venciam nas causas. Atrasou gravemente o progresso de Bustos, repetia-se.

Brito Camacho (1862-1934) não se dispensou de o zurzir com a pena no livro Ferroadas, recordando a sua prisão pelas autoridades republicanas. Ridicularizou-o, escrevendo: «Visconde de Bustos! Deve haver por aí um Barão de Meio-Corpo, e procurando nas Beiras, terras de máxima e extrema fidalguia, talvez se encontre algum Marquez de Perfil ou Moço Fidalgo de Três Quartos»
[57]

Mais adiante, no mesmo livro, o autor conta um episódio no Buçaco em que intervêm D. Manuel II, o conde de Águeda e o visconde de Bustos. Respeitando de novo a ortografia do autor, transcrevemos:

«Ainda outro dia S. M. [Sua Majestade] dizia ao seu grande amigo: «— Ó Oliveira Mattos, aqui no Bussaco ha dois grandes homens, e você é um d'elles. O sr. Mattos disse quem era o outro, e ficaram muito contentes, como se fosse verdade o que diziam».
[58]

No livro Oliveira do Bairro. Em Busca da História Perdida (1997), Armor Pires Mota evoca de perto as figuras do Padre Maneta, do visconde de Bustos e outras do quadro concelhio na época de acirradas lutas políticas entre monárquicos e republicanos, anotando andanças pitorescas e também lamentáveis, porque chegaram envolver violências (motivo da prisão do visconde e de outros conspiradores referida por Brito Camacho). Não interessa trazer isso para aqui. Entretanto, o leitor curioso encontra no presente volume o registo de um episódio em que intervem de novo este conterrâneo: encontra-se na parte das estórias populares sob o título de «Barbeiro cospe no visconde».

O prof. eng. Luís Seabra Lopes, da Universidade de Aveiro, com raízes em São João da Azenha, Anadia, e parente afastado do único titular bustuense, recorda uma outra peripécia, de âmbito familiar, que também respeita à pessoa de António Duarte Sereno. Do seu estudo «São João da Azenha: Um espaço rural em evolução no Vale do Cértima», transcrevemos o seguinte parágrafo:

«O Visconde de Bustos tinha em São João da Azenha dois tios, Manuel dos Santos Pato
[59] e José Rodrigues, irmãos de sua mãe Carolina de Almeida Sereno. Esperava o Visconde herdar de ambos, pois o primeiro não tinha casado e o segundo não tinha filhos. Quando o tio Manuel morreu, o Visconde veio a São João da Azenha a uma reunião de partilhas a que se seguiu uma visita às propriedades. Tendo enchido as botas de lama, dirigiu a um dos acompanhantes o seguinte pedido: "Faça o favor, diga lá a meu tio José que já não o visito hoje, pois tenho as botas sujas!" Transmitido o recado, José Rodrigues logo retorquiu: "Ah, ele é isso? Pois quando eu morrer não virá cá sujar as botas!..." Assim ficou o Visconde deserdado dos bens do tio José.»[60]
(a) Com a devida vénia NB edita “Visconde de Bustos” texto de Arsénio Mota, Bustos do Passado, edição da Junta de Freguesia de Bustos, Porto, 2000.


[56] Existe fotografia que se supõe ser do estabelecimento; aparece inserida no livrinho Bustos, Elementos para a sua História, 1983.

[57] CAMACHO. Brito. Ferroadas. 1932. Lisboa: Guimarães Ed., p. 63.

[58] Idem, ib., p.79.

[59] Provocam alguma perplexidade os nomes de Manuel dos Santos Pato, idênticos embora de pessoas diversas que viveram quase na mesma época, em lugares muito próximos e possivelmente oriundos de um mesmo tronco familiar. São eles: Manuel dos Santos Pato, médico da Mamarrosa e director do jornal «Bairrada Popular», falecido nos anos '70; Manuel dos Santos Pato (1885?-1969), advogado, director do jornal «Alma Popular» (1918-1941), bustuense morador na Barreira, referido neste volume em Autores literários locais; e o Manuel dos Santos Pato a que alude o autor da nota transcrita. Indica o seu nome completo: Manuel Rodrigues de Oliveira Santos Pato; baptizou-se a 6 de Março de 1788 e casou com uma prima em Sangalhos. Foi médico cirurgião, morou em São João da Azenha e faleceu em 1850 deixando uma fortuna de cinco contos de reis.

[60] SEABRA, Luís Lopes, rev. «Estudos Aveirenses» Aveiro: nº 1, p. 141. Existe saparata.

7 comentários:

  1. Anónimo20:31

    António Duarte Sereno nasceu em 5 de Outubro de 1859.Já agora aproveitem para corrigir o erro que vem no livro de Arsénio Mota.

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  2. a) Obrigado pela pertinenete observação no desencontro das datas de nascimento. Dado o alerta, é a um dos autores que cabe a correcção.
    Não ponho em causa a investigação que cada um dos autores fez. Acontece que as gralhas até ao revisor -que não o autor - mais atento escapa.Tem sido assim aolongo dos tempos. Até chega a contecer emrevistas científicas on devez em quando se junta um papelinho com umaou outra errata. Por certo que a data (registada) do nascimento virá a ser esclarecida.

    a) se tiver nascido a 5 de Outubro, fica-se a compreender melhor o ódio figadal do sr. Visconde ao regime republicano.

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  3. o Comentário anterior, editado por altino, foi produzido por sérgio micaelo ferreira

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  4. Anónimo18:15

    De acordo com o assento de nascimento( livro 10, folha 23) António Serene nasceu no dia 5 de Outubro de 1859. Belino Costa

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  5. Anónimo16:17

    vocês sairam-me cá umas erratas...Tudo bem, tenham mais tino a escrever...

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  6. Anónimo16:28

    O senhor Antonio Duarte Sereno era de facto monárquico, e um homem ao que parece bastante odiado ( pelos republicanos), não que eu seja monarquico mas defendo o respeito pelas ideologias dos outros. Ele quer-me parecer que defendia a sua ideologia tal como todos os republicanos defenderam a sua ao usurpar o poder onde não faltou anteriormente o regicídio. Como vem caros amigos ninguem se deve considerar superior , devendo todos ser respeitados. Quando se fala de António Duarte Sereno deve -se ter em conta o papel que dito senhor ocupava bem como o contexto político em que se encontrava. Altino.. Esteve na França? gostei do seu comentário...

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  7. Anónimo16:36

    È lamentavel que um blog que até oferece casualmente alguma informação interessante se estrague com coisinhas asquerosas, politiquices da treta...

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