António Duarte Sereno nasceu em Bustos no dia 4 de Junho de 1870. O título de visconde foi-lhe concedido por D. Manuel II em 9 de Julho de 1908, tinha ele 38 anos de idade. Porfiou muito para o conseguir e, contudo, o título teve somente a categoria de vitalício, ou seja, extinguiu-se com a morte do titular. Mas não foi preciso esperar tanto para que viesse a sofrer outro revés: decorridos dois anos, a implantação do regime republicano empanou naturalmente o brilho social de todos os títulos nobiliárquicos existentes. Neste caso, para as opiniões reinantes, acabou por valer mais como motivo de troça que de distinção.
Ao que constou na época, o visconde de Bustos alcançou o título graças a muita persistência e dinheiro, e dinheiro gasto não apenas na construção, iniciada em 1905, do seu palacete. Dispunha de recursos suficientes, é certo. Era filho de Joaquim Duarte Sereno e de Carolina lnácia de Almeida Sereno, comerciantes abastados que tiveram estabelecimento ao lado do palacete.
Monárquico convicto, alinhou sempre, de forma muito interventiva, contra os movimentos republicanos locais, concelhios e mesmo distritais. Os republicanos e liberais de Bustos acusaram-no de tomar atitudes reaccionárias quando estavam em causa melhoramentos concretos a realizar na terra, como no caso do relógio da torre da igreja velha, da criação da freguesia, da estação dos Correios, etc. Por motivações políticas apenas, diziam, o homem atacava tudo o que viesse do lado dos republicanos, que no entanto eram a maioria e por isso venciam nas causas. Atrasou gravemente o progresso de Bustos, repetia-se.
Brito Camacho (1862-1934) não se dispensou de o zurzir com a pena no livro Ferroadas, recordando a sua prisão pelas autoridades republicanas. Ridicularizou-o, escrevendo: «Visconde de Bustos! Deve haver por aí um Barão de Meio-Corpo, e procurando nas Beiras, terras de máxima e extrema fidalguia, talvez se encontre algum Marquez de Perfil ou Moço Fidalgo de Três Quartos»[57]
Mais adiante, no mesmo livro, o autor conta um episódio no Buçaco em que intervêm D. Manuel II, o conde de Águeda e o visconde de Bustos. Respeitando de novo a ortografia do autor, transcrevemos:
«Ainda outro dia S. M. [Sua Majestade] dizia ao seu grande amigo: «— Ó Oliveira Mattos, aqui no Bussaco ha dois grandes homens, e você é um d'elles. O sr. Mattos disse quem era o outro, e ficaram muito contentes, como se fosse verdade o que diziam».
No livro Oliveira do Bairro. Em Busca da História Perdida (1997), Armor Pires Mota evoca de perto as figuras do Padre Maneta, do visconde de Bustos e outras do quadro concelhio na época de acirradas lutas políticas entre monárquicos e republicanos, anotando andanças pitorescas e também lamentáveis, porque chegaram envolver violências (motivo da prisão do visconde e de outros conspiradores referida por Brito Camacho). Não interessa trazer isso para aqui. Entretanto, o leitor curioso encontra no presente volume o registo de um episódio em que intervem de novo este conterrâneo: encontra-se na parte das estórias populares sob o título de «Barbeiro cospe no visconde».
O prof. eng. Luís Seabra Lopes, da Universidade de Aveiro, com raízes em São João da Azenha, Anadia, e parente afastado do único titular bustuense, recorda uma outra peripécia, de âmbito familiar, que também respeita à pessoa de António Duarte Sereno. Do seu estudo «São João da Azenha: Um espaço rural em evolução no Vale do Cértima», transcrevemos o seguinte parágrafo:
«O Visconde de Bustos tinha em São João da Azenha dois tios, Manuel dos Santos Pato[59] e José Rodrigues, irmãos de sua mãe Carolina de Almeida Sereno. Esperava o Visconde herdar de ambos, pois o primeiro não tinha casado e o segundo não tinha filhos. Quando o tio Manuel morreu, o Visconde veio a São João da Azenha a uma reunião de partilhas a que se seguiu uma visita às propriedades. Tendo enchido as botas de lama, dirigiu a um dos acompanhantes o seguinte pedido: "Faça o favor, diga lá a meu tio José que já não o visito hoje, pois tenho as botas sujas!" Transmitido o recado, José Rodrigues logo retorquiu: "Ah, ele é isso? Pois quando eu morrer não virá cá sujar as botas!..." Assim ficou o Visconde deserdado dos bens do tio José.»[60]
(a) Com a devida vénia NB edita “Visconde de Bustos” texto de Arsénio Mota, Bustos do Passado, edição da Junta de Freguesia de Bustos, Porto, 2000.
[56] Existe fotografia que se supõe ser do estabelecimento; aparece inserida no livrinho Bustos, Elementos para a sua História, 1983.
[59] Provocam alguma perplexidade os nomes de Manuel dos Santos Pato, idênticos embora de pessoas diversas que viveram quase na mesma época, em lugares muito próximos e possivelmente oriundos de um mesmo tronco familiar. São eles: Manuel dos Santos Pato, médico da Mamarrosa e director do jornal «Bairrada Popular», falecido nos anos '70; Manuel dos Santos Pato (1885?-1969), advogado, director do jornal «Alma Popular» (1918-1941), bustuense morador na Barreira, referido neste volume em Autores literários locais; e o Manuel dos Santos Pato a que alude o autor da nota transcrita. Indica o seu nome completo: Manuel Rodrigues de Oliveira Santos Pato; baptizou-se a 6 de Março de 1788 e casou com uma prima em Sangalhos. Foi médico cirurgião, morou em São João da Azenha e faleceu em 1850 deixando uma fortuna de cinco contos de reis.
[60] SEABRA, Luís Lopes, rev. «Estudos Aveirenses» Aveiro: nº 1, p. 141. Existe saparata.
António Duarte Sereno nasceu em 5 de Outubro de 1859.Já agora aproveitem para corrigir o erro que vem no livro de Arsénio Mota.
ResponderEliminara) Obrigado pela pertinenete observação no desencontro das datas de nascimento. Dado o alerta, é a um dos autores que cabe a correcção.
ResponderEliminarNão ponho em causa a investigação que cada um dos autores fez. Acontece que as gralhas até ao revisor -que não o autor - mais atento escapa.Tem sido assim aolongo dos tempos. Até chega a contecer emrevistas científicas on devez em quando se junta um papelinho com umaou outra errata. Por certo que a data (registada) do nascimento virá a ser esclarecida.
a) se tiver nascido a 5 de Outubro, fica-se a compreender melhor o ódio figadal do sr. Visconde ao regime republicano.
o Comentário anterior, editado por altino, foi produzido por sérgio micaelo ferreira
ResponderEliminarDe acordo com o assento de nascimento( livro 10, folha 23) António Serene nasceu no dia 5 de Outubro de 1859. Belino Costa
ResponderEliminarvocês sairam-me cá umas erratas...Tudo bem, tenham mais tino a escrever...
ResponderEliminarO senhor Antonio Duarte Sereno era de facto monárquico, e um homem ao que parece bastante odiado ( pelos republicanos), não que eu seja monarquico mas defendo o respeito pelas ideologias dos outros. Ele quer-me parecer que defendia a sua ideologia tal como todos os republicanos defenderam a sua ao usurpar o poder onde não faltou anteriormente o regicídio. Como vem caros amigos ninguem se deve considerar superior , devendo todos ser respeitados. Quando se fala de António Duarte Sereno deve -se ter em conta o papel que dito senhor ocupava bem como o contexto político em que se encontrava. Altino.. Esteve na França? gostei do seu comentário...
ResponderEliminarÈ lamentavel que um blog que até oferece casualmente alguma informação interessante se estrague com coisinhas asquerosas, politiquices da treta...
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