Todo este processo de reforma administrativa está a gerar
alguma confusão e não me refiro aos contornos da lei em si e a todos os
parâmetros de cálculo e ajustamento territorial, mas sim à forma como o mesmo
está a gerar interpretações díspares e a dividir a população em geral. A meu
ver, neste momento todo bairrismo que se sente e que faz inflamar opiniões deve
ser colocado de parte já que os tempos são outros e vivemos num cenário de
mudança constante.
A reforma não é justa, normalmente nunca são, é
penalizadora, é um facto, mas o principal problema aqui é a forma como a mesma
está a ser gerida localmente pelos principais interessados e afectados.
Até hoje apenas vi recusas e receios e nenhuma proposta local
concreta de melhoria e de trabalho conjunto. Vi recusas e receios mais ou menos
válidos e vi comentários incendiários, que no final de contas não nos conduzem
a nenhum entendimento nem acrescentam valor efectivo à discussão em causa. A
meu ver estas sondagens locais e isoladas apenas levam a um fim, que é a
confirmação do total desprezo pela lei em questão e à total alienação face a
qualquer tipo de agregações.
Não estarei presente em todos os locais onde o assunto será
debatido, mas aposto que pouca variação irá haver nos discursos locais face ao
que está proposto e que as opiniões locais serão no seu todo idênticas.
O que destaco em todo este processo ao qual tenho assistido
é que a política no seu todo está de boa saúde e recomenda-se. E o povo aplaude.
E por falar em política toda a gente sabe o actual
descrédito que a classe politica vive nos dias que correm, toda a gente sabe e
sente o cenário de crise que vivemos e ao qual fomos levados por politicas
menos claras e por uma gestão local e nacional algo desajustada. Nesta lei que
está em debate, e mais do que nunca, é preciso entendimento e união entre as
populações. O que está a ser discutido é a implementação de um cenário de
gestão local que pode ser factor de desenvolvimento e equidade para todos,
desde que bem gerido, claro.
Gostaria de ver um grupo de trabalho com valências e de
preferência (ou de maioria) apartidário que tomasse a iniciativa a apresentasse
um modelo de gestão e estratégico que aproveitasse de forma clara e justa o que
cada freguesia tem de melhor e deixar de parte os alegados favorecimentos
políticos. Vamos esquecer os projectos megalómanos que numa primeira fase até
podem trazer investimento e riqueza mas que logo depois se transformam em
pesados fardos administrativos.
Juntem as forças do poder local num debate aberto à
população e discutam de forma clara e objectiva o que há a perder e a ganhar
com esta reforma em cada um dos casos e cenários. Que cada freguesia apresente
as suas mais valias e trunfos a serem dinamizados num cenário de fusão por esse
grupo de pessoas que será responsável pela gestão.
Deixar todas as decisões para as comissões técnicas de
Lisboa e ficar no silêncio é a pior coisa que se pode fazer e o resultado pode
ser péssimo e contribuir efectivamente para o total desaparecimento de
fronteiras e culturas locais.
Se houver diálogo, um projecto, uma estratégia e
pessoas válidas, todos temos a ganhar.
*
André Ferreira
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