Maria Clara de Vasconcelos Aires dos Santos Guitas é, tão somente, a Clarita. E se alguém merece e justifica um tratamento assim, tão simples quanto carinhoso, é ela. Julgo que terá herdado da mãe o olhar bondoso e o enorme coração. Lucinda da Caridade e Vasconcelos, assim se chamava a mãe da Clarita. Recordo-me bem dela na Casa das Modas, o corpo pequeno, esguio, o rosto magro e uma voz fina que não parecia deste mundo. Olhava para ela tão fascinado quanto intrigado. Aquela mulher tão frágil, tão diferente de todas as outras, espantava os meus olhos infantis, despertava a minha imaginação a ponto de ter dado como certo e garantido que a senhora seria de um outro mundo.
Também a Clarita não parece ser cá deste mundo. Porque é especial e única, porque tem nesta curta vida uma missão. A demanda a que se entregou teve como ponto de partida uma promessa.
Lucinda da Caridade, que fora Regente Escolar (tarefa que, com desgosto, abandonou para se dedicar à Casa das Modas), imaginara a filha como Professora Primária, sonho que não se cumpriu. Talvez por isso, no leito onde agonizou por longos 17 anos, num momento de especial emoção, lhe tenha pedido para que nunca esquecesse, que nunca deixasse de ajudar as crianças e a terra.
Lucinda da Caridade, que fora Regente Escolar (tarefa que, com desgosto, abandonou para se dedicar à Casa das Modas), imaginara a filha como Professora Primária, sonho que não se cumpriu. Talvez por isso, no leito onde agonizou por longos 17 anos, num momento de especial emoção, lhe tenha pedido para que nunca esquecesse, que nunca deixasse de ajudar as crianças e a terra.
Há muitas formas de espalhar o bem cá neste mundo e a Clarita, na busca de um caminho que lhe permitisse cumprir a promessa feita, teve uma ideia iluminada. Decidiu levar a cultura e as artes tradicionais às escolas primárias. Desenvolveu projectos, abriu o espaço escolar à etnografia. Recriou vários quadros de época, incluído um magnífico magusto, contou com a presença de grupos etnográficos, promoveu sessões temáticas, a última das quais sobre o linho.
Para lá de muito trabalho e dedicação sobraram dificuldades. É sabido que as instituições escolares, demasiado fechadas e burocratizadas, muitas vezes resistem a interagir com a sociedade. E quando falta a vontade...
A Clarita abandonou a escolas mas não a promessa. É então que as suas recriações e os seus quadros etnográficos começam a ser uma presença marcante nas várias festividades bustuenses. Como aconteceu, e uma vez mais com grande talento e dignidade, nos recentes festejos do 18 de Fevereiro.
Filha de Manuel Augusto Simões Aires e de Lucinda da Caridade e Vasconcelos, Maria Clara Guitas nasceu em Bustos, no dia 9 de Abril de 1946. Quase a fazer 64 anos confessa que tem uma ambição na vida, servir.
E nós agradecemos. Muito.
Belino Costa
Justa homenagem à Mulher no seu Dia Internacional.
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