20 de julho de 2007

Viagens na Minha Terra

Os TOB (Transportes de Oliveira do Bairro) andam por aí, a lembrar a obra literária do Almeida Garrett sobre o seu percurso pelas terras de Santarém dos meados do séc. XIX.
Duas carreiras diferentes, em dois bonitos autocarros (alugados) de 20 lugares/cada.
A promessa do actual executivo camarário está a ser cumprida. Valha a verdade: não há partido concelhio que a não tivesse inscrito no seu programa eleitoral.
Os 2 horários (uma para cada carreira) vêm em 2 grandes folhas de couve, tipo A4, que a tipografia não foi a tempo de os apresentar muito dobradinhos até à data da inauguração. E até têm espaço para um recorte destinado a sugestões, que vão chegando à Câmara.
Como se trata duma fase experimental, para valer em Julho e Agosto, ficamos à espera dum pequeno e único caderninho de bolso, mesmo que mantendo as 2 sugestivas cores.

Eu explico o porquê das bem pensadas 2 linhas:
- A chamada linha verde desenvolve-se a norte do eixo da EM 596, que liga Bustos a Oliveira do Bairro, abarcando as freguesias de Bustos, Palhaça, Oiã e Oliveira do Bairro (neste caso, abrangendo só a parte desta freguesia que fica a nascente da linha do caminho de ferro). A Mamarrosa, o Troviscal e os lugares de Vila Verde, Camarnal, Montelongo, Serena e Lavandeira, ficaram de fora.
- A linha laranja tem mais que ver com o eixo sul da principal estrada municipal, linha esta que apenas toca na freguesia de Oiã em 2 pontos: largo de Malhapão e capela da Silveira. Embora a Junta local seja CDS, a linha laranja começa na Mamarrosa, vem a Bustos (idem), passa pelo Troviscal (idem), pelos tais 2 locais de Oiã (nem por isso), de novo pelo Troviscal, depois por Vila Verde, Camarnal e por aí adiante (idem, que estamos na freguesia de Oliveira).
Ao todo e por dia temos 12 percursos, começando o gira-gira às 7H30, no centro de Bustos e acabando à 19H15, na Quinta da Gala.
E andei eu uma vida inteira pela Assembleia Municipal a dizer ou a mandar dizer que Bustos e a Mamarrosa eram uma espécie de sudoeste asiático ou Kosovo do concelho…
A linha verde funciona de manhã e a laranjinha da parte da tarde; daí as 2 cores, é o que penso.
Ao todo, são 326Km por dia, mas se fossem menos a Câmara pagaria o mesmo à empresa prestadora do serviço, qualquer coisa como 275€/dia, o que dá uns 5.000€/mês. O acordo feito (ao dia e não ao quilómetro) explica tantos percursos de ida e volta.
Também se percebe que o objectivo do serviço público seja o de orientar a rede de transportes de forma a contrariar a tradicional tendência centralista. A solução é simples: se é preciso ir à sede do concelho, também a sede do concelho deve vir às freguesias. Bem achado, apesar do vaivém quase constante.
*
Como viajar é conhecer pelos nossos próprios olhos, fui viajar nos TOB, o que fiz ontem de manhãzinha. Aproveitei a falta do popó e também não me estava a imaginar falar de cátedra sem conhecer os TOB no próprio terreno.
Também são só 50 cêntimos - é certo que sem direito a pequeno almoço -, o autocarro é cómodo e as estradas estão em bom estado, com excepção da rua principal da Murta, a receber obras, com vereador e tudo a acompanhar os trabalhos.
Mas vamos ao que interessa:
A divulgação, apesar dos 1.000 esgotados horários, não chegou ainda a muitos e o pessoal não está para olhar para a berma da estrada. Até eu olhei melhor e lá estão os indicadores das paragens, em vias de receber o respectivo horário mal a coisa passe a definitivo.
Sempre pensei que a linha verde ia ganhar em n.º de passageiros. Errado: pelo menos por enquanto, a linha laranja é a mais concorrida e um dos seus trajectos já transportou 11 passageiros. Sinal dos tempos ou o n.º de automóveis per capita é mais baixo a sul do eixo transversal do concelho?

Ontem de manhãzinha só eu entrei no autocarro na 1ª paragem do 1º percurso do dia, ali logo a seguir aos CTT de Bustos. A partir da rotunda do Arieiro uma passageira fez-me companhia e ao simpático condutor; a nossa concidadã ia fazer fisioterapia à capital e ficou cheia de pena porque o autocarro não pode parar onde a gente pede e muito menos à porta da nossa casinha, que a lei diz que é proibido; mas o condutor foi de coração bom e lá a deixou à porta da clínica. Acreditem: metros à frente cruzámo-nos com uma viatura da GNR/BT. Ufa, desabafou o bom samaritano. Lá me safei da multa!
Durante a hora que demora o longo percurso fomos sempre os mesmos 3, em amena cavaqueira. Eu, mais com a preocupação de perceber os porquês do percurso: e o que não percebi, foi-me explicado depois, por razões que se compreendem, até porque os TOB estão na fase inicial de ver para crer e só depois decidir mais em definitivo.
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E agora as minhas críticas:
1ª - A carreira das 7H30 (Bustos/Oliveira do Bairro) deve começar no Sobreiro, junto à rotunda da Tia Maria, até porque o autocarro passa lá para começar o percurso no centro de Bustos. E, afinal, o Sobreiro é o maior lugar da freguesia, não fazendo sentido que os munícipes do Sobreiro tenham de vir a Bustos para apanhar o autocarro.
2ª - As paragens nas zonas industriais são para esquecer: as voltas pelo princípio do Barreirão (cerâmicas) e pelas Zonas Industriais da Palhaça e de Oiã não servem para recolher ou despejar trabalhadores. A explicação é simples: quem vai de autocarro para o trabalho quer garantias de que o vão buscar ao fim do dia, o que não é o caso. E sempre se poupava algum do precioso tempo.
3ª - São voltas a mais e não é possível agradar a gregos e troianos, ainda que se compreenda a preocupação de percorrer quase todos os lugares de todas as freguesias. Afinal, estamos perante um serviço público.
4ª - Bom grado a tal vontade de descentralizar, procurando inverter o fluxo de trânsito só no sentido da convergência para a sede do concelho, tarde ou cedo a linha verde ficará reduzida a uma viagem de ida, logo pela manhã e outra de regresso, cerca do meio dia.
Mais do que popular, o serviço quer-se útil. Todos sabemos que os transportes públicos dão prejuízo, mas impõe-se minimizá-los. Nesta fase experimental os múltiplos e vastos percursos não oneram o município, mas isso acabará por acontecer, que as leis do mercado não perdoam, muito menos em tempos do mais puro e feroz mercantilismo.
5ª - Chegados à capital e para evitar a volta pelo Repolão, Cercal, Murta e regresso ao centro, deveria existir uma paragem perto da GNR ou do Hospital que permitisse a saída dos passageiros que vão para as repartições públicas, hospital e tribunal, evitando-lhes a voltinha do Cértima; e com a vantagem dessa nova paragem servir as 2 linhas.
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Para terminar: os custos são suportáveis e o serviço público justifica-se, se cumprir uma função merecedora de tutela municipal.
Esperemos que não aconteça como noutros municípios, onde o serviço foi extinto ou reduzido ao mínimo. A experiência ensina que as pessoas não aderem muito, tal a vicieira do carrinho próprio. Mas depois toda a gente grita ao morto, que lá se foi o serviço de transporte público, é uma injustiça, abaixo a câmara, abaixo o governo e viva o benfica.
Ou não fossemos portuguesinhos da silva…
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oscardebustos

5 comentários:

  1. Anónimo16:18

    Gratificou-me, na leitura, depreender que o meu amigo autor desta exprimentada notícia já não é da opinião que Bustos é uma espécie de sudoeste asiático, ainda que reinvindique tal paternidade. Todos sabemos quanto custa abrir assim mão de um filho.

    Fico, igualmente, aliviado por saber que todos os outros municípios reduziram ao mínimo e, alguns, até extinguiram tais serviços, conquanto, os custos fossem suportáveis. Destarte, quer o autor/utilizador reafirmar a execelência da gestão desta Câmara que, na sua senda laboriosa de fazer tudo ao contrário, dá mais um exemplo aos restantes municípios deste país que os autarcas modelos são os que gerem a Câmara de Oliveira do Bairro.

    Estamos certos que a especialização em fazer muros, alugar autocarros, organizar festas populares e comprar etapas de ciclismo já é tema de dissertação nos próximos manuais de economia e acesa discussão nos mais iluminados circulos de gestão autárquica.

    Aproveito este, breve e inconsequente, tempo de antena para apelar aos autarcas bustuenses, aqueles que se preocuparem ou tiverem sensibilidade para o apelo, para tomarem conta do estado do sintéctico do Campo Dr. Santos Pato e o risco de lesões para os miúdos que ali praticam desporto, para o estado ruinoso do Palacete do Visconde ou para o risco de desagregação da Zona Industrial de Bustos e a consequente crise económica e social em que tal situação mergulharia a freguesia.

    Desculpem o tempo que vos tomei e acreditem que lamento profundamente a maçada desta escrita, ainda que pense ter finalizado com temas bem mais importantes para a nossa freguesia.

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  2. Anónimo16:25

    O caro TOB.ias está desculpado e dou-lhe os parabéns porque colocou o dedo na ferida de muitas cigarras armadas em formigas.

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  3. Anónimo18:45

    Já não somos tão potuguesinhos da silva como se julga

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  4. Anónimo22:11

    A única (mesmo única!!!) razão pela qual o amigo oscar de bustos insinua uma leve picadela crítica, terá a ver com o facto de os TOB não serem da lavra do pelouro da cultura??? Ou será que não??? Querem ver que estou enganado???
    Ou não seria mais certeiro dizer que as novidades com que este executivo brinda os munícipes, já os executivos das câmaras capazes se esqueceram???

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  5. “As Conspirações do Grão Vizir IZNOGOUD”

    É óbvio que sabia o que estava a escrever. Não sou burro; até gosto, confesso, de provocar.
    Porque isso traz debate, ideias, embora também mesquinhez, bardinices, conversa oca e conversa da treta. Infelizmente, também traz essa merda dos ódios político-partidários, dos rancores, da burrice armada em crítica pura, kantiana.
    *
    A 1ª República já se foi há muito. A 2ª também vai abaixo um dia destes, porque não está a trazer nada de estruturalmente diferente: não há ideias, há desejo de poder, como quem diz que eu é que devia estar lá na vez dos que lá estão agora. Do tipo “califa no lugar do califa” (ide à banda desenhada do Goscinny + Tabary, a qual serve de título a este comentário e logo ficarão a perceber).
    Por enquanto, há que viver com os “rotativistas”, todos feitos da mesma massa: entram uns (azuis às riscas, por exemplo) e saem outros (às riscas menos azuis). Mas é tudo igual, com umas nuancezitas pelo meio.
    De modos que já estou a pensar na 3ª República…
    Será que ainda haverá TOB nessa altura? Adiante…
    *
    Não pude vir ao blogue, a não ser agora. Ainda bem, porque gostei muito de falar com o Li Moncas (Licínio Mota, da Póvoa) durante o casamento da filha. Sobre Bustos, no presente e no futuro que o espera.
    Esse Bustos tem passado por este blogue: do bonzito, do razoável, do medíocre e até do execrável, tipo pila galinhas obcecado pelo poleiro.
    *
    Sobre Bustos, importa começar por saber se temos ou não ideias. Lá chegarei um dia destes.
    Não tenho pressa, não sou cadela apressada, que não quero parir cachorros cegos e muito menos coxos.
    Adorei ouvir o Moncas dizer que, com gente desta, é preciso que nada se faça, deixar estar como está, não vão eles estragar ainda mais o que já estragaram antes. Bem o percebi.
    Estou-me nas tintas para o obcessivo e as obcessões, paranóias e paranóicos.
    Mas fazem faltam, fazem-me falta a mim, pelo menos.
    Observo, escrevo, intervenho, mas, ó gentes, há mensagens deliberadamente subliminares.
    Tudo virá ao de cima, um destes dias.
    Depois quero ver onde certos anónimos se posicionarão. Que ideias têm para Bustos. E, se as têm, quero vê-las expostas. E que obras propõem, que ordenamento.
    Ops, não caiam nesta esparrela cá do velhadas! O meu conceito de ordenamento não começa no território, embora passe por lá. O ordenamento começa na cabeça, na cabecinha de todos nós. Dá para perceber?
    Descansem. Não desejo decepar nenhuma, que todas fazem falta.
    Mas a minha também não decepam vocês, que eu já morri o que tinha a morrer.
    E não tenho medo, seja do que for ou de quem for. Perdi-o na juventude.
    A gente vai falando…
    (já agora: estava mesmo convencido que os TOB eram da lavra do pelouro da cultura. Como eles se enganam...)

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