31 de agosto de 2006

BUSTUENSES EM CORES POLÍTICAS

(srg, imagem)

Serão os Bustuenses politicamente de direita?

Quem se põe a observar os quadros com os resultados apurados pelas eleições realizadas durante a vigência do actual sistema democrático, poderá encontrara ali indícios de alguma deriva ou mudança e razões para festejar ou para entristecer, conforme se situe à esquerda ou à direita.
No entanto, parece que ainda não foi feito um estudo objectivo da mudança política que os resultados eleitorais testemunham e, mais particularmente, das possíveis motivações que essas mudanças podem ter. E esse estudo objectivo seria bem útil para o esclarecimento (a compreensão) geral.
Sabe-se que o CDS-PP vai conservando na freguesia a predominância, seguido de perto pelo PSD. Um outro partido, o PS, obtém expressão óbvia, enquanto o PCP e o BE contam votos em número pouco significativo. Logo, a tendência eleitoral maioritária que se exprime nas urnas privilegia claramente aqueles dois primeiros partidos que é costume designar como centro-direita.
Será possível tomar este dado como amostra fiável da verdadeira cor política principal dos Bustuenses?
Se tal for admissível, meramente como hipótese (ou petição de princípio), isso não deixará de ser algo surpreendente e contraditório, pelo menos aos olhos de bustuenses nascidos até cerca de 1950. Muitos destes poderão testemunhar que o ambiente ideológico-político que reinou na freguesia digamos entre 1910-1945 era de sinal bem diverso. As pessoas falavam, comunicavam. Afirmava-se claramente o republicanismo e a democracia (contra o poder salazarista, note-se!), pulsava o ideal progressista e praticava-se a entreajuda social efectiva sem o escarrracho do egoísmo. A discussão pontual de temas políticos e religiosos, discussão esta marcada inclusive por um frequente e bem nítido anticlericalismo, era então talvez mais viva e, por outro lado, menos obediente a «cassetes» partidárias ou a slogans da televisão.
Evidentemente, a comunidade bustuense nunca foi estática, mas pode sempre questionar-se o sentido das mudanças ocorridas. E se acaso ocorreu no terreno um real deslize político-ideológico no sentido da direita, veja-se até que ponto isso pode ter resultado de: 1 - uma herança da despolitização da população gerada pelo regime da Ditadura; 2 - a influência reaccionária da imprensa consumida pelos habitantes; 3 - a diluição gradual do anticlericalismo, o reforço do poder da Igreja, a quebra da entreajuda social e o avanço da individualização (logo, do egoísmo «normal»), a implantação crescente da competição e das dificuldades em rede, etc., etc.

Arsénio Mota

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