18 de maio de 2014

FUNERAL DE MÁRIO REIS PEDREIRAS


O funeral de Mário Reis Pedreiras terá lugar amanhã, segunda feira, saindo da capela mortuária  de Bustos pelas 17 horas.
 Durante o dia de hoje o corpo estará em câmara ardente na Quinta das Maias, em Sôsa. 

O "Noticias de Bustos", numa sentida homenagem ao homem e ao cidadão, publica um texto que Mário Reis Pedreiras escreveu em julho de 1945, quando se encontrava a cumprir o serviço militar em Tancos.

UMA FLOR

Toda a rua era batida por um esplêndido sol. As próprias pedras tinham a sua hora dourada naquela tarde primaveril, esquecidas já dos charcos e da lama pegajosa dos dias tristes de inverno.
De repente o sol fez-se mais claro ainda, mais viçoso o verde das árvores que orlam o passeio. Um andar miudinho e leve soou ao meu lado. Era uma rapariga vestida de claro, olhos risonhos e cabelos flutuantes. E um sorriso, daqueles que andam a dizer à terra que o céu só é distante aos olhos dos que o não sabem ver. Era a encarnação de Eva, de uma Eva inocente e feliz antes que a serpente invejosa tivesse destilado a baba peçonhenta sobre a ventura do paraíso. Mais fresca e viçosa do que aquela moça nem a flor que em seu peito, em vão, tentava disputar-lhe a graça e a juventude. Eram duas rosas que pareciam nascidas do abraço da mesma roseira, colhidas na mesma hora de encantamento!
De repente uma nuvem escureceu o sol, fizeram-se mais baças as pedras da rua, e um rolar metálico soou ao meu lado. Era uma carreta que levava à última morada alguém. Pobrezito, tão desacompanhado na morte, como provavelmente o fora na vida! Flores nem uma.
Há existências assim, em que um inverno sucede a outro inverno, sem intervalos de sol, sem galas, sem cânticos de aves.É a vida dos que nascem sem esperança e acabam,  sem saudade.
De súbito, sobre aquela nudez, aquela cruel realidade, a moça linda descuidada e feliz, coloca docemente sobre o caixão a rosa que despregara do peito. Passou a nuvem que obscurecera o sol, as pedras da rua iluminaram-se de novo.E o acompanhamento, pobrezinhon e triste, afastou-se levando consigo a mais linda flor que a primavera terá visto desabrochar.

Mário Reis Pedreiras

B.A.3- 27-7-1945- Tancos

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