7 de outubro de 2010

FAZ HOJE 100 ANOS: OLIVEIRA DO BAIRRO PROCLAMA A REPÚBLICA



A notícia da proclamação da República chegou a Oliveira do Bairro no dia 6 e logo os republicanos concelhios espalharam a boa nova organizando a manifestação de adesão ao novo regime para a tarde de sexta-feira, dia 7.
A solene proclamação é recordada na edição de "O Ideal" de 18 de Fevereiro de 1911, num texto assinado por Salcio Dias,  que evoca um dia límpido, esplêndido de sol.

Ordenado o cortejo na Raposeira, de bandeiras verde rubras drapejando no ar puríssimo, subiu ladeira acima ao som da Marselheza. Era um passeio triumphal aquelle com as notas revolucionárias palpitando no azul. Entro na villa e seguiu para o Paço do Concelho. Uma vez ali, proclamou-se o novo regímen.
Houve discursos, palmas e ovações. Entre outros falou o sr.dr. Breda. As sua palavras, vibrantes de enthusiasmo sincero, calaram no animo de todos, estou certo disso. Fallou dos trabalhos que a Ideia Nova houvera de vencer para triumphar; deixou transparecer o seu desgosto por não ter a dita de empunhar uma arma nas horas anciosas da Rotunda. Fallou por fim do que a Republica faria. Um clarão de justiça illuminaria a nossa pátria, um grande abraço d’amor uniria todos os cidadãos.

Também “O Nauta”, na edição de 13 de Outubro, assinala o momento:

Na sexta-feira passada, as comissões parochiais republicanas da Mamarrosa e Troviscal, acompanhadas de grande número de pessoas, foram a Oliveira do Bairro, onde as esperava a musica daquela villa, hastear a bandeira republicana no edifício dos paços do Concelho.

E acrescenta o jornal de Procópio de Oliveira a propósito da inesperada mudança:

Por aqui, como talvez por todo o paiz, a inesperada mudança de regime deixou ébrios d’alegria todos aquelles que vêem na republica a salvação do nosso querido Portugal, que outrora tantas e tão evidentes provas de amor pátrio mostrou aos olhos de todo o mundo civilisado, que o contemplava com orgulho e admiração e se curvava reverente perante o patriotismo dos seus heróis, mas que agora agonizava, jazia oprimido e vexado por uma política mesquinha, hedionda e deshonrosa.

Tal como acontecera em Lisboa também os republicanos da província acreditavam na ressurreição da pátria e apelavam a um amor impossível que uniria todos os cidadãos. Faziam-no com a mesma fé com que outros afirmavam a existência de Deus. É o que deixa claro Jacinto Simões dos Louros quando, em correspondência de 1956, dirigida a Vitorino Reis Pedreiras, afirma ter sacrificado a minha vida e da minha família à santa que mais adoro, a República
Mas o sonho republicano é um pesadelo para os monárquicos e conservadores do concelho. Segundo Armor Pires Mota,  a residência paroquial de Oiã era, por assim dizer, o quartel-general da Monarquia em terras do Concelho de Oliveira do Bairro, tornando-se depois o semanário “Echos do Vouga” a sua guarda avançada.

O  “Echos do Vouga” dá-nos uma visão dos acontecimentos diametralmente oposta à empolgada visão de “O Ideal”. E se os republicanos apelam à ordem, ao trabalho e ao respeito, o Padre Abel da Conceição no semanário que se assume como um agente da verdade contra o erro, da luz contra as trevas, logo a 8 de Outubro, promete combater o novo regime que é apresentado em tons sangrentos:

A morte violenta do Dr Miguel Bombarda veio precepitar o movimento fazendo de Lisboa um campo de morte e de ruína, onde centenas de soldados e populares tombaram numa lucta feroz e sanguinária.

A visão catastrofista prolonga-se em declarações onde se diz que Portugal vai a caminho da morte. Os republicanos, por seu turno, são apresentados como canalha devassa e prostituída a atirar salpicos de lama ao oiro da nossa história . Mas nem só de  exageros e mentiras se faz a mensagem do jornal católico, há também alguma sobranceria.

A notícia da república foi mal recebida, a não ser por três ou quatro indivíduos, cujo valor político se pode representar por um 0.

Em Bustos António Duarte Sereno, Visconde de título adquirido em 1908, não só recebeu “mal a notícia” como sofreu de forma muito especial porque, estranha ironia, a revolução acontecera no dia em que comemorava o seu 51º aniversário.

Belino Costa

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