Foi ontem a enterrar Cremilda Martins da Silva, exactamente no mesmo dia em que fazia 4 anos que falecera o marido, o Manuel Aires das bicicletas.
Então ainda à frente dos destinos do seu café e restaurante, o Manuel Aires e a Ti Cremilda foram os patronos dos nossos tempos de juventude. Tempos das famosas tardes do Piri-Piri de que falava o saudoso Carlos Luzio e que o Milton Costa soube tão bem interpretar no prefácio do livro de poemas do Carlitos que editámos em 2005 - Pescador de Sonhos.
É impossível esquecer o carinho que o casal sentia por nós, a bondade com que punham à nossa disposição o assador do restaurante para ali prepararmos as nossas patuscadas.
Mas a Ti Cremilda e o Manuel Aires viveram aquela que terá sido uma das mais lindas histórias de amor que Bustos conheceu.
Em 1938 o Manuel Aires era um jovem de 16 anos, filho duma família mais abastada. Ao contrário, a jovem Cremilda – então apenas com 13 anos - era uma rapariga filha de pais menos afortunados. Contrariando as regras da época, o Manel e a Cremilda apaixonaram-se, o que os obrigou a esconder o amor puro e inocente que os unia.
E como o amor tem pressa e não conhece barreiras nem fronteiras, os jovens enamorados seguiram os usos da época: fugiram de casa dos pais, apanharam o comboio na estação de Oliveira do Bairro e apareceram de surpresa na cidade da Guarda, já então conhecida pelos cinco “efes” - farta, fria, formosa, fiel e forte. Mas porquê a longínqua Guarda? Porque ali vivia um tio materno da Cremilda, de seu nome Vicente Tavares da Silva e porque lhes terá parecido que ali encontrariam boa guarida, ainda por cima tão longe dos mexericos da aldeia.
A história foi até lembrada por Vitorino Reis Pedreiras, a págs. 99 do seu livro Memórias de Outros Tempos: “Dia 29 – Semeando um pinhal. Um rapto” [o autor reportava-se ao dia 29 de Dezembro de 1938].
Um pormenor interessante: os apaixonados apresentaram-se em casa do tio Vicente como estando em lua-de-mel. Claro que a tia Idalina era senhora daquela argúcia que só as mães têm e logo tratou de preparar duas camas em quartos bem separados, avisando-os solenemente que não admitiria que dormissem juntos. - Nem pensar!
Ladinos, responderam-lhe: - Não vale a pena, porque já está…
O desfecho não poderia ser outro: avisados, logo no dia seguinte os envergonhados pais da Cremilda foram à Guarda buscar o ousado casal de fugitivos.
E como quase sempre acontece nos grandes romances de amor, a Cremilda e o Manuel casaram no ano seguinte e viveram uma felicidade cúmplice durante 65 anos. Amaram-se e respeitaram-se a vida inteira.
…E tiveram uma linda menina, a nossa muito querida Milita do Aires.
Então ainda à frente dos destinos do seu café e restaurante, o Manuel Aires e a Ti Cremilda foram os patronos dos nossos tempos de juventude. Tempos das famosas tardes do Piri-Piri de que falava o saudoso Carlos Luzio e que o Milton Costa soube tão bem interpretar no prefácio do livro de poemas do Carlitos que editámos em 2005 - Pescador de Sonhos.
É impossível esquecer o carinho que o casal sentia por nós, a bondade com que punham à nossa disposição o assador do restaurante para ali prepararmos as nossas patuscadas.
Mas a Ti Cremilda e o Manuel Aires viveram aquela que terá sido uma das mais lindas histórias de amor que Bustos conheceu.
Em 1938 o Manuel Aires era um jovem de 16 anos, filho duma família mais abastada. Ao contrário, a jovem Cremilda – então apenas com 13 anos - era uma rapariga filha de pais menos afortunados. Contrariando as regras da época, o Manel e a Cremilda apaixonaram-se, o que os obrigou a esconder o amor puro e inocente que os unia.
E como o amor tem pressa e não conhece barreiras nem fronteiras, os jovens enamorados seguiram os usos da época: fugiram de casa dos pais, apanharam o comboio na estação de Oliveira do Bairro e apareceram de surpresa na cidade da Guarda, já então conhecida pelos cinco “efes” - farta, fria, formosa, fiel e forte. Mas porquê a longínqua Guarda? Porque ali vivia um tio materno da Cremilda, de seu nome Vicente Tavares da Silva e porque lhes terá parecido que ali encontrariam boa guarida, ainda por cima tão longe dos mexericos da aldeia.
A história foi até lembrada por Vitorino Reis Pedreiras, a págs. 99 do seu livro Memórias de Outros Tempos: “Dia 29 – Semeando um pinhal. Um rapto” [o autor reportava-se ao dia 29 de Dezembro de 1938].
Um pormenor interessante: os apaixonados apresentaram-se em casa do tio Vicente como estando em lua-de-mel. Claro que a tia Idalina era senhora daquela argúcia que só as mães têm e logo tratou de preparar duas camas em quartos bem separados, avisando-os solenemente que não admitiria que dormissem juntos. - Nem pensar!
Ladinos, responderam-lhe: - Não vale a pena, porque já está…
O desfecho não poderia ser outro: avisados, logo no dia seguinte os envergonhados pais da Cremilda foram à Guarda buscar o ousado casal de fugitivos.
E como quase sempre acontece nos grandes romances de amor, a Cremilda e o Manuel casaram no ano seguinte e viveram uma felicidade cúmplice durante 65 anos. Amaram-se e respeitaram-se a vida inteira.
…E tiveram uma linda menina, a nossa muito querida Milita do Aires.
Texto conjunto de
sãododomingos,
vandarafeiro
oscardebustos
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- NOTA FINAL: à data dos factos e como rezava solenemente o artigo 392º do Código Penal de 1866, “aquele que, por meio de sedução, estuprar mulher virgem, maior de doze e menor de dezoito anos, terá a pena de prisão maior celular de dois a oito anos, ou, em alternativa, a pena de degredo temporário.”
Como nos contos de fadas, um providencial § único do artigo 400º daquela lei propunha uma saída airosa para o criminoso: "casar com a mulher offendida”. Foi a melhor notícia que aquele apaixonado casalinho poderia ouvir! O que explica terem casado em 1939 não por iniciativa dum qualquer pároco ou das leis do registo civil, mas por força da decisão dum tribunal.
Como nos contos de fadas, um providencial § único do artigo 400º daquela lei propunha uma saída airosa para o criminoso: "casar com a mulher offendida”. Foi a melhor notícia que aquele apaixonado casalinho poderia ouvir! O que explica terem casado em 1939 não por iniciativa dum qualquer pároco ou das leis do registo civil, mas por força da decisão dum tribunal.
Há histórias bonitas, algumas pouco verdadeiras porque são histórias!
ResponderEliminarMas esta sensibilizou-me pelo conteúdo, que se me apresenta de todo verdadeiro.
Cumprimentos