20 de setembro de 2008

Má lingua, a nossa melhor língua


“Dizer mal“ passou a fazer parte do nosso código de urbanidade. É uma exigência de bom comportamento, uma afirmação de sociabilidade, uma questão de cortesia. Hoje em dia quando dois portugueses se encontram, logo depois das saudações tradicionais como o “bom dia “ ou “boa tarde” e na sequência da inevitável pergunta: “Então, essa vida?” ou “Tudo bem?”, logo enumeram uma série de problemas e problemáticas, sempre assentes em experiências pessoais que são apresentadas como sendo universais, e utilizam, pelo menos três vezes, a expressão “só neste país!”.


Alguns ficam-se pelos protestos indignados, mas outros vão além da denúncia dos problemas (Os Problemas) e adiantam As Soluções que, em geral, são meras repetições de títulos de jornais, ou de frases decapitadas em textos escritos por políticos travestidos de comentadores. Os que descobriram As Soluções adoram frequentar as dezenas de fóruns radiofónicos onde proclamam enormidades sem conta e muitas vezes sem nexo. Dizem uma coisa e o seu contrário. Estão contra a construção de auto-estradas porque quando lá passaram “estavam às moscas”, mas também estão contra o investimento no caminho-de-ferro por ser uma infra-estrutura cara e uma “moda francesa”. Alarmados dizem que o petróleo está a acabar e de seguida propõem a descida do preço da gasolina. Em síntese, estão contra!

Estão bem.

Estar contra é mesmo o que mais convém, porque é a melhor forma de não assumir compromissos e estar livre de críticas. Que mais pode desejar um humilde e manhoso português do que “não se comprometer”?! Até porque, como se diria em bom futebolês, “ a melhor defesa é o ataque”.
Estar contra é simples e fácil. Enquanto desporto nacional é actividade que nos poderia garantir múltiplas medalhas olímpicas. A má-língua é a nossa melhor língua, de norte a sul. Mas no centro, que é uma forma de dizer Lisboa, é que este popular desporto atinge níveis dignos da mais alta competição. Ali a sofisticação da maledicência alcançou o nirvana. Agora o lisboeta culto e evoluído já não diz mal do actual Governo, a nova moda é dizer mal do próximo executivo, seja ele qual for. Assim ninguém se compromete, e também ninguém se pode sentir ofendido. Genial!
A avaliar pelos argumentos apresentados até faz sentido, porque “os gajos são todos iguais”, porque já “não há remédio ou solução”, ou porque “isto bateu no fundo”. O melhor é não acreditar, porque já nem a matemática é ciência exacta. ”Essa coisa dos números tem muito que se lhe diga”…
Enfim, Portugal é um país habitado por génios cépticos e governado por imbecis corruptos. Somos uns desgraçadinhos muito infelizes. Felizmente!

E viva Portugal!

Belino Costa

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