30 de setembro de 2008

UDB AMPARA RESSACA DO MEGALHÃES (Uma nota)

O país genuinamente básico anda a sarfar na crista da onda MEGAlhães, enquanto os políticos, ao converter os Magalhães em raquetes, cumprem o ping-pong de arremesso partidária.

Habilmente preparado pela máquina de suas excelências, o alto poder: ministros, secretários de estado cancelaram as reuniões de trabalho, mudaram de roupagem e ei-los feitos delegados comerciais e de propaganda a distribuir por escolas básicas o computador Magalhães estudado por uma ODM (Original Design Manufacture) criada pelos irmãos Sá Couto, (Jorge e João Paulo).

Realmente eram muitos os anunciantes a dar a boa nova da chegada do maná tecnológico aos básicos. Mas o número não seria pelo menos a duplicar, se o Governo fosse de coligação? É a sina de termos de conviver com os eleitoralismos.

Na escola básica do 1º degrau, o acesso ao uso do Magalhães é universal. Vou encontrar em Mestre Aquilino uma analogia com o aparecimento da camionete de passageiros, em que considerava ser um “factor assinalado de democratização”[1] e anota: “O morgado … tem de tomar o lugar ao lado do jornaleiro, … O cura senta-se ao lado do freguês; a fidalga ilharga com ilharga da Maria Roca”. A partir de agora todos os alunos estão nivelados na possibilidade de trabalhar com o computador.

Muito trabalho está reservado ao professor para pôr o intruso Magalhães ao serviço da educação e instrução de cada aluno, para o guindar a patamares semelhantes aos dos seus contemporâneos do norte europeu.

Alguns escolhos (entre outros):

E quando surgirem os 1º os problemas e a necessidade de fazer as 1ªs reparações? Os pais ou encarregados de educação estarão dispostos a desembolsar?

O Magalhães na escola irá ser mais uma peça apetitosa demais para a prática do bullying. Impõe-se estudar medidas que garantam a segurança.

Nos primeiros passos de manejo no teclado, o aluno estranha o computador. Entretanto o apetite aguça-se. E, mais umas horas de descoberta, sobrevém a apetência. O vício instala-se. O “Controlo parental” é ludibriado e o aluno passa horas e horas sentado à frente do computador, abrindo uma porta para a entrada de sequelas para o seu organismo. A vida ao ar livre, já de si restrita, vai sofrer um substantivo corte.

Para obviar a vida sedentária e isolada, impõe-se que os alunos tenham mais actividade física, quer curricular ou extra-curricular.

E, neste caso, a Formação da União Desportiva de Bustos dedicada ao público escolar cumpre a sua missão. Multiplica o convívio entre os jovens, ajuda a proteger os atletas do uso prolongado do computador, ensina-os a conviver em grupo, contribuindo para o desenvolvimento rumo à cidadania.

E siga a rusga
sérgio micaelo ferreira
[1] Aquilino Ribeiro, A Aldeia - Terra, Gente e Bichos. Bertrand Editora

3 comentários:

  1. Anónimo17:02

    Basta assistir a um jogo de futebol, mesmo de miúdos, ou atender aos conselhos dos treinadores e pais durante os treinos e jogos, para ver que o futebol, com excepção do futebol de "rua", não contribui positivamente "para o desenvolvimento rumo à cidadania".
    No fundo das preocupações está o fair-play e a ética moral.

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  2. Anónimo21:28

    Fico espantado! Muito espantado! Estamos perante a democratização do acesso ao instrumento que vai moldar o século XXI, estamos a massificar o uso da arma do futuro num investimento que irá necessariamente marcar o futuro dos nossos filhos e o Sérgio perde-se em tretas, preocupa-se com as avarias e o controle parental, e as dificuldades dos professores?!!!

    Então, queres tirar a caneta das mãos de uma geração só porque entre tantos milhões haverá quem se ponha a desenhar gajas nuas, ou enfie a caneta nos olhos de alguém?

    Estás a gozar comigo, porque não te vejo a imitar aqueles políticos que, nada tendo para propor, acusam os outros políticos de fazer propaganda? Como se também eles não estivessem a fazer propaganda. Não há política sem propaganda, porque não há política sem mensagem. Propaganda é uma outra maneira de dizer política.

    Faço votos que não fiques na praia em lamurias, em tristes choros, enquanto o Magalhães dá a volta ao mundo.

    O teu amigo
    Belino Costa

    PS: A minha filha Ana que tem oito anos e não percebe nada de política mas todos os dias me pergunta quando é que chega o prometido computador. Disse-me ela, naquele jeito de criança, que quando tiver o seu próprio computador se vai sentir que nem uma pessoa grande e vai poder, sozinha, aprender inglês...
    Ela sabe.

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  3. Anónimo10:54

    BC
    Quantos ledores, tantas as sentenças
    C’um vento velas vem e velas vão.
    Sá de Miranda, Sonetos, A terceira vez, mando-lhe mais obras.

    Do comentário oferecer-me dizer:
    Na peça não se vislumbra uma referência a pretender “tirar a caneta das mãos”.

    A universalidade do uso do computador está inserta na nota e está bem acompanhado com a analogia da camioneta ‘do Mestre Aquilino’, como “factor assinalado de democratização”.
    A grande viragem do ensino-aprendizagem não está apenas no autodidatismo que a tua Ana e todos os outros aprendentes contemporâneos possam desenvolver, mas sim na abertura de inúmeras ferntes de conhecimento que os agentes de ensino forem capazes de abrir. Aí, o professor desempenha uma função capital num país onde a iletracia prolifera. Daí reafirmar que “muito trabalho está reservado ao professor”.

    Entendo que a campanha eleitoral de apresentação do Magalhães foi excessiva.
    E quanto aos reparos, por certo não vão atingir o grosso da população alvo do Magalhães. Os desvios ocasionais irão ser tratados no silêncio da escola.

    A etapa agora iniciada da Magalhanização do país irá ter os seu frutos daqui a 20(?) anos. Outros e novos horizontes serão desvendados. E a massa cinzenta possa ver a luz.
    E dos alunos de hoje, sairão actores que intervirão na descoberta de inovações nem sequer sonhadas.
    Um bom e frutuoso ano escolar
    sérgio micaelo ferreira

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