Eu queria que o Amor estivesse realmente no coração,
e também na bondade,
e a Sinceridade,
e tudo o mais, tudo estivesse realmente no coração.
Então poderia dizer-vos:
"Meus amados irmãos,
falo-vos do coração",
ou então:
"com o coração nas mãos".
Mas o meu coração é como o dos compêndios.
Tem duas válvulas (a tricúspida e a mitral)
e os seus compartimentos (duas aurículas e dois ventrículos).
O sangue ao circular contrai-os e distende-os
segundo a obrigação das leis dos movimentos.
Por vezes acontece
ver-se um homem, sem querer, com os lábios apertados,
e uma lâmina baça e agreste, que endurece
a luz dos olhos em bisel cortados.
Parece então que o coração estremece.
Mas não.
Sabe-se, e muito bem, com fundamento prático,
que esse vento que sopra e que ateia os incêndios,
é coisa do simpático.
Vem tudo nos compêndios.
Então, meninos!
Vamos à lição!
Em quantas partes se divide o coração?
*
António Gedeão, “Linhas de Força”, 1967, edição do autor
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Este poema de António Gedeão faz-nos lembrar os tempos de aprendizagem da escola primária. O nome verdadeiro deste poeta era Rómulo (Vasco da Gama) de Carvalho e foi professor de físico-químicas no que então se chamava liceu. Ainda me lembro bem do compêndio de físico-químicas, da sua autoria. Guardo religiosamente este seu livro de poemas, que comprei no meio da crise académica de 1969.
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oscardebustos
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