26 de julho de 2008

Recordações da Escola

Poema do coração

Eu queria que o Amor estivesse realmente no coração,

e também na bondade,

e a Sinceridade,

e tudo o mais, tudo estivesse realmente no coração.

Então poderia dizer-vos:

"Meus amados irmãos,

falo-vos do coração",

ou então:

"com o coração nas mãos".

Mas o meu coração é como o dos compêndios.

Tem duas válvulas (a tricúspida e a mitral)

e os seus compartimentos (duas aurículas e dois ventrículos).


O sangue ao circular contrai-os e distende-os

segundo a obrigação das leis dos movimentos.


Por vezes acontece

ver-se um homem, sem querer, com os lábios apertados,

e uma lâmina baça e agreste, que endurece

a luz dos olhos em bisel cortados.

Parece então que o coração estremece.

Mas não.

Sabe-se, e muito bem, com fundamento prático,

que esse vento que sopra e que ateia os incêndios,

é coisa do simpático.

Vem tudo nos compêndios.


Então, meninos!

Vamos à lição!

Em quantas partes se divide o coração?

*

António Gedeão, “Linhas de Força”, 1967, edição do autor

*

Este poema de António Gedeão faz-nos lembrar os tempos de aprendizagem da escola primária. O nome verdadeiro deste poeta era Rómulo (Vasco da Gama) de Carvalho e foi professor de físico-químicas no que então se chamava liceu. Ainda me lembro bem do compêndio de físico-químicas, da sua autoria. Guardo religiosamente este seu livro de poemas, que comprei no meio da crise académica de 1969.

*

oscardebustos

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