1-Estudos
“Fiz a Escola Primária aqui na casa ao lado da minha casa. Fui para a Escola aos sete anos, o meu pai foi-me levar. A professora sentou-me numa cadeira ao fundo da sala e não mais me dirigiu palavra. Ao intervalo voltei para casa e o meu pai perguntou-me, “o que é que estás aqui a fazer?”, respondi que me tinha vindo embora porque não estava na Escola a fazer nada. Lá me obrigou a voltar… Esta é uma história de que me lembro bem.
Fui fazer a 4ª classe a Oliveira do Bairro. Estive dois anos no colégio de Oiã e depois fui para o Liceu de Aveiro, onde estive cinco anos e fiz sempre parte do orfeão.
Dos 120 alunos que em Julho de 1939 fizeram exame de admissão à Universidade eu fui um dos 50 que passei. Tinha 18 anos.
Aos 20 anos fiz a inspecção militar e fiquei apurado. Se reprovasse um ano já sabia que seria incorporado. Lá fiz o meu curso sem sobressalto e terminei em 1945.”
2-Medicina
“Em 1946, como podia frequentar o Hospital da Universidade até Fevereiro o que é que eu fiz? Pensei: Eu vou ser médico da aldeia, vou é aproveitar estes meses e vou para a maternidade praticar partos. Assim fiz, o que me deu um novo alcance na minha vida profissional. Fiz centenas de partos…
Comecei a fazer medicina por aqui, por Ouca, depois Palhaça e Nariz. Estive também em Oliveira do Bairro. Mais tarde o Dr. Pato pediu-me para me especializar como a anestesista, que precisava de um. Lá voltei para Coimbra para aprender. E aprendi.
Tive uma vida sempre muito ocupada.
Sempre gostei de ser médico mesmo no tempo das avenças. Agora toda a gente pensa em dinheiro, naquele tempo não. Havia uma ligação com as famílias que agradeciam o meu trabalho com milho, galinhas e outros bens.”
Depoimento recolhido por Belino Costa
(continua)
As palavras do dr. Jorge trazem-me 2 lembranças:
ResponderEliminar- Uma, muito marcante, dos tempos de garoto e já rapazola, em que acompanhava o Ti Carradas, o Ti Antero (então vizinho da frente) e o Heitor Carvalho (vizinho do lado) no "peditório" pelas ruas. Andávamos com uma carreta e umas folhas azuis, de 25 linhas, onde eu apontava os pagamentos, a recolher o preço do trabalho do meu pai. Eram dias e dias que não acabavam mais, por Bustos e por lugares e freguesia à volta (lembro-me de Samel).
Tudo era pago em batatas, milho, cebolas, abóboras, feijões e etc.
O "etc" era fundamental, pois não dispensávamos um copito de vinho nas casas escolhidas a dedo pelo Ti Carradas, que lá ia sabendo de antemão onde a pinga era melhor...
Quando era miúdo e rapazola, tive a sorte de ter grandes "colegas" e melhores mestres, Gente de Bustos que me deu grandes lições de vida e de amor à Liberdade e à Igualdade.
- A 2ª recordação tem que ver com um dos 1ºs actos médicos do dr. Jorge como "parteiro", o qual passou por em 1948 me ter dado à luz, a bem dizer.
Se me der para isso, pode ser que conte a história lá no Forum.