18 de julho de 2008

JORGE NELSON: A ORIGEM DO NOME

Jorge Nelson Simões Micaelo, filho de António Simões Micaelo e Rosa dos Santos Silva, nasceu em Bustos pelas duas horas da madrugada do dia 10 de Fevereiro de 1921.

As referências que encontramos no livro de fim de curso (aqui publicado no passado dia 14) dizem-nos que, pelo menos em Coimbra, o nome de Jorge Nelson era associado ao do grande almirante inglês que, em 1805, comandou a frota inglesa na batalha naval de Trafalgar.

“Ao Micaelo do Trafalgar” escreve o colega e amigo José Maria Atentista, enquanto Ramos Lopes dedica os versos que escreveu ao “ao velho Almirante”. A esta natural associação de nomes veio Ulisses Crespo contrapor uma nova explicação, num texto aqui publicado em 11 de Novembro de 2006.

Segundo o “cronista da vila” foi o padrinho, Manuel Reis Pedreiras, que escolheu o nome do petiz em homenagem ao Tenente George Nelson Smith. Vale a pena voltar a recordar esse interessante texto ainda que até agora, e apesar das muitas consulta realizadas, não tenhamos encontrado documentação ao qualquer referência que comprove a existência do referido tenente, alegado membro do exercito inglês durante a 1ª Grande Guerra.


Foto de Benoliel/Arquivo Municipal de Lisboa


MANUEL REIS PEDREIRAS & ANTÓNIO OLIVEIRA CRESPO

PRISIONEIROS EM LA LYS

Relato de uma história, narrada por um dos seus protagonistas [1] na esplanada da Cervejaria Imperial, no Alto Mahé, em Lourenço Marques (Maputo).

Soavam os clarins a anunciar às nossas tropas que iriam participar com as forças aliadas na primeira Guerra Mundial em França. Do contingente faziam parte pessoas de Bustos. A saber, Manuel Simões Mota, Manuel António Martins, Manuel António Ferreira, Álvaro de Oliveira Canão, António de Oliveira Crespo e Manuel Reis Pedreiras os quais foram distribuídos por diversas companhias.

Acontece que, António de Oliveira Crespo e Manuel Reis Pedreiras, são destacados para La Lys, onde a 9 de Abril de 1918 teve lugar um cruento combate com as forças alemãs. As tropas portuguesas sofreram grandes baixas. Enquanto os que puderam, fugiram em debandada, o Manuel Reis Pedreiras e o António de Oliveira Crespo, foram feitos prisioneiros.

Ora, naqueles campos irregulares, lamacentos e escabrosos era impossível o acesso, quer a ambulâncias quer de qualquer carro ligeiro, o inimigo resolveu utilizar os prisioneiros como transporte humano dos seus feridos.

A guerra e o instinto de sobrevivência aguçam o valor e a astúcia dos homens, levando-os a cometer actos heróicos. Assim aconteceu com os nossos conterrâneos. Assim, o primeiro a ser submetido foi o António que, debilitado e faminto, além do fardo do inimigo, levava também o armamento e a marmita atestada de comida.

Durante o trajecto, o ingrato ferido, não cessou de golpear na cabeça o seu transporte e de o buzinar com "Durch deine schuld feizer', como quem diz, "é por tua culpa que estou aqui ferido". O Crespo, extenuado e irritado com a ingratidão da sua humana carga, perdeu a cabeça e, ao passar por uma ribeira com um pontiIhão formado por três troncos de árvore, lança o infame à ribeira.

A FUGA

Acto contínuo, liberta-o do armamento e víveres, abandona-o sem olhar para trás e parte em busca do companheiro. Caminha ao acaso, a fome e o medo são a sua única companhia. Pouco tempo depois, avista o Reis Pedreiras submetido ao mesmo suplício. Aproxima-se sorrateiramente e, com a arma em riste, ordena ao amigo que se alije da sua carga. O Manuel, ainda o tenta dissuadir do seu intento e fazer-lhe ver as consequências que daí poderiam advir. Inabalável, o Crespo, repetiu a ordem com cara de poucos amigos e, contundentemente, rematou, "É tempo de viver ou morrer, vamos optar pela primeira." Quando isto ouviu, o Reis Pedreiras, liberta-se do abominável fardo, apodera-se do seu armamento e provisões e encaminharam-se para o abrigo da mesma fatídica trincheira. , enquanto saciam a fome, são surpreendidos pelo barulho dos blindados inimigos que inspeccionavam os terrenos circundantes juncados de cadáveres.

Os dois intrépidos camaradas, guiados pelo medo, lançam mãos das armas e correm tresloucados ao longo da trincheira disparando ao acaso simulando, deste modo, vários atiradores. Assim o supôs o inimigo que, receando um ataque do contingente, optou pela retirada.
Os dois camaradas, viram com júbilo a retirada do inimigo e congratularam-se pelo êxito da sua estratégia. Fortalecidos pelo êxito e com o moral em alta, deixaram a execrável trincheira tal bravos leões saídos da espessura da floresta.

"Oh, Crespo, acelera o passo! Não venham por os Teutões em nosso encalço”.

Longo foi o tempo que caminharam sem destino através de campos devastados pela guerra. Caminhavam resolutos em busca de libertação, animados com a esperança de encontrar os camaradas ou algum sítio onde pudessem descansar.

Como prémio da sua constância, tiveram a felicidade de serem interceptados por uma patrulha militar inglesa, comandada pelo tenente George Nelson Smith o qual lhes deu todo o apoio. Depois, foram levados para o acampamento português onde, após o expediente de rotina, relataram a sua epopeia.
Em Portugal, as famílias soçobravam com falta de notícias.
Quando as partes litigantes acordaram terminar a guerra, os audazes combatentes regressaram à sua terra na qual foram recebidos com festa, não pelo seu heroísmo ou pela extraordinária epopeia vivenciada, mas com a alegria de terem voltado com vida de tão sangrento conflito.


JORGE MICAELO (Dr.) AFILHADO DE MANUEL REIS PEDREIRAS
Manuel Reis Pedreiras, oriundo de família mais abastada, foi recebido com outros e melhores atavios. Algum tempo depois, a sua irmã Rosa, casada com António Simões Micaelo (António Simão) dava à luz um filho e convidou o Manuel para padrinho (no registo civil). Convite que prazenteiramente aceitou. Ao infante foi posto o nome de JORGE NELSON em homenagem ao comandante inglês do mesmo nome.
Eis, pois, explicada a origem de JORGE NELSON, de família SIMÕES MICAELO o qual viria a ser, dezenas de anos mais tarde, o primeiro médico formado em Bustos.


NOTA À MARGEM
Se este episódio tivesse ocorrido com militares de alta patente, em vez de obscuros soldados rasos, talvez tivessem sido condecorados. Todavia, na vida sempre houve "dois pesos e duas medidas" e o povo anónimo, faz a história, mas dela é excluído.
Estes tiveram a glória de contar a sua história a este modesto cronista que, aqui a relata em sua homenagem.


Em homenagem À GENTE DE BUSTOS.

Ulisses de Oliveira Crespo, cronista da vila.

[1] António Crespo

3 comentários:

  1. Anónimo16:24

    Parabens Cronista, e Obrigado Combatentes!

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  2. Anónimo17:28

    isto é que eram uns eroles

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  3. Anónimo19:01

    Olhe lá ó porco das 17:28, para você ter a liberdade que tem hoje houve um sem fim de pessoas anónimos como os deste exemplo que deram a vida por essa mesma liberdade. Parece que até um porco tem mais memoria que você!

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