20 de setembro de 2006

VINDIMAS

De um lado avança em desordem o arvoredo e o mato. Do outro espreitam os jovens eucaliptos, fogosos como cavalos de assalto. A vinha resiste ao cerco, mas também à incúria e ao abandono. Há uma triste melancolia que se espalha pelo pequeno vale. Até os pássaros se escondem e as magras uvas que pendem das videiras parecem acossadas. Os bagos negros estão baços de tão amargurados.


O que terá acontecido ao campo idílico descrito por Garrett? E à paisagem deleitosa, amena, onde a simetria das cores e o cantar dos rouxinóis se conjugam com beleza, a ponto de inspirarem a paz e o sossego do espírito? Para onde foi a harmonia que a não encontro?


O campo já não é mais um jardim cuidado. É isso que choca, magoa e entristece. Há neste desleixo um tal desprezo que, apesar das cepas continuarem alinhadas e as carreiras de arame seguras e firmes, se percebe que a presença humana já por ali é rara. E que as silvas acabarão por dominar a enxertia.

Belino Costa

1 comentário:

  1. Vinhedo já foi chão que deu uvas.
    Convenhamos que Bustos não têm solos de qualidade para tintos (a excepção são as terras altas dos Fornos e o Barreirão). E o mercado de vinhos está saturado, estando acessíveis óptimos vinhos a preços muito competitivos, nalguns casos ao nível dos nossos preços correntes.
    Restar-nos-há apostar nos brancos e dedicar as terras "milhanzeiras" a outras culturas, mais ávidas de humidade.
    No próximo ano vou arrancar o que resta do tinto; fico com algum branco, que vindimo a 12º/12,5º, como me aconteceu este ano.
    Só a carolice e o gozo que me proporciona permitem que não arranque tudo.
    Que fazer aos 16.000m2 de terreno, ali no Portinho da Mamarrosa? Florestá-lo com espécies tradicionais e bem portuguesas?
    Estou a pensar em aconselhar-me junto do nosso Pres. da Junta, que deve saber da poda, como o indica o bota a baixo do arvoredo junto ao colégio...

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