30 de setembro de 2006

A CASA DA FREGUESIA E AS SUAS ASSEMBLEIAS (respondendo ao Alcides Freitas, bustuense de gema)

Por cá, Alcides, a democracia ainda tem muitos passos para dar, sobretudo no chamado "Portugal profundo".
À Junta de Bustos custa dar explicações, ouvir, discutir segundo as regras do jogo democrático, partilhar ideias e, quando válidas, acolhe-las, fazendo suas as armas do adversário político.
Até na América do Bush e apesar dele, essas regras já estão enraizadas, interiorizadas. É um pouco como respirar e ai daquele que ousar roubar esse ar vital: no dia seguinte, é trucidado na praça pública (os media não perdoam).
Lá chegaremos, lá chegaremos, que isto também não pode ir à pancada.
O Povo é sereno, com dizia um 1º Ministro dos anos da brasa.
Mas ele há factos políticos que não são para deixar cair em saco roto. Ai isso é que não!
Hão-de seguir-se explicações dos factos.
*
oscardebustos

29 de setembro de 2006

ENDIVIDAMENTO MUNICIPAL

O Governo divulgou a lista das 70 câmaras que perdem capacidade de endividamento na sequência da proposta de revisão da Lei de Finanças Locais. A Câmara Municipal de Oliveira do Bairro não consta da lista divulgada pelo Governo.

Municípios: percentagem utilizada do limite proposto:
ALPIARÇA: 157% AMARES: 171% ANSIÃO: 112% ARMAMAR: 170% AVEIRO: 216%BARREIRO: 117% CALHETA (SÃO JORGE): 196% CARRAZEDA DE ANSIÃES: 169%CASTANHEIRA DE PÊRA: 181% CASTELO DE PAIVA: 195% CELORICO DA BEIRA: 181%CHAMUSCA: 109% CONDEIXA-A-NOVA: 108% COVILHÃ: 227% ESPINHO: 101% FARO: 101% FIGUEIRA DA FOZ: 147% FORNOS DE ALGODRES: 137% FUNDÃO: 168% GOUVEIA: 161% GUARDA: 136% LAJES DAS FLORES: 205% LISBOA: 158% MACHICO: 198% MAIA: 180% MANTEIGAS: 120% MARCO DE CANAVESES: 267 % MESÃO FRIO: 104% MOIMENTA DA BEIRA: 104% MONÇÃO: 124% MONCHIQUE: 117% MONDIM DE BASTO: 175%MONTEMOR-O-VELHO: 173% MOURÃO: 177% MURÇA: 120% NAZARÉ: 107% ODIVELAS: 157% OLIVEIRA DE AZEMÉIS: 133% OLIVEIRA DE FRADES: 107% OURÉM: 110%OURIQUE: 178% OVAR: 101% PAREDES DE COURA: 122% PORTALEGRE: 115% PORTO MONIZ: 113% POVOAÇÃO: 107% REGUENGOS DE MONSARAZ: 119% RIBEIRA GRANDE: 116% RIO MAIOR: 125% SANTA COMBA DÃO: 150% SANTARÉM: 159% SÃO PEDRO DO SUL: 194% SÁTÃO: 127% SEIA: 164% SEIXAL: 121% SESIMBRA: 130% SETÚBAL: 131% SINES: 192% SOURE: 112% TAROUCA: 102% TORRE DE MONCORVO: 114% TORRES NOVAS: 144% TRANCOSO: 124% VALE DE CAMBRA: 185% VELAS: 180% VILA DA PRAIA DA VITÓRIA: 131% VILA DO CONDE: 164% VILA FRANCA DO CAMPO: 194% VILA NOVA DE POIARES: 172% VOUZELA: 147%.

POSTO DE LEITE - Procura-se

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28 de setembro de 2006

"SONDAGEM" - 'EM QUAL DAS SEGUINTES ÁREAS CONSIDERA SER MAIS IMPORTANTE A CÂMARA INVESTIR?



Sobre o sítio – electrónico da Câmara Município de Oliveira do Bairro [CMOB] aqui
1) O jovem sítio-e CMOB da merece aplauso. Em nome da informação aberta ao arco-íris da população.
2) Viajando por este sítio-e da deparam-se algumas falhas que provavelmente serão colmatadas. Por exemplo sobre o Pólo de Leitura de Bustos [ex-Biblioteca da Fundação Calouste Gulbenkian nº 26]
3) O gráfico referente à “sondagem” não indica o universo dos votantes e segundo parece, o mesmo cibernauta pode votar mais do que uma vez. Daí não ser possível fazer uma apreciação fundamentada no desenho do gráfico.
4) O gráfico circular não traduz exactamente a distribuição percentual das opções escolhidas pelos votantes.
5) Para além da sondagem, é tempo do município pôr em cima da mesa de trabalho a vontade política de avançar com o adormecido projecto de rodovia de grande ciculação na direcção nascente-poente do concelho que sirva o Barreirão.
(sérgio micaelo ferreira)

SUBMUNDO & UDB - LADO A LADO

UDB & SUBMUNDO- EM UNIÃO

Segundo informação de fonte fidedigna, o ‘UDB’ treina no campo do ‘ARVISCAL’.
Para discussão:
Este campo do ‘ARVISCAL’ poderia ser integrado no Estádio Municipal do centro-oeste do concelho ao serviço dos clubes da área?
srg

CASA DA FREGUESIA TEM ASSEMBLEIA (Sexta-feira, dia 29, a partir das 20H00)




Assembleia de Freguesia de Bustos
CONVOCATÓRIA

Mário Reis Pedreiras, Presidente da Assembleia de Freguesia de Bustos, de acordo com o Regimento em vigor e ao abrigo do art.° 24 convoca uma Assembleia Ordinária, a realizar no próximo dia 29 de Setembro de 2006, pelas 20 horas, nas Instalações da Junta de Freguesia, (Rua Jacinto dos Louros n.º 6) com a seguinte ordem de trabalho:

A) Período "Antes da Ordem do Dia":
1 – Actividades da Junta de Freguesia;
2 – Outros assuntos de interesse para a Freguesia.

B) Ordem do Dia:
Ponto 1 – 1ª revisão ao plano plurianual de investimento e respectivo orçamento para o ano económico de 2006

C) Período de Intervenção Aberto ao Público.

Bustos, 12 de Setembro de 2006

O Presidente da Assembleia de Freguesia

(Mário Reis Pedreiras).

27 de setembro de 2006

RESTAM OS TRABALHOS DA MEMÓRIA, SEMPRE! ... (MLM)

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10.08.1947 * CARLOS LUZIO * 27.09.2004

AMA-ME, APENAS AMA-ME

Rasga-me a carne
E não te importes se me fazes mal,
Ama-me, apenas ama-me,
Chora, suspira e ri
Que eu vivo só para ti.
Abraça-me com paixão
Sem pensar no futuro
E menos ainda no passado,
É tudo tão belo, tão puro,
Que nada pode ser olvidado,
Morde-me, mata-me de uma só ferrada
Que, para mim, tudo está bem feito,
Puxa-me os cabelos do peito
Que, contigo, não me dói nada,
Mas ama-me, apenas ama-me!
Não me deixes ir jamais,
Deixa-me seguir os teus passos
E deixa-me amar-te cada vez mais.
Aprisiona-me nos teus braços,
Não temas se te agarro
Nem te esquives se te toco,
Descontai-te, fuma do meu cigarro
E deixa-me beber do teu copo.
E quando te sintas deprimida,
Não importa a hora, chama-me,
Pois, já que entrei na tua vida,
Ama-me!
Apenas ama-me!

Caracas
23.Novembro.1984
Carlos Luzio, Pescador de Sonhos, 2005

26 de setembro de 2006

QUASE TUDO NADA EM CANTANHEDE

Sábado, 23 de Setembro, Biblioteca Municipal de Cantanhede. Dois momentos da apresentação de "Quase Tudo Nada", narrativa de Arsénio Mota galardoada com o prémio literário Carlos de Oliveira. A cerimónia contou, no final, com um breve momento musical (guitarra de Coimbra), a que se seguiu uma sessão de autógrafos.

Fotos de Carlos Micaelo

24 de setembro de 2006

VINDIMAS II: A PINGA




Óscar Aires dos Santos é um competente advogado e um cidadão com uma larga folha de serviços no capítulo da participação cívica e política. Questões que não interessam a esta crónica porque o advogado, o activista político, o dirigente associativo são apenas facetas de alguém que é apenas e tão só, um agricultor. Terra à terra, em comunhão com a natureza e os animais, capaz de andar às rolas nas noites mais frias.
Há no Óscar uma dimensão rural que o impele a conduzir o tractor, a andar pelos pinhais a cortar o mato, que o leva a tratar com desvelo cada cepa da sua vinha no Portinho. E por desvelo, paixão profunda, arrebatamento agrícola esparrou, mais do que seria necessário, as cepas herdadas do pai, Manuel Joaquim “Ferrador”.
Acontece que as videiras não suportam excessos românticos e as uvas são frágeis de tão femininas. Sim, há coisas tão importantes quanto uma boa poda. Mas quem sou eu para ensinar um professor, aquele que recusa a ráfia atando sempre as vinhas com verga original.

Adiante.

A esparradela apaixonada, excessiva, teve uma consequência trágica já que a produção vinícola revelou ser a mais baixa de todo o sempre. A coisa ficou-se pelos vinte seis baldes, quase nada.

Para mim, que ansiava retemperar as narinas com o cheiro do mosto, foi um duro golpe deparar com tão minguada realidade. Uma razia. Espreitei os dois palmos de uvas no fundo do lagar e percebi que estava perante um complexo desafio.

Foi um momento difícil, confesso-o. Sentindo quão dolorosa era a situação fiquei imóvel, atónito. Depois, intimidado por dois barris que de boca aberta me olhavam severamente, virei costas, fugi para a porta da adega. De camisa aberta, qual druida na fabricação da poção mágica, irremediavelmente optimista, o Óscar sentenciou sem deixar margem para dúvidas:
- É pouco mas de qualidade. O branco tem doze graus, vai dar uma boa pinga.
Pois, também o Asterix acreditava que o céu lhe podia cair em cima da cabeça, cogitei. É que sempre ouvi dizer que não basta ter uvas para se fazer um bom vinho. Sendo que também me disseram que até de uvas se faz tintol.
Vendo o olhar brilhante, a eloquência do bigode, o gesto convicto do meu anfitrião abraçando toda a adega logo concordei:”Vai dar uma boa pinga.”

Nesse dia ao chegar a casa, só por mera precaução, acendi uma velinha ao S. Martinho…

Belino Costa

23 de setembro de 2006

DOMINGO - BUSTOS REGRESSA À MAMARROSA

DOMINGO – BUSTOS REGRESSA À MAMARROSA
A actual distribuição da população, a facilidade de comunicação entre povos vizinhos, a proliferação dos simplex-meios e a necessidade de se poupar o dinheiro dos contribuintes dispendido com a actual máquina autárquica serão (ou não) os argumentos que fundamentam a próxima revisão administrativa de Portugal.
Mas não é o regresso à freguesia da Mamarrosa que agora está em causa.
Esse será o barulho para outra ocasião… se a tal revisão for por diante.
Por continuar em obras o campo Dr. Manuel Santos Pato, no próximo domingo, o “Bustos – União” vai defrontar o “S. Roque”, no Campo do Gorgulhão (Portinho-Mamarrosa). para disputar o jogo da 2ª jornada de Futebol da 1ª Divisão Distrital.
Mister Quim Tavares e seus artilheiros estão na disposição e têm garra para arrecadar os três pontos em disputa.
..
1ª jornada: Arrifanense – UDBustos (2– 1)
Rescaldo:

O Arrifanense mandou no jogo durante a primeira parte graças à aparente apatia do Bustos. Durante o intervalo Mister Quim Tavares espevitou e animou os seus pupilos de tal maneira que o Bustos na segunda parte tomou conta das operações e a fechar os noventa minutos de jogo só não conseguiu o empate porque as leis da balística impediram que uma bola após ter batido num vértice da baliza tivesse ressaltado mas não se dispusesse a acariciar as malhas do empate.
O Mister Quim T tem equipa para se manter na primeira.
....
Para registo.
Jogaram na Arrifana (17.09.2006)
Nuno Lopes; Rui, Guedes, Mega (Génio, 70 min.); Hugo Tavares, Christophe, Nuno Amaral, Cristian, Hélder (João Gonçalves, 75), Gabriel, Nuno Cardoso (Sampaio, 80). Golo – Nuno Cardoso (75 min.)
Até domingo, na Mamarrosa do Gorgulhão.

sérgio micaelo ferreira


21 de setembro de 2006

FÉRIAS CUMPRIDAS - BIBLIOTECA ABERTA

A propósito de livros.
Quase Tudo Nada (de Arsénio Mota) - 1º prémio literário de Carlos de Oliveira/2006 - tem apresentação marcada para o próximo dia 23, pelas 17 horas na Biblioteca Municipal de Cantanhede.
É uma iniciativa do Centro de Estudos Carlos Oliveira, € patrocinada pela Câmara Municipal de Cantanhede.
Bustos tem por hábito marcar presença. A tradição irá manter-se.
(sérgio micaelo ferreira)

20 de setembro de 2006

VINDIMAS

De um lado avança em desordem o arvoredo e o mato. Do outro espreitam os jovens eucaliptos, fogosos como cavalos de assalto. A vinha resiste ao cerco, mas também à incúria e ao abandono. Há uma triste melancolia que se espalha pelo pequeno vale. Até os pássaros se escondem e as magras uvas que pendem das videiras parecem acossadas. Os bagos negros estão baços de tão amargurados.


O que terá acontecido ao campo idílico descrito por Garrett? E à paisagem deleitosa, amena, onde a simetria das cores e o cantar dos rouxinóis se conjugam com beleza, a ponto de inspirarem a paz e o sossego do espírito? Para onde foi a harmonia que a não encontro?


O campo já não é mais um jardim cuidado. É isso que choca, magoa e entristece. Há neste desleixo um tal desprezo que, apesar das cepas continuarem alinhadas e as carreiras de arame seguras e firmes, se percebe que a presença humana já por ali é rara. E que as silvas acabarão por dominar a enxertia.

Belino Costa

19 de setembro de 2006

U.D.B: OBRAS AVANÇAM



As obras avançam em bom ritmo no velhinho campo Dr Santos Pato. Os novos balneários estão práticamente prontos e o novo tapete verde já se estende pelo terreno do jogo.

14 de setembro de 2006

CANTANHEDE, 23 SETEMBRO - DIA DE AUTÓGRAFOS DE ARSÉNIO MOTA

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LABICER RENOVA APOIO AO OLIVEIRA DO BAIRRO

A notícia do JB começa assim:

“A Labicer - Laboratório Industrial Cerâmico SA, sediada em Bustos e o Oliveira do Bairro formalizaram, por mais uma época, o contrato de patrocínio para a equipa de futebol sénior, o que acontece pelo terceiro ano consecutivo, numa cerimónia em que o cube deu a conhecer as linhas mestras para a nova época desportiva.”
O texto prossegue referindo a satisfação (quando não o júbilo) de todos os intervenientes:
“Na cerimónia, que decorreu no Hotel Paraíso, Óscar Santos, presidente da mesa da Assembleia-Geral do Oliveira do Bairro, não escondeu a sua satisfação, diga-se, redobrada, pelo facto de ser bustuense, local onde a empresa está instalada. “A Labicer é uma empresa de ponta, no mercado da indústria de revestimentos cerâmicos, de grande prestígio, não só no concelho, mas também a nível nacional e internacional”.
Aquele dirigente espera que este “casamento” traga para ambas as partes grandes benefícios, enquanto que sobre os montantes, ainda que ninguém os tenha divulgado, Óscar Santos referiu que “é uma receita de peso para o Oliveira do Bairro, minimamente confortado com este patrocínio”.
Noutro âmbito, o presidente da Assembleia-Geral rejubilou com o facto de, pela primeira vez, os três órgãos sociais do clube se fazerem representar por elementos do concelho: “O Oliveira do Bairro é um clube representativo do concelho. É uma mais-valia da qual ninguém se pode dissociar”.

Logo depois, na paz do Paraíso, no conforto da comunhão municipal, Tiago Louro, em nome da Comissão Administrativa do Oliveira do Bairro, elegeu o apoio da Labicer como“o melhor reforço da época”. Não de um dos clubes desportivos do nosso concelho, mas daquele que é o clube dos clubes, o maior e mais importante entre todos eles, aquele que a todos representa. E por assim pensar, satisfeitíssimo, Tiago Louro proclamou com emoção e eloquência:
“Este apoio é um apoio, não a uma instituição, mas sim um apoio a um concelho inteiro.”
Ainda bem que nos avisa, e desde já agradecemos a parte que nos caberá. Rejubilando de alegria e redobrada satisfação.

BC

12 de setembro de 2006

O AUTOMÓVEL DO SENHOR VISCONDE

O automóvel do Sr. Visconde com Júlio Barreiro, ao volante, tendo ao lado o Fabiano, da Póvoa.

No banco traseiro vê-se Manuel Ala e duas senhoras não identificadas

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Depois de implantada a República António Duarte Sereno continuou a ser cerimoniosamente tratado por Senhor Visconde (título com que foi agraciado em 1908). Nem os seus adversários políticos, por mais republicanos que fossem, deixaram de o tratar com tal deferência. Pois se o título fora devidamente pago pertencia ao homem, era propriedade incontestada, independentemente da abolição da Monarquia.

Quem não se conformou com as mudanças do 5 de Outubro de 1910 foi o Senhor Visconde que logo se empenhou na luta contra a República, tendo-se envolvido em vários golpes e atentados contra o novo regime, motivos que o levaram a passar curtas estadias na prisão. O jovem regime era generoso para com os seus adversários. A ponto de “O Democrata”, semanário republicano de Aveiro, escrever com manifesta ironia na edição de 19 de Abril de 1919:

“Continuam a esgueirar-se dos presídios onde se encontram os responsáveis pela última aventura monárquica. Como meio de não darem trabalho ao governo achamos óptimo”

Foi por essa época que António Duarte Sereno passou, provavelmente, o pior momento da sua vida de conspirador anti-republicano. Aconteceu com a queda da Monarquia do Norte, também conhecida por traulitânea, quando o exército monárquico de Paiva Couceiro foi derrotado no combate das Barreiras, em Águeda (mais precisamente entre Recardães e Serem). Corria o mês de Janeiro de 1919 e naqueles dias de incerteza o medo tomou conta do povo:

“Passam-se dias de pânico porque a fuzilaria e o canhão troam e as horas são incertas. A toda a pressa se mobiliza tudo. O Estado-maior mandou evacuar as casas próximas de Monte Castro (Anadia), essas famílias vieram para casa de familiares que tinham em Vagos e daí surgiu a ideia que os boateiros aproveitaram; que uma linha de homens vinha do sul para o norte com o fim de agarrar todos os homens válidos para irem para a guerra. Eu andava no trabalho e desconhecia tudo o que se passava. Fui chamado pela minha mãe que me mandava regressara casa para fugir, era o recurso que havia. Regresso e o que vejo! – Pelas ruas de Bustos era o maior dos pavores, homens que corriam no sentido norte, mulheres e crianças numa gritaria intensa, davam a impressão de loucas e possessas, ou era como esperassem as ondas de um novo dilúvio, tal era o seu pranto vincando as suas faces aterrorizadas.” (VRP, Memórias, pag 29,30)

Enquanto em Bustos se multiplicavam os gritos, a fuga desesperada e tonta, na estação de Caminhos-de-ferro de Oliveira do Bairro Jacinto Simões dos Louros, por seu “oferecimento ao comando militar do 2º Regimento de Setúbal”, juntamente com um grupo de civis (Grupo de Defesa da República), fazia a descarga do material de guerra para ali enviado pelas tropas fiéis à República, assim contribuindo para uma decisiva vitória.

A derrota do exército monárquico constitui um duro golpe nas ilusões restauracionistas de António Sereno que, por temer represálias, fugiu de Bustos, partiu no seu automóvel a toda a pressa, indo refugiar-se em terras de Espanha. Júlio Barreiro (Cagarote), seu mecânico e motorista, conduziu o Chevrolet na viagem mais tensa e perigosa que alguma vez realizara.
Não sabemos em que ano foi comprado o automóvel mas, a avaliar pela fotografia, tratava-se de um Chevrolet 490, de 1916, cuja sigla correspondia ao preço de catálogo. Dispunha de um motor com quatro cilindros, uma cabine para cinco pessoas com volante à esquerda, jantes de madeira, refrigeração por água, estando dotado de instalação eléctrica. Uma máquina que não falhou no decisivo momento da fuga para Espanha.

Belino Costa

COMISSÂO DE MELHORAMENTOS - SATISFEITA

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UMA ASPIRAÇÃO SATISFEITA PELOS C.T.T. (1)

– A partir do próximo dia 1.° de Dezembro terão os bustuenses uma antiga aspiração satisfeita pela administração dos C. T. T.. Trata-se da aplicação dum horário mais moderno para a retirada da correspondência do receptáculo postal, que agora se fazia até às 17,15 horas e que, mediante as providências tomadas, passará a fazer-se até às 20 horas de cada dia.

Na realidade, não fazia sentido nem estava bem que, numa localidade onde a distribuição domiciliária da correspondência termina pelas 15 horas, a saída das malas se efectuasse tão prontamente. Os comerciantes e industriais de Bustos mais importantes iam, quase diariamente, levar suas cartas aos comboios (a Aveiro ou O. do Bairro) o que representava despesas e perdas de tempo supérfluas.

Em atenção a uma exposição feita pela Comissão de Melhoramentos local, que a administração dos C.T.T. aprovou, o público passará a beneficiar do pretendido alargamento a partir do próximo dia 1.º de Dezembro.


INAUGURAÇÃO DUMA SALA DE LEITURA
– Vai inaugurar-se brevemente nesta localidade uma acolhedora sala de leitura, arranjada e mobilada a expensas da Comissão de Melhoramentos, que vem preencher uma lacuna no campo da divulgação dos hábitos de leitura e da difusão cultural. A acção de tal sala de leitura (mais tarde talvez venha a transformar-se em Biblioteca) promete ser intensa e extensa, no âmbito da freguesia. Premedita-se a realização de ciclos de palestras, exposições, sessões de leitura, etc.

É pena que esta sala não pudesse inaugurar-se contando com mais valioso património bibliográfico, que faria dela, pelo menos, uma verdadeira Biblioteca, posto que em formação. Mas aqueles que o poderiam determinar, não quiseram... Aproveitou-se a boa vontade da benemérita Fundação Gulbenkian, que se dispôs a dotar a sala com uma Biblioteca Fixa.
...
(27-11-1960)
(in Jornal Independência de Águeda, 3-12.1960 - pelo correspondente de Bustos, Arsénio Mota)
...
comentário:
(1) Bustos, situado na periferia, sofreu vicissitudes para ter comunicações que colmatassem algumas das necessidades locais. Já no post-24 A, a SOBUSTOS teve de reinvindicar a manutenção do horário alargado de funcionamento da estação dos correios.
Hoje, os CTT continuam alheios à instalação do serviço de internet, além de não se preocuparem em vistoriar o estado de conservação do edifício. Ou será que os CTT estão a pensar em fechar a estação e entregar o serviço à Junta de Freguesia, em nome do lucro?
sérgio micaelo ferreira

11 de setembro de 2006

MEMÓRIA: ANTERO QUENTAL

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Noturno

Espírito que passas, quando o vento
Adormece no mar e surge a Lua,
Filho esquivo da noite que flutua,
Tu só entendes bem o meu tormento...

Como um canto longínquo – triste e lento –
Que voga e sutilmente se insinua,
Sobre o meu coração que tumultua,
Tu vestes pouco a pouco o esquecimento...

A ti confio o sonho em que me leva
Um instinto de luz, rompendo a treva,
Buscando. entre visões, o eterno Bem.

E tu entendes o meu mal sem nome,
A febre de Ideal, que me consome,
Tu só, Gênio da Noite, e mais ninguém!
(A. Q.)

ORFEÃO DE BUSTOS - CORPOS SOCIAIS (2006-2007)


Nota: Por ter havido lapso na composição gráfica da relação dos membros dos corpos sociais do Orfeão de Bustos, NB faz a devida rectificação. As nossas desculpas.
(sérgio micaelo ferreira)





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COMISSÃO MELHORMENTOS - UM REGISTO EM LiVRO

Anos 60: aragem de progresso

Os anos 60 trouxeram aos Bustuenses uma aragem de progresso, que se fez sentir logo no fim de 1959 mas frutificou já em 1960, com diversas iniciativas marcantes.

Distinguiu-se, nesse aspecto, uma Comissão de Melhoramentos formada na altura por um escasso grupo de ardorosos bairristas. Essa Comissão de Melhoramentos, funcionando como mero «grupo de pressão», conseguiu desenvolver uma acção dinamizadora que deixou boa memória, apesar de não ter apoios nenhuns para além dos que lhe eram dados pelos seus próprios elementos.

Um dos primeiros actos públicos daquela Comissão, formada ad hoc, consistiu na homenagem promovida, em 18/2/1960, a Jacinto Simões dos Louros e dr. Manuel dos Santos Pato, então ainda vivos, o primeiro por se ter destacado no processo da desanexação de Mamarrosa e o segundo por se ter destacado na criação da paróquia na nova freguesia.

A Comissão de Melhoramentos, integrada pelos drs. Assis Francisco Rei e Jorge Nelson Simões Micaelo, eng.º Manuel dos Santos Pato, o escriba destas linhas e outros elementos, bateu-se pela satisfação de numerosas carências da terra, nomeadamente por um colégio, uma biblioteca pública, um posto da GNR, um jornal, uma dependência bancária, a nova igreja, etc.
Um tanque-piscina de notáveis dimensões ficou aberta ao público, anexa ao café Central, de Rodolfo dos Reis.

Foi possível concretizar o projecto da biblioteca pública, a que meteu ombros a própria Comissão de Melhoramentos, abrindo uma Sala de Leitura em 18/2/1961.
O colégio «apareceu» no fim de 1961, com o nome de Externato de Gil Vicente; o posto da GNR começou a funcionar em 22/3/1964, embora fosse reclamado desde uns quinze anos antes; a nova igreja foi inaugurada em 8/12/1964...

Algo, enfim, se fez em poucos anos, após duas décadas de relativo adormecimento. Evidentemente, o jornal projectado ficou no limbo, sem autorização oficial (até ao 25 de Abril!), a dependência bancária demorou ainda um pouco mais, atrofiou-se a própria Comissão de Melhoramentos a partir de 1963... Mas os Bustuenses recomeçaram a olhar de frente os seus problemas colectivos e a unir forças. Os resultados apareceram e viram-se. Perduram.

(…)
(parte transcrita, com a devida vénia)

COMISSÃO DE MELHORAMENTOS NO CENTRO RECREATVO - MEMORÁVEL

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COMISSÃO DE MELHORAMENTOS DETERMINADA

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COMISSÃO DE MELHORAMENTOS APELA

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COMISSÂO DE MELHORAMENTOS - HOUVE E FEZ

transcrição
SÍNTESE DOS PRINCIPAIS ACONTECIMENTOS DE 1960

• APARECIMENTO DA COMISSÃO
Uma semana antes do 1. ° de Janeiro de 1960 apareceram, em profusão. pelas mesas dos cafés, pelas ruas, pelas paredes, prospectos convocando a população da freguesia para uma Assembleia Geral, a realizar, naquele dia 1.°, no Salão do Bustos Sonoro Cine. O povo acorreu em massa ao convite dum novel Organismo local – a Comissão de Melhoramentos, promotora da Assembleia Geral – povo desejoso de encarar uma renovação séria da vida local. E, efectivamente, aquele 1.° de Janeiro foi o primeiro passo dum entusiasta movimento, o dealbar de novas esperanças.

• A ASSEMBLEIA GERAL
O vasto Salão encheu-se literalmente de ouvintes atentos.
No palco estavam algumas figuras do comércio e da indústria bustuenses, rodeando os seis promotores do novel Organismo, que, revesando-se no uso da palavra, esclarecera os ouvintes dos motivos que os levaram à sua criação, dissertaram sobre os seus objectivos, esquematizando um plano de actividades a largo prazo e respondendo às dúvidas e objecções que cada pessoa formulou. No final, perguntaram ao povo se achava útil a existência da Comissão e se lhe davam inteiro apoio; a resposta foi um vibrante SIM!

• COMO FUNCIONA A COMISSÃO
A direcção desta Comissão de Melhoramentos é composta por aqueles seis membros primeiros, a saber: Jorge Micaelo, médico; Assis F. Rei, lic. em farm.; Manuel S. Pato, engenheiro; Augusto S. Costa, comerciante; Graciano Lusio, agricultor; Arsénio Mota, jorna1ista, e por Manuel Augusto dos Reis, proprietário; Hilário Costa, proprietário, além de outros, que se reunem mensalmente para estudar os múltiplos problemas do engrandecimento da nossa Terra. Existe um Conselho de Freguesia que reune, anualmente, para verificar a acção desenvolvida pela Comissão.

• OBJECTIVOS DA COMISSÃO
A Comissão de Melhoramentos, por seu esclarecido desígnio, não toma sobre os ombros a iniciativa de realizar nenhuma obra concreta, posto que aceita a possibilidade de algum, ou alguns dos seus membros, individualmente, virem a intervir como interessados nas diversas realizações em perspectiva. A sua acção é sobretudo de coordenação e estudo das possibilidades de capital e trabalho existentes em Bustos, ou que em Bustos queiram estabelecer-se; fomento da iniciativa privada e sua planificação, tendo sempre em vista, como ideia predominante, os superiores: interesses da localidade.

• AS CELEBRAÇÕES DO 18 DE FEVEREIRO
O primeiro acto público da Comissão foi, significativamente, a comemoração do 40.º aniversário da fundação da freguesia, que nunca, até então, fôra festejado. O dia18 de Fevereiro passado foi, assim, dia de festa para a população de Bustos: o comércio, a indústria e todo o povo associaram-se às comemorações, manifestando perfeita compreensão do ideal que servimos. Cremos que doravante o dia 18 de Fevereiro será, em cada ano, um dia de confraternizantes, luzidos festejos! Bustuense! Associa-te, em espírito, às comemorações das principais efemérides nossas!

• HOMENAGEM A DOIS ILUSTRES CONTERRÂNEOS
As comemorações do aniversário notabilizaram-se pela homenagem, justa mas tardia, que, por iniciativa da Comissão, Bustos dedicou a dois fervorosos propugnadores do progresso local: Jacinto Simões dos Louros, a quem se deve a fundação da freguesia civil, e Dr. Manuel dos Santos Pato, a quem se deve a fundação da freguesia paroquial. Foram descerradas duas lápidas alusivas à homenagem, no átrio de Bustos Sonoro Cine, onde todos têm agora, diante da vista, provas de que a nossa Terra sabe galardoar quantos por ela se sacrificam!

Podemos enviar contra pedido e por empréstimo, gravações magnetofónicas da Assembleia Geral e da Homenagem

10 de setembro de 2006

COMISSÃO DE MELHORAMENTOS/1960 UM CATALIZADOR DO DESENVOLVIMENTO


Nota:
Documento cedido pelo Eng. Manuel dos Santos Pato dá a conhecer objectivos, composição e funcionamento da Comissão de Melhoramentos. De desatacar nesse impresso em folha A4 desdobrada em quatro páginas A5, a preocupação do grupo dinamizador em fazer chegar a Mensagem publicada “a todos os Bustuenses ausentes” já que não lograva ‘Jornal que sirva de mensagiro pontual para todos os membros da nossa vasta Família”. Abaixo vem reproduzida a actividade da comissão até junho.1960. Ressalta um vigoroso o apelo à convergência de esforços de todos os bustuenses para que Bustos entrena senda doprogresso. Duas fotos de ex-libris de Bustos despoletam a ligação de todos os conterrâneos ao seu «rincão».
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Do panfleto::

MENSAGEM
Bustuense!
Onde quer que estejas és um filho prestante de Bustos. Com o espinho da saudade cravado na carne do coração, não esqueces a terra natal; mas nós, que a continuamos adentro dos seus muros, também não te esquecemos. Porque Bustos exige a cooperação dos braços de todos os seus filhos dilectos para poder manter o ritmo notável de progresso que, a partir de 18 de Fevereiro – data da sua fundação – tem vindo a descrever franca curva ascensional! É, mesmo, esta a preocupação que frequentes vezes nos tem conduzido à tua porta – sempre aberta ao sentimento bairrista e ao espírito de sacrifício – talvez mais vezes que o admissível, se não fôramos todos Bustuenses!... Não é esse, aliás, o motivo desta pequena mensagem. Entendemos que, se te atribuímos deveres (deveres de ajudar a evolução da tua Terra) – também é certo que te atribuímos, com a mesma lógica, direitos.

Vamos hoje satisfazer, do melhor modo possível, um direito teu: o de tomar conhecimento, regularmente, dos principais acontecimentos registados aqui. As notícias da Imprensa não atingem todas as urbes das Províncias Ultramarinas, do Brasil, da Venezuela, da América do Norte, da França, e ainda não lográmos o Jornal que sirva de mensageiro pontual para todos os membros da nossa vasta Família e há-de vir a ser, talvez, em futuro próximo, a grande ponte de contacto estendida sobre cada continente!
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8 de setembro de 2006

BOTA-A-BAIXO NO COLÉGIO


Passei há algumas semanas pela zona do Colégio de Bustos e vi que as árvores do terreno da Junta de Freguesia de Bustos tinham sido liquidadas. Em vez de sombra há agora um deserto.

Perguntei a algumas pessoas o que a Junta ali ia fazer e ninguém me soube responder ao certo. Alguns dizem que o Presidente da Junta vai ali fazer um Parque de Merendas. Se isto é verdade, para que é que foi necessário abater todas (ou quase todas) as árvores? O que mais me espantou foi que as pessoas, tanto da oposição política, como do próprio partido do Presidente, estavam indignadas com aquilo que viram. Todos acharam um crime e disseram-me que era absurdo abater árvores para depois instalar um parque de merendas sem sombra.

Eu não sei o que a Junta pretende ali fazer, mas desconfio que será qualquer coisa como o Deserto da Póvoa, onde o Presidente da Junta depois adicionou uma ‘Basílica’ para fazer sombra porque ali há tão poucas árvores. Todas as pessoas com quem falei (e volto a dizer que algumas eram do partido do Poder) acham que pedras ou betão vão substituir as árvores liquidadas.

Penso que o Presidente de Junta virou Siza Vieira que manda cortar todas as árvores que pode. Claro que Siza Vieira tem um problema em Madrid onde a Baronesa Tyssen, detentora de uma das maiores colecções de arte do mundo, ameaçou levar a colecção de pinturas, que está exposta perto do Museu do Prado, para outro país se cortassem uma que fosse das 600 árvores que Vieira planeia cortar para a reclassificação da Avenida (Paseo) do Prado. O povo de Madrid está igualmente revoltado e penso que não vai haver cortes de árvores para alargar a parte do asfaltado. Ele já cortou todas ou quase todas as árvores da Avenida dos Aliados no Porto e eles pensam que já chega.

Aparentemente o Sr. Pereira teria dito que ia aterrar o terreno (e não digo mais sobre isto). O Presidente da Junta, odeia capelas antigas, sedes antigas de Juntas de Freguesia e pelos vistos, odeia as árvores. Claro que irá dizer que as árvores não estavam alinhadas como gostava, que vai agora plantar árvores todas alinhadinhas e de espécies exóticas (como as Pimenteiras Bastardas oriundas do Peru, que mandou plantar por aquelas bandas) e que consultou arquitectos e engenheiros paisagistas (Siza Vieira?, entre outros). Também vai dizer, como já disse sobre a Basílica da Póvoa que “A obra terá muita dignidade” porque ele acha que tudo aquilo que faz tem muita dignidade.

Foi preciso ter muita coragem para derrubar aquelas árvores que agora vão demorar trinta anos a crescer para fazer sombra. Eu derrubei um choupal no Sobreiro que agora está novamente a crescer. Eu derrubei um pinhal que foi replantado com pinheiros, mas penso que este local será replantado com um número escasso de árvores, mas com muitas pedras. Talvez o Presidente de Junta pense lá plantar pereiras, daquelas oriundas de Espanha e que dão frutos suculentos parecidos com peras Rocha ou Calhau.

Qualquer dia vamos novamente assistir à destruição de uma área arborizada para uma dita “Alameda” que não me parece servir para nada (ele vai dizer que é para desviar trânsito, mas que é para mim, uma obra de fachada, como tantas neste País). Penso que a intenção subconsciente do Presidente da Junta é que alguém se erga em Assembleia de Freguesia e grite bem alto: A Alameda deve-se chamar “Alameda Engenheiro Manuel da Conceição Pereira”. Aliás já temos a Rua do Fogueteiro, a Rua do Coveiro e a Rua do Silva Terra.

Milton Costa

Dr. ASSIS REI: OPERÁRIO DA CIDADANIA

“Se um dia quisesse registar as miúdas peripécias da sua existência, a narrativa ficaria decerto dividida em oito partes e ele continuaria imperturbável, sem atribuir ao algarismo algum carácter mágico.”
Arsénio Mota, Quase Tudo Nada, (prémio literário Carlos de Oliveira, 2005), Câmara Municipal de Cantanhede e Campo das Letras, 2006


Belino Costa (bc) fez um retrato do Dr. Assis, um Rei, Republicano. Profundo, fiel e a corpo inteiro.

Não quero deixar passar esta oportunidade para inserir umas notas sobre a Figura em destaque.
No tempo da sua juventude, ainda não havia distribuição de peixe ao domicílio. Para as casas se proverem de sardinha e carapau para a salga, organizavam-se ‘ranchos’ que se deslocavam a pé até à Praia de Mira para a compra do peixe. O Dr. Assis Rei ainda se recorda das dificuldades da viagem que eram multiplicadas pelo mau estado dos caminhos.
Para tornar a distância mais curta e mais leve, talvez cantassem. Perederam-se as canções?
Mais tarde, integra a Comissão de Melhoramentos.trago à tona o apoio a Manuel Simões dos Santos para o desenvolvimento da fundição na época de condicionamento industrial.
É nessa época que impulsiona a obtenção de um alvará da criação do Colégio para Bustos. [Entretanto circunstâncias marginais surgidas dentro do «grupo de Bustos» a que o Dr. Assis estava alheio deixaram fugir a concessão para o «grupo de Oliveira do Bairro»]. Foi da disputa entre estes pretendentes que nasceu o colégio onde está hoje.
Enquanto Presidente do colectivo da Junta de Freguesiano tempo da ditadura certificou gratuitamente atestados de residência de candidatos a exames escolares para adultos. Foi uma decisão que incomodou sectores que pretendiam auferir algumas receitas.
É no seu mandato que é instituída a primeira comissão alheia à influência da “união nacional” incumbida da organização “do caderno eleitoral para a Presidência da República e Deputados tendo-se em consideração pessoas idóneas e conhecedoras para tal fim”. Em 30.04.1956 eram convocados para esse efeito, Manuel Domingos e Manuel José dos Reis.

Opôs-se e alterou o local de implantação do Pavilhão Desportivo do Colégio.
Sobre este episódio escrevi: “Em Bustos ocorreu o assentamento da “ Primeira Pedra” do Pavilhão Desportivo do IPSB em local cuja obra iria ofuscar o visual do Colégio. O Dr. Assis F. Rei – um dos protagonistas e operário da sua construção – insurgiu-se de tal maneira que a implantação da estrutura teve de ser deslocada.
A obra está num sítio e a tal Pedra noutro.
Sobrou a pompa que envolveu a cerimónia do lançamento deste equipamento desportivo.” (1)

Com a saída do Pompeu Aires para a Malaposta, o Dr. Assis Francisco Rei foi o impulsionador da restauração em Bustos com o desenvolvimento do Restaurante “Piri-Piri”. Entre parêntesis: é também o momento de fazer a devida vénia ao Libório – um verdadeiro senhor na arte de servir à mesa e ao Manuel Aires (das Bicicletas) um grande senhor nos grelhados que ajudaram a crescer o restaurante que chegou a ter publicidade na rádio renascença (?) durante um ano.


Não se pode extirpar o protagonismo que teve em acontecimentos que trouxeram mais-valia a Bustos…
A inervenção do Dr. Assis Rei na vida pública está para além do conteúdos destas notas.

Ti’Assis, porque não escreves as tuas memórias?

(1) in, «FOI BRINDE DO ‘DIA DAS MENTIRAS’ … o texto publicado ontem»; abril 02, 2005 -http://bustos.blogs.sapo.pt/arquivo/2005_04.html
sérgio micaelo ferreira

6 de setembro de 2006

DR. ASSIS REI: MUITO MAIS DO QUE UM FARMACÊUTICO


Assis Francisco Rei, filho de Manoel Francisco Rei e Maria de Jesus, nasceu em Bustos a 11 de Maio de 1921. Esteve para seguir o destino dos irmãos, emigrantes na América, mas o mais velho tirou-lhe tais ideias, aconselhando-o a “ir estudar para professor primário.”
“ Deveria ter 18 anos quando fui para o colégio de Oiã onde andei a assistir às aulas quase durante todo o ano. Quando chegou a altura dos exames o Analecto propôs-me a exame do terceiro ano. Tive tanta sorte que só chumbei a uma cadeira que acabei por fazer na época de Outubro.”
Inicia assim o processo de formação que nem a tropa, onde esteve três anos, veio interromper já que, continuando os estudos, lá completa o sexto ano. Oferece-se depois para ir para os Açores, e antes de passar à disponibilidade faz o sétimo ano e exame de aptidão, em Lisboa.
“Pretendia fazer Agronomia mas o Briosa, da Póvoa do Forno, tirou-me tais ideias. Depois, nas férias em Bustos, o Fresco da farmácia tanto insiste que me convence a tirar o curso de farmacêutico. Assim fiz.”

Farmacêutico em Bustos

Concluído o curso, de volta à aldeia natal, o jovem farmacêutico não só arranja trabalho com faz sociedade com o homem que o impulsionou a seguir tal caminho:
“Era um homem honesto mas com gostos de rico. Foi espalhando dívidas e a certa altura o Tribunal andava em cima dele. Foi por isso que pediu a transferência do alvará da farmácia para outra localidade. Simultaneamente eu pedi alvará para Bustos. Foi assim que me tornei proprietário da farmácia de Bustos. A farmácia Fresco e Almeida desaparece passando a chamar-se farmácia Assis Rei.”

Dos 15 anos que se seguiram recorda com especial saudade os tempos de convívio no Pompeu, lembrando-se mesmo um branco supimpa, Arneiros de seu nome, fornecido pelo engenheiro Mário Pato. E não pode deixar de invocar a figura do Dr. Heitor, “ médico conceituado e grande caçador”.
“Era um bonacheirão que tratava toda a gente, pudessem ou não pagar. Muitas vezes me mandava doentes à farmácia, como era o caso de alguns ferimentos, com o seguinte aviso: “Isto é gente que não paga”. E assim acontecia.
A Farmácia Assis Rei tornou-se uma das marcas essenciais do centro de Bustos, até que por volta do ano 2000 mudou de dono.
“ Fi-lo porque os meus filhos não quiseram seguir o ramo. Vendi, peguei no dinheiro e dei-o aos filhos... Pesou-me imenso essa atitude. Eu, que estava em todas, de repente quebrei o ritmo, parei.”

Professor e Presidente da Junta

A direcção da farmácia foi apenas uma função entre outras porque, durante 35 anos, o Dr. Assis exerceu também o professorado leccionando Física , Química e Botânica, nomeadamente no Colégio de Bustos e de Oliveira do Bairro.
Mas recuemos até 1956, altura em que chega à presidência da Junta de Freguesia de Bustos. Um republicano, que em muitos 5 de Outubro foi fogueteiro clandestino, um oposicionista ao Estado Novo, alcança o poder em plena ditadura Salazarista, razão pela qual há hoje em Bustos uma rua com o seu nome. “ Na altura disse que discordava porque não foi por ter estado na Junta que merecia tal distinção. O que fiz foi pouco e não tem merecimento para tal, mas eles assim decidiram e nada pude fazer”.
E como chegou um “oposicionista” a chefiar da Junta de Freguesia?
“ O Engenheiro Pato trabalhava na Câmara de Oliveira do Bairro e, apesar de ser do contra era amigo do Presidente Santos Pereira. Na altura a Junta era do João Luzio que dominava o comércio em Bustos. Queríamos mudar isso, e como se previa a realização de eleições a oposição estava para fazer listas. No entretanto o Santos Pereira, antecipando-se, vem falar comigo na companhia do Dr. Heitor e diz-me: “Então você anda nas sessões clandestinas de Aveiro e vai fazer parte de uma lista para a Junta! Não pense nisso porque eu é que o convido para a minha lista.”
"A única condição que colocou foi a presença do Manuel Luzio, pelo que aceitei e, juntamente com o Manuel Joaquim, lá fomos eleitos. Fomos encontrar uma Junta desfalcada. Não havia nada, nem escrita alguma, nem sequer selo branco existia. (Só apareceu oito dias depois da tomada de posse!). Como não havia dinheiro virei-me para o Manuel Luzio e disse: “Na UDB temos que pagar para trabalhar, aqui parece que vai ser o mesmo, pois não temos dinheiro nem qualquer verba atribuída. O Manuel Luzio respondeu que se era para gastar dinheiro que não contassem com ele. Acabou por ir falar com o Santos Pereira, que mais tarde também me chamou a Oliveira do Bairro, mas não conseguimos qualquer verba. Eu e o Manuel Joaquim lá conseguimos aguentar a coisa e fazer algum trabalho. Abrimos a rua do S. João à Azurveira e limpámos as valetas. Acabámos por receber subsídio de cerca de cinco contos por ano, cerca de 25 Euros na moeda de hoje. Cumpri a função durante quatro anos e depois disse basta, não aceitei a recandidatura.”


Presidente da UDB

Foi presidente da União Desportiva de Bustos “uma data de vezes”, já nem se lembra quantas, mas recorda-se que foi numa direcção a que presidiu em que pela primeira vez o clube inscreveu os juniores em competições oficiais, dando início a uma lógica de formação de jogadores. O grande problema era a falta de receitas para manter o clube pelo que "inventaram" os cortejos de oferendas para a bola (a exemplo do cortejo de Reis) e, sobretudo, os bailes.
“ O que aguentou a bola durante muitos anos foi o salão do Ferreira. Graças às receitas dos bailes, das revistas e do cinema. Quando apareceu a piscina também organizámos eventos com os Galitos, o Recreio de Águeda e a Académica. O Vitorino Pedreiras, que era um fora de série, fazia a oferta da exploração da piscina ao futebol o que aconteceu durante algum tempo.”

Patrono da Biblioteca

“Na altura a gente metia-se em tudo”, recorda invocando o princípio republicano da cidadania que nunca deixou de ser afirmado em Bustos, mesmo contra ventos e marés. A Biblioteca Fixa da Gulbenkian foi uma causa entre tantas outras.
“ A Comissão de melhoramentos que lançou a Biblioteca acabou por se desfazer. O Arsénio foi para o Porto, o engenheiro Pato para Águeda e eu fiquei só. Passei então a receber os inspectores que visitavam a Biblioteca e a leva-los a merendar ao Piri-Piri. Quando a Biblioteca veio para cima da farmácia era eu quem pagava a renda e a luz e era o Manuel Serralheiro e o Abel Serralheiro que tomavam conta dela depois do trabalho. A iniciativa foi do Abel que me disse: “ Se você aguentar a renda eu dou todo o meu esforço e aguentamos isto.” “Ó homem está feito”, respondi-lhe. “ E foi com o trabalho gratuito dos dois que a Primeira Biblioteca do Concelho foi sobrevivendo. Isto até que um professor do colégio foi para a Câmara, conhecimento que permitiu que então se assegurasse um subsídio.”

E Agora?

Hoje, com 85 anos bem cuidados, Assis Rei vive uma calma reforma: “Agora faço muito pouco. Olho pelo quintal, gosto de pegar num livrinho, se bem que não o faça todos os dias, passo o meu bocado na café a jogar uma cartada com os amigos. E, de vez em quando, dou uma curva até às máquinas do Casino da Figueira.”
O jogo, em especial de cartas, sempre fez parte do convívio bustuense e o Dr. Assis ainda hoje não dispensa a sua jogatana, ele que conviveu com o grande mestre: “ Domingos da Maia Romão não foi só um mestre alfaiate, foi um mestre do jogo, o maior de todos, um grande companheiro e um grande amigo.”
Dos tempos idos, para além de uma memória bem viva, diz que guarda apenas os restos do tabaco. E sorri com a bonomia de sempre.


Belino Costa

DR. ASSIS REI E REPUBLICANO


Assis Francisco Rei com Humberto Pedreiras, Ulisses Crespo e a neta de Manoel dos Santos Rosário comemorando o 18 de Fevereiro.

AUTO-ESTRADA ABRE PORTA EM ANADIA - APENAS SE CUMPRE PROMESSA ELEITORAL DO PS DE AVEIRO

.Pelo andar da carruagem, a implantação de uma portagem da Auto-estrada do Norte (A1) em território do concelho de Anadia ainda consumir muito tempo de antena até que a BRISA «receba ordem» para avançar emanada do Poder de Lisboa.
A exigência de “estudo prévio de tráfego que justifique a sua construção” é tão só uma medida para empalear.
Vejamos:
- Será que a BRISA desconhece que uma quota parte – indefinida – do movimento das duas portagens localizadas nos extremos é da esquecida Bairrada?
- Será que através da análise das multas aplicadas no coração da Bairrada não se poderá ficar a conhecer estatisticamente o contingente e variedade de veículos que oriundos de fora desta «região»?
- Será que a circulação de mercadorias produzidas ou transformadas no centro da Bairrada é um factor a depreciar pelo decisor?
- Será que a implantação de uma portagem não irá provocar o surgimento de mais empresas?
Se, por hipótese, a decisão da criação da portagem esteja para breve – que não acredito - a fase de escolha do local poderá ser demorada, já que há que necessidade de estabelecer vários consensos. Uma vez implantado o local da portagem, o Instituto das Estradas e as câmaras directamente beneficiadas terão de rever o sistema de acessibilidades. É tempo do trânsito ter de sair das ruas do centro das aldeias ou vilas urbanizadas para suas excelências o automóvel e camião.
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Nota:
A abertura da portagem da Bairrada foi uma promessa eleitoral dos deputados do PS de Aveiro. São eles que têm de exigir o seu cumprimento. Já agora, a medida foi proposta sem ter sido feito o estudo prévio?
Ou tratou-se apenas de fogo de vista, porque ficava bem na propaganda.
Ainda iremos ter a assinatura de um protocolo ou o lançamento de um concurso para estudar. Pompa inconsequente mas de bom efeito propagandístico
sérgio micaelo ferreira