17 de janeiro de 2006

UM FANTASMA NO CENTRO

A vida cultural de Bustos tem vindo a degradar-se ao longo dos últimos anos. Ao lado de um aparente progresso feito de algumas obras de construção civil (o edifício sede da Freguesia, o tanque de abastecimento de água, várias capelas, o largo da Igreja e um cruzeiro) o dinamismo da nossa gente não foi correspondido pelo executivo concelhio de Acilio Gala e seu discípulo Pereira.

Centros culturais, museus, bibliotecas, instalações desportivas tudo foi feito longe de Bustos. Por cá, nada!
Entre nós instalou-se a escuridão, todos muito bem fechadinhos em casa a ver televisão. Chegámos ao tempo em que já ninguém conhece ninguém. Quase não há convívio nem sociabilização entre os mais velhos. O cinema fechou portas, o salão de festas deixou de ter actividade.
A obra de Manuel Ferreira da Silva surgida em 1936, faz 70 anos, está moribunda, parece dar os derradeiros passos. Transformou-se num enorme fantasma!


E terá que continuar a ser assim?

Talvez, se todos encolhermos os ombros e acharmos natural que se gastem milhões em museus vistosos e tenhamos ainda o desprendimento de deixar apodrecer a única sala de cinema do nosso concelho, fazendo de conta que somos muito ricos!

Para quê utilizar quando se pode deitar fora, ou demolir?

O novo executivo e a vereadora Laura Pires precisam de olhar para este equipamento cultural que não está a ser devidamente rentabilizado. Não podem fechar mais os olhos. Sem ser preciso gastar milhões o Centro Recreativo e Cultural de Bustos deve ser aberto em favor da população. Isso é possivel.

A minha proposta é simples. A Câmara tratará de alugar o espaço, situação que pode ser do agrado do proprietário. Concretizado o arrendamento a forma mais módica de dar vida àquelas duas salas seria entregar a sua utilização e dinamização a uma instituição de utilidade pública como, por exemplo, o Orfeão de Bustos.

Não seria obra de fachada, mas seria um excelente alimento para a nossa alma. O centro de Bustos poderia voltar a ter uma nova vida e eu a acreditava que o nosso passado tem sentido e tem futuro.

Escrevo isto e sei que, fatalmente, a esta hora há alguém que sonha com o camartelo e pensa, “Eu punha aquilo tudo abaixo e fazia ali um prédio de cinco andares com esquerdo, direito e uma mansarda.”

Está aí alguém?

Está aí alguém?


Belino Costa

13 comentários:

  1. Anónimo10:41

    Está sim Senhor.
    Alguém que pensa (ainda é possível usar a cabeça para pensar antes de falar)que com a demolição do edifício se apagará uma parte da história do concelho; o mesmo acontecerá com a mais que provável domolição do edifício onde, a partir do início do século XIX, funcionaram a Câmara Municipal e o Juízo Ordinário de Oliveira do Bairro.
    Seria por isso muito interessante que o Executivo Autárquico, desse nota pública da filosofia política que preconiza para a dicotomia património cultural do concelho vs desenvolvimento urbanístico;
    Se o não fizer, e pelos exemplos acabados de dar, não restarão dúvidas que a opção política do Executivo Autárquico é a do desenvolvimento urbanístico em detrimento da preservação da cultura.
    Infelizmente, há quem pense assim, mesmo em Bustos, alegada capital da cultura concelhia: é da sua própria natureza!
    A não ser que pensem que a localização do Cinema em Bustos, em plena curva, é mais favorável do que a da antiga cadeia em Oliveira do Bairro!!!

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  2. Anónimo10:56

    Aplausos para o Belino pela sua tomada de posição! É lúcida, oportuna, positiva! E sim, está alguém por aqui! A prestar a devida atenção às nossas coisas e a discordar frontalmente do oportunismo óbvio do comentário anterior. Só por teima ou cegueira poderão nivelar-se dois prédios distintos, um em Oliveira do Bairro (feio, incaracterístico, um verdadeiro estorvo) e o outro em pleno centro de Bustos. Aliás, é tempo de se começar a ver, também entre nós, que nem tudo merece conservação apenas por ter idade e algum passado. Queiram distinguir sempre entre «conservação» (criteriosa, inteligente) e «conservadorismo» (saudosista, retrógrado)! - arseniomota@tvtel.pt

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  3. Anónimo14:58

    Seria melhor ter assumido claramente que o prédio de Bustos não é feio, nem incaracterístico, nem constitui um verdadeiro estorvo, razão pela qual é, ao contrário do outro, passível de uma conservação criteriosa e inteligente.
    É que o Património Histórico não pode ser defendido consoante a perspectiva, e quando nasce é para todos!!!
    Ou a História já tem dono?

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  4. Anónimo15:25

    E o comentador ainda não tem cara? Nome em público? Por que será?! arséniomota@tvtel.pt

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  5. Anónimo17:08

    O comentador tem cara e tem nome, mas não é o facto de se manter no anonimato que retira força à argumentação que utiliza, ou confere força à argumentação contrária. Ou acha que não?
    E a única razão pela qual não estabeleço contacto pelo mail que tornou público, é porque me revejo no discurso que, quanto a este tipo de questões, foi apresentado pelo Prf. Mílton Costa aquando da abordagem feita sobre a demolição da casa de Almeida Garret pela Câmara Municipal de Lisboa.
    Está visto que as minha posição é oposta à sua, e não vejo interesse em debater os argumentos de suporte de cada uma na praça pública. Há locais mais indicados, até porque se trata de assuntos em que, necessariamente, há interesse na participação de responsáveis autárquicos.

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  6. Anónimo18:51

    Talvez ainda melhor...

    Cinema, café/restaurante Piripiri, casa da D. Amândia, tudo abaixo, e então agora sim, construir uma grande ROTUNDA, com estátuas, alfaias agricolas e jardins no meio!
    Está na moda, não não digam nada ao ET Pereira...
    Um abraço

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  7. Anónimo19:38

    O Jornal da Bairrada não podia publicar este texto?

    A gente de Bustos e o Orfeão que dizem da ideia?

    Espaço para aulas de aeróbica, aulas de música, espaço para ensaios e pequenos espectaculos. Voltar a ter um local dinâmico no centro de Bustos não seria bom??

    Ainda por cima é fácil e barato!

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  8. Anónimo00:10

    O Bustos Sonoro Cine pode vir a ter o destino semelhante ao da “cadeia”.
    Só que não há paralelismo na sua apreciação.
    .Apesar do seu aspecto exterior ter sido alterado. Tem trabalho interior que merece ser apreciado por Engenheiros civis. Até sugiro um cicerone: o Eng. Santos Pato.
    Está lá aplicado o saber de Manoel de Oliveira Crespo – um autodidacta e um senhor no desenho técnico (entre outras especialidades).
    Quanto ao facto da sua localização ficar numa curva …
    O edifício também tem de ser visto no espaço onde está enquadrado.
    Está localizado no centro - centrão de Bustos. Uma intervenção urbanística, não à moda das “requalificações” de um passado recente poderá proporcionar um aspecto urbano a esta zona... Para tal, será indispensável desviar o grande fluxo de trânsito e impedir a circulação dos pesados. A Rua Jacinto dos Louros poderia ser de sentido único até à Avenida de São Lourenço; beneficiar de passeios largos.
    Por certo Bustos virá a ter um centro apetecível.
    (sérgio micaelo ferreira)

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  9. Olá! Ando arredado, mas voltarei em breve.
    A propósito do oportuno texto:
    VEJAM SE ADIVINHAM A QUEM O DÓTÔ PROPOS O ARRENDAMENTO DO ESPAÇO...
    Ofereço um cartão de entrada gratuito ao 1º que acertar (sempre vale de alguma coisa ser advogado da empresa).
    Beijinhos para todos

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  10. Anónimo11:03

    Oh Oscar,então o Dôtô, propos o arrendamneto do salão, à proprietária do Submundo?!
    Vá, vá, vá, venha lá esse cartão de entrada gratuito...
    1 abraço a todos os blogistas do Notícias de Bustos.

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  11. 1. Alex:
    - Perdeste! A tal Senhora não é dona do Submundo. Se tivesses gasto o dinheirinho do pai Jó a estudar para doutor de leis em vez de andares a enganar o povo com seguros que só nos garantem uma morte desprotegida, saberias que, com frequência, o "imobilizado corpóreo" (não, não estou a falar das piquenas, que essas costumam mexer-se bem) pertence a sociedades e não a esta ou aquela Senhora individual.
    Paga mas é o cartão, que as Primaveras são para ser vendidas...
    [um colega Japonês da cantina universitária ensinou-me que, traduzida literalmente, a palavra japonesa para "prostituta" queria dizer "vendedeira de primaveras"]

    2º. BC:
    - Acertaste na mouche!
    Será que o novo executivo consulta o nosso bloguinho?
    Ou preferem instruir-se na Biblioteca Municipal, essa meritória obra do odiado Acílio Gala?

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  12. Anónimo18:35

    O texto é interessante e o repto não pode ser esquecido, mas o que mais me impreesionou foi a fotografia. Já repararam naquelas sombras, na solidão das ruas onde o único movimento provém de uma anacrónica ciclista de lenço na cabeça. Esta imagem diz tanto ou mais do que o texto. Olhem para ela atentamente que verão o abandono a decadencia que tem vindo a tomar conta do centro de Bustos perante a nossa PASSIVIDADE.
    é URGENTE MUDAR! oLHEM BEM PARA A FOTOGRAFIA QUE ELA FALA CLARAMENTE.

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  13. Anónimo00:01

    A foto está feliz. Fixa um momento e um ângulo carregado de símbolos do centro da povoação de Bustos, já que para mim, o Centro da freguesia está no Sobreiro. [Defendi com mais de 20 itens que o Sobreiro deveria ter sido promovido a vila e não Bustos. Mas isso são águas passadas].
    Foto tirada em fim-de-semana. Sábado? Três da tarde? Momento raro em local de grande fluxo de trânsito para a ‘zona industrial’. Uma mulher da seiva de Bustos faz-se deslocar na sua bicicleta. [Este pormenor deveria ser ampliado] Está a sair da Rua 18 de Fevereiro para entrar na Rua Jacinto dos Louros. Leva um cesto d’aro na mão esquerda e saco de plástico na mão direita. Um símbolo e um alerta. A bicicleta já não tem direito a ter a sua pista de circulação em segurança. Nesta terras de Bustos.
    O Palacete do Visconde de Bustos – palco de intensa actividade política concelhia nos finais da monarquia e centro de reacção nos tempos da 1ª República – foi adquirido pelo Povo e Amigos de Bustos (o nosso emigrante venezuelano deu um grande impulso. Ainda falta contar a História da célebre “Comissão 18 de Fevereiro de Caracas”). Hoje é um condomínio que engloba a ABC; o Orfeão de Bustos; Unidade de Saúde; Casa do Povo e “a ex-biblioteca nº 26 da Fundação Calouste Gulbenkian”, pomposamente designada Pólo de Leitura. Para quando estará prevista a deslocação da biblioteca para um local adequado?
    A parede branca é do Piri-Piri. Aberto após o Pompeu Aires ter fechado o Café Recreio [laboratório do prato gastronómico “Frango de Piri-Piri”]. Por estes cenáculos passaram tertúlias, convívios, comemorações, merendas. [Muitas partidas pregadas aos mais incautos ainda permanecem no imaginário de Bustos]. Anteriormente ao Piri-Piri existia a loja do ti Albano Tavares da Silva (Barateiro) – [referindo-se à carestia da vida, desabafava com frequência “está tudo escagaçado e piora a mais”].
    O Bustos Cine, antes Centro Recreativo de Instrução e Beneficência, é outro ícone telúrico. Os bailaricos e o arame farpado, as sessões de cinema com o barulho dos amendoins. Actualmente este edifício é o único vestígio do “centro comercial e cultural” de Manuel Ferreira da Silva. Tarda a homenagem a este senhor. Sítio para um busto já existe. Será possível recuperar o edifício para prolongar as vivências de Bustos. O Orfeão e os seus Cantares teriam aí o seu espaço, para desenvolver as suas actividades’, no seguimento da sugestão de Belino Costa.
    A sombra da foto vem da casa de Teófilo Mota. Esta casa merece pertencer ao roteiro das casas desenhadas por Manoel de Oliveira Crespo.
    Outras «sombras» trazem à memória: a Farmácia e o António, prematuramente falecido em Estarreja, as sedes do Futebol Clube de Bustos e dos Azuis de Bustos, o Bufete no recinto do Recreativo, o António Nariz, a Radiolândia, o Tik-Tak, a Casa das Modas, o Augusto Serafim o célebre o Minguitos antes e post-Moçambique e a célebre ANOP, a a chegada do Ilídio com o peixe e o foguete de tróis-tróis …
    Os pára-raios são de campos opostos (o monárquico e o republicano), mas estão em plano de igualdade.

    O centro-centrão não é diferente dos outros centros populacionais. O espírito gregário das gentes locais é quase inexistente. Os Fóruns (comerciais) são hoje os sítios de convergência das pessoas.É a moda.
    Sérgio Micaelo Ferreira)

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