4 de dezembro de 2005

NÃO SE EMPRESTA! (Arsénio Mota)

A gente lembra-se. Até anos recentes, os bustuenses usaram nas suas lides uns carros de mão feitos de madeira, resistentes e durázios mas pesadões mesmo sem carga. Serviam para acarretar sacas de adubo, lenhas, feixes de erva, qualquer coisa. Pois se chegaram a servir para levar doentes ao médico!
As pessoas mais idosas conheceram uns carros mais antigos, também com rodas de madeira, e esses eram dos piores: as crianças gemiam para conseguirem movê-los à força de braços e pernas.
Depois apareceram as rodas de ferro, o peso dos carros foi reduzido pelos respectivos carpinteiros. Reduzido apenas um pouco, é claro, porque deviam resistir sob qualquer carga.
Imagine-se o sucesso que teve em Bustos o primeiro carro «nova vaga»! Era bastante mais espaçoso, podia levar a cómoda, o armário ou guarda-loiças da cozinha e empurrava-se com uma mão solta, quase com um dedo, pois era leve como o vento: tinha varais metálicos, uns belos taipais e – oh. espanto! – duas rodas com pneus julgo que de motorizada!
Todos o sabemos, a moda nova não tardou a pegar. E pegou de estaca! Até algumas motorizadas começaram a circular por aí rebocando carrinhos daqueles atrelados na traseira! Volta e meia, faziam um jeitão…
Mas enquanto aquele primeiro carrinho «nova vaga» foi novidade, rodeou-se de exclamações de maravilha onde quer que o vissem. Era como se a gente estivesse habituada a tipóias tiradas por vacas e de repente visse um Rolls Royce a luzir! E o dono (quem se lembra do seu nome?, quem tem uma foto?) mostrava que só queria despachar-se, abalar, talvez esconder-se.
Não lhe faltava motivo. Todos lhe pediam o carro emprestado, uma vez e outra, para um servicinho. E o dono cansou-se, afinou e por fim embatucou. Deixou até de responder aos pedidos, argumentar, justificar-se. Zangasse-se quem quisesse! Ele, mudo, só apontava para as letras bem pintadas num taipal que diziam: «Não se empresta». - A.M.

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