29 de dezembro de 2005

A CASA DE ALMEIDA GARRETT



Fiquei escandalizado, zangado e desgostoso ao saber da iminente demolição da casa, em Lisboa, onde viveu e morreu o grande escritor Almeida Garrett. Este edifício foi declarado imóvel de interesse municipal pelo executivo de Santana Lopes, mas agora o novo presidente diz não ter dinheiro para restaurar e manter o prédio. O dono do imóvel é o actual Ministro da Economia (de quem, felizmente, nem sei o nome) que quer construir um novo. Ganhar dinheiro!

A demolição virou palavra de ordem, mas no resto da Europa não é assim, há países onde o património é respeitado. Numa terra Inglesa (Salisbury) os edifícios construídos no século XIV são olhados como locais sagrados e ninguém pensa em demoli-los, em várias cidades italianas vi edifícios centenários que nunca serão demolidos, porque são amados pelas pessoas que lá vivem. Já estive num hotel na Alemanha que foi construido no século XVI , não é muito confortável mas pertence ao património de um povo. Nessa cidade, Marburg, há uma igreja dedicada a Santa Isabel, a verdadeira santa do Milagre das Rosas, tia da santa portuguesa, que era uma boa mulher, mas a quem não podemos atribuir o tal milagre. Menciono isto porque me parece revelador já que somos capazes de copiar “milagres” mas não seguimos a atitude cultural e cívica dos outros. Somos copiadores incompletos!
Um país que permite que o bonito edifício onde viveu e morreu Almeida Garrett seja demolido é um país sem respeito pelo seu património, pela sua História. É uma bosta!

Também no nosso concelho se anunciam crimes graves. Crimes bárbaros! Diz-se que o actual executivo da Câmara Municipal planeia demolir o antigo edifício sede depois transformado em cadeia.
Tal não pode nem deve acontecer, pelo que daqui lanço o meu apelo: Por favor, respeitem o nosso património, a nossa História!
É preciso ter coragem, é preciso ter a honra e o orgulho de conservar a nossa herança comum, conservar o património edificado, parte integrante da nossa memória.
Por favor, respeitem o passado. Ainda que os nossos antepassados não votem, não podendo assim ajudar a vencer a próxima eleição.

Milton Costa

11 comentários:

  1. Enquanto o texto do Milton saia no blogue, juro que eu estava no pleno exercício das minhas funções de novo deputado municipal substituto da nóvel Assembleia Municipal, donde vim há bocadito, mal dormido e após o paleio do costume no final das lides e de todos mostrarmos a nossa coragem depois de andarmos por aí com o rabinho entre as pernas.
    Melhor do que isso, ó ironia do destino que fez o Milton faltar ao espectáculo: estava a regozijar-me pela decisão do novo executivo do município de Oliveira do Bairro (de 24/11) de anular o concurso da reabilitação da antiga Casa da Câmara e Cadeia de Oliveira do Bairro. Bem feito!
    Os defensores da reabilitação desta casa seiscentista (?), vêm o que eu e quase todos os lorpas locais não vemos naquela casa de adobe, “muito descaracterizada”, com “o alçado de trás completamente cego”, que não passa duma paredezita, a qual, como as demais, é “em adobe”.
    A antiga Casa da Câmara e Cadeia tem os seus legítimos defensores, um dos quais um simpático, interessado e promissor jovem da vila que já foi deputado municipal no mesmo regime em que eu estou e estava antes: ou seja, à sorrelfa, por amor de deus, que político pelintra sofre a bom sofrer.
    Percebi esta noite muito bem porque é que o conhecido “avô cantigas” das velharias e dos fados de Coimbra requentados (pré/post colaborador da CM) é o mais acérrimo defensor da recuperação da casinhota.
    É um direito deles, como eu tenho o meu de pensar exactamente o contrário. Posso ser meio anarco-facho, mas o que eu não sou é taliban, nem com as adoráveis mulheres que por vezes se escondem debaixo das odiosas “burkas”.
    As razões de cada um são completamente diferentes, o que se percebe. Até concordo com o tal valor da História, que é coisa que o primo do Milton e ex-Pres. da CM sempre valorizou muito, a ponto de eu estar lavado em lágrimas…de raiva danada. Mas qual estória, qual quê, ó meus!
    Quem quer conhecer melhor o valor cultural, histórico e arquitectónico do insignificante e feísssimo edifício, deve fazer já a seguir o seguinte percurso:
    1º - Obrigatoriamente, passa por lá de carro, depois estaciona algures, percorre e analisa com olhos de ver (i.é, insensíveis como os meus) todo o exterior daquela casota sem graça, despida de qualquer valia que não seja a de apenas lembrar que, sim senhor, tivemos um passado; as fachadas não dizem absolutamente nada e a tal “história” de que falam não se sente em recanto nenhum; a casinhota está implantada num local que faz da Rua do Foral de 6 de Abril de 1514 um verdadeiro e desencantador martírio, onde o Milton nunca passa porque anda de preferência pelas auto-estradas, que é coisa que sempre fizeram e hão-de fazer os doutores, arquitectos, empreiteiros, funcionários públicos e privados e outros filhos da mãe.
    2º - Vai ao JB e pede para consultar o artigo publicado em 4/8/2005 no suplemento desportivo daquele jornal pelo reputado arquitecto oliveirense, Walter Rosa. Gosto muito deste arquitecto, não só porque conheço dele o projecto do pré/post Plano de Pormenor do Regatinho, que ele defendeu na AM há uns anos e que até tem outras obras de vulto no concelho e mais não digo, que se faz tarde, eu que venho acompanhando a vida do concelho desde o tempo em que o amigo Pereira (actual PJ de Bustos) era deputado municipal do PSD. Eu que sei umas coisitas, porque não sou cego nem surdo e guardo memórias escritas, que é para mais tarde recordar.
    O texto é elucidativo, apesar da ânsia em defender a casinhota, que por acaso até nos lembra bem o que seria o Oliveira do Bairro no séc. XVII (?). Dizem por aí que o arq. sabe bem do que fala porque tem uma moradia mesmo, mas mesmo ao lado e se a casota lá ficar está safo da demolição, tal como o nosso querido “Passos”, que é o meu Barrilito da vila/sede.
    Deixei para o fim uma revelação bombástica, que andei a esconder desde que deixei crescer o bigode:
    Sou pela demolição pura e simples, em defesa calculística da Casa de Almeida Garrett e do Palacete de Bustos!!
    É que os tipos do IPPAR já fizeram a sua escolha: Longa vida à Casa da Câmara e Cadeia! Abaixo a Casa do Garrett e o edifício Arte Nova do nosso Palacete burguês de 1905!
    Não é isso que Bustos merece?
    *
    oscardebustos

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  2. Anónimo15:11

    OSKR TROSTSKY AYRES SANTHOS “CHE DE BUSTOS”
    Um aplauso pela tua voluntariedade. Fugiste das consagrações dionisianas para vir poetar sobre o antigo-falso e o modernaço da cidade de Oliveira do Bairro. Apenasmente vou retorquir dois pontos. 1) . É verdade que o edifício [e posteriormente cadeia] da tal Câmara(?) funciona como um garrote aplicado à circulação de trânsito viário na ligação Mamodeiro-Sangalhos. Só que hoje com a variante, os passeantes podem passar dentro da cidade, sem dizer água vai. Se o CHE de Bustos enquanto está no pára-arranca ali junto do Glorioso Café Passos (que não era Passos) pode “espreitar” para o monumento exclusivamente dedicado aos militares mortos (do concelho) na I Grande Guerra e que foi custead através da subscrição pública. E se quiser relembrar o tempo manuelino do grande rei merceeiro deve olhar para a parede a nascente, situada em frente à rua Cândido dos Reis. Mal dos terráqueos quando têm de depender de pareceres dum tal IPPAR ou quejandos para reverenciar “o património”. Sabes que o Palacete de Bustos foi adjudicado à erosão do tempo? O mesmo está a acontecer à Igreja de São Lourenço do Corgo? 2) Como passas-te ao lado da primeira sala de sessões vou recolher alguns elementos para mostrar foi o primeiro edifício em que o primeiro andar foi destinado a sessões da Junta antes de 25 A e após 25 A de longínqua memória. 3) Odmira-me que não tenhas feito uma incursão de primeira página sobre a primeira reunião da assembleia de freguesia.
    (Sérgio Micaelo Ferreira. Bom 2006.)

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  3. Anónimo20:49

    Demolição! Demolição! Demolição!
    Abaixo tudo o que é velho! Abaixo a antiguidade!
    Abaixo os velhos Óscares. Tudo pela juventude e a modernidade.
    Demolição! Demolição! Demolição!

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  4. Anónimo22:04

    Ai se os mortos votassem!!!!!!

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  5. Anónimo00:02

    Morra o Dantas PIM!

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  6. Anónimo17:01

    Um país onde se demoliu tudo o que tinha ligação com o 24 de Abril (estátuas, placas e pedestais de Salazar), um país onde se batiza uma ponte de um dia para o outro, que não preserva as cadeias da PIDE/DGS é um país de gente que convive mal com a história; é um país que não permite à geração de hoje (e só passaram 30 anos!)tocar naquilo que determinou a razão pela qual os seus antecessores não puderam estudar por falta de meios, naquilo que foram as agruras de milhões de portugueses. Todos sabemos que a portugalidade nasceu de uma guerra entre mãe e filho, mas é difícilo acreditar que foi isso que determinou que oitocentos e cinquenta anos depois vivamos num país que gasta dinheiro a rodos na construção de estádios de futebol que sendo dos melhores da Europa estão naturalmente às moscas porque a gente desse país nem dinheiro tem para poder ir à bola. Somos, para o bem e para o mal, um país onde tudo é possível, e por isso, não é de admirar que este país tenha autarcas que optem pela demolição do património histórico-cultural por falta de dinheiro para a sua preservação ou porque se recusam a admitir a possibilidade (e admitir essa possibilidade não é a mesma coisa que mudar de opinião!) de haver soluções técnicas que mantenham a existência de um edifício sem prejudicar a criação de uma Nova Avenida. Tudo isto, obviamente, em nome da ditadura da democracia que permite que as maiorias façam tudo o que lhes aprouver sob a bandeira de uma vontade popular que não é tida nem achada para decisões políticas sempre tomadas na defesa dos mitos dos partidos. É o país que temos, é deste país que gostamos, foi aqui que nascemos, é aqui que queremos morrer.
    E ao que se sabe, nem Cervantes foi português nem Sancho Pança não passou por cá: e este sim, talvez tenha sido a grande partida que a História nos pregou. É bem feito. Talvez seja por isso que não faltem iluminados a querer mandar a história às malvas (mesmo em concelhos cujas vereadoras da cultura teêm, pelo menos, uma costela de Bustos!). Por mim, limito-me a encolher os ombros, resignado e vencido, mas não convencido, ouvindo ao longe a música da filarmónica que toca no velho coreto, olhando o infinito, de costas deitadas na imensidão do relvado de um jardim urbano, à sombra de uma árvore secular que um qualquer desses iluminados, com o poder que o resultado eleitoral de há três meses lhe deu, há-de querer arrancar para construir um quiosque de jornais, que ninguem compreende porque não pode ser construído vinte metros ao lado.
    E a esta conclusão,esse iluminado só vai chegar quando a árvore estiver arrancada - nessa altura será tarde, já nada haverá a fazer. E então, o que ficará para a posteridade, será a placa de inauguração do quisoque, com o nome gravado, a letras douradas, do autarca que, em nome do povo, mandou a História às malvas, mas fez um quisque novo. E é disso que no próximo acto eleitoral a maioria do povo anónimo se há-de lembrar, porque da árvore arrancada, só se hão-se lembrar os «atrasados» que ligam a essas coisas da História; e como são poucos, a reeleição do iluminado não fica em crise.
    Tenho dito.

    PS: só mesmo a nostalgia de uma chuvosa tarde de 31 de Dezembro me faz carpir tanta mágoa e acreditat que àmanha, 1 de Janeiro, tudo estará na mesma.

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  7. Anónimo17:01

    Este comentário foi removido por um gestor do blogue.

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  8. o comentário supra estava repetido, pelo que o eliminei.
    Um abraço.

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  9. Quando ao fim da tarde de ontem apaguei a repetição do comentário do "anonymous" ( o propriamente dito), faltou-me tempo para ler todo o texto dele.
    Parabéns pelo texto, ó anonymous, que mesmo discordando da parte específica da antiga câmara e prisão, subscrevo tudo quanto escreveu!
    Sobretudo na parte da ditadura das maiorias, da qual já vislumbro alguns tiques.
    Cá por mim, acredite, estarei cá para os azucrinar.
    Mas também estarei lá, ou seja, na Assembleia Municipal, até que a voz me doa e...enquanto me quizerem lá, que sou jogador de banco.
    Eu sei que sabe que a democracia é uma gaita, mas nunca conheci melhor e, ao contrário do Lenine, não acho que a ditadura do proletariado seja melhor que a ditadura da democracia.
    Aliás, detesto dentaduras, coisa que não uso apesar de já me faltarem uns molares...
    Um abração.

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  10. Anónimo14:54

    É pena que o Prezado Oscar De Bustos, ainda que discorde de todas as atrocidades que possam ser praticadas contra o património cultural, não discorde daquela que se apresta para ser praticada no concelho cuja Assembleia Municipal integra.
    E é realmente pena, porque sempre seria mais um a erguer a voz onde ela deve ser erguida!
    O que, obviamente, é de lamentar.

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  11. Também lamento, meu caro...
    ...por razões inversas.
    Mas respeito e muito, quem defende a História.
    Já quanto ao barraco, desculpe lá.
    Olhe, guarde-o imaginando o lindo poema d'
    "o retrato adormecido
    no fundo dos teus olhos.
    Tudo porque tu ignoras
    que há leitos onde o frio não se demora
    e noites rumorosas de águas matinais."
    ...
    E boa noite, gente, que
    "Eu vou com as aves".
    Palavras do Eugénio.

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