Deolinda Costa (de Bustos, Aveiro) foi uma das manifestantes
«Em Moçambique [...] também nas linhas férreas da Beira e de Nacala foram implantadas minas, que dificultaram o transporte de mercadorias e reabastecimentos, obrigando a complexas e desgastantes operações de escolta».
«Em Moçambique [...] também nas linhas férreas da Beira e de Nacala foram implantadas minas, que dificultaram o transporte de mercadorias e reabastecimentos, obrigando a complexas e desgastantes operações de escolta».
A
Barragem de Cahora Bassa sendo um megaprojeto do regime colonial com a
finalidade de absorver milhares e milhares de portugueses e de criar uma fronteira de isolamento do inimigo, a FRELIMO teve a consciência do impacto que teria em Moçambique a consecução
deste empreendimento e, sem mais demoras os nacionalistas concentraram as suas
ações de propaganda e de guerrilha «grosso modo» na zona de Tete e no corredor
da Beira na tentativa de impedir ou retardar a construção daquele complexo
hidroelétrico. A FRELIMO privilegiou a sabotagem das linhas de
caminho-de-ferro, com a implantação de minas, cuja deflagração produziu efeitos
destrutivos de enorme monta, normalmente acrescidos de mortes, amputações e
outros ferimentos e demoradas operações de evacuação, de montagem de segurança,
de desencarceramento e de recolhas de salvados, etc,... para além de abater «o moral da
tropa que estava no terreno».
Moatize (1973) - Manifestação de Mulheres de Maquinistas exigem maior proteção na circulação de comboios |
No
troço ferroviário Moatize – Mutara, em 1973, por efeito de explosões das
fatídicas de duas minas, trouxeram o luto à família de dois maquinistas e a
deflagração de uma terceira mina matou o ajudante de fogueiro, tendo escapado o maquinista Basílio Crespo.
Exigiam
que a tropa fizesse melhor proteção na circulação da linha.
O chefe
da estação informa telefonicamente a ocorrência aos superiores. E aguarda-se a
resposta.
Zona de Moatize.1973. Comboio. Efeito de Mina. Foto cedida
por Basílio Crespo
|
Deolinda
recorda-se que um “diretor” dos caminhos-de-ferro da Beira deslocou-se
propositadamente a Moatize para negociar com as manifestantes em que este “pediu
para deixar passar o comboio”, (Deolinda)
Moçambique,
1973 - Próximo de Moatize – um local de abastecimento de água - As minas da
FRELIMO na guerra colonial (um aspeto) Fotos cedidas por Basílio Crespo
|
Gina,
que tinha acompanhado a mãe, tem em mente que “a manifestação durou dois dias, estivemos em frente às
máquinas, nas linhas, até que o Inspector chegasse e nos desse soluções”.
Chegado
da Beira o Negociador enviado pela Companhia dos caminhos-de-ferro, logo tentou que
as manifestantes “deixassem passar o comboio” (Deolinda).
A
resposta foi firme – “o comboio não seguia viagem enquanto não deitassem a
tropa a andar à frente, com uma zorra” (Deolinda).
A
manifestação só foi desmobilizada ao segundo dia (segundo Gina Crespo) quando
foi cumprida a exigência reclamada: melhor proteção na circulação ferroviária.
*
A
estratégia da FRELIMO em semear minas nas vias férreas de acesso á Zona de Tete
a fim de retardar o fornecimento de materiais necessários à construção da
Barragem de Cahora Bassa foi defensivamente contornada pelas tropas portuguesas
conforme espelha o artigo do Tenente-generalAbel Cabral Couto (1): “à adopção de mais rigorosas medidas de
segurança, que incluíam o recurso a patrulhas de abertura em zorras blindadas e
a um planeamento militar de cada movimento.”
FRELIMO «NEUTRALIZA FORTEMENTE» A PONTE EXCLUSIVAMENTE FERROVIÁRIA DE DONA ANA - MUTARARA
Mesmo
com esta contra-estratégia adotada pelas Forças Portuguesas, “a situação foi-se
agravando de tal forma que a circulação ferroviária foi cancelada, em meados de
1973. Quando, em fins de Set 73, terminei a minha comissão, a FRELIMO chegara
ao ponto de neutralizar fortemente a ponte de Mutarara, para desdouro da CCaç
ali instalada”(1)
A
manifestação não foi em vão. As Mulheres dos Maquinistas conseguiram evitar que
os Maridos (e os ajudantes de fogueiro) deixassem de ser «carne para canhão»,
na versão ferroviária.
A minha homenagem,
sérgio micaelo ferreira
………………………………
SIGLAS:
CCaç - Companhia de Caçadores
FRELIMO - Frente de Libertação de Moçambique
Set - setembro
.....
SIGLAS:
CCaç - Companhia de Caçadores
FRELIMO - Frente de Libertação de Moçambique
Set - setembro
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(1) Tenente-general Abel Cabral Couto, A segurança do empreendimento de Cabora-Bassa
(1970-1973), Revista Militar
a) - um
obrigado a Deolinda Costa e Basílio Crespo e à Gina pelo contributo dado que
tornou possível a construção deste postal e que não passa de breve esquisso de um feito de mulheres em
pleno centro da guerra e teve consequência direta na defesa da integridade
física dos ferroviários e por associação aos ajudantes de fogueiro que estavam
de serviço nas linhas de alto risco dos caminhos-de-ferro de Moçambique.
b) – são
devidos créditos às entidades expostas na
internet e aqui copiadas.
c) as
fotografias dos salvados do comboio foram tiradas pelos serviços militares.
srg
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