26 de outubro de 2015

LIVRO DE EMIGRANTE BUSTUENSE EDITADO NO BRASIL



Foi editado no Brasil, em Ouro Preto, “Terra adoptada: relato de um imigrante” da autoria do bustuense António Francisco dos Reis.
Numa edição muito cuidada a editora Liberdade lançou 5 obras dedicadas a temas ouro-pretanos, que “captam o ambiente de cultura urbana de Ouro Preto da primeira metade do século XX”. Um desses livros é o relato autobiográfico do bustuense António Francisco  dos Reis que “mostra uma integração à vida de Ouro Preto nos mais singulares aspectos de quem adopta a cidade para viver sem deixar, entretanto, o entre-lugar  próprio da condição do imigrante”,  como pode ler-se na contra capa do livro, que contou com o apoio do ministério da cultura do Brasil.
Entretanto podemos anunciar que o “NB” assegurou a edição portuguesa de “Terra adotada: relato de um Imigrante”, cujo lançamento deverá acontecer no próximo mês de Fevereiro.
Amanhã revelaremos um pouco da biografia deste bustuense que em 11 de  dezembro de  1874, ainda com 15 anos, chegou ao Brasil, “sem saber ler nem escrever.”

Francelina Drummond, a coeditora da obra, conta em texto que escreveu para o “Notícias de Bustos”,  como descobriu o manuscrito e as razões que motivaram a sua publicação. 

FRANCELINA DRUMMOND: “HOMEM DE RARA SENSIBILIDADE E INTELIGÊNCIA”


Sou Doutora em Literatura Comparada e professora de Literatura Brasieira. Lecionei na Universidade Federal de Ouro Preto e na de Uberlândia. Orientei trabalhos e dissertações, coordenei congressos, participei de simpósios e colóquios, escrevi artigos em revistas científicas, coordenei a edição de alguns livros e escrevi outros. Desde 2011, sou coeditora da Editora Liberdade, com sede em Ouro Preto, cidade onde resido. É uma pequena editora é especializada em temas ouro-pretanos. Já editou nove livros e pretende continuar nessa linha. 
       A cidade de Ouro Preto, chamada Vila Rica até 1823, foi fundada por portugueses em finais do século XVII quando se deu a descoberta das minas de ouro, que mudou o rumo da economia colonial. Vila Rica transformou-se em centro de atração de imigrantes, e a administração portuguesa traçou um rígido controle neste território, entre outras causas, para evitar o contrabando e o desvio do metal precioso. Foi o centro minerador mais importante do Brasil e capital da Capitania de Minas Gerais. Constituiu uma sociedade estratificada rigidamente em minerador e escravo, além de uma classe intelectual importante e marcante na literatura luso-brasileira. Foi palco do principal movimento político antilusitano – a Inconfidência Mineira (1789-92), de revolta e emancipação.

 Ouro Preto, Brasil

      Dedico-me há alguns anos ao estudo de tópicos de cultura e sociedade em Ouro Preto, especialmente no século XIX. Entre esses estudos, interesso-me pela imprensa periódica ouro-pretana que pesquisei profundamente no período de 1823 a 1900. Estudo a difusão da literatura na imprensa nesse período e tenho-me dedicado também ao estudo da obra do romancista ouro-pretano Bernardo Guimarães (1825-1884) e de outros escritores locais.
      Encontrei o manuscrito do bustuense Antônio Francisco dos Reis numa busca em arquivos particulares de Ouro Preto. A neta dele, Maria da Conceição Reis, mostrava-me algumas fotografias da família quando me “apresentou” o manuscrito, sem alarde, simplesmente me mostrou. Fiquei surpresa. Era o primeiro documento dessa natureza – escrito por um imigrante, na forma de um diário – a que tinha acesso. Li-o encantada com o personagem que se revelava atrás das páginas amarelecidas do caderno de notas, encantada com a “história” que narrava. E disse à Maria da Conceição que aquele manuscrito daria um belo livro. Passaram-se dois anos, e a oportunidade surgiu. Eu organizava a Série Ouro-pretana, para a Editora Liberdade. Vi que a ideia da edição do manuscrito era coerente com os outros títulos da coleção (são 5 livros, formando uma caixa). Ele se adequava tematicamente aos demais livros: um dos livros é de memória de antigos moradores da cidade; dois são de poesia da primeira metade do século XX, e o outro de prosa jornalística. O manuscrito ficaria, portanto, no gênero das narrativas de imigrantes, cobrindo também o período entre final do século XIX e primeira metade do XX.

A capa do manuscrito

       Tenho recebido bons comentários sobre a Série Ouro-Pretana, em especial o livro 5, que é Terra adotada: relato de um imigrante.  O relato de Antônio Francisco dos Reis  revela alguém que, deixando sua terra e seus familiares em Portugal, veio trabalhar no Brasil, em especial em Ouro Preto, dedicando sua vida às atividades comerciais, com grande empenho e seriedade; homem de rara sensibilidade e inteligência aguda cujos descendentes, que conheço, honram essa herança. Do ponto de vista da pesquisadora, reconheço a importância, para a história de Ouro Preto, da publicação do manuscrito de Antônio, especialmente por ter sido esta cidade, por seu destaque na história brasileira, centro de atração de imigrantes no século XIX e esse capítulo é ainda, infelizmente, pouco estudado aqui.
      Gostaria imensamente que o livro Terra adotada: relato de um imigrante chegasse ao leitor português em geral e em especial ao leitor de Bustos, terra natal de Antônio Francisco dos Reis.

Maria Francelina Drummond


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