Foi
editado no Brasil, em Ouro Preto, “Terra adoptada: relato de um imigrante” da
autoria do bustuense António Francisco dos Reis.
Numa
edição muito cuidada a editora Liberdade lançou 5 obras dedicadas a temas
ouro-pretanos, que “captam o ambiente de cultura urbana de Ouro Preto da
primeira metade do século XX”. Um desses livros é o relato autobiográfico do
bustuense António Francisco dos Reis que
“mostra uma integração à vida de Ouro Preto nos mais singulares aspectos de
quem adopta a cidade para viver sem deixar, entretanto, o entre-lugar próprio da
condição do imigrante”, como pode ler-se
na contra capa do livro, que contou com o apoio do ministério da cultura do
Brasil.
Entretanto
podemos anunciar que o “NB” assegurou a edição portuguesa de “Terra adotada:
relato de um Imigrante”, cujo lançamento deverá acontecer no próximo mês de
Fevereiro.
Amanhã
revelaremos um pouco da biografia deste bustuense que em 11 de dezembro de
1874, ainda com 15 anos, chegou ao Brasil, “sem saber ler nem escrever.”
Francelina
Drummond, a coeditora da obra, conta em texto que escreveu para o “Notícias de
Bustos”, como
descobriu o manuscrito e as razões que motivaram a sua publicação.
FRANCELINA
DRUMMOND: “HOMEM DE RARA SENSIBILIDADE E INTELIGÊNCIA”
A cidade de Ouro Preto, chamada Vila
Rica até 1823, foi fundada por portugueses em finais do século XVII quando se
deu a descoberta das minas de ouro, que mudou o rumo da economia colonial. Vila
Rica transformou-se em centro de atração de imigrantes, e a administração
portuguesa traçou um rígido controle neste território, entre outras causas,
para evitar o contrabando e o desvio do metal precioso. Foi o centro minerador
mais importante do Brasil e capital da Capitania de Minas Gerais. Constituiu
uma sociedade estratificada rigidamente em minerador e escravo, além de uma
classe intelectual importante e marcante na literatura luso-brasileira. Foi
palco do principal movimento político antilusitano – a Inconfidência Mineira
(1789-92), de revolta e emancipação.
Ouro
Preto, Brasil
Dedico-me há alguns anos ao estudo de
tópicos de cultura e sociedade em Ouro Preto, especialmente no século XIX.
Entre esses estudos, interesso-me pela imprensa periódica ouro-pretana que
pesquisei profundamente no período de 1823 a 1900. Estudo a difusão da
literatura na imprensa nesse período e tenho-me dedicado também ao estudo da
obra do romancista ouro-pretano Bernardo Guimarães (1825-1884) e de outros
escritores locais.
Encontrei o manuscrito do bustuense
Antônio Francisco dos Reis numa busca em arquivos particulares
de Ouro Preto. A neta dele, Maria da Conceição Reis, mostrava-me algumas
fotografias da família quando me “apresentou” o manuscrito, sem alarde,
simplesmente me mostrou. Fiquei surpresa. Era o primeiro documento dessa
natureza – escrito por um imigrante, na forma de um diário – a que tinha
acesso. Li-o encantada com o personagem que se revelava atrás das páginas
amarelecidas do caderno de notas, encantada com a “história” que narrava. E
disse à Maria da Conceição que aquele manuscrito daria um belo livro.
Passaram-se dois anos, e a oportunidade surgiu. Eu organizava a Série Ouro-pretana, para a Editora
Liberdade. Vi que a ideia da edição do manuscrito era coerente com os outros
títulos da coleção (são 5 livros, formando uma caixa). Ele se adequava
tematicamente aos demais livros: um dos livros é de memória de antigos
moradores da cidade; dois são de poesia da primeira metade do século XX, e o
outro de prosa jornalística. O manuscrito ficaria, portanto, no gênero das
narrativas de imigrantes, cobrindo também o período entre final do século XIX e
primeira metade do XX.
A capa
do manuscrito
Tenho recebido bons comentários sobre a
Série Ouro-Pretana, em especial o livro 5, que é Terra adotada: relato de um imigrante. O relato de Antônio Francisco dos Reis revela alguém que, deixando sua terra e seus
familiares em Portugal, veio trabalhar no Brasil, em especial em Ouro Preto,
dedicando sua vida às atividades comerciais, com grande empenho e seriedade;
homem de rara sensibilidade e inteligência aguda cujos descendentes, que
conheço, honram essa herança. Do ponto de vista da pesquisadora, reconheço a
importância, para a história de Ouro Preto, da publicação do manuscrito de
Antônio, especialmente por ter sido esta cidade, por seu destaque na história
brasileira, centro de atração de imigrantes no século XIX e esse capítulo é
ainda, infelizmente, pouco estudado aqui.
Gostaria imensamente que o livro Terra adotada: relato de um imigrante
chegasse ao leitor português em geral e em especial ao leitor de Bustos, terra
natal de Antônio Francisco dos Reis.
Maria Francelina Drummond
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