6 de maio de 2015

CRÓNICA DE UM pequeno EMPRESÁRIO PORTUGUÊS (CONCLUSÃO)



4- MULTADO POR NÃO CUMPRIR TODOS OS REGULAMENTOS

Triste e acabrunhado liguei a telefonia  que tenho junto do balcão. Respirei o fundo, olhei para a porta de entrada onde surgia um casal de gente bem vestida, finalmente ia fazer negócio. Não podia estar mais enganado, eram dois polícias à paisana. Pessoal com estudos e treino profissional que sem grande delongas explicaram ao que vinham. Eram dois competentes Caçadores de Multas. Começaram por perguntar se já tinha pago o imposto dos sacos plásticos leves? Safei-me porque só uso sacos plásticos de gramagem superior, daqueles que não pagam imposto. Mostrei os sacos e as faturas. Suspirava de alívio quando o homem, apontando o rádio, me perguntou pela licença de direitos de autor, isto sem falar nos direitos conexos. Mas é só um rádio. Pois, mas está ligado a uma coluna de som, o que o transforma em aparelhagem de difusão sonora E onde está o anúncio do livro de reclamações? E o livro de reclamações? E onde está a caixa de primeiros socorros? E o sinal proibindo a entrada de cães? E o horário de abertura? E a comunicação prévia? E a folha de pessoal? E a licença da placa na fachada? E a licença do toldo? E a certidão permanente? Pode abrir a caixa, contar o dinheiro e tirar um ticket? Quanto paga de renda?

Ele perguntava, perguntava e a cada nova pergunta eu ia encolhendo, encolhendo. Cada questão soava como uma acusação, um assustador apontar de dedo pondo em causa o meu atrevimento de ter uma porta aberta ao público. Sentindo-me na condição de criminoso, descrente de mim próprio e do mundo conclui que só me restava acrescentar uma nova despesa, contratar um advogado. Isso é que era bom! Desisti logo da ideia porque a Justiça está caríssima e anda pelas horas da morte, que é como dizer que a gente falece antes do caso estar resolvido.

Tudo o que aqui escrevi se passou comigo. É um pequeno e incompleto retrato das teias que envolvem o dia a dia de um pequeno empresário. Não são apenas os impostos, são também todas as obrigações decorrentes de dezenas de leis e centenas de regulamentos que nos sugam as energias, o dinheiro e o tempo. É uma complexa teia de exigências que consome muitas energias e nos amedronta.  Vivo no temor do futuro. Vivo no esforço de tentar sobreviver e pagar as contas que não param de crescer.
Estou lixado!

Simplesmente José


Sem comentários:

Enviar um comentário