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MULTADO POR NÃO CUMPRIR TODOS OS REGULAMENTOS
Triste
e acabrunhado liguei a telefonia que tenho junto do balcão. Respirei o fundo,
olhei para a porta de entrada onde surgia um casal de gente bem vestida,
finalmente ia fazer negócio. Não podia estar mais enganado, eram dois polícias
à paisana. Pessoal com estudos e treino profissional que sem grande delongas
explicaram ao que vinham. Eram dois competentes Caçadores de Multas. Começaram
por perguntar se já tinha pago o imposto dos sacos plásticos leves? Safei-me
porque só uso sacos plásticos de gramagem superior, daqueles que não pagam
imposto. Mostrei os sacos e as faturas. Suspirava de alívio quando o homem,
apontando o rádio, me perguntou pela licença de direitos de autor, isto sem
falar nos direitos conexos. Mas é só um rádio. Pois, mas está ligado a uma
coluna de som, o que o transforma em aparelhagem de difusão sonora E onde está
o anúncio do livro de reclamações? E o livro de reclamações? E onde está a
caixa de primeiros socorros? E o sinal proibindo a entrada de cães? E o horário
de abertura? E a comunicação prévia? E a folha de pessoal? E a licença da placa
na fachada? E a licença do toldo? E a certidão permanente? Pode abrir a caixa,
contar o dinheiro e tirar um ticket?
Quanto paga de renda?
Ele
perguntava, perguntava e a cada nova pergunta eu ia encolhendo, encolhendo.
Cada questão soava como uma acusação, um assustador apontar de dedo pondo em
causa o meu atrevimento de ter uma porta aberta ao público. Sentindo-me na
condição de criminoso, descrente de mim próprio e do mundo conclui que só me
restava acrescentar uma nova despesa, contratar um advogado. Isso é que era
bom! Desisti logo da ideia porque a Justiça está caríssima e anda pelas horas
da morte, que é como dizer que a gente falece antes do caso estar resolvido.
Tudo
o que aqui escrevi se passou comigo. É um pequeno e incompleto retrato das
teias que envolvem o dia a dia de um pequeno empresário. Não são apenas os impostos,
são também todas as obrigações decorrentes de dezenas de leis e centenas de
regulamentos que nos sugam as energias, o dinheiro e o tempo. É uma complexa
teia de exigências que consome muitas energias e nos amedronta. Vivo no temor do futuro. Vivo no esforço de tentar
sobreviver e pagar as contas que não param de crescer.
Estou
lixado!
Simplesmente José
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